terça-feira, 31 de março de 2009

Os Padrões de Westminster

Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo
Os Padrões de Westminster
Por causa da decisão da Assembléia de Westminster de preparar dois catecismos, as “quatro partes de uniformidade” resultaram na produção de cinco documentos. Conhecidos como os Padrões de Westminster, somente a confissão de fé e os dois catecismos são geralmente usados hoje. De acordo com os calvinistas presbiterianos: “A Confissão e os Catecismos representam a única melhor expressão da doutrina contida nas Escrituras.”[1] As duas primeiras produções da Assembléia, A Forma de Governo Eclesiástico Presbiteral e O Diretório para Adoração Pública, foram completados em 1644.[2] Embora a primeira não foi ratificada pelo Parlamento Inglês, a última foi determinada por decreto em janeiro de 1645 para substituir o Livro da Oração Comum.[3] Entretanto, ambos os documentos foram adotados pela Assembléia Geral Escocesa em fevereiro do mesmo ano.[4] A confissão de fé concluída foi enviada ao Parlamento em dezembro de 1646 com o título: O Humilde Conselho da Assembléia de Teólogos, Agora por Ordem do Parlamento reunido em Westminster, referente à Confissão de Fé, apresentada por eles recentemente a ambas as Casas do Parlamento.[5] Mas como a Casa dos Comuns exigiu que fossem acrescentadas provas escriturísticas, a confissão foi novamente submetida ao Parlamento em abril de 1647 com a adição da frase ao título “com as Citações e Textos da Escrituras anexados.”[6] Não foi até 20 de junho de 1648 que o Parlamento, após fazer algumas mudanças e omissões, ordenou a publicação da confissão sob o título: Artigos da Religião Cristã aprovados e passados por ambas as Casas do Parlamento, após Conselho com a Assembléia de Teólogos por ordem do Parlamento.[7] É o texto não alterado original, entretanto, que foi adotado pela Assembléia Geral Escocesa em 1647.[8] E é este mesmo texto, conhecido como a Confissão de Fé de Westminster, que os presbiterianos pelo mundo todo aceitaram desde então. Os dois catecismos, chamados (por causa de seu tamanho) o Maior e o Breve, foram apresentados ao Parlamento sem as provas da Escritura em outubro e novembro, respectivamente de 1647, enquanto as provas foram fornecidas em 14 de abril de 1648.[9] Mas ainda que os dois catecismos foram adotados pelos escoceses em julho de 1648, o Parlamento inglês somente aprovou o Breve Catecismo.[10]

Os méritos da Confissão de Fé de Westminster têm sido igualmente reconhecidos por calvinistas e não-calvinistas:

A mais completa, a mais inteiramente elaborada e cuidadosamente preservada, a mais perfeita, e a mais vital expressão que já foi composta pela mão do homem, de tudo que se introduz no que chamamos religião evangélica.[11]

O mais qualificado, o mais claro e o mais abrangente sistema de doutrina cristã já fabricado.[12]

Ela muito aproximadamente atinge as proporções totais de um tratado teológico, e exige muito mais profundidade de discernimento teológico do que qualquer outra.[13]

Mas os calvinistas em particular consideram a Confissão de Westminster como incorporando suas crenças. Boettner a chama “a mais perfeita expressão da Fé Reformada.”[14] McNeil a denomina “um clássico do Calvinismo.”[15] Warfield sustenta que não há nada na Confissão de Westminster “que não seja encontrado expressivamente demonstrado nos escritos” de João Calvino.[16] Alguns discordam, entretanto, e afirmam que a “teologia de Westminster, então, representa um distanciamento substancial do pensamento de João Calvino.”[17] Não obstante, os calvinistas consideram a Confissão de Westminster como uma autoridade. Shedd refere a ela como “a regra de fé.”[18] Um outro a chama de “o credo oficial do Presbiterianismo.”[19] Estudantes no Westminster Theological Seminary na Filadélfia podem realizar um curso sobre a Assembléia de Westminster e examinar sua teologia através de “um estudo da Confissão de Fé de Westminster.”[20] E não apenas numerosos comentários sobre a Confissão têm aparecido através dos anos, ela tem sido traduzida em muitas línguas desde a primeira tradução estrangeira para o alemão em 1648.[21]

A Confissão de Fé de Westminster, da qual relevantes porções podem ser encontradas no apêndice 6,[22] contém trinta e três capítulos, cada um dividido em parágrafos. O mais longo é aquele sobre a Bíblia, contendo dez parágrafos; o mais infame é aquele sobre a predestinação. A base principal da Confissão foi os Artigos de Religião Irlandeses fortemente calvinistas redigidos pelo arcebispo Ussher em 1615.[23] A Confissão de Westminster abarca todas as principais doutrinas da Fé Cristã. Dessa forma, ela difere dos Cânones de Dort, que somente dizem respeito ao Calvinismo. Como mencionado anteriormente, a forma da Confissão aceita é aquela do original produzido pela Assembléia de Westminster e não aquela aprovada pelo Parlamento, que omitiu os capítulos trinta e trinta e um, e vários parágrafos inteiros.[24] A edição da Confissão atualmente em uso na América é levemente diferente da edição britânica. As diferenças consistem principalmente na omissão de algumas frases sobre a relação entre a igreja e as autoridades civis.[25]

Apesar dos Catecismos de Westminster terem sido igualmente enaltecidos pelos calvinistas e seus oponentes, o Catecismo Maior tem, como relata Warfield, “assumido um lugar um tanto secundário.”[26] E enquanto que os calvinistas consideram o Catecismo Maior “um completo, equilibrado, edificante resumo da fé cristã,”[27] do Breve Catecismo tem sido dito:

Uma obra-prima de organização literária e clareza.[28]

Se a Assembléia de Westminster tivesse feito nada mais do que produzir o Breve Catecismo eles mereceriam a eterna gratidão da igreja cristã.[29]

Nenhum resultado dos teólogos tem sido mais vastamente difundido ou exercido uma mais profunda influência do que seu “Breve Catecismo.”[30]

Como a Confissão de Westminster, o Breve Catecismo é considerado “um clássico do Calvinismo.”[31] É também considerado uma autoridade. O teólogo puritano Richard Baxter (1615-1691) considerava o Breve Catecismo, junto com a Bíblia, “provavelmente o melhor livro no mundo.”[32] Schaff sustenta que ele “é um dos três típicos Catecismos do Protestantismo que provavelmente deve durar até o fim dos tempos.”[33] Exige-se dos estudantes de mestrado em teologia no Reformed Theological Seminary que eles memorizem o Breve Catecismo.[34] E também como a Confissão de Westminster, os Catecismos têm sido tema de comentários e traduzidos em outras línguas.[35]

O Catecismo Maior de Westminster contém 196 perguntas e respostas; o Breve apenas 107. É no começo do Breve Catecismo que encontramos a mais famosa pergunta e resposta de catecismo:

P. Qual é o fim principal do homem?
R. O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre.

Warfield credita Calvino como “a fonte última da pergunta de abertura do Breve Catecismo de Westminster.”[36] Ambos os Catecismos, entretanto, têm a distinção de que cada resposta incorpora a pergunta correspondente, desse modo formando uma declaração completa de fé em si mesmo. E como a Confissão de Fé de Westminster, os Catecismos Maior e Breve permanecem até hoje os padrões doutrinários da maioria das igrejas presbiterianas.

Com a restauração da monarquia na Inglaterra, estes padrões da Assembléia de Westminster, que se pretendia substituir os Trinta e Nove Artigos, resultaram em nada no que se refere à Igreja inglesa. Mas ainda que o trabalho da Assembléia de Westminster foi repudiado na Inglaterra, seus Padrões permaneceram “a mais completa e a mais desenvolvida declaração simbólica do sistema de doutrina calvinista.”[37] Mas mais uma vez, alguns calvinistas discordam, alegando que “a teologia de Westminster dificilmente merece ser chamada calvinista - especialmente se esse termo for significar o pensamento do próprio Calvino.”[38] Todavia, consentimento com os Padrões de Westminster ainda é obrigatório aos ministros nas igrejas presbiterianas conservadoras. Mas apesar da reverência por estes Padrões, como o teólogo presbiteriano William Shedd conta: “As doutrinas do Calvinismo formuladas nos Padrões de Westminster são descritas por muitas pessoas como destinando a vasta maioria da raça humana a uma eternidade de pecado e miséria.”[39] Dessa forma, começando com os presbiterianos de Cumberland no início do século dezenove, alguns presbiterianos têm procurado revisar os Padrões naqueles trechos onde são achadas as doutrinas do Calvinismo.[40]

[1] James E. Bordwine, A Guide to the Westminster Standards (Jefferson: The Trinity Foudation, 1991), p. v.
[2] Hetherington, pp. 342-343.
[3] Warfield, Westminster Assembly, pp. 43, 45.
[4] Hetherington, pp. 342-343.
[5] Warfield, Westminster Assembly, pp. 339-340.
[6] Ibid., p. 340.
[7] Schaff, Creeds, vol. 1, p. 758.
[8] Warfield, Westminster Assembly, p. 341.
[9] Ibid., p. 63.
[10] Ibid., pp. 63-64.
[11] Benjamin B. Warfield, citado em Jay E. Adams, “Afterword: The Influence of Westminster,” em Carson e Hall, eds., To Glorify and Enjoy God: A Commemoration of the 350th Anniversary of the Westminster Assembly, p. 250.
[12] Dr. Currey, citado em Schaff, Creeds, vol. 1, p. 789.
[13] Dean Stanley, citado em Schaff, Creeds, vol. 1, p. 789.
[14] Boettner, Predestination, p. 13.
[15] McNeil, p. 325.
[16] Benjamin B. Warfield, citado em Kendall, p. 2.
[17] Kendall, p. 212.
[18] Shedd, Calvinism, p. 146.
[19] John Richardson, Introdução a Clark, What Do Presbyterians Believe? p. xii.
[20] Westminster Theological Seminary, 1990-1992 Catalog, p. 96.
[21] Warfield, Westminster Assembly, pp. 361-367.
[22] The Westminster Confession of Faith (Filadélfia: Great Commission Publications, n.d.).
[23] Schaff, Creeds, vol. 1, pp. 665, 761.
[24] Warfield, Westminster Assembly, p. 106.
[25] Para as partes que foram alteradas, veja Bordwine, p. v.
[26] Warfield, Westminster Assembly, p. 64.
[27] W. Robert Godfrey, “The Westminster Larger Catechism,” em Carson e Hall, eds., To Glorify and Enjoy God: A Commemoration of the 350th Anniversary of the Westminster Assembly, p. 130.
[28] McNeil, p. 326.
[29] Richard Baxter, citado em Douglas F. Kelly, “The Westminster Shorter Catechism,” em Carson e Hall, eds., To Glorify and Enjoy God: A Commemoration of the 350th Anniversary of the Westminster Assembly, p. 102.
[30] Warfield, Westminster Assembly, p. 64.
[31] McNeil, p. 325.
[32] Richard Baxter, citado em Douglas Kelly, Catechism, p. 102.
[33] Schaff, Creeds, vol. 1, p. 787.
[34] Reformed Theological Seminary, 1990-1991 Catalog, p. 39.
[35] Schaff, Creeds, vol. 1, p. 783.
[36] Warfield, Westminster Assembly, p. 389.
[37] Ibid., p. 788.
[38] Shedd, Calvinism, p. 116.
[39] Schaff, Creeds, vol. 1, p. 815.
[40] Kendall, p. 212.

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