segunda-feira, 28 de março de 2011

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Tsunami e uma teologia da compaixão





Assisti, com assombro, às imagens do terremoto e do tsunami no Japão. A força do abalo sísmico e o poder das ondas gigantes engolindo tudo de modo avassalador impressionam. Admira-me, também, a capacidade que os japoneses tem de lidar com eventos desse tipo, o preparo que o país tem para diminuir os efeitos dessas catástrofes. Fosse num país pobre, centenas de milhares teriam morrido. Mesmo assim é triste ver que muitos morreram e alguns milhões estão numa situação precária.




Não tenho dúvida que eles conseguirão se reerguer. Um país que já passou por várias tragédias naturais, crises financeiras severas e por duas bombas atômicas, vai se recuperar. Triste mesmo para as famílias que perderam a quem amavam. Para estas, ainda que o país, como um todo, se recupere, o lamento pela perda e a dor por quem se foi vai continuar.



Por outro lado, fico devastado com as afirmações de que Deus desejou tal tragédia para que pessoas se rendam a Jesus e, no fim, tudo redunde em glória para Si. Chego a ver sangue nos olhos de quem sente certo gozo com acontecimentos como o do Japão, vociferando que são “apenas” cumprimento de profecias bíblicas. Não há compaixão pelas pessoas, apenas contentamento em reafirmar “verdades” inquestionáveis. Lamento.



Lamento que, em nome de Deus, se digam palavras tão agressivas e tão desprovidas de compaixão, de amor, que é a essência de Deus. No momento de se tornarem gigantes de misericórdia e solidariedade, se apequenam, tentando defender a idéia de um Deus que determina tragédias e cuja glória se alimenta da dor das pessoas. Esse é um ídolo, não Deus.



Admitir que Deus esteja determinando tudo o que acontece e que nada foge ao seu controle, é jogar na conta de Deus todo o mal do mundo. Se assim fosse, o estupro de uma criancinha seria querido e determinado por Deus, para sua glória. A morte de um filho ainda moço seria algo que redundaria em um bem maior, mesmo que seu pai já fosse um homem piedoso. A fome em países africanos, ou na periferia de nossa cidade, seria algo da vontade de Deus. E não é. Pelo menos não é da vontade do Deus Pai de Jesus Cristo, pleno de amor, que nos chama à compaixão e à solidariedade.



Não, não creio que Deus determinou o terremoto e o tsunami no Japão, foi o movimento das placas tectônicas. Não estamos na Idade Média, sabemos como essas coisas acontecem. Vontade de Deus é que todos sejam compassivos e solidários aos que sofrem todo e qualquer tipo de dor, de longe ou de perto. O que Deus determina é que sejamos como o bom samaritano, que, ao contrário de oficiais da religião da época, que passaram ao largo, cuidou de quem estava agonizando à beira do caminho.



Se nossa teologia não servir para promover a vida e dignificar a pessoa humana, para nada serve. Ou melhor, serve sim, para agudizar a dor dos que já sofrem e alimentar o cinismo de quem pouco se importa.



Fico com o Deus de Jesus Cristo, que se coloca ao lado do que sofre, e, de tanto que ama, sofre também. E me convida a fazer o mesmo, para que minha vida seja uma expressão de seu amor, seja um milagre para os que esperam por ele e, então, sua glória seja manifesta.




Márcio Rosa da Silva


Vi no http://marciorosa.wordpress.com/
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Ufanistas assembleianos morrem doentes pensando que estavam bem de saúde!

As Assembleias de Deus vão completar o seu centenário neste ano. É uma data muito especial. Mas é preocupante como parte da liderança encara a história da denominação com ufanismo. O ufanista é aquele que se orgulha ou se regozija excessivamente de algo. Infelizmente, muitos pelo aniversário esqueceram do senso crítico, que é sempre saudável.




Ouvir a pregação de alguns pastores das Assembleias de Deus é ter a impressão que você congrega na melhor denominação do mundo. Uma igreja sem problemas. Mas como assembleiano não posso ser sincero e ao mesmo tempo falar que a denominação está bem. Não, a denominação está doente. E há inúmeros sinais dessa grave enfermidade. Só não enxerga quem não quer ver! Exemplos? Vamos lá:



1. Briga por poder. É o principal sintoma. A denominação há muito tempo está dividida pelas disputas de poder. Desde os primódios havia graves divergências entre missionários estrangeiros e pastores brasileiros. Mas é visível que a questão divisional estava ligada mais por questões de “ideologia” do que fome por poder. Hoje não, a questão é poder, poder, poder e mais poder.



2. Pregações superficiais. Hoje os assembleianos estudam mais, é fato. Mas ainda é raro encontrar um pastor com ensino e pregação profunda. Se você acompanha somente alguns pastores assembleianos de blogs terá uma boa impressão que não reflete a realidade nacional, infelizmente! Os pregadores que respeitam o texto bíblico, com boa interpretação, é exceção à regra.



3. O mito da piedade. Os “espirituais” dirão que os pastores assembleianos são pouco instruídos mas com vida devocional exemplar. É aquele velho papo do coitadismo que tenta justificar a preguiça intelectual. Conversa para boi dormir! Além disso, essa piedade mais elevada é um baita mito. As igrejas assembleianas hoje não oram mais do que as demais. Talvez até orem menos.



4. Herança pentecostal diluída. Na maioria das igrejas, o assembleiano só estuda Atos 2 ou I Co 12-14 nas escolas dominicais. Textos importantes para o entendimento da doutrina pentecostal são normalmente desprezados nos sermões dominicais. Aliás, os cultos de domingo estão completamente recheados com músicas e pregações daquela autoajuda mais boba. Resumindo: São igrejas pentecostais que não pregam suas doutrinas. E no outro extremo há o ridículo “reteté”. Quem aceita essas bizarrices precisa rasgar I Co 14 da Bíblia.



5. Política. Qual é a teologia pública dos assembleianos? Nenhuma. O candidato é apoiado para conseguir concessão de rádio e TV. Alguns dizem defender a moralidade, mas vivem sujos em escândalos e apoiam partidos e políticos de fichas nada limpas. Qual é o objetivo de um político senão promover a boa gestão pública para todos?



6. Legalismo. É evidente que o legalismo perdeu força nas Assembleias de Deus, mas em igrejas periféricas e interioranas o legalismo ainda mostra a sua força. Em algumas congregações ainda existem disciplinas por calça feminina, maquiagem, futebol e até televisão.



Conheci uma irmã de Mato Grosso que fazia mestrado em pedagogia e precisava assistir alguns vídeos. Ela então pediu autorização do pastor para colocar a “caixa do diabo” em casa. Sabe o mais irônico? O pai dessa irmã é pastor da Assembleia de Deus em Goiás e na igreja dele não há nenhuma restrição para mídias e adornos femininos.



Certo dia, a esposa desse pastor assembleiano foi tomar ceia no outro Estado mais legalista onde congregava sua enteada. Ela foi bem vestida com seus brincos e maquiagem leve, mas o diácono passou direto. O pastor chamou atenção daquele diácono e disse: “A minha esposa não pegou o pão”. O diácono respondeu: “Mas ela não está com trejeito de crente”. E saiu. O diácono serviu a filha com “trejeito santo”, o pai pastor de terno e gravata, mas deixou sem pão a madrasta “mundana”.



Essa história ainda não completou meia década!



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Esses são apenas alguns pontos. Podemos apontar vários outros. É claro que devemos comemorar os 100 anos da igreja que mais ajudou a evangelizar o Brasil. Mas não podemos achar que estamos no mar de rosas. A realidade é cruel.
 
 
Gutierres Siqueira
 
 
Vi no http://www.teologiapentecostal.blogspot.com/
 
 
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José Comblin - Fraqueza de Deus.





Boa parte do ateísmo contemporâneo baseia-se na objeção enunciada com muita força no passado por J. P. Sartre e retomada pelos seus discípulos: “Se Deus existe, eu não sou nada”.




Se existe um Deus onipotente, o que ainda sobra para mim? Essa presença ao meu lado do poder absoluto torna irrisórias todas as minhas ações. Diante do infinito, todo o finito torna-se irrelevante. Há muitas maneiras de enunciar o argumento.



A objeção foi formulada desde a Idade Média, mas não conseguiu convencer. A resposta diz que Deus e o homem não se situam no mesmo plano, como duas liberdades em competição.



A resposta não convenceu porque durante séculos os teólogos debateram a questão da predestinação, isto é, da compatibilidade entre a liberdade de Deus todo-poderoso e a liberdade humana. Assim fazendo, situaram no mesmo plano as duas liberdades. Se os teólogos – tomistas, dominicanos e jesuítas – tomaram essa posição durantes séculos, não é estranho que filósofos façam a mesma coisa.



De qualquer maneira, a pessoa sente tantas vezes o conflito entre a sua vontade, o seu desejo e o que diz que é a vontade de Deus, que a reação parece inevitável. Os sartreanos sustentam que, para ser livre, é necessário negar a existência de Deus. Infelizmente para eles, Deus não depende das negações ou das afirmações de Sartre.



A verdadeira resposta está na fraqueza de Deus. O nosso Deus é um Deus “escondido” – tema constante da tradição espiritual cristã.



É um Deus que se manifesta no meio da nuvem, que se faz perceptível, mas não impõe a sua presença.



A liberdade consiste justamente nisto: diante do outro, a pessoa pára, reconhece e aceita que exista. Abre espaço, acolhe. Longe de dominar, escuta e permite que o outro fale primeiro. Assim Deus suspende o poder de Deus.



Nenhuma evidência, nenhuma ameaça, nenhum constrangimento força nem obriga. Deus permite e deixa fazer. Deus respeita o outro na sua alteridade e permite, até mesmo, que o outro se destrua sem intervir. A liberdade de Deus consiste em permitir e ajudar a liberdade do menor dos seres humanos. A liberdade de Deus reprime o poder. Torna-se fraca para que possa manifestar-se a força humana.



O hino de Filipenses 2.6-11, núcleo da cristologia paulina, expressa essa fraqueza de Deus. Pois o aniquilamento de Jesus incluía o aniquilamento do Pai: "Esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de escravo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se a foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2.7-8).



Deus escondeu o seu poder até a ponto de as autoridades de Israel não o reconhecerem. É desta maneira que Deus se dirige às pessoas: sem intimidação, sem poder, na dependência de seres humanos, entregando a própria vida nas mãos de criminosos. Quem dirá que dessa maneira Deus faz violência às pessoas?



Como comentou Levinas, o outro é o desafio da liberdade, a provocação que a desperta. Diante do outro há duas atitudes: examiná-lo para ver em que lê me poderia ser útil ou qual é a ameaça que representa para mim, ou então, perguntar-me o que eu poderia fazer para ajudá-lo.



A liberdade de Deus autolimita-se. Diante da sua criatura, Deus limita sua presença. Deus preferiu antes deixar que crucificassem o seu Filho a intervir para impedir tal justiça. Trata-se de fraqueza voluntária.



É verdade que durante muitos séculos, sobretudo na pregação popular, os pregadores apresentaram uma concepção bem diferente de Deus. Usaram temas e comportamentos da religião popular tradicional: medo diante do trovão, medo da seca e de cataclismos naturais – entendidos como castigos divinos –, medo das doenças recebidas também como castigos e assim por diante.



Era fácil despertar o temor a partir de idéias puramente pagãs ou supersticiosas. Essa pregação de terrorismo religioso podia dar resultados imediatos, levando milhares de pessoas aos sacramentos. A longo prazo, porém, destruíram as bases da credibilidade da Igreja. Hoje a maioria das pessoas deixaram de ter medo do trovão, não sendo mais motivo para temer a Deus, como foi no passado. Naquele tempo achou-se válido o método do temor, todavia hoje recolhe-se os frutos dessa pastoral.



Pensou-se que os povos precisassem temer um Deus forte – e desprezariam um Deus fraco. Tais erros se pagam cedo ou tarde. Estamos pagando hoje esse preço.



Deus torna-se fraco porque ama. Quem mais ama é sempre mais fraco. Não será essa a grande característica das mulheres? Quase sempre amam mais, e, por isso, sofrem mais. Porém, nessa fraqueza consentida não estará a maior liberdade?



Nessa fraqueza a pessoa vence todo o egoísmo, todo o desejo de prevalecer, toda a preguiça de aceitar maiores desafios. Exige mais de si própria, vai mais longe, além das suas forças. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (João 15.13). Aí está também a expressão suprema da liberdade.



A fraqueza de Deus vai até a ponto de se tornar suplicante. O versículo predileto do saudoso teólogo latino-americano Juan Luís Segundo diz; “Eis que estou batendo na porta: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo (Apocalipse 3.20).



Deus bate na porta e aguarda. Se não é atendido, afasta-se e continua o caminho. Somente entra se é convidado. Depende do convite da pessoa. Deus torna-se pedinte, suplicante.



(extraído de "Vocação para Liberdade" - Editora Paulus. Os grifos são meus).


Vi no http://www.ricardogondim.com.br/
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Lutando pela igreja? Qual igreja?






Jefferson Ramalho




Lutando pela igreja? Qual igreja? A do Nazareno? Não se preocupem, amigos; Ele não precisa que ninguém lute por ela. Jesus é Homem o suficiente para defendê-la.



Ou será que estão falando das inúmeras denominações evangélicas espalhadas pelo Brasil e pelo mundo? Ah, estas muitos de vocês precisam defender, mesmo, pois são suas igrejas, não do Nazareno.



A igreja do Nazareno não tem logotipo, não tem estatuto, não é pessoa jurídica, nem possui nome fantasia. A igreja do Nazareno não possui e jamais possuirá o patrimônio que as igrejas de vocês possuem.



E querem saber? Vocês precisam defender seus patrimônios, mesmo. Vocês, de uma maneira espetacular, sem pregarem teologia da prosperidade como muitos por aí, atingiram um patamar tão elevado que a igrejinha do Nazareno jamais conseguiria.



Qual salário vocês recebem? Que carros vocês dirigem? Em quais bairros vocês moram? Quais marcas de roupas vocês vestem? Em quais escolas seus filhos estudam? Quanto vocês cobram por seus eventos biblicamente corretos?



Agora, não venham me dizer que os empreendimentos de vocês são a continuidade daquilo que o Altíssimo, através do Nazareno, iniciou há aproximadamente dois mil anos. Por favor, pra cima de mim, não!



Qual diferença seus congressos evangelística e socialmente corretos têm causado na sociedade? Os cafés que organizo e organizei nunca tiveram tal pretensão. Sempre foram encontros sem pretensões evangelísticas ou sociais. O intuito nunca passou de intelectual e o custo nunca ultrapassou os impagáveis R$ 10,00 para que todos possam tomar um bom café da manhã, custear as despesas – não os luxos eclesiasticamente corretos – dos palestrantes, e as despesas de divulgação impressa e virtual.



E vocês? Quanto vocês cobram por suas vozes preciosas e mentes brilhantes? Nada? Mas ficam emburrados quando não rola nenhuma ofertinha! Será que as suas palestras, na verdade, não são mais um “show da fé” com outro nome e estilo? Falemos a verdade: é grana ou não é grana que movimenta o negócio de vocês?



Quero deixar claro, aqui, que tem muita gente boa que se sentirá atingida injustamente ao ler mais esse desabafo. Outros, que deveriam ler e se enxergar, nem tomarão conhecimento que essas linhas foram escritas. Se souberem e lerem, dirão a si mesmos: mais uma desse Jefferson idiota! Piores serão aqueles que imediatamente se doerão pelo que estão lendo, pois são aprendizes que sonham em um dia não ter de fazer nada da vida para depender de uma igreja com a desculpinha esfarrapada de que estarão cuidando de gente!



Como já ouvi de alguns sábios de cabelos brancos: Serviu-lhe a carapuça? Então leva essa!



E aqueles puxa-sacos, bajuladores e bajuladoras de teólogos e pastores que, na necessidade de tentar garantir um futuro incerto, me chamarão mais uma vez de arrogante, frustrado e ingênuo!



A crítica que mais me chamou a atenção foi aquela que me colocou como decepcionado com a igreja institucional porque não consegui o que queria quando estive nela. Veja: isso não é crítica. É verdade! Eu queria realmente, como alguns – talvez a maioria – dos que criticaram meu texto "Sem igreja, graças a Deus!" poder um dia viver às custas de gente simples, viver pregando de igreja em igreja, dando aula de teologia e história da igreja não por profissão, mas por interesses disfarçados de vocação e devoção, e o que mais vocês quiserem listar nesta soma de tarefas exaustivas e prazerosas que tantos fazem porque realmente amam o que fazem. Oxalá fosse assim!



Será que preciso dizer que não estou generalizando? Acho que sim, porque senão alguns que faltaram – ou dormiram – às aulas de hermenêutica entenderão que estou falando de todos. Claro que não estou falando de todos! Sempre há raríssimas exceções. Raríssimas, mas há! Aqueles que, ainda assim, se sentirem agredidos, o que posso fazer por eles? Bajulá-los? Jamais! O fato de se sentirem ofendidos talvez lhes esteja respondendo que não compõem o grupo das raríssimas exceções.



Conheço um... Somente um! Este sim; não preciso mencionar seu nome! Ama a alma humana, crê num montão de coisas que duvido, mas ele crê com a alma. Tem defeitos como todo humano. Seu nome não precisa ser mencionado, pois a exemplo do Nazareno, ele não recebe glória humana. Logo, seu nome, pra quê ser mencionado? Para mim, basta que eu o conheça e o reconheça. Dignamente sustenta sua família, exercendo o ofício profissional que o Altíssimo o ajudou a alcançar. Nem por isso ele deixa de ser pastor, de ser esposo, de ser irmão, de ser amigo de gente que está sempre precisando dele. Por ironia, ele também é professor. E que professor!



Não quero ser agressivo, porque sei que não sou. Não quero aparentar incredulidade, porque creio até demais. Não quero ser mentiroso, porque não tenho sido quando escrevo. O fato é que às vezes, cá com meus botões e com minha esposa, digo o que estou pensando: no fundo, no fundo, eu acho que acredito mais em Deus e na igreja do que todos esses caras juntos. Eles não acreditam nela; eles dependem dela, é diferente!



Escrevi esses dias: “A igreja nunca lhe fará falta, você sim fará falta pra ela”. Enfatizei que essa segunda “falta” tem a ver somente com uma coisa: dinheiro, muito dinheiro. Um amigo complementou: dinheiro, trabalho escravo etc. Pois é! Eles ganham, sempre! Os outros, que sejam voluntários! Que palhaçada! Jesus Homem adoraria ver essa estupidez; e adoraria mais ainda quando soubesse que estão fazendo isso em nome dEle.



Brigaram comigo por causa do texto "Sem igreja, graças a Deus!" Ouvi e li de tudo. Não achei que fosse pra tanto! Arrogante, fracassado, mais um que se diz cansado, incrédulo, herege, cachaceiro, desviado, ingênuo, irresponsável, incoerente, frustrado etc.



Graças a Deus por essas palavras de elogio! Continuo sem igreja, e quando constato que são esses que a compõem, mais distante dela pretendo permanecer. É mil vezes melhor continuar fazendo todas aquelas coisas que listei no texto anterior, pois naquelas sim há comunidade, há unidade, há comunhão, há vida, há sinceridade, há espiritualidade, há Jesus de Nazaré sempre e presente.



Ou você é inocente ao ponto de achar que se o Mestre passasse hoje em frente à igreja que você frequenta, Ele perderia tempo entrando nela? Prefiro acreditar, com a garantia do que nos mostra a Seu respeito no evangelho, que Ele escolheria a mesa de uma boa chopperia ou até mesmo de um simples boteco... E, certamente, ele não beberia refrigerante!



Na Graça,

Jefferson
 
 
Vi no http://jeffersonramalho.blogspot.com/
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A igreja não vai acabar! Mas, estou livre dela!





Não se trata, neste caso, de acreditar em utopia na expectativa de que um dia ela deixe de ser utopia. Não é o caso! Fico lendo alguns dos poucos – mas muito interessantes – comentários que postam nos textos que escrevo aqui no blog. São reações que demonstram diferentes maneiras de olhar aquilo que escrevo.




Mas me divirto – devo confessar – com aquelas reações que parecem ter sido escritas por pessoas que acreditam tanto na igreja institucional que chegam a pensar que eu tenho esperanças de que um dia ela irá acabar só porque tenho sido tão crítico a ela.



Por favor, não me ofendam! Não sou burro, nem ingênuo, nem idiota! Pelo menos nisso! A igreja institucional não vai acabar. Somente um tolo pensaria nesta possibilidade. É cômico quando alguém escreve coisas do tipo: “__Jefferson, a instituição é uma realidade e é preciso aprender a conviver com ela.” Dá vontade perguntar: “__Sério? Eu pensei que não fosse uma realidade tão concreta assim, tão pouco concretizada!” Ora bolas, sobre institucionalização da religião cristã eu tenho dedicado boas horas de leituras dos meus dias nos últimos dois anos, desde que comecei o mestrado.



A igreja institucional começou no século IV, quando aquele infeliz do Constantino resolveu por razões distintas favorecer politicamente os não mais de 5,5% de cristãos que existiam no Império Romano já em fase de decadência política e econômica. Talvez, piores que ele, foram os bispos da época – Eusébio de Cesaréia era um deles – que aceitaram a concretização daquele conchavo, daquela aliança podre e repleta de interesses, daquele procedimento que culminaria no que todos que já leram o mínimo de história da igreja medieval conhecem.



Hoje, cerca de 1700 anos depois daquele processo só ter começado, as coisas ainda não mudaram. Pelo contrário, só pioraram! E, em minha opinião, tendem a piorar ainda mais. Reconheço o fato de que muitas coisas que aconteceram em minha vida até chegar no que vivo e experimento de bom hoje começaram no período em que eu me encontrava diretamente envolvido com a igreja institucional. Mas não entendo que isso deva servir de motivo para eu me silenciar. E é simples porque penso assim. Não posso trabalhar com hipóteses daquilo que não vivi pelo simples fato de que eu não sei como seriam as coisas hoje se eu tivesse trilhado outros caminhos.



O fato é que eu vivi na igreja institucional o suficiente para hoje não querer que muita gente que eu amo não tenha que passar pelo que passei. Para isso, não vejo motivo de agredir a fé dessas pessoas, pois elas são e sempre foram sinceras. Estão lá porque entendem que aquilo lhes dá algum sentido à vida. Respeito-as, mas alimento a esperança de que tais pessoas não sejam ingênuas como fui ao acreditar que estava num lugar onde imperava a honestidade.



Assim, prefiro boxear (plagiando Nietzsche, segundo a leitura do meu amigo Erik Vicente) os que se dizem, se acham, se declaram e se consideram fortes. Na semana passada eu dizia em aula: __Observem! Os caras que mais se doem com essas pauladas que costumamos dar na instituição são aqueles vivem literalmente à custa dela. Se ela falir – o negócio, a grande fonte de renda ou, para alguns, o bico (a grana extra) – vai tudo pro ralo! Não é nenhum pouco interessante perder dinheiro em pleno século XXI. Por isso a defendem tanto. Por que mais seria?



Está claro que a defendem não porque a amam tanto assim. Aliás, eles não a amam e nem nela acreditam como um dia talvez tenham acreditado. Digo isso, sobretudo, me referindo aos liberaizinhos de plantão, os quais se tornam os mais radicais ortodoxos quando você toca no calcanhar de Aquiles deles – a grana que recebem da igreja.



Por isso eu disse na reflexão anterior intitulada “Lutando pela igreja? Qual igreja?” que esses caras precisam defender a instituição mesmo, porque se o negócio deles falir, o que farão? Alguns até possuem uma profissão e terão como se virar, mas a maioria dificilmente terá uma fonte tão rentável, pelo menos a princípio.



Disseram-me dias atrás que com esses textos comprovo que não tenho demonstrado compromisso nem preocupação com seres humanos, especialmente aqueles que frequentam igrejas e lêem os meus textos aqui no blog ou em outros blogs que graças ao Ctrl C Ctrl V o reproduzem citando ou não a fonte. Não importa! Nunca liguei pra isso. O importante é que o texto chegue aonde puder chegar. E digo: __só escrevo o que escrevo e por escrever o que tenho escrito é que estou em paz comigo mesmo com relação a ter compromissos e preocupações com outros seres humanos. Portanto, ao contrário do que me disseram, é exatamente por me preocupar com outros seres humanos que eu escrevo o que venho escrevendo no meu modesto e não tão acessado blog.



A quem está me lendo! Que Deus livre você de passar o que eu passei nas mãos dessa corja de líderes evangélicos. Foram pouquíssimos os que me abraçaram de verdade e que demonstraram honestidade a ponto de até hoje eu os considerar como amigos. Poucos, mesmo! Talvez uns 2 ou 3, não mais que isso.



E hoje, olho para trás e vejo aquele período de tanta opressão, mentiras, alienação, ingenuidade, ostentações financeiras, inseguranças disfarçadas de coragem, medo apelidado de ousadia, isolamento, brigas familiares por causa do fanatismo religioso e tantas outras coisas ruins – apesar das coisas boas que aconteceram por causa da Graça Divina e não por causa da desgraça da igreja – que entendo o fato de ter passado por tudo aquilo para hoje estar escrevendo – somente escrevendo – na esperança de que alguns pouquíssimos possam ler, pensar, refletir e, se Deus quiser, não terem de passar por experiências semelhantes as que passei.



na Graça,

Jefferson



Vi no http://jeffersonramalho.blogspot.com/
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Caio Fábio d'Araujo Filho insulta o escritor Rubem Alves e o pastor Ricardo Gondim


Jefferson Ramalho




Peço licença a alguns para escrever este texto e, inclusive, para citar nomes. Há poucos minutos, através de um vídeo postado no youtube, escutei o que o Caio Fábio, líder fundador do Caminho da Graça falou a respeito de um texto do Ricardo Gondim, pastor da Igreja Betesda, em São Paulo.




Primeiramente, quero deixar claro que não tenho nenhum motivo para assumir uma opinião de defesa ao pastor Ricardo, mesmo porque não tenho quaisquer razões para isso. É um dos poucos pregadores que não falam asneiras aos domingos enquanto estão pregando. Contudo, como meu problema é com a instituição religiosa, prefiro me dar o direito de não ter de ouvir dominicalmente um pregador, mesmo que este seja alguém sério e coerente como o Ricardo parece ser. Pessoalmente, não somos amigos. Falei com ele duas ou três vezes na época em que eu trabalhava na Editora Vida. Aliás, para mim o suficiente. Não sou seu admirador nem seu simpatizante. E assim continuará sendo!



Quanto ao Caio, sempre o admirei e nunca escondi o quanto suas pregações durante anos me fizeram bem. Todavia, a sua arrogância que sempre foi algo que nunca me impediu de admirá-lo e ouvi-lo, agora, depois que tomei conhecimento de suas últimas diretas ao Ricardo Gondim neste vídeo postado no youtube, me causou tamanha revolta e nojo.



Primeiramente, quem é ele para falar do Rubem Alves, insultando-o e chamando-o de bundão? Se o Rubem é bundão, o que Vossa Santidade é? Se tivesses a metade da produção e do reconhecimento que Rubem Alves tem enquanto intelectual e enquanto contribuinte para a literatura e educação do Brasil, poderias falar alguma coisa. Aqueles seus livretinhos de pregação adaptada, para não falar dos plágios, são palha podre perto das obras ricas em filosofia que Rubem Alves escreveu, além das focadas no tema “religião”. Não estou nem considerando aqui as belas produções do Rubem Alves na área da literatura infantil.



Se Rubem Alves quando esteve no Programa do Jô não quis detalhar acerca de suas concepções religiosas dizendo que a fé é coisa do seu passado, qual o problema? Ele não pode deixar de dar importância ao que para ele não tem mais nenhum valor? Antes se apostatar assumidamente da fé e nunca mais se preocupar em falar dela a se tornar um religioso supostamente crítico, mas que nas linhas e entrelinhas de sua retórica barata e ultrapassada não passa de um conservador disfarçado de mente aberta.



Caio Fábio insulta os eventos teológicos dos quais por anos participou. Por que? Porque hoje ninguém mais pagaria pra ouvi-lo, com exceção de suas eternas tietes? Quem tem o mínimo de leituras relevantes em teologia e filosofia sabe o quanto ele delas se apropria sem nunca dar a referência. Oras! Vai me dizer que Deus é quem diretamente a ele se revela? Ou ele seria tão inteligente ao ponto de descobrir sozinho tantos significados? Sua mesma retoricazinha que há muito já perdeu o encanto, apenas consegue fazer com que qualquer conversa mole de sua parte cause arrepios e gemidos em seus adeptos.



O Gondim é bundão? Por que? Qual o seu ganho em insultá-lo? É essa postura estúpida e arrogante que o senhor tem aprendido com Cristo enquanto seguidor dEle ao longo desses quase quarenta anos? És tão perfeito, senhor Caio, que para Vossa Santidade todos são falhos, menos o senhor! Você critica, por exemplo, os neopentecostais como se ninguém soubesse dos equívocos destes. Você descobriu o que ninguém tinha visto, não é? Como se não bastasse, vem encher-nos com suas já saturadas críticas aos comerciantes de Cristo dos nossos dias como Malafaia, Macedo, R.R. Soares, casal Hernandes entre outros, resolve agora soltar seus mísseis de estupidez em alguém que simplesmente crê, sem esconder que tem dúvidas.



E Vossa Santidade, só tem certezas? Que certezas? Deus já apareceu para ti? Vossa Santidade já criticou, além dos neopentecostais como os aqui citados, ao assumidamente ortodoxo sr. Augustus Nicodemus Lopes a quem sempre admirei como pessoa apesar de não compartilhar em quase nada com as suas idéias. E agora, pra completar seu compêndio, resolve criticar um intelectual nacional e internacionalmente reconhecido como o professor Rubem Alves por tabela, já que suas agressões foram direcionadas diretamente ao Gondim. Quem será o próximo? Quem será o próximo a incomodar a sensibilidade e a inteligência intocável e imensurável de Vossa Santidade?



Se perguntarmos a crianças, adolescentes, jovens, educadores, religiosos, intelectuais de maneira geral: “Você já, pelo menos, ouviu falar em Rubem Alves?” Não tenho dúvidas de que a resposta será positiva partindo da maioria dos interrogados. Agora, se a pergunta for: “Você já, pelo menos, ouviu falar de Caio Fábio?” Tenho certeza, se forem generosos, que responderão perguntando: “Quem?” A maioria não saberá!



Quanto ao buraco em que o Gondim e tantos outros aos quais a Vossa Santidade critica irão se enfiar pouco importa. Aliás, é muito provável que não seja, por exemplo, um “buraco” do tipo em que muitos resolvem se enfiar e depois entram pelo cano. Vossa Santidade fala, por exemplo, de certo desserviço do Gondim à fé. E os seus desserviços à fé, nunca existiram? Ah... Esses, nós temos que esquecer, não é mesmo? Desculpe-me, mas o seu retorno ainda muito imperceptível para além daqueles que te cultuam é insuficiente para que seu moralismo disfarçado possa insultar o próximo. Sua prepotência não se justifica senhor Caio Fábio.



Voltando novamente às suas críticas ao escritor Rubem Alves e comparando-o contigo, eu pergunto mais uma vez: no Brasil, quem conhece Rubem Alves e quem conhece Caio Fábio? Se ele é bundão, o que Vossa Santidade é? Profeta? Messias? Mensageiro de Deus? Só se for um profeta de poucos que se pudessem fariam de tudo para sentir o fedor de seus gazes fecais.



Aliás, é desses que o senhor precisa. Eles te sustentam e te fazem dar continuidade em seu novo empreendimento que de igreja institucional tem todas as características. Vossa Santidade certamente jamais se submeteria a um trabalho, de fato, reproduzindo inclusive o que é bem comum no meio religioso, evangélico ou não. E não me venha dizer que o que fizestes até hoje enquanto líder religioso, inclusive na época de suas fundações que por sua culpa e incompetência se afundaram, possa ser chamado de trabalho. Trabalho é o que eu vi meu pai, por exemplo, praticando ao longo de sua vida, levantando diariamente às 5h para educar seus filhos, sustentar sua família e honrar sua esposa.



Um ano como responsável pela iniciativa do Caminho da Graça em Osasco, e como receptor das mensagens diárias do mailing dos mentores do Caminho – inclusive as escritas pelo próprio Caio – foi-me suficiente para ver que não tem nenhuma diferença entre seu empreendimento e as milhares de igrejinhas que existem por aí: aliás, é até pior! É a mesma tietagem, é a mesma babação, é a mesma cobrança com os mentores porque eu vi isso em muitos e-mails que Vossa Santidade recebia. Além dos que o senhor escrevia para, por exemplo, tentar convencer os mentores do Caminho de que é mais que necessário e importante se tornar assinante da Vem&Vê TV. Ou seja, é o mesmo papo de sempre! "Eu estou com a verdade! Enquanto vocês eram explorados na igreja vocês não reclamavam, agora, que vale a pena investir, vocês não investem”. Que papinho de pastor espertalhão, hein senhor Caio? Como eu recebia esses e-mails na época em que eu trabalhava na Editora Vida, não os tenho mais. Se os tivesse, os citaria aqui, com certeza.



Agora, o que Vossa Santidade diria, caso se desse o trabalho de comentar esse texto? Com certeza, se o fizesse – o que tenho certeza que não o fará, mesmo porque sua condição espiritual e messiância, quase divina, não perderá tempo com isso – diria: esse é um menino, um moleque inexperiente, que não saiu das fraldas, que não sabe o que está falando, que não sabe fazer outra coisa a não ser escrever textinho na internet etc etc etc. Ou seja, o mesmo blá blá blá, enfeitado com aquela arrogante, velha e insuportável retórica de sempre, que nunca muda, que se faz suficiente para sua permanência graças àqueles que se pudessem, como eu já disse, fariam de tudo para cheirar os seus peidos ungidos.



E é exatamente por já ter sido caiofabiano por tanto tempo – puts, que estupidez de minha parte! – é que sei do que estou falando. Há pessoas que se pudessem ......, facilmente o fariam! Ôpa! Que feio! Que baixo nível, não irmãos! Pois é! Se o Caio Fábio acha que impressiona falando “bundão”, ele não sabe as coisas que pensei a seu respeito depois que ouvi suas críticas ao Rubem Alves e ao Ricardo Gondim.



Pra encerrar, quero salientar que não tenho nada contra muitas das propostas do Caminho da Graça, mesmo porque é a que me parece mais apropriada, sobretudo, a que conheço através do meu amigo Carlos Bregantim, em São Paulo. Aliás, este sempre se mostrou um homem simples, próximo, humilde, sem arrogâncias, insultos desnecessários e infantis.



Eu? Nunca fui para Brasília, nunca tive, e agora muito menos teria interesse de gastar meu dinheiro pra ir até lá ouvir o Caio em sua igrejinha com proposta de não-igreja. Aliás, na última vez em que ele esteve em São Paulo já não fiz nenhum esforço para ir ouvi-lo. Não perdi nada! Se for pra ouvir a mesma conversa outra vez e sempre, prefiro ouvir uma boa música, ler um bom livro, tomar uma boa gelada, ficar com minha esposa, com minha família, dedicar meu tempo aos meus estudos de pós-graduação – coisa que Vossa Santidade não sabe o que é, afinal, não precisa, pois é mais que um autodidata; nasceu sabendo! - Enfim, prefiro fazer o que para mim vale a pena, conforme escrevi num texto semanas atrás (cf. Sem igreja, graças a Deus!). E aqui incluo as propostas religiosas de “não igreja” que, na minha opinião, são apenas alternativas supostamente encontradas por pessoas que no fundo, no fundo, não conseguem – ou não podem $$$$$$$$ – viver sem igreja, caso contrário teriam de fazer uma coisa que a maioria não gosta e não sabe o que é: trabalhar.



Agora, prefiro parar para não começar a xingar, rebaixando-me (não elevando-me) ao nível de Vossa Santidade senhor Caio Fábio. E que pensem o que quiserem pensar do que escrevi aqui. Não me preocupei com a estética do texto, com a sincronia das palavras, com nada disso. A propósito, talvez este tenha sido um dos poucos textos com os quais não tive essas preocupações. Simplesmente liguei meu computador e comecei a digitar. Eu escrevi apenas o que estou sentindo depois de ter ouvido toda aquela arrogância típica de quem não tem o que fazer da vida.



sempre na Graça,

Jefferson


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sexta-feira, 18 de março de 2011

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Justiça e Amor de Deus.




Para amar é necessário presença.


Impossível querer demonstrar e experimentar o amor sem envolvimento, sem acolhimento.

Por outro lado, para exercer a justiça se requer distanciamento, para que haja imparcialidade.

Quem se envolve ou tem algum grau de envolvimento inviabiliza o julgamento, pois automaticamente o amor falará mais forte. “O amor é mais forte que a morte”.



Justiça requer distância, amor requer presença.

Manter as duas em equilíbrio seria tentar unir duas realidades em extremos opostos, o que levaria a pessoa a uma escolha entre “frio ou quente” e passaria a ser “morno”. Situação recusável na espiritualidade cristã. Deus não é morno.



Quem escolhe entre amor ou justiça está escolhendo entre aqui ou lá, perto ou longe, presença ou distanciamento.

Fica aqui o desafio para que cada um escolha a que Deus servir: Deus presente ou deus ausente. Deus de dentro ou deus de fora.



Antes de qualquer outra coisa é bom salientar que o conceito de justiça apresentado inicialmente é este do senso comum, na figura de um juiz que por força do exercício do direito legal deve ser imparcial para sentenciar ou absolver ou réu.

Alguém poderia objetar e dizer: - Deus é Deus e pode concentrar em si mesmo coisas que na nossa cabeça não se encaixam, pois Ele é tudo, o equilíbrio de todas as coisas.

É verdade, Deus pode, apesar de saber que em se tratando do Deus cristão, o único Deus, não é uma questão de poder, mas de SER. Deus é.



Agora, devo então recordar, que Deus é amor e NOSSA justiça com a maior naturalidade, ou espiritualidade de seu ser, e, nos desafia a sermos também, desde que seja possível, pois Deus não exigiria de nós algo impossível.



Relembremos o óbvio, mas que pode ajudar na análise: O ímpio pratica impiedade, o justo pratica justiça.

Deus é justo, portanto seus atos, independente dos nossos, serão justos, pois Deus não deixa de ser quem é.

Quer dizer, se alguém fizer o mal, Deus fará o mal contra ele?

Deixaria suas obras de justiça em função da nossa maldade?

Só para recordar as palavras de Paulo: “se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da Lei”(Rm 3:21).

Pela Lei, “olho por olho e dente por dente”, mas pela justiça de Deus, pensemos...



O Livro de Isaías, conhecido como messiânico, nos traz algumas ideias sobre a justiça divina:



1 – Isaías 1: 17 aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva. (Buscar a justiça como acabar com a opressão, lutar pelos direitos dos frágeis; fazer o bem, que no caso matar é um mal)



2 – Isaías 5:7 ... Ele esperava justiça, mas houve derramamento de sangue; esperava retidão, mas ouviu gritos de aflição.(Justiça contrária à morte e à aflição, em defesa da vida)



3 – Isaías 10: 1-2 Ai daqueles que fazem leis injustas, que escrevem decretos opressores, para privar os pobres dos seus direitos e da justiça os oprimidos do meu povo, fazendo das viúvas sua presa e roubando dos órfãos! (Injustiça como privação do bem)



4 – Isaías 11: 3-4 E ele se inspirará no temor do SENHOR. Não julgará pela aparência, nem decidirá com base no que ouviu; mas com retidão julgará os necessitados, com justiça tomará decisões em favor dos pobres. (O julgamento de Deus é reto porque defende os necessitados – supre-os; justo, pois defende o pobre).



5 – Isaías 30: 18 Contudo, o SENHOR espera o momento de ser bondoso com vocês; ele ainda se levantará para mostrar-lhes compaixão. Pois o SENHOR é Deus de justiça. Como são felizes todos os que nele esperam! (Deus quer mostrar sua compaixão, porque é Deus de justiça)



6 – Isaías 42: 1-3 "Eis o meu servo, a quem sustento, o meu escolhido, em quem tenho prazer. Porei nele o meu Espírito, e ele trará justiça às nações. Não gritará nem clamará, nem erguerá a voz nas ruas. Não quebrará o caniço rachado, e não apagará o pavio fumegante. Com fidelidade fará justiça; (O messias traz justiça às nações. Como? Não aumentando sofrimento àquele que sofre, mas livrando-os)



7 – Ezequiel 22: 29 O povo da terra pratica extorsão e comete roubos; oprime os pobres e os necessitados e maltrata os estrangeiros, negando-lhes justiça. (Negação de justiça é oprimir o pobre, extorquir, roubar e maltratar o diferente)



8 – Miquéias 3:1-2...Vocês deveriam conhecer a justiça! Mas odeiam o bem e amam o mal; arrancam a pele do meu povo e a carne dos seus ossos. (Conhecer a justiça: amar o bem e odiar o mal).



9 – Zacarias 7: 9 "Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Administrem a verdadeira justiça, mostrem misericórdia e compaixão uns para com os outros. ( Precisa dizer o que é uma verdadeira justiça? Pense em Deus exercendo sua justiça! como ela se manifestaria?)



Os textos por si só demonstram que justiça para Deus é fazer o bem, defender o fraco e oprimido, é se colocar ao lado do necessitado.

Jesus chamou a ajuda ao necessitado, de obras de justiça.

Segundo Paulo, (At 17) a prova de que Deus irá julgar o mundo com justiça é a ressurreição, isto é, Deus paga o mal - crucificação, com o bem - ressurreição.

No evangelho é revelada a justiça de Deus. O evangelho é a boa nova de que Deus salva o pecador.

No sacrifício de Cristo vemos a manifestação da justiça de Deus, não que ele tenha condenado seu Filho, mas porque perdoou os pecadores. Diante da rebeldia humana, Deus amou.

Feliz é o homem a quem Deus credita justiça, isto é perdoa seus pecados (Rm 4).



Matar inocentes, excluir o diferente, maltratar aquele que sofre seriam atos de um justo?

Por que feliz seria esperar a justiça do Senhor, se ele vier com ira destruidora?

Pois bem, a justiça que se revela na fé, crê que os enfermos são curados, os cegos vêem, os cativos são libertos. Haveria no exercício desta justiça algum sinal de que o pecador, na relação com Deus como figura do pobre, enfermo, cego e cativo, seria destruído? Aniquilado? Combatido? Aumentado seu sofrimento?

Pelo que me consta, a justiça de Deus é salvar, por isso o fruto da justiça é paz e bem aventurado aquele que nele espera.

Se Deus estiver contra o pecador, quem poderá ser salvo?



A justiça de Deus não opera pela Lei, é independente dela. A justiça de Deus opera pela graça. Se compreendermos isto, estaremos compreendendo o que significa “misericórdia quero e não sacrifícios”.

Mateus 9: 11-13 Vendo isso, os fariseus perguntaram aos discípulos dele: "Por que o mestre de vocês come com publicanos e 'pecadores'?" Ouvindo isso, Jesus disse: "Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Vão aprender o que significa isto: 'Desejo misericórdia, não sacrifícios'. Pois eu não vim chamar justos, mas pecadores".



Eliel Batista



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Amigos dão significado à vida





Quando os discípulos de Jesus viviam um momento dramático, às vésperas de perderem seu grande referencial, que era o próprio Cristo, este os conforta dizendo que queria tão-somente que eles fossem seus amigos: “não vou chamá-los de servos, agora vou chamá-los de amigos”.




Essa proposta de amizade coloca a relação entre eles num outro patamar. Não mais só mestre, ou líder religioso, ou qualquer outra coisa, mas também e, principalmente, amigo. E uma amizade que não ficasse apenas no nível das superficialidades. A proposta dele não é pra ser apenas um conhecido, um colega de trabalho, um irmão da igreja. Tampouco para ser um soldado ou um escravo, mas um amigo.



É uma amizade de verdade, franca, aberta e onde há um grande amor, pelo menos por parte de Jesus que diz: “Não há maior amor do que dar a vida pelos seus amigos”. Foi o que ele fez.



Ninguém vive sem amigos.



No fundo Jesus sempre quis que seus discípulos fossem seus amigos. Por isso, talvez, ele valorizou tanto os momentos triviais, informais. Um jantar na casa de Zaqueu, um bate-papo com Maria, na casa de Marta em Betânia, um copo d’água na beira de um poço com uma mulher samaritana, uma jantinha com pão e vinho com os discípulos, um peixinho assado com pão depois da ressurreição, na praia. Momentos sagrados para celebrar a amizade.



Creio que o grande desejo de Deus, desde a criação, é ser nosso amigo. Que fôssemos seus amigos. Cristo é a iniciativa de Deus para estabelecer essa amizade. Ele nos escolheu. Ele escolheu vir ao mundo para fazer-nos uma proposta de amizade.



Ah, se soubéssemos o que é ser amigo de Jesus. Somos como aquela mulher samaritana que ouviu de Jesus: Ah se você soubesse quem lhe pede água, você lhe pediria e ele te daria a água da vida. Se nós soubéssemos quem é que nos pede nossa amizade, nós lhe pediríamos ele nos daria sua eterna amizade, que é vida, que nos dá sentido à vida.



Amigos dão sentido à nossa vida, como escreveu Carlos Drummond de Andrade: “Precisa-se de um amigo que faça a vida valer a pena, não porque a vida é bela, mas por já se ter um amigo. Precisa-se de um amigo que nos bata no ombro, sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo. Precisa-se de um amigo para ter-se a consciência de que ainda se vive”.



Além do amigo Jesus, não teríamos condições de viver sem os amigos de carne e osso ao nosso redor. Talvez por isso o mandamento: “amem-se uns aos outros como eu os amei”. Ele sabia que a vida só é possível quando amamos e quando temos amigos que também nos amam. Uma vida assim, repleta de amigos, em que se celebram como sagrados os momentos com os amigos e onde há disposição a sacrifícios pelos amigos, proporciona uma existência plena de significado.





Márcio Rosa da Silva




Vi no http://marciorosa.wordpress.com/
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Deus perfeito ou imperfeito?




Para os gregos perfeição é algo pronto, acabado, sem falta de nada.






Ao ler as transcrições das falas apaixonadas de Deus, como aquela que diz sentir falta de seus filhos ou quando Jesus disse que aguardava ardentemente o momento da ceia com seus discípulos, percebo claramente como descrições de falta. Se não forem, então não sei do que se tratam. Segundo isto, posso dizer que o Deus revelado nas Escrituras, é bem diferente da concepção grega.



Pesquisei, procurei, insisti e não achei na bíblia, quer dizer no pensamento judaico, esta descrição de perfeição para Deus segundo estes moldes gregos.



Para Jesus, ser perfeito como Deus é amar a todo mundo indistintamente (MT 5:43-48). Jesus ensinou a um rapaz que se ele quisesse ser perfeito deveria dar tudo o que tinha para os pobres. Nisto vejo claramente uma alusão a Deus que deu o que lhe era mais precioso: seu unigênito.



O escritor aos Hebreus diz que Deus tornou o “autor da salvação” perfeito mediante o sofrimento (Hb 2:10). Poderíamos afirmar pelos critérios gregos que Deus era incompleto, portanto, imperfeito.

Mas pelos critérios judaicos, perfeito, porque perfeito é o amor que se dá por completo, até as últimas conseqüências de amar.

Resumindo a ideia, diria que a perfeição de Deus não é completude, mas plenitude. Deus antes da criação era incompleto, porque nunca havia experimentado as faltas, o sofrimento, mas era pleno, pois Deus é amor.



Teria então a criação lhe causado sofrimento?

Parece que sim, pois Pedro faz referência a um cordeiro sacrificado antes da fundação do mundo. Mas este sacrifício, ou sofrimento é do amor. Quem ama padece. Quem ama gasta sua vida. Quem ama como Deus dá a sua vida para que o outro tenha vida. Somente vida gera vida e como diz Jesus somente a que se esvai: Digo-lhes verdadeiramente que, se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto (Jo 12:24).



Quando nos referimos ao sacrifício divino temos o hábito de pensarmos somente na cruz. A cruz é símbolo que representa todo o sacrifício, mas o sacrifício todo é desde a criação. Ele se deu para que surgíssemos (criação) e se deu para que existíssemos (redenção) e na pessoa do Espírito Santo continua se dando para que sejamos filhos (justificação). O Pentecostes registrado em Atos não é um evento estanque e definitivo, mas um símbolo daquilo que Deus continua realizando pela e para a humanidade, conforme nos ensina Paulo pelos estudos gregos: 'Pois nele vivemos, nos movemos e existimos', como disseram alguns dos poetas de vocês: 'Também somos descendência dele' (At 17:28).



Portanto, Deus dinâmico como a vida e aquele que permanece o mesmo, não só fez alguma coisa, mas fez, faz e fará. Ele é o que era, que é e que há de vir.



Eliel Batista



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terça-feira, 1 de março de 2011

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Deus É Soberano sobre Sua Soberania



Roger E. Olson 



Os batistas têm o habito de reciclar temas teológicos calorosos. A soberania de Deus e o livre-arbítrio humano é um que vive aparecendo. Agora mesmo, o debate entre calvinistas e arminianos está esquentando novamente. Recentemente, um presidente de um seminário batista sugeriu que a Convenção Batista do Sul não tem lugar para os arminianos, o que deve ter sido um choque aos milhões de crentes no livre-arbítrio que são leais batistas do sul.




O que muitas pessoas não notam é que calvinistas e arminianos concordam que Deus é soberano e que Deus governa providencialmente sobre a criação e predestina pessoas para salvação. Suas áreas de acordo são muito maiores do que seus desacordos sobre interpretações específicas destes conceitos bíblicos.



Soberania tem a ver com o governo de Deus de todas as coisas; a doutrina cristã da soberania de Deus é que Deus está no comando do universo e tudo nele. Ele domina sobre ele. Providência é quase idêntico à soberania; ela trata do modo no qual Deus domina sobre sua criação.



Predestinação é outra doutrina ligada à soberania de Deus, mas não é idêntica à providência. Predestinação é o ensino bíblico que Deus preordena ou pré-conhece quais de suas criaturas humanas serão salvas. Os “eleitos” são escolhidos por Deus. Sobre estas doutrinas, calvinistas e arminianos concordam. Eles discordam sobre o papel que o livre-arbítrio desempenha em se uma pessoa está entre os eleitos e assim predestinada por Deus. Os calvinistas negam o livre-arbítrio como poder de escolha contrária e afirmam que a graça de Deus é irresistível. Os arminianos acreditam em livre-arbítrio como poder de escolha contrária e dizem que a graça nunca é imposta sobre ninguém; as pessoas podem e resistem à graça de Deus.



Seguindo o teólogo holandês Jacob Arminius (que morreu em 1609), os arminianos creem que Deus é soberano. De fato, Deus é tão soberano que ele é soberano sobre sua soberania. Em outras palavras, Deus limita seu poder para dar espaço ao poder humano da livre escolha, incluindo a liberdade para resistir à graça. Livre-arbítrio não é um resíduo de bondade humana que sobreviveu à queda no jardim; é um dom da graça de Deus que nos capacita a responder livremente à oferta de Cristo no evangelho.



O Calvinismo é a crença no determinismo divino; Deus é a realidade toda-determinante que soberanamente planeja e controla todos os eventos, incluindo as escolhas livres dos humanos. Os arminianos perguntam quão livres as pessoas podem ser se suas decisões são controladas. Os arminianos querem saber como Deus é bom e amoroso à luz da combinação do mal no mundo e a soberania e o poder todo-determinante de Deus. Até mesmo o mais inflexível dos calvinistas hesita em lançar a culpa do pecado e do mal em Deus. Após falar sobre o poder todo-determinante de Deus, eles se esquivam de dizer que Deus determinou a queda da humanidade no jardim ou o holocausto de Hitler. Uns poucos audaciosos vão em frente e dizem que Deus até mesmo causou os atos terroristas de 11 de setembro.



Nós que cremos na real liberdade da vontade, liberdade e poder de escolha contrária, vemos isso como a única forma de livrar-se de tornar Deus o autor do pecado e do mal. Um Deus que determina pessoas a pecar, ainda que somente por “permissão eficaz” (retirando a graça necessária para não pecar), é o pecador último. Um Deus que poderia salvar alguém, porque a salvação é incondicional, mas passa por alto de muitos – enviando-os para a condenação eterna – é moralmente ambíguo na melhor das hipóteses. Como John Wesley comentou, se isto é amor, é um amor que faz gelar o sangue.



Reconhecidamente, a maioria dos calvinistas não segue a lógica de sua própria concepção da soberania de Deus a sua justa e necessária conclusão. Eles afirmam que Deus é amoroso, mas dizem que “mundo” em Jo 3.16 não se refere a todos, mas a pessoas de toda tribo e nação – os eleitos. Deus ama todas as pessoas de alguma forma, mas somente os eleitos de todas.



Os arminianos acreditam no amor universal de Deus por todas as pessoas criadas à sua imagem e semelhança. Deus não quer que ninguém pereça, senão que todos alcancem o arrependimento (2Pe 3.9), porque ele deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2.4).



Claramente, Deus não consegue completamente o que quer, porque ele é soberano sobre sua soberania e permite que pessoas pecadoras se oponham à sua vontade. Mas isso de forma alguma diminui sua grandeza ou poder; é evidência de sua autolimitação e respeito amoroso pelas pessoas.




Fonte: http://www.baptiststandard.com/index.php?option=com_content&task=view&id=5077&Itemid=134

Tradução: Paulo Cesar Antunes