terça-feira, 31 de maio de 2011

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Eternizar o instante






Ainda adolescente, assisti a um filme russo produzido na antiga União Soviética. O filme contava a história de um rapaz destacado para o front na II Guerra Mundial. 

Depois de dois anos longe de casa, ele finalmente ganhou um salvo conduto para visitar sua casa por 15 dias. Ficaria com a mãe. Mas a viagem de regresso foi cheia de percalços: o trem quebrou, houve ataque de tropas inimigas, perdeu a conexão, nevou. Aconteceram tantos incidentes, tantos atrasos, que ao desembarcar na estação do vilarejo, o jovem só dispunha de meros quinze minutos antes de pegar o trem de volta. Se não fizesse, enfrentaria processo como desertor.


O inominável aconteceu: a mãe também se atrasou. Os únicos quinze minutos do rapaz foram gastos a andar, desesperado, de um lado para outro. O tempo se esgotou e ele se viu obrigado a subir no mesmo vagão que viera. No exato momento em que o trem começou a se afastar, a mãe chega. A dramaticidade do filme atinge ao ponto máximo quando a mulher corre. Com a locomotiva já em movimento, filho e mãe mal conseguem tocar a ponta dos dedos.



O esforço da viagem se resumiu a esse simples toque, e a uma mera troca de olhares. Na última cena, o vagão some na curva, enquanto o rapaz se recosta, aliviado, no assento de madeira. Ele está feliz, com um leve sorriso nos lábios. O filme deixou uma mensagem: quando amamos, qualquer encontro, mesmo fluido, rápido, impermanente, é precioso.


Na vida, temos duas dimensões: passado e futuro; um passado que se alonga e um futuro que se encolhe. Nunca temos o presente. O instante nos foge. O presente escapa, esfumaça-se, dilui-se. A única constância que existe é o fluxo do devir que transforma futuro em passado. E não há nada ou ninguém que possa impedir.


No rápido hiato entre porvir e pretérito, alguns acontecimentos se perdem, outros se eternizam. Com o passar dos anos a memória vai se tornando seletiva. No que vivenciamos, apenas um punhado de coisas fica armazenada; algumas doloridas, outras felizes.


Sempre que guardamos algum evento, eternizamos o instante. Ficam com a gente tanto coisas boas como ruins. Carregamos em algum recinto da alma, cicatrizes, traumas, olhares ferinos, frases destruidoras, gestos ameaçadores. Também mantemos, como flash, incentivos, abraços solidários, acolhimentos, sorrisos.


Participei de reuniões que já não recordo a data. Dia, mês e ano se apagaram, mas consigo perceber o semblante de pedra das pessoas que lá estavam, posso repetir alguma frase agressiva e ainda noto a mão gelada que me cumprimentou na despedida.


Esqueci o nome de amigos. Perdemos o contato e já não sei por onde andam, mas posso descrever, piadas, brincadeiras e sorrisos que fizeram desses amigos a riqueza de minha história.


Meus pais ficarão eternizados dentro de mim. Bem criança, lembro de que o dedo estendido do papai substituía a sua mão. Sempre que saíamos para algum lugar, ele cerrava o punho para deixar apenas o indicador para eu segurar. Aquele dedo era minha âncora – só de lembrar, sinto-me forte. Ficou impregnada a iniciativa da mamãe de passar a limpo o meu dever de história do Brasil. Desde aquele longínquo quarto ano primário, as páginas do caderno, com sua letra bem desenhada, continuam nítidas.


Sou um museu de imagem e som. Vez por outra visito a sala onde ouço vozes e projeto filmes com a Carolina engatinhando, a Cynthia arengando para não comer e o Pedro aprendendo a andar de bicicleta. Nesses arquivos, recebo o abraço da Geruza, no aeroporto, para me receber de uma longa viagem ao exterior.


Acredito que viver se reduz ao esforço de não deixar que a fração diminuta do que entendemos por tempo se disperse, mas continue impregnada na alma. Sim, viver é estocar memórias até o momento em que o corpo vai notar que vida está nos derradeiros centésimos de segundos. Aquele instante em que veremos, num relance, tudo o que entesouramos; quando fecharemos os olhos com o sorriso do jovem soldado russo.


Soli Deo Gloria



Vi no http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=65&sg=0&id=2410
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Ed René Kivitz - TALMIDIM 002: Poeira




Vi no http://edrenekivitz.com/blog/

segunda-feira, 30 de maio de 2011

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Um pregador na berlinda

Líder da Igreja Betesda, o pastor Ricardo Gondim fala com exclusividade ao O POVO sobre as controvérsias que se envolveu recentemente e reafirma seu medo do País virar evangélico




O pastor Ricardo Gondim tem o dom da oratória., E da polêmica. Na semana que passou, o presidente nacional da igreja Betesda, cearense radicado em São Paulo há 20 anos, deixou de ser colunista da revista evangélica Ultimato por defender o reconhecimento legal de uniãões homoafetivas.


Antes de publicizar sua opinião sobre a necessidade da igreja não se intrometer no funcionamento do Estado laico, o pastor Gondim já havia causado estranhamento em alguns setores evangélicos ao questionar o modo como eles entendiam a soberania Divina. E em seu site (www.ricardogondim.com.br) publicou um artigo revelando o temor que um dia os evangélicos tomem o poder no Brasil (leia trechos nesta página).



Nesta entrevista exclusiva ao O POVO, concedida por telefone na última sexta-feira, o pastor justifica seus posicionamentos, reafirma suas posturas e declara: “O Brasil não se tornará melhor com o crescimento do Movimento Evangélico.”

OPOVO - O senhor causou polêmica ao defender publicamente a regulamentação de uniões homoafetivas no Brasil. O senhor mantém esse pensamento?


Ricardo Gondim - Não é uma questão de pensamento. É uma questão de lógica e eu repito o que disse. Em um estado laico, a lei não pode marginalizar ou distinguir homens ou mulheres que se declarem homoafetivos. Há que se entender que num estado laico não podemos confundir teologia, convicções pessoais, com o ordenamento de leis de um país. Não podemos impor preceitos religiosos para toda a sociedade civil. Se os preceitos são meus, você tem o direito de não adotá-los. Foi assim que me posicionei sobre essa questão do STF, que, a meu ver, agiu corretamente garantindo o direito de um segmento de nossa sociedade.

OP - Além do posicionamento a favor da regulamentação de uniões homoafetivas, há outros pontos polêmicos em declarações recentes suas. Uma das críticas que setores evangélicos fazem ao senhor diz respeito à sua opinião sobre a soberania Divina. Eles dizem que o senhor passou a pregar que Deus não é soberano.


Ricardo - O que acontece é que eu descarto a teologia que se difundiu sobre a soberania de Deus. Por essa teologia, Deus tem o controle absoluto de todas as coisas. E as pessoas não estão dispostas a entender que o corolário desse pensamento, o que dele decorre, é que até o orgasmo, o gozo do pedófilo, ou os horrores de Auschwitz (um dos mais conhecidos campos de concentração nazista) estão na conta de Deus, sob a alegativa de que Ele é soberano. Se as pessoas estão dispostas a entender assim, esse Deus é um monstro, não um Deus de amor. A minha leitura da Bíblia é a partir de Jesus Cristo, que é um Deus de amor, e não de Deus títere, que é responsável por chacinas, atrocidades, limpezas étnicas. A história segue não porque Deus a controla, a história segue porque somos personagens livres e nos comportamos com desobediência à vontade de Deus. É por isso que existem a miséria, os crimes, a exclusão. Porque Sua vontade é contrariada. As pessoas não estão dispostas a lidar com esses conceitos, preferem se amparar na Soberania, que nos rouba a nossa responsabilidade na história.


OP - Recentemente, o senhor publicou no seu site o artigo Deus nos livre de um Brasil evangélico (leia trechos ao lado), onde demonstra o seu temor que o segmento chamado Movimento Evangélico chegue ao poder no Brasil e aponta uma série de razões para isso. Como esse artigo foi recebido?


Ricardo - Foi muito mal recebido. Porque há, sim, um segmento no Brasil, que se auto-denomina Movimento Evangélico, que difunde a ideia de que se os evangélicos se multiplicarem no País, se houver um número suficiente para dominar a política, as leis, se chegarem ao poder, o Brasil será um País melhor. Isso é um ledo engano. O Brasil não se tornará melhor com o crescimento do Movimento Evangélico. Porque esse crescimento não significa por si só o crescimento dos valores do Reino de Deus, que são a justiça, a inclusão que dos que estão à margem, o amor. Esses valores não são prioridade para o Movimento Evangélico. Até porque, o número crescente de evangélicos também estará absorvendo outros valores como a cobiça, a injustiça social, o desejo de crescimento financeiro e de poder. Esta última tentativa de interferência no ordenamento do STF é um exemplo desse projeto de poder.

OP - O senhor se refere à votação da regulamentação das uniões homoafetivas?


Ricardo - Sim. Eles ficaram numa campanha interna, enviando mensagens pressionando os ministros para que votassem contrários à união homoafetiva. E ficavam conclamando seus fieis para fazer o mesmo. Isso em um estado laico é um absurdo. A mesma coisa está acontecendo agora no Congresso Nacional.


OP - O senhor fala da atuação da bancada evangélica na suspensão, por parte do Governo Federal, da distribuição do kit anti-homofobia nas escolas?


Ricardo - Exatamente. Falo de uma das maiores aberrações éticas que já surgiu neste País nos últimos tempos. Em nome de blindar um ministro que está suspeito de enriquecimento ilícito, que está tendo que explicar o aumento meteórico de seu patrimônio, negociou-se a questão do kit anti-homofobia. Isso mostra do que esta bancada, que se diz evangélica, que diz representar os evangélicos, está disposta a negociar. Em nome desse projeto de poder que eu falei anteriormente, negociou-se um projeto de grande valor para esse País. Isso é lamentável, completamente lamentável.

OP - O senhor encontra ressonância para esse tipo de discurso na comunidade evangélica ou sua fala – assim como o pensamento por ela representado – é dissonante?


Ricardo - Não é dissonante, de maneira nenhuma. Existe um grande grupo que concorda com esse pensamento e que caminha nessa linha. Embora eu esteja em baixo de grande percepção por conta de grupos intolerantes e fundamentalistas, tenho me surpreendido com o número de evangélicos que me dizem para continuar.

OP - O senhor se arrepende de ter se manifestado publicamente sobre essas questões?


Ricardo - Não. Absolutamente. Eu continuo repetindo o que disse. As minhas convicções não são intempestivas, são frutos de amadurecimento teológico. O estado é laico, e é importante que se mantenha assim. Num estado laico todos os grupos são protegidos, até os religiosos.


Émerson Maranhão



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Nosso Making Of existencial



 
Por Hermes C. Fernandes


Às vezes penso que ao adentrarmos a eternidade, teremos acesso aos nossos arquivos existenciais. Poderemos até assistir in loco a cada episódio de nossa jornada, porém, sem poder interferir em nada. Acho que há lições preciosas que nos foram ministradas durantes tais episódios, que não foram apreendidas completamente. Teremos que fazer uma espécie de revisão. Talvez tenhamos aprendido apenas o superficial, conquanto haja camadas mais profundas que careçam de ser investigadas.

Também acredito que aferiremos o alcance e a repercussão que nossas obras tiveram, bem como tomaremos conhecimento de vidas que foram afetadas direta ou indiretamente por elas. Não ouso dogmatizar sobre isso. Trata-se apenas daquilo que chamo de “ficção teológica”.

Porém, há passagens bíblicas que parecem indicar tal possibilidade. Apocalipse diz que bem-aventurados são os que agora dormem no Senhor, pois suas obras os acompanharão. Portanto, em nossa viagem rumo à glória final, carregamos uma bagagem existencial. A cada escala desta viagem, acrescentamos novos ítens à nossa bagagem. Quando lá chegarmos, abriremos a mala e verificaremos ítem por ítem. Roupas amarrotadas terão que ser passadas e colocadas no cabide. O que estiver no fundo da mala, e que já até houvermos esquecido, será trago à tona, porém, já não nos trará qualquer tristeza, porque nos será revelado o propósito por trás dos fatos.

Comparando a um filme: a hora de partirmos deste mundo, será o momento em que a fita será rebobinada. Na glória poderemos assisti-la, sem cortes, sem censura, sem edições posteriores, versão do supremo Diretor. Assistiremos, por assim dizer, ao making of de nossa vida terrena. Descobriremos, entre outras coisas, quantas vezes recebemos livramentos, sem que houvéssemos dado conta deles. Saberemos, finalmente, onde, quando e como todas as coisas cooperaram em conjunto para o nosso bem, e para a glória d’Aquele que nos amou.

Assim como atualmente, muitos filmes estão sendo relançados numa versão 3D, veremos nossa vida numa versão amplificada, envolvendo todas as dimensões da existência, bem como suas interações e implicações.

Não creio que nos esqueceremos dos fatos em si, mas das dores que eles provocaram. Deus não precisa queimar arquivos, simplesmente, porque hão há o que esconder. Tudo, finalmente, fará sentido.
 
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Desta ninguém escapa! Nem você!





Por Hermes C. Fernandes



Frutos! Muito tem sido dito acerca disso. Temos que dar frutos, vociferam os pregadores em seus cultos dominicais. Uns confundem os frutos com almas ganhas para Cristo. Outros confundem com ofertas tragas no gazofilácio. Do que se trata, afinal, tais frutos?

O fruto é o que se espera de uma árvore. Cada árvore deve produzir de acordo com sua espécie. Portanto, seus frutos denunciarão qual é sua verdadeira natureza. Jesus deixou isso muito claro: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Do mesmo modo, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus. Não se pode a árvore boa produzir maus frutos, nem a árvore má produzir frutos bons” (Mt.7:15-18).

Em outras palavras, não se deixe enganar pela aparência, pela voz suave, pelo jeito cativante. Verifique os frutos, não apenas a curto prazo, mas também a médio e longo prazo. Jesus também alerta sobre isso: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi, e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça (Jo.15:16a).

Portanto, não importa apenas a quantidade de frutos, mas também sua qualidade. Se o fruto dado não resiste ao tempo, é sinal de que há algo errado com a árvore.

Éramos todos ramos de uma árvore chamada Adão. Tudo o que produzíamos já vinha bichado, apodrecido pelo pecado. Paulo levanta a questão: “E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? pois o fim delas é a morte” (Rm.6:21). A seiva de que nos nutríamos estava comprometida. Mas Deus nos removeu dessa árvore e nos enxertou numa nova árvore, a saber, Jesus Cristo, a Videira Verdadeira. Esta o operação de remoção e enxerto pode ser chamada de “arrependimento”.

O que Deus espera de nós, agora? Que produzamos “frutos dignos de arrependimento” (Mt.3:8). Tais frutos apontam para o conjunto de nossa vida, e não apenas para as ofertas ou pessoas que trazemos à igreja. A maneira como tratamos nosso cônjuge, nossos filhos, colegas de trabalho, e até com os nossos inimigos, como lidamos com a possessão de bens materiais, como reagimos a uma crise, etc. Enfim, nosso comportamento vai revelar de que árvore somos ramos e de que seiva temos nos alimentado.

O apóstolo Paulo chama este conjunto de “o fruto do Espírito”. Em vez de usar a palavra grega γέννημα (gennēma), traduzido geralmente como “ frutos” (plural), ele usa καρπός (karpos), que geralmente é traduzida como “fruto” (singular). O que ele tem em mente é um cacho de uvas (lembre-se que Cristo se apresenta como a Videira). Cada uva é uma gennēma, mas o cacho inteiro é um karpos. Você nunca vai encontrar um cacho de uvas com espaços vagos. Da mesma maneira, quando somos partícipes da Videira Verdadeira, Sua seiva que é o Espírito Santo produz em nós o fruto completo: “Amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl.5:22-23).

Há uma lista parecida oferecida por Pedro (2 Pe.1:5-7), onde ele termina dizendo: “Pois se em vós houver estas coisas em abundância, não vos deixarão ociosos nem infrutíferos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (v.8).

Aquele que estando n’Ele não dá o fruto esperado, recebe d’Ele o trato necessário. Segundo Jesus, quem não dá fruto é cortado, pois ocupa inutilmente o espaço (Mt.21:43), enquanto quem produz é podado pra que produza ainda mais. Ninguém fica imune à tesoura do podador (Jo.15:2). O que demonstra que Deus Se importa tanto com a qualidade de nossos frutos, quanto com a quantidade de nossa produção.



Vi no http://www.hermesfernandes.com/
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O Bom Casal Gay

O Bom Casal Gay (Inspirado na parábola do bom samaritano e no texto “O Bom Travesti”, de Rubem Alves)

E numa tarde de domingo, vários pastores e líderes evangélicos e católicos, também apoiados pela ala “cristã” da Câmara e do Senado, encostaram Jesus na parede e lhe fizeram a pergunta crucial: Diga-nos logo quem são aqueles que fazem a Tua vontade e amam o próximo segundo a Tua verdade?

E Jesus então lhes contou uma história:

Um bebê foi abandonado por seus pais num valão que ficava entre duas igrejas: uma catedral católica, tradicional na cidade por sua beleza e imponência arquitetônica e um mega-templo evangélico, repleto de carros do ano à porta, cujo pastor ostentava seus muitos dotes financeiros em ternos de corte impecável e carros importados de causar inveja aos maiores empresários da cidade.

O pastor e sua esposa iam para o culto e ao pararem num sinal de trânsito perceberam o bebê jogado no valão, abriram o vidro blindado do seu carro e ouviram o choro da criança. Repreenderam o demônio que havia na “mãe tão desnaturada” que havia abandonado a criança ali, e já pensaram em organizar a Marcha Profética pelo fim do abandono de crianças. No entanto, devido às muitas viagens “em nome de Deus” e também do gasto que já tinham de condomínio e manutenção dos carros importados, não poderiam assumir o risco de levarem aquela criança pra casa, pois além dos gastos que lhe trariam, não sabiam sua procedência e se havia sobre ela qualquer espécie de maldição.

O sinal abriu, e partiram, orando por aquela situação.

Logo depois, no mesmo sinal passou um casal de católicos fervorosos. Há 20 anos lideravam movimentos de Encontros de Casais com Cristo, além do marido ser atuante nos Cursilhos de Cristandade. Viram aquela cena e choraram ao ouvirem o choro da criança abandonada. Falaram sobre as diversas Campanhas da Fraternidade, de como aquele quadro deveria ser mudado, perguntaram entre si pela turma da Teologia da Libertação, que não aparecia naquela hora e lamentaram não poder levar o bebê, devido ao fato de já terem gastos excessivos com seus cães labradores, ganhadores de concursos regionais. Mas saíram dali dispostos a participarem da próxima Marcha pela Família, organizados pelos setores de defesa da vida da sua igreja.

Já no fim da tarde, passava por ali dois rapazes, que comemoravam a recente decisão do STF em favor da união civil homoafetiva. Brindavam o fato de poderem legalizar a sua situação, já que há 8 anos viviam juntos. Mesmo em meio à música alta que tocava no carro, ouviram um choro ao longe, ao pararem no sinal vermelho. Abaixaram o som e viram a criança que soluçava e já quase não tinha forças, abandonada ali ao relento, desde a manhã...

Choraram muito. Pararam o carro, desceram e pegaram o pequenino no colo. Seus corações arderam de amor por aquela vida tão frágil e indefesa que decidiram leva-la para o apartamento em que moravam, que passava por uma reforma, e decidiram deixar para depois a conclusão da sala-de-estar e transformaram o espaço no quarto do bebê. Deram-lhe o nome de Daniel, que um dos dois lembrara significar “Deus é meu juiz”, e o bebê agora sorria, ao tomar seu primeiro banho, nos braços dos seus novos pais...

E Jesus, encarando os olhares furiosos daqueles que estavam ali lutando pela honra da família cristã, perguntou:

- Qual destes casais provocou um sorriso de aprovação na face amigável de Deus?

José Barbosa Junior, maio/2011 – Jequié – BA



sábado, 28 de maio de 2011

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Ed René Kivitz - TALMIDIM 001: Reflexões Diárias




Vi no http://edrenekivitz.com/blog/

sexta-feira, 27 de maio de 2011

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A instrumentalização do medo





Alguns antigos pregadores usavam a seguinte expressão: “Uma gota de mel atrai mais moscas do que um barril de vinagre”. Afirmavam isso para dizerem que uma mensagem de amor e compaixão atrai mais pessoas que mensagem de medo e juízo. Quanto às moscas é verdade, mel atrai mais do que vinagre, mas, quanto ao caráter metafórico da frase, é um grande equívoco. Infelizmente.


Não, uma mensagem de amor e compaixão não atrai mais pessoas do que a de ameaça e medo. O discurso que incute medo é muito mais eficaz para “fidelizar” pessoas num grupo religioso. O pavor diante de um possível castigo divino é um excelente instrumento para subjugar, para manipular pessoas.


Para aprisionar alguém, basta incutir-lhe medo. É assim em todas as áreas. O funcionário que tem medo de perder o emprego será absolutamente subserviente ao seu patrão. A mulher apavorada pelas ameaças do marido agressor ficará sempre quieta diante da violência que sofre. A criança que sofre violência sexual sempre tem medo de o abusador lhe causar mal ainda maior e, por isso, tem dificuldade em denunciar. O medo é paralisante.


Também nos movimentos religiosos. Funciona assim, determinado grupo afirma que é o portador dos “tíquetes” para entrar no céu e, fora daquela instituição, ou crendo de um jeito diferente do que ali é ensinado, o sujeito está fora do céu. Logo, está condenado ao inferno. Não foi à toa que a religião foi chamada de ópio do povo. Conseguindo fazer as pessoas acreditarem assim, elas ficam apavoradas ante a ameaça do fogo eterno e, assim, facilmente manipuláveis. Escravas.


São grupos que acreditam ter o monopólio de Deus e da salvação, como se Deus tivesse alguma religião ou fosse membro de carteirinha de alguma igreja.


Já a mensagem de Cristo é de amor. E no amor não há medo. Se há medo, não há amor. É uma mensagem libertadora. Uma mensagem inclusiva, que abraça aqueles que eram considerados uma abominação para a religião dominante. Todos são considerados dignos. Aqueles que eram marginalizados pelos zelosos intérpretes da lei eram abraçados pelo Cristo que não fez discriminação de pessoas.


E o amor pressupõe liberdade, mas nem todos gostam de liberdade, porque ela traz consigo a responsabilidade pelo rumo de suas vidas. Já não se pode culpar a Deus ou ao diabo por tudo. É necessário, com a liberdade, enfrentar a vida sem o pavor das ameaças, ou sem o interesse egoísta de se locupletar pela fé, mas com coragem e lucidez. E há também aqueles que não gostam de ver a liberdade dos outros.


Não foi sem razão que decretaram a morte de Jesus. A liberdade não faria bem para estruturas escravizantes. Mas faz um bem enorme a quem realmente abraça a mensagem do Evangelho, com a leveza da graça, a doçura do amor e os bons ares da liberdade.


Márcio Rosa da Silva



Vi no http://marciorosa.wordpress.com/
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"Que rei sou eu?" Pastores entre o poder, a fama, o glamour e a luxúria



 
Por Hermes C. Fernandes


“O rei Davi era já velho…” Assim começa o relato do último capítulo da vida do grande monarca de Israel (1 Reis 1:1). Prestes a despedir-se do mundo, Davi teria que enfrentar seu último gigante.

Adonias, seu filho, apoiado por algumas das pessoas de maior confiança de Davi, resolvera usurpar o trono do próprio pai, embora soubesse que estava destinado a seu meio-irmão Salomão. Nada indicava que ele fosse capaz de tal ‘proeza’. Crescera à sombra de Absalão, que se destacava por sua beleza e ambição. Este também conspirou contra seu pai, e acabou assassinado pelo comandante do exército de Israel. Depois da morte de Absalão, Davi devotou a Adonias todo o seu amor. Talvez movido de culpa pelo que aconteceu a Absalão. O texto bíblico diz que “seu pai jamais o havia contrariado” (v.6). Enquanto Absalão tinha um espírito independente, e fora criado solto, Adonias fora criado nas barras de seu pai. Ambos conspiraram para tomar o trono de Israel, porém, com motivações bem distintas. Absalão era movido pela vaidade. O que desejava era o poder, a fim de provar à todos que poderia ser um rei mais competente que seu pai (2 Sm.15:4). Já Adonias foi movido pela paixão.

O texto diz que Davi, já de idade avançada, “por mais que o envolvessem com cobertas, não conseguia se aquecer. Então lhe disseram os seus servos: Busque-se para o rei meu senhor uma jovem virgem, que esteja perante o rei, e tenha cuidado dele. Durma ela no seu seio, para que o rei meu senhor se aqueça. Assim procuraram por todos os termos de Israel uma jovem formosa, e acharam a Abisague, sunamita, e a trouxeram ao rei. Era a jovem sobremaneira formosa: cuidava do rei, e o servia, porém o rei não a conheceu. ENTÃO Adonias, filho de Hagite, se exaltou, dizendo: EU REINAREI” (1 Reis 1:1-5a).

Abisague fora escolhida como a última concubina de Davi. Aquele que o sucedesse no trono, herdaria seu harém, e isso, incluía aquela linda jovem. Foi por desejá-la, que Adonias fez o que fez. Não era o trono que lhe interessava, mas o prazer que teria ao possuir àquela linda virgem que cuidava de seu velho pai.

- Que desperdício! Imaginava Adonias. – Uma jovem tão formosa, cuidando de um velho incapaz de satisfazê-la.

Enquanto Absalão fora seduzido pelo poder, Adonias foi seduzido pela luxúria.

O coração humano é deveras complexo. Há desejos que escondem motivações mais profundas, por vezes, inconfessáveis. Uns almejam o trono pelo poder, outros pelo prazer. Mas poucos são os que o almejam pela motivação certa.

Paulo diz que “se alguém aspira ao episcopado, execelente obra deseja” (1 Tm.3:1). Houve um tempo em que muitos jovens almejavam o ministério com motivações puras. Queriam ganhar almas, servir ao rebanho, e glorificar a Deus através de suas vidas. Hoje, porém, há muitos que aspiram ao ministério pelo glamour, pela fama, pelo dinheiro, pelo poder. Aliás, sempre houve quem nutrisse tais motivações. Paulo denuncia aqueles que imaginavam que o ministério fosse “fonte de lucro” (1 Tm.6:6). Pedro também os denuncia e diz que “muitos seguirão as suas dissoluções, e por causa deles será blasfemado o caminho da verdade. Por ganância farão de vós negócio, com palavras fingidas” (2 Pe.2:2-3a).

Não é o trono que querem, e sim, Abisague. O trono é apenas o meio de se alcançar o verdadeiro objetivo. Da mesma forma, não é o ministério que aspiram, mas a fama, que eventualmente, vai possibilitá-los concorrer a um cargo político. O nome de Deus é usado para que se consiga outros fins. É triste constatar isso, mas é a mais pura realidade. Chega ser nojento…

E quem não se dobra isso é tachado de idiota. É como o velho Davi, que tem Abisague ao alcance das mãos, mas é incapaz de possuí-la.

Quando Natã, o profeta, soube das intenções de Adonias, chamou Bate-Seba em particular, e pediu que colocasse Davi à par do que estava acontecendo. Afinal de contas, Davi jurara que Salomão, filho de Bate-Seba, seria seu sucessor no trono.

Ao saber que Adonias estava promovendo uma festa em que se auto-proclamava o novo rei de Israel, Davi mandou que buscassem sua mula, e fizessem com que Salomão a montasse, e que, chegando a Giom, fosse ungido pelo profeta Natã, e pelo sacerdote Zadoque, como o legítimo rei de Israel.

Naquele momento, Israel tinha dois reis, um legítimo, outro impostor. O povo, percebendo o que acontecia, deixou a festa de Adonias, e juntou-se aos que celebravam a posse de Salomão.

Ao ser informado do que acontecia, Adonias se desesperou, pois sabia que seria acusado de traição, o que resultaria em sua morte. Para evitar o pior, Adonias agarrou-se às pontas do altar, pois achava que ninguém se atreveria a matá-lo ali. Só deixou aquele lugar, depois de receber a garantia de que Salomão pouparia sua vida. Como Adonias, tem muita gente agarrada às pontas do altar, não por amar a Deus ou ao ministério, mas para protegerem seus interesses.

Depois que a poeira baixou, e o trono de Salomão foi consolidado, Adonias resolveu fazer uma nova investida. Mas agora, ele iria direto ao ponto. Em vez de um complô, Adonias acercou-se de Bate-Seba, mãe do rei, e pediu que intercedesse por ele. Repare em seus argumentos:

“Bem sabes que o reino era meu, e todo o Israel tinha posto a vista em mim para que eu viesse a reinar, ainda que o reino se transferiu e veio a ser de meu irmão; pois foi feito seu pelo Senhor. Agora um só pedido te faço; não mo rejeites. Ela lhe disse: Fala. Ele disse: Peço-te que fales ao rei Salomão (pois não to recusará), que me dê por mulher a Abisague, a sunamita” (2:15-17).

Em outras palavras: - Já que não posso ter o trono, que eu tenha Abisague! Isso era tudo o que ele realmente queria. Semelhantemente, há muitos que já desistiram do ministério, mas não desistiram do que ele possa oferecer. Alguns ostentam o título de pastor, sem ao menos terem um rebanho para cuidar, ou, pelo menos, ajudar a outro a apascentar. Muitos ainda trocaram o púlpito pelo plenário, ou pelo palanque, ou pelo palco. Virou moda cantores serem ‘ungidos’ a pastores, para dar mais peso ao seu ‘ministério’.

Se der pra ter Abisague, e de quebra, ocupar o trono, melhor ainda. Mas se não der pra ter um, vale a pena lutar para ter o outro. E o pior é que Bate-Seba caiu na estorinha de Adonias. Prestou-se ao papel de interceder para que Salomão liberasse Abisague de seu harém, e a concedesse a Adonias.

Se Salomão se mostrasse fraco naquele instante, ele correria o risco de por tudo a perder. Por isso, não deixou por menos. Ordenou que se aplicasse a Adonias a pena que ele merecia desde que usurpara o trono de seu pai.

Quais são as verdadeiras motivações do nosso coração? Por que desejamos ocupar uma determinada posição? O que nos leva a gastar cinco anos de nossas vidas numa faculdade? Seria o conhecimento lá adquirido, ou simplesmente o canudo que receberemos na conclusão do curso? Por que um pastor luta para encher sua igreja? Seria pela satisfação de ver almas salvas, ou pelo prestígio que isso lhe garantiria? Enfim, as lições apreendidas neste episódio da vida de Davi, podem e devem ser aplicadas em quaisquer circunstâncias, e não apenas no âmbito ministerial.

Conheci um jovem ministro que tinha tudo pra ser uma legítima bênção. Quando começou a crescer, deixou que Satanás enchesse seu coração de vaidade. Um dia ele disse à minha esposa: – Tá vendo aqui este relógio de ouro? Me diga qual o pastor de nossa igreja que tem um como este! Eu não quero acabar como esses pastorzinhos! Naquele instante, minha esposa fitou-lhe os olhos e disse: Este não é o pastor fulano que eu conheço. Que orgulho é esse? Pouco tempo depois, esse pastor veio a dividir uma das igrejas mais queridas de nossa denominação.

Lembre-se que o coração humano é enganoso. Não confie em sua capacidade de auto-examinar-se. Faça como Davi. Peça que o Senhor sonde seu coração, e perscrute os porões de sua alma, para ver se há algum caminho mal. Também não se deixe enganar pela aparência. Quem deseja ocupar o trono pode estar de olho é em Abisague.


quinta-feira, 26 de maio de 2011

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Minha carta aberta





Minhas coragens não tão corajosas



Tornei-me alvo de todos os crivos. Depois de devidamente rotulado, sinto-me dissecado, espiritual, moral e psicanaliticamente. Pessoas que não me veem há décadas, se sentem com liberdade de diagnosticar o que “vem acontecendo com o Gondim”. Não há como negar que me sinto incômodo com achômetros.



Faltam-me argumentos. Como explicar que não perdi a fé, que não apostatei, que não estou na ladeira do inferno e que não sou um Belzebu? Diante de juízos subjetivos, melhor calar. Não vale sequer lembrar que a tarefa de separar trigo e joio, sempre delicada, Deus reservou aos anjos e, ainda assim, para o fim dos tempos. Como justificar-me diante da presunção de que não há outro caminho para a espiritualidade que não seja o pacotão doutrinário, que os evangélicos se consideram legítimos guardiões?



Um rapaz de apenas 24 anos mandou-me uma mensagem insolente, mal educada. Notei que ele era apenas dois anos mais velho que o Pedro, meu filho. A princípio, meu estômago embrulhou; depois, uma leve taquicardia fez meu coração perder o ritmo. Logo, porém, pensei no futuro do jovem. Onde ele estará com a minha idade? Acalmei. E supliquei a Deus por sua alma.



Os dias são bicudos. Mas não vou fragilizar-me diante de algozes, ainda noviços na arte de difamar e enxovalhar. Não darei o privilégio de verem as lágrimas que derramo por escolher um caminho acidentado. Meus soluços, conhecem Deus, meu travesseiro e minha mulher. Permanecerei altivo em minhas colocações. Não, não me considero uma encarnação de Quixote. Minha altivez esconde o homem claudicante, fraco mesmo. Mas, à minha fraqueza, fiquem certos senhores e senhoras da reta doutrina, vocês nunca terão o privilégio de acessar.



Estou consciente de que devo explicações. Entretanto, antes de explicar-me, acredito que eu tenho que dar satisfações. Mas, dar satisfações a quem? Primeiro, à minha própria consciência. Devo trancar a porta do banheiro e, sozinho, olhar o que me espreita de dentro do espelho, e perguntar: “Aonde você quer chegar, cara?”. Beirando os 60, eu deveria já preparar-me para uma aposentadoria tranquila (eu sei que alguns torcem por isso). "Por que o risco de posicionar-se no que só traz prejuízo pessoal? Por que deixar as costas à mercê de quem maneja bem os punhais?". Respondo ao velhote que mira os meus olhos de dentro do espelho: “Faço o que faço pelo simples fato de querer ser coerente e honesto comigo mesmo e com Deus, que ergueu um tabernáculo em meu coração”.



Sei que é inútil o que vou dizer. Mesmo assim digo: Não desejo holofotes; eu já os tive. Não surfo no oportunismo midiático, em busca dos prosaicos quinze minutos de fama; eu sei azeitar um discurso pequeno-burguês e ganhar o favor de quem patrocina aventuras caríssimas na televisão. Conheço bem os truques do peleguismo religioso. Caminho nos corredores, sacristias e bastidores do meio desde a adolescência. Só que não consigo mais respirar esse ar viciado.



Por que falar em direitos civis de homossexuais? Pelo simples fato lembrar-me de Niemöller, o pastor luterano que bem expressou a passividade de sua geração quando a justiça foi pisoteada pelos nazistas: "Quando vieram atrás dos judeus, calei-me, pois não era um deles; quando vieram prender os comunistas, silenciei, eis que não era comunista; quando vieram em busca dos sindicalistas, calei-me, pois eu não era sindicalista; depois, vieram me prender, não havia mais ninguém para protestar e ninguém disse nada".



Não levanto a bandeira homossexual. Ela não é minha, eu não sou homossexual. Levando o estandarte do direito. Ele diz respeito não só aos homossexuais, mas aos religiosos, aos ateus, aos ciganos, aos deficientes. Quando a lei protege um segmento da sociedade, acaba por alcançar os que não fazem parte daquele segmento. Por que insisto em fazê-lo? Porque acredito que Jesus, o meu senhor e salvador, o faria.



Sim, concordo, tenho que dar explicações. Mas a quem? Devo explicações aos que acompanham as mudanças milimétricas que venho fazendo ao longo dos anos; pessoas que entendem as articulações que brotam de meus neurônios racionais e de minhas entranhas espirituais. Tenho certeza que elas se surpreenderiam se eu respondesse qualquer coisa diferente do que veio na entrevista. Prego todos os domingos e disponibilizo as mensagens na www.tvbetesda.com.br . Escrevo em um site/blog www.ricardogondim.com.br . Publiquei diversos livros. Meus pensamentos estão espalhados por aí. Meus parceiros não se assustaram com nada do que eu disse à Carta Capital. Pelo contrário, celebraram a oportunidade que tivemos de comunicar os valores do reino para outros que não fazem parte do movimento evangélico.



Por último, um hábil escritor sugeriu que eu estou em crise de fé. Eu sei que ele confunde fé com a aceitação da doutrina calvinista. Devo responder-lhe que tomo sua insinuação como insulto, mero xingamento. Reconheço, igualmente, que os rótulos de estar alinhando ao teísmo aberto, de ser liberal, humanista, ateu, para mim, não passam de simplificações de quem desejava calar-me. Alguns intuíram que seus discursos já não se sustentam diante da realidade concreta das pessoas, por isso, buscam desqualificar-me. Deixo claro: não retrocederei, mesmo xingado. Não há como voltar; puxei um novelo de significados e sentidos e estou fascinado com os fios. Cada nova descoberta me leva para mais perto de mim, do meu próximo e de Deus. Agora vou até o fim.



Ricardo Gondim
Soli Deo Gloria





Vi no http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=92&sg=0&id=2409
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Como nos tempos da Inquisição

Após defender o direito à união civil homoafetiva a CartaCapital, o pastor Ricardo Gondim vira alvo de ofensas na internet e perde o posto de colunista em revista evangélica na qual escrevia há 20 anos




Após defender o Estado laico e o reconhecimento jurídico da união homoafetiva em entrevista a CartaCapital no fim de abril (clique aqui para ler), o pastor Ricardo Gondim, líder da Igreja Betesda e mestre em teologia pela Universidade Metodista, virou alvo de ferrenhos ataques de grupos evangélicos na internet. Um fiel chegou a dizer, pelo Twitter, que se pudesse “arrancaria a cabeça” do pastor herege. “É como se vivêssemos nos tempos da Inquisição”, comenta Gondim, que já previa uma reação de setores do mainstream evangélico, os movimentos neopentecostais com forte apelo midiático. Surpreendeu-se, no entanto, ao ser informado que, graças às declarações feitas à revista, não poderia mais escrever para uma publicação evangélica na qual é colunista há 20 anos.


“Fui devidamente alertado pelo reverendo Elben Lenz Cesar de que meus posicionamentos expostos para a CartaCapital trariam ainda maior tensão para a revista Ultimato”, escreveu Gondim em seu site pessoal, na sexta-feira 20. “Respeito o corpo editorial da Ultimato por não se sentir confortável com a minha posição sobre os direitos civis dos homossexuais. Todavia, reafirmo minhas palavras: em um Estado laico, a lei não pode marginalizar, excluir ou distinguir como devassos, promíscuos ou pecadores, homens e mulheres que se declaram homoafetivos e buscam constituir relacionamentos estáveis. Minhas convicções teológicas ou pessoais não podem intervir no ordenamento das leis.”


Por telefone, o pastor explicou as razões expostas pela revista evangélica para “descontinuar” a sua coluna, falou sobre as ofensas que sofreu na internet e não demonstrou arrependimento por ter falado à CartaCapital em abril. “A entrevista foi excelente para distinguir algumas coisas. Nem todos os evangélicos pensam como esses grupos midiáticos que confundem preceitos religiosos com ordenamento jurídico e querem impor sua vontade a todos.”


CartaCapital: Qual foi a justificativa dada pela revista Ultimato para descontinuar a sua coluna na publicação?


Ricardo Gondim:
Eu escrevi para a Ultimato por 20 anos. Trata-se de uma publicação evangélica bimensal, na qual eu tinha total liberdade para escrever sobre o que quisesse. Não falava apenas da doutrina, mas de muitos assuntos relacionados ao cotidiano evangélico. E nunca sofri qualquer tipo de censura. Mas, agora, eles entenderam que as minhas declarações a CartaCapital eram incompatíveis com o que a Ultimato defende e expuseram três argumentos para justificar a decisão. Eu não concordo com essas teses e, para dar uma satisfação aos leitores, publiquei uma carta de despedida no meu site (www.ricardogondim.com.br).


CC: A defesa dos direitos civis de homossexuais foi um dos aspectos criticados pelo corpo editorial da revista?

RG: Sim. Eles entendem que o apoio à união civil de homossexuais abriria um precedente dentro das igrejas evangélicas para a legitimação do ato em si, a homossexualidade. Tentei explicar que uma coisa é teologia, outra é o ordenamento das leis. Num Estado é laico, não podemos impor preceitos religiosos à toda a sociedade. Uma coisa não transborda para a outra. Dei como exemplo o fato de a Igreja católica viver muito bem em países que reconhecem juridicamente o divórcio, embora ela condene a prática e se recuse a casar pessoas divorciadas. Eu não fiz uma defesa da homossexualidade, e sim dos direitos dos homossexuais. O direito deve premiar a todos. Num Estado democrático, até mesmo os assassinos têm direitos. Não é porque eles cometeram um crime que possam ser torturados ou agredidos, por exemplo. As igrejas podem ter uma posição contrária à homossexualidade, mas não podem confundir seus preceitos com o ordenamento jurídico do país ou tentar impor sua vontade. Muitos disseram que o Supremo Tribunal Federal tripudiou sobre as igrejas evangélicas ao reconhecer a união estável homoafetiva. Nada disso, o STF estava apenas garantindo os direitos de um segmento da sociedade. Essa é sua função.


CC: Quais foram os outros aspectos criticados?

RG: Eles também criticaram uma passagem da entrevista na qual eu contesto a visão de um Deus títere, controlador da história e da liberdade humana, como se tudo que acontecesse de bom ou ruim fosse por vontade divina e ou tivesse algum significado maior. E apresentaram um argumento risível: o de que a minha tese coloca em xeque a ideia de um Deus soberano. Claro que sim! Deus soberano é uma visão construída na Idade Média, e serviu muito aos interesses de nobres e pessoas do clero que, para justificar seu poder, se colocavam como representantes da vontade divina na terra. Só que essa visão é incompatível com o mundo de hoje. O Estado é laico. As pessoas guiam os seus destinos. Deus não pode ser culpado por uma guerra, por exemplo. Não vejo nisso nenhuma expressão da vontade divina, nem como punição.


CC: O fato de o senhor ter criticado a expansão do movimento evangélico no País também foi destacada?

RG: Sim. Eu fiz um contraponto à tese de que o Brasil ficará melhor com o crescimento da comunidade evangélica. Não acho que é bem assim. Critica-se muito a Europa pelo fato de as igrejas de lá estarem vazias, mas eu não vejo isso como um sinal de decadência. Ao contrário, igreja vazia pode ser sinal do cumprimento de preceitos do protestantismo se os cidadãos estão mais engajados com suas comunidades, dedicados às suas famílias, preocupados com os direitos humanos, vivendo os preceitos do cristianismo no cotidiano. Eu critico essa visão infantilizadora da vida, na qual um evangélico precisa da igreja para tudo e Deus é responsável por tudo o que acontece.


CC: O senhor se arrepende de ter concedido aquela entrevista à CartaCapital?

RG: De maneira alguma. O repórter Gerson Freitas Jr. até conversou comigo, preocupado com a reação que as minhas declarações poderia causar na comunidade evangélica. Mas a entrevista foi excelente para distinguir algumas coisas. Nem todos os evangélicos pensam como esses grupos midiáticos que confundem preceitos religiosos com ordenamento jurídico e querem impor sua vontade a todos. Eu já esperava alguma reação, só não sabia que viria com tanta virulência. Um evangélico chegou a dizer, pelo Twitter, que se pudesse arrancaria a minha cabeça. É como se vivêssemos nos tempos da Inquisição. Recebi inúmeros e-mails com ofensas e mensagens de ódio. Não sei precisar quantos, porque fui deletando na medida em que chegavam à caixa postal. Também surgiram centenas de textos me satanizando em blogs, sites e redes sociais.


CC: E entre os fiéis da sua igreja? Houve algum constrangimento?

RG: Alguns, influenciados pelo bafafá na internet, vieram me questionar. Então fiz questão de dar uma satisfação à minha comunidade. Após discursar, acabei aplaudido de pé, fiquei até meio constrangido diante daquela manifestação de apoio.


Observação: Todos os comentários no site da CartaCapital estão submetidos a moderação. Não serão tolerados textos ofensivos, de teor preconceituoso ou com acusações injuriosas.


Crédito da foto: Olga Vlahou.



Rodrigo Martins



Vi no http://www.cartacapital.com.br/sociedade/como-nos-tempos-da-inquisicao







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Em busca de lágrimas absolutas





Minhas antigas amizades se dissolvem como bolhas de sabão. Esqueci nomes. Mal consigo lembrar os olhos de quem já passou por minha vida. O passado diluiu momentos que poderiam torná-los familiares. Fiz-me irmão, e doei-me inteiramente a companheiros, mas hoje hesito. Desconfiado, reparto pedaços do coração. Não suporto imaginar a dor de outras separações, de mais decepções.

Tenho medo de abrir os porões da alma. A desarrumação de minha casa faz sentido para mim. O que os outros consideram bagunça, tem uma sincronicidade própria, que me deixa em paz. Vacilo em rasgar os envelopes selados, onde escondo segredos. Sei detectar os traumas que me deixaram chorão, os complexos que me deram olhos melosos, as circunstâncias que me fizeram viver à beira do pranto, as fragilidades que me transformaram em tímido. Mas não pretendo explicar nada a ninguém.

Tornei-me cauteloso quando brinco e rio. Fujo dos que procuram analisar a minha felicidade; ela não carece de julgamentos. O riso que meus lábios desenham não tem que ser explicado. Introjeto a alegria para que não seja pisoteada como a pérola da parábola. Prezo em não deixar vazar frágeis contentamentos; a pouca riqueza que amealhei merece ser guardada debaixo de mil segredos.

Olho para colegas e antecipo navalhadas. Resguardo as costas dos estiletes da inveja. Assusto-me. As maldades que já sofri são parecidas com as que eu próprio já acalentei no peito. Se não sei explicar o porquê de atitudes mesquinhas em mim, também não justifico a estreiteza que observo no próximo. Não sou pior nem melhor que os demais. Por isso, cerco o quintal de casa contra lobos ferozes. Sempre espero alguém ávido para destruir o pedacinho da dignidade que me resta.

Meus desalentos não serão rasos. Desço às regiões abissais da angústia. Envolvo-me na absoluta escuridão da casmurrice; que o lençol do desgosto me isole. Quero ficar na quarentena dos tristes. E provar a verdade de que “são bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”.

Soli Deo Gloria



Vi no http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=65&sg=0&id=2290   
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A vida de extravagâncias da Irmã Dulce





Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Este era o nome de batismo da Irmã Dulce.

Transformou sua casa em centro de atendimento a necessitados.

Foi ordenada freira e recebeu o nome de Dulce em homenagem a sua mãe.

Mesmo tendo como missão primeira o exercício de ensinar como professora em Salvador - BA, irmã Dulce trilhou o caminho do amor e da solidariedade dando assistência às comunidades carentes, preconizando assim suas atividades principais em suas obras sociais.

Em 1936, ela fundou a União Operária São Francisco.

Chegou a invadir cinco casas na Ilha dos Ratos para abrigar pessoas doentes, recolhidas nas ruas.

Naturalmente, como era de se esperar, irmã Dulce foi expulsa com seus flagelados e deu início a uma peregrinação de 10 anos, ocupando temporariamente diversos lugares até que com muito trabalho e perseverança, conseguiu transformar um galinheiro do Convento de Santo Antônio em albergue, que mais tarde passou a ser o Hospital de Santo Antônio, um centro de atendimento social e educacional que continua atendendo carentes até hoje.

Irmã Dulce morreu em 1992, mas sua obra e seu trabalho continuam ecoando até os dias de hoje, ajudando os mais necessitados do Brasil.

Agora, Irmã Dulce será beatificada. Será tratada como santa.

Santa ela já era estando viva!

Ela cumpriu o ide de Jesus e certamente receberá seu galardão.

Irmã Dulce é inspiração para mim e retumba em nossos ouvidos com sua obra e exemplo exatamente o que deveríamos ser.

Ela não se preocupava com visibilidade. Não se importava com banalidades advindas das vaidades humanas e com “pouca” força fez mais do que milhões de nós ousamos fazer até o dia de hoje.

Irmã Dulce é um grande exemplo de ser humano.

Que cada um de nós evangélicos, pense bem antes de abrir a boca pra tecer qualquer comentário pejorativo acerca da madre que foi santa aos olhos de Deus.

O Vaticano, que dará o título de santa para querida e saudosa Dulce, o fará de forma humana e pertinente aos seus dogmas, porém, segundo a palavra de Deus que diz que devemos amar ao próximo como a nós mesmos e em conformidade com a vida exemplar dela, acredito que santa ela já era há muito tempo aos olhos do Pai.

Parabéns aos irmãos católicos que foram presenteados com um ser humano tão especial como Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, que resumidamente pode ser chamada de irmã Dulce, uma santa mulher, um anjo bom.

Que Deus continue levantando gente assim, independente do credo ou filosofia, pois Ele está à procura de verdadeiros adoradores.

Sejamos santos também e façamos o bem a quem precisa.

"Eu sou o Senhor vosso Deus; portanto vós vos consagrareis, e sereis santos, porque eu sou santo" (Levítico 11:44).

Pense nisso – seja feliz.