terça-feira, 31 de março de 2009

CAPÍTULO 4 - James Arminius

Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo
Capítulo 4
JAMES ARMINIUS
Contrário à abundância fora do normal de material sobre João Calvino, há pouco a ser encontrado sobre James Arminius o homem, ainda que a designação derivada de seu nome seja maliciosamente lançada de todas as maneiras pelos calvinistas. A vida de James Arminius se assemelha à vida de João Calvino. E como Calvino, ele não foi o originador desse sistema que carrega seu nome. Isto é admitido pelos mais ardentes dos calvinistas:

Por mais paradoxal que possa parecer, Arminius não foi o primeiro arminiano.[1]

As opiniões denominadas arminianas tinham sido substancialmente ensinadas antes de Arminius aparecer.[2]

Não somente os calvinistas admitem que Arminius não foi o autor do Arminianismo, eles da mesma forma reconhecem que ele não ensinou tudo contido nesse sistema que carrega seu nome:

Muito do que é freqüentemente classificado sob o nome geral de Arminianismo contém uma quantidade muito maior de erro, e uma quantidade muito menor de verdade, do que os escritos de Arminius.[3]

O sistema de soteriologia que é chamado “Arminianismo” não representa inteiramente a posição de James Arminius.[4]

James Nichols (1785-1861), o tradutor das obras de Arminius, tinha isto a dizer sobre a relação de Arminius com o Arminianismo:

O sistema de crença religiosa verdadeiramente evangélico que é conhecido nos dias modernos sob o nome de ARMINIANISMO, tem sido assim designado, não porque ARMINIUS foi o único autor dele, mas, ... porque ele reuniu aquelas esparsas e freqüentemente incidentais observações dos Pais Cristãos, e dos Teólogos Protestantes, que têm uma relação colateral com as doutrinas da Redenção Geral, e porque ele as condensou e as aplicou de tal maneira a combiná-las num imponente e harmonioso esquema, no qual todos os atributos e perfeições da Deidade são unidos a ele de uma maneira mais clara e mais óbvia do que pelo Calvinismo.[5]

Como Calvino, Arminius é apaixonadamente estimado ou intensamente menosprezado. Os admiradores de Arminius têm afirmado:

James Arminius foi o legítimo restaurador da doutrina que fluíram dos lábios do impetuoso Pedro, do amado João, do doce Tiago, do hábil Paulo, e de todos os apóstolos e primeiros Pais da Igreja.[6]

Ele me pareceu ser um homem que verdadeiramente temia Deus, da MAIS PROFUNDA ERUDIÇÃO, notavelmente bem verdado nas controvérsias religiosas, e PODEROSO NAS ESCRITURAS.[7]

Arminius foi um piedoso e devoto homem, prudente, cândido, brando e sereno, o mais zeloso a preservar a paz da Igreja.[8]

Arminius foi um fiel e enérgico ministro do Evangelho.[9]

Além das caluniosas observações que já fizeram sobre o Arminianismo, têm sido também afirmado pelos calvinistas sobre Arminius:

Um competente praticante do engano e de táticas ardilosas, como muitos um herético.[10]

Seu caráter quanto à integridade, lisura, e fidelidade às suas promessas e profissões oficiais, está coberta de manchas que nunca podem ser, por qualquer artifício, apagadas.[11]

Não importa quão claramente suas concepções representaram um distanciamento marcante da fé reformada, ele sempre se escondeu debaixo do manto da ortodoxia.[12]

Infelizmente, esta conotação negativa de Arminius tem sido aceita sem reserva pela maioria dos cristãos.

Mas apesar dos ataques feitos contra ele por sua doutrina pelos calvinistas, alguns calvinistas têm sido honestos o suficiente para admitir que, em relação ao seu caráter, Arminius era irrepreensível:

Um homem de amável personalidade, refinado em conduta e aparência.[13]

Um homem dos mais honrados e indubitavelmente um crente muito fervoroso.[14]

Arminius, quanto a talentos, erudição, eloqüência, e exemplaridade geral de comportamento moral, é indubitavelmente digno de elevada exaltação.[15]

Até o teólogo reformado holandês Homer Hoeksema (1923-1989) reconhece Arminius como um “brilhante erudito.”[16] Custance da mesma forma elogia sua “profunda sabedoria.”[17] Todavia, visto que as únicas referências a Arminius são usualmente encontradas em livros sobre o Calvinismo, a ignorância sobre ele é excessiva. Esta ignorância sobre Arminius é tão difundida que até os não-calvinistas regularmente o deturpam. Mas a ignorância comum que existe sobre Arminius é talvez maior entre aqueles que têm mais humilhado-o: os calvinistas. A maioria dos calvinistas não leu suas obras nem estudou a época em que ele viveu. Eles têm ficado contentes por perpetrar ad nauseam a caricatura do homem que permanece um enigma para a maioria dos cristãos. Mantendo a natureza do livro, este breve estudo objetiva apresentar o outro lado de Arminius – sua vida, sua teologia – mas primeiro, a época em que ele viveu.

[1] Homer C. Hoeksema, The Voice of Our Fathers (Grand Rapids: Reformed Free Publishing Association, 1980), p. 5.
[2] Samuel Miller, p. 6.
[3] Cunningham, Theology, vol. 2, p. 375.
[4] Sellers, p. 11.
[5] James Nichols, citado em Works of Arminius, vol. 1, p. 84.
[6] Curtiss, p. 15.
[7] Matthias Martinus, citado em Works of Arminius, vol. 1, p. liii.
[8] Philip Limborch, citado em Works of Arminius, vol. 1, p. liii.
[9] John Wilks, citado em Works of Arminius, vol. 1, p. lxiii.
[10] Homer Hoeksema, Voice of Our Fathers, p. 9.
[11] Samuel Miller, p. 17.
[12] Louis Praamsma, “The Background of the Arminian Controversy (1586-1618),” em Peter Y. De Jong, ed., Crisis in the Reformed Churches (Grand Rapids: Reformed Fellowship, 1968), p. 28.
[13] Homer Hoeksema, Voice of Our Fathers, p. 9.
[14] Custance, p. 195.
[15] Samuel Miller, p. 17.
[16] Homer Hoeksema, Voice of Our Fathers, p. 9.
[17] Custance, p. 195.

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