segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

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Quando Deus é manipulado pela igreja

Questionando o que é emocionalismo e o que seria uma ação do Espírito Santo, apresento a todos vocês meu primeiro livro:





Lançado pela Fonte Editorial, com prefácio de Ricardo Gondim, em 150 páginas, tento despertar o coração para uma adoração viva.




O louvor por natureza deve ser espontâneo, mas como obtê-lo se é necessário um dirigente de culto?



Alguns assuntos como sagrado e profano, expressões de louvor que contradizem a fé em Cristo como Senhor e único mediador e a arte. Alguns insights sobre dança e também sobre os livros de louvor que marcaram época, mas fizeram um desserviço para a fé cristã. Também os aspectos que dividem o culto, o exercício dos dons, a questão dos chamados Levitas e um fator importante para um culto congregacional: qual a participação e o papel de cada um em um culto de expressões coletivas, e a busca por discernir uma espiritualidade cristã saudável.





Dia 27/02 na Betesda - Jd Marajoara/SP às 10h e 18h no culto e,
entre os dias 28/02 e 03/03 o módulo no ICEC com o tema:
"Louvor: adoração ou manipulação do sagrado?", a partir do livro.
 
 
Vi no http://www.elielbatista.com/

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

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É o homem incapaz de praticar o bem?




Por Sandro Moraes





Como está escrito: "Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer" (Apóstolo Paulo em Romanos 3.10-12 NVI) .


Os defensores do determinismo fatalista costumam utilizar o texto mencionado supra para, por exemplo, negar o livre-arbítrio, propondo que o ser humano é capaz apenas de praticar o mal e só para este tem inclinação.


A dificuldade dessa noção habita no próprio fato de que a história é repleta de atos de bondade do ser humano, muito embora a violência seja praticamente onipresente. O que dizer então do humanitarismo, da caridade, dos bombeiros que salvam vidas. sendo que alguns chegam a perder as suas próprias por isso, ou daqueles que abriram mão de uma vida confortável para se dedicar aos pobres da África ou da Índia? Seriam atos de maldade camufladas de justiça? Impensável e impossível.


Ora, dizer que o homem é incapaz de praticar o bem baseado nos dizeres do apóstolo Paulo é um tipo de literalismo extremado e desnecessário que só causa confusão. A má aplicação dos versículos de Romanos 3, entretanto, pode ser desfeita com uma simples aplicação prática. É fácil perceber que o argumento de que nos atos humanos só residem perversidades é desmoronável do ponto de vista histórico, filosófico e bíblico.



Exemplos relevantes na história recente



Membro do partido nazista, o alemão Oskar Schindler tornou-se famoso por ter livrado do holocausto 1.200 judeus por ocasião da Segunda Grande Guerra. Ele havia prosperado durante a guerra mas gastou toda a sua fortuna para subornar nazistas e prestar ajuda aos judeus da famosa Lista de Schindler. Morreu pobre em 1974 na Alemanha aos 66 anos de idade e foi enterrado com honras de herói no cemitério no Monte Sião em Jerusalém. O nome dele foi registrado na Avenida dos Justos do museu do holocausto em Jerusalém junto com outras 100 personalidades não judias que evitaram que judeus entrassem na fila dos milhões do holocausto exterminados em campos de concentração.



Já a missionária católica Madre Teresa de Calcutá ficou mundialmente famosa por ter recebido o Prêmio Nobel da Paz em 1979, corolário da sua dedicação aos pobres de Calcutá na Índia, trabalho que obteve tentáculos em outras partes do mundo. Madre Teresa ensinou crianças a ler juntamente com regras de higiene, angariava todos os dias donativos para os necessitados e a partir do decênio de 1950 empenhou-se no auxílio dos doentes de lepra. O trabalho dela inspirou a criação de centros de apoio a leprosos, idosos e aidéticos em vários países, além da fundação de escolas, orfanatos e trabalhos de reabilitação de presos.



Muitos outros exemplos de famosos e anônimos em toda história que fizeram uso de suas mãos, talentos e disposição para ajudar o próximo e enfrentar injustiças sociais poderiam ser mencionados. Desnecessário e a lista seria quase interminável.



Provas bíblicas de que o homem pode praticar o bem



Agora biblicamente falando até mesmo o Senhor Jesus Cristo disse que o homem é capaz de fazer o bem:



"Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!" (Mateus 6.11)



"E que mérito terão, se fizerem o bem àqueles que são bons para com vocês? Até os ‘pecadores’ agem assim" (Luca 6.33 NVI).



Tiago disse que quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado (Tiago 4.17). Ele não falaria isso se não fôssemos capazes de fazer o bem.



No Antigo Testamento existem relatos interessantes até mesmo de ímpios praticando o bem.



Se o homem fosse totalmente depravado, habilitado a somente praticar maldades sem restrições, a humanidade já teria chegado à extinção ou perto disso.



Então o que o apóstolo Paulo quis dizer com “não há ninguém que faça o bem, nenhum sequer”?



A teologia paulina da universalidade do pecado



Paulo apresentou no capítulo 3 de sua carta aos romanos uma coletânea de citações do Antigo Testamento apenas para substancializar sua teologia concernente à universalidade do pecado. Ele acusou tanto judeus e gentios de serem pecadores; Significa que toda a humanidade está sob o poder e condenação do pecado. As citações veterotestamentárias não são literais. O apóstolo fez uso de hipérbole para mostrar pedagogicamente que todos são ímpios para, posteriormente, revelar que Deus propiciou um meio de justificação para os homens por meio de Cristo.



O homem pode fazer o bem, mas não pode salvar-se



Podemos então facilmente inferir pela teologia de Paulo que o homem é capaz sim de praticar o bem, contudo, não o suficiente para torná-lo justo diante de Deus obtendo mérito para auto-salvação. Afinal, todos nós somos como o impuro e todos os nossos atos de justiça são como trapo imundo (Isaías 64.6).



Aos olhos de Deus ninguém é bonzinho, merecedor da salvação. Esta é concedida inteiramente pela graça de Deus. No homem não há mérito.



"...não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo" (Tito 3.5)."Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos" (Efésio 2.8-10 NVI).



Somos salvos não pelas boas obras, mas para elas. Somos salvos não porque praticamos boas obras, antes, praticamos boas obras porque somos salvos. Complementando Paulo, Tiago disse que a fé sem obras é morta. Corretíssimo. A fé genuína não é estéril, antes produz frutos: as boas obras que evidenciam que fomos alcançados pela salvação divina.



"Ele se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras" (Tito 2.14).
 
 
 
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A (ir)relevância dos cristãos no mundo contemporâneo




Quando já estava próximo do momento em que enfrentaria a cruz, Jesus disse aos seus discípulos que quem nele cresse faria obras semelhantes às que ele tinha realizado, e ainda faria coisas maiores. Não há como ler esse texto e não ficar se perguntando como isso seria possível. Jesus transformou água em vinho, multiplicou pão e peixe e alimentou cinco mil pessoas de uma vez, ressuscitou um amigo, curou cegos, leprosos e paralíticos e morreu por amor. Então como se poderia fazer algo maior?




Tenho a impressão que existem possibilidades de isso acontecer, mas não estamos dando conta do recado. Apenas para exemplificar, cito quatro cristãos que julgo terem sido relevantes em seu tempo:



Oskar Schindler, luterano, filiado ao partido nazista, quis faturar na guerra com suas empresas, mas acabou salvando mais de mil e duzentas pessoas da morte certa. Milhares de descendentes são até hoje alcançadas por aquela ação. Ele trocou seu dinheiro por vidas. Subornou os guardas nazistas para poupar pessoas. Deu valor ao que tem mais valor e arriscou a própria pele diante de um sistema perverso.



Agnes Gonxha Bojaxhiu, mais conhecida como Madre Teresa de Calcutá, matou a fome de multidões multiplicando pães através de suas campanhas de donativos. Através de suas obras muitos leprosos receberam o toque humano no fim de seus dias, recebendo também dignidade, afeto. Muitos moribundos tiveram um fim menos terrível por conta de suas ações. Admirável. Foi premiada com o Nobel da Paz.



Giovanni di Pietro di Bernardone, conhecido como Francisco de Assis, renunciou a tudo para imitar Cristo à risca, adotando como estilo de vida a humanidade de Cristo, o Cristo humano. É tido por muitos como a maior personalidade do cristianismo depois do próprio Cristo.



Martin Luther King Jr, pastor protestante, também Nobel da Paz, mudou milhões de vidas a partir de sua luta. Quantas barreiras foram derrubadas por conta de sua crença e de sua disposição, quantos milhões de pessoas que receberam mais respeito, mais dignidade e melhores condições de vida por conta de seu sonho. Ele encarnou a verdade de que para Deus não há homem ou mulher, rico ou pobre, branco ou negro, crente ou incrédulo, mas todos são igualmente amados por Deus, e devem ser igualmente respeitados. Com essa crença enfrentou o governo do país mais poderoso do mundo. E venceu.



Gente desse tipo faz falta no meio religioso atual, tão marcado por indivíduos que buscam apenas a própria satisfação, como se Deus fosse um ídolo disponível para nos dar as coisas e satisfazer nossas vontades.



Falta-nos a fé de um Francisco de Assis, que se dispõe a apostar todas as suas fichas em Cristo e viver como Ele. Falta-nos a coragem de um Schindler que arriscou sua vida ou a de um Luther King que enfrentou o governo mais poderoso da terra. Falta-nos o compromisso de uma Teresa de Calcutá, compromisso com Deus e com o próximo. Só há compromisso com Deus e com Cristo se há compromisso com o próximo. Caso contrário, é vã a nossa religião.



Podemos ser relevantes. Temos infinitas possibilidades de fazermos obras semelhantes às de Cristo no mundo contemporâneo, basta ter sensibilidade para perceber e fé o bastante para colocar-se à disposição. Há um novo mundo possível, é preciso colocar mãos à obra!



Márcio Rosa da Silva



Vi no http://marciorosa.wordpress.com/



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Sobre produtos e marcas envolvidas com o Satanismo




Por Neiva Brum Teixeira Gomes





Antes de ir fazer missão nos E.U.A., eu acreditava em muita coisa que armavam de colagens e inventavam, a respeito da Procter&Glamber, Coca-cola, Walt Disney, e ao chegar lá descobri que tudo não passava de uma grande armação de concorrentes desonestos para vender mais. Por exemplo, me mostraram quando eu era mais nova que o dono da Procter&Glamber era satanista e até me mostraram recorte de jornal. Moral da História, o cara é de New Jersey, é cristão e sustenta muitos missionários no mundo todo. A fórmula da Coca-cola, por exemplo, foi criada por um Metodista e a sociedade de mulheres da Igreja Metodista nos Estados Unidos detêm uma parte das ações e ajudam a sustentar missionários, e quando elas descobriram que a Coca-cola do Brasil criou uma cerveja, a Kaiser, elas deram a eles meses para venderem, desfazer a marca ou passariam a representar Coca-cola no Brasil diretamente. Eles tiveram que vender rapidinho.





Walt Disney, antes de morrer, vendeu muitas ações do parque, e seus personagens, e acredite, para a Igreja Batista do Sul, a segunda maior Igreja americana, que ainda é detentora de 35 por cento das ações. No ano de 1985, os gays americanos (que fazem a maior passeata gay do mundo que duram 3 dias a cada ano), resolveram pedir para fechar o parque por 3 dias para que a passeata fosse lá na Disney da Flórida. A Igreja Batista do Sul juntou com outros acionistas, que eram católicos tradicionais, e formaram maioria e não permitiram. A partir daí, os gays começaram a avacalhar, por pura retalição a Disney, insinuando que houvesse mensagens subliminares nos desenhos da Disney com apologia à pornografia.
 
 
 
 
 
Em tempo, a Hello Kitty não é uma boneca sem boca que uma mulher americana que teve uma filha sem boca consagrou ao diabo, antes, trata-se de uma boneca estritamente japonesa, e os gatos lá, tanto como na China, são animais que, segundo se diz, traz saúde, paz e dinheiro, e tem uma turminha de gatos da qual a Hello Kitty faz parte.







* Trecho da resposta dada por Neiva Brum Teixeira Gomes, missionária metodista brasileira nos EUA, à uma amiga pelo orkut, depois que esta lhe enviou um vídeo que relacionava tais marcas e personagens ao Satanismo.
 
 
 
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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

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Livres, verdadeiramente livres




O passarinho tinha tudo em sua gaiola, menos liberdade. Todos os dias seu dono lhe trazia comida. Era boa, mas era sempre a mesma. A água era renovada todos os dias e a gaiola era mantida limpa. Suas asas só eram usadas quando tinha que dar um salto do assoalho da gaiola para o pequeno poleiro. Era o mais alto que podia ir. Acima de tudo, tinha segurança.




Um dia a portinhola foi aberta. O passarinho saiu e, desajeitadamente, bateu as asas quase atrofiadas e, finalmente, alçou vôo. Sentiu pela primeira vez o gosto da liberdade. Podia ir livremente para lugares muito mais altos que seu poleiro. Não precisava comer a mesma comida todos os dias, mas ia pelas árvores escolhendo frutas diferentes e de sabores até então desconhecidos. Do alto de seus vôos tinha uma visão nunca antes experimentada. Era lindo. Estava livre.



Mas a liberdade não lhe trouxe segurança. Agora tinha que se preocupar com predadores. Tinha que construir seu próprio ninho, não contava mais com os jornais velhos que forravam sua gaiola. Tinha que se relacionar com outros pássaros e com espécies diferentes da sua, que também habitavam as árvores por onde pousava. Quando se aproximava de alguma casa, tinha que se precaver do gatuno que poderia lhe devorar. A liberdade tinha seu preço.



Cansado disso tudo, sentiu saudade da gaiola. Voltou para a antiga casa, achou a portinhola ainda aberta e entrou. Seu dono, comovido, fechou a gaiola. O passarinho voltou a ter segurança. Mas nunca mais sentiu o gosto da liberdade.



É Rubem Alves que usa a história acima como uma metáfora da condição humana. O velho mestre trata do trabalho que dá ser livre em contraste com o comodismo chato e a mesmice que é a segurança de uma vida engaiolada. Passarinho de verdade nasceu para voar. Se não quer a liberdade é porque já lhe convenceram de que não pode voar, roubaram-lhe essa característica.



Homens e mulheres não são diferentes. Muitos preferem a ignorância aos horizontes ampliados pelo conhecimento. Lembro-me de um personagem de Matrix que, ao retornar para o mundo irreal e comer um bife que sabia não ser verdadeiro disse: “a ignorância é uma benção”. Preferiu a mentira do mundo virtual que a verdade do mundo fora da matrix.



Apoderando-se de verdades absolutas e inquestionáveis, pessoas se acomodam, porque isso traz segurança. Ao serem apresentadas à possibilidade de vôos mais altos no mundo do conhecimento, ensaiam um salto, mas logo retornam para a segurança dos antigos paradigmas, das bases supostamente sólidas, ainda que sem o menor sentido. Não querem ver além do que já conhecem, não desejam ter outras perspectivas, não admitem outros pontos de vista.



Essa atitude tacanha fere nossa própria humanidade, pois fomos criados com uma capacidade extraordinária de pensarmos, questionarmos, conhecermos cada vez mais. Se não o fazemos, somos como o passarinho de Rubem Alves. Os que se apegam a algumas idéias e nunca admitem a possibilidade da mudança de pensamento é um escravo, está condenado à involução, nunca vai voar e ter as sensações que só os que tem coragem de pensar experimentam.



Prefiro seguir o ideal revolucionário do jovem nazareno Jesus, que, há dois mil anos, queria que seus seguidores fossem livres, verdadeiramente livres.



Márcio Rosa da Silva




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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

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Um Deus de surpresas em um mundo de certezas





Houve tempo em que o ser humano enxergava a vida como algo sagrado, e o futuro como algo inusitado, repleto de mistério. Aí residia a beleza da vida. Tudo podia acontecer. Por isso, o homem se agarrava à divindade, em busca de alguma garantia.






Não havia planejamento familiar. De repente...pimba! a mulher se engravidava. E por nove meses, ninguém sabia o sexo da criança. Até que... surpresa!





Com o advento da ciência, o homem se viu capaz de fazer certas previsões.





Baseados em dados estatísticos adquiridos em pesquisas pré-liminares, pode-se prever quem será o candidato eleito. Com um aparelho de ultra-som, pode-se saber o sexo do nenê. Satélites meteorológicos dizem com certa precisão se vai chover ou fazer sol nos próximos dias. Finalmente, o homem parece ter se tornado senhor do seu próprio destino. Nada mais o apanharia de surpresa.







Tudo ia bem, até que se descobriu a mecânica quântica. As postulações newtonianas de que pela ciência as leis da natureza poderiam ser decodificadas, tornando-a previsível e domesticável caíram por terra. No mundo subatômico nada é previsível. Não há como determinar a posição exata de uma partícula. Aliás, o que é partícula em uma primeira olhada, pode ser onda na segunda verificação. Até a ordem temporal é subvertida.





Surpresa! As descobertas da física quântica foram permitidas por Deus para que a presunção humana fosse desbancada, e o homem redescobrisse o valor da surpresa.





Enquanto a física clássica, defendida por Newton, se atreve a falar da realidade, a física quântica, mais humilde, fala de probabilidades. A realidade não é o que parece ser. O que existe são ondas de probabilidades ou ondas de matéria. Todas as leis da física quântica são expressas em termos dessas probabilidades. O próprio fundamento da visão mecanicista - o conceito de realidade da matéria - foi posto abaixo, pois no nível subatômico os materiais sólidos dissolvem-se em padrões de probabilidades semelhantes a ondas.





Suscito aqui uma questão: nossa ralação com Deus e com o futuro se baseia em certezas ou em surpresas?





Ora, sabemos pela Bíblia que a relação do homem com Deus só é possível mediante a fé. E qual seria a definição bíblica de fé?





“Ora, a fé é a certeza das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem.”Hebreus 11:1





A princípio, fica claro que nossa relação com Deus deve ser pautada na certeza. Mas certeza de quê? Será que tal certeza suprimiria qualquer possibilidade de surpresa? Basta avançarmos no famoso texto conhecido como galeria dos heróis da fé, pra nos darmos conta de que a certeza da fé não descarta uma caminhada com Deus repleta de surpresas.





“Pela fé Abraão, sendo chamado para um lugar que havia de receber por herança, obedeceu e saiu, sem saber para onde ia” (Hb.11:8). A fé do patriarca fez com ele se dispusesse a deixar sua zona de conforto, para sair ao encontro do desconhecido. A vida pela fé é uma vida de aventura radical.





Somos informados que Abraão “esperava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e construtor”(v.10). Então, ele esperava por algo, e tinha certeza de que se concretizaria, fosse em seu tempo de vida, ou das próximas gerações. Esta era a sua certeza. Quando se fala de surpresas, fala-se de incertezas.





A vida de fé também é uma vida de incertezas. Não sabemos o que nos aguarda na próxima curva da estrada. Temos um vislumbre do que nos espera no final, mas não do que nos espera no caminho.





Vivemos a dialética entre certezas e surpresas. A síntese resultante desta dialética é a fé. Fé é a confiança absoluta n’Aquele que nos guia pela estrada da existência. Não é simplesmente crer em fatos, mas crer em uma Pessoa. É arriscar tudo em Seu caráter fidedigno. Como fez Sara, que“teve por fiel aquele que lhe havia feito a promessa” (v.11b). E não apenas crer no caráter divino, como também em Sua capacidade em cumprir o que prometera. Paulo diz que Abraão“não duvidou da promessa de Deus, deixando-se levar pela incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus, estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para cumprir” (Rm.4:20-21).





Às vezes Deus nos revela o “quê”, mas não nos revela os pormenores, o “como”, ou o “quando”. E isso para que não percamos o prazer proporcionado pela surpresa. Tudo indica que Deus Se alegra em nos surpreender. Ele não quer que nosso relacionamento com Ele caia na mesmice, na monotonia, e assim, se torne entediante. Antes o estresse da expectativa do inesperado, do que o tédio produzido pelo previsível. Por isso, Deus não cabe dentro de padrões. Ele é absolutamente imprevisível! Querer prever Suas ações baseado em episódios anteriores é, no mínimo, uma completa idiotice.





Ele não costuma ser repetitivo, redundante. Quantas vezes Ele abriu o Mar? Apenas uma. De outra feita, Ele preferiu andar por cima das águas. Ele sempre surpreende. Impossível prever Seus movimento!





Tal como o marido, que para manter acesa a chama da paixão, procura surpreender sua amada de tempo em tempo. Não há veneno mais prejudicial para o casamento do que a monotonia. E não há antídoto mais poderoso do que a surpresa. Pergunte a uma esposa que foi surpreendida com um bouquet de flores em uma data qualquer.





A vida com Cristo é sempre repleta de surpresas. Durante Sua trajetória neste mundo, Ele sempre surpreendeu Seus seguidores, e até Seus opositores. Ele nunca dava a resposta que as pessoas esperavam receber. Suas parábolas eram cheias de suspense.





Será que o filho pródigo esperava ser recebido com festa pelo seu pai? Será que o homem moribundo esperava ser socorrido logo por um samaritano?





Os apóstolos também aprenderam desde cedo que Deus é um Deus de surpresas. Ou será que Pedro esperava que Cornélio fosse repentinamente cheio do Espírito enquanto ele ainda pregava?





Até piada, se contarmos o final, perde a graça!





Deus usualmente mantém certo suspense para não estragar a surpresa. E não falo apenas de surpresas agradáveis. A vida também nos reserva surpresas desagradáveis. E quando Deus mantém o segredo referente a isso, Ele deseja nos poupar de um sofrimento antecipado.





Em sua despedida dos efésios, Paulo declarou:





“E agora, compelido pelo Espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que lá me há de acontecer. Somente sei o que o Espírito Santo de cidade em cidade me revela, dizendo que me esperam prisões e tribulações” (At.20:22-23).





Paulo não tinha idéia dos pormenores daquilo que o esperava. Ele não podia supor que seria confundido com um terrorista egípcio em Jerusalém, e que isso lhe renderia uma prisão injusta (At.21:38). Ele não podia imaginar que seria alvo da conspiração de judeus que se dispuseram a jejuar até que sua vida fosse ceifada (At.23:12). Ele jamais preveria passar por um naufrágio (At.27:13-44). Tudo isso é apenas um resumo do que Paulo teve que passar depois de despedir-se dos anciãos de Éfeso. Será que Deus foi injusto em lhe poupar de saber dos detalhes de tudo quanto sofreria por amor à causa de Cristo? Absolutamente, não.





Já que Jesus é a nossa vida, posso parafrasear o Zeca Pagodinho, dizendo: “Deixo Cristo me levar, Cristo leva eu...”





Sejam quais forem as surpresas desagradáveis que nos aconteçam, temos a certeza de que após essas acentuadas curvas na estrada da vida, surpresas maravilhosas estão a nos aguardar.





Minha única certeza é que no final teremos surpresa.





“As coisas que o olho não viu...”, surpresa!





“...e o ouvido não ouviu...”, surpresa!





“...e não subiram ao coração do homem...”, surpresa!





“...são as que Deus preparou para os que o amam” (1 Co.2:9).





Você tem idéia do que nos espera no final da estrada? Não? Nem eu! Você imagina, por exemplo, quem você vai encontrar do outro lado? Não? Nem eu! E não me arrisco a dar qualquer palpite.





Será que Estêvão, o primeiro mártir cristão, esperava encontrar Paulo na eternidade? Por isso, não temos o direito de apontar quem é ou não escolhido por Deus à salvação.





Pode ter certeza... teremos surpresas.



Onde está o Espírito do Senhor, aí há surpresas. Ele nos conduz de surpresa em surpresa, até a Surpresa Final.



Hermes C. Fernandes



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Dançando à luz do amor




“A quem, pois, compararei os homens desta geração, e a quem são semelhantes? São semelhantes aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns aos outros: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamos lamentações, e não chorastes.” Lucas 7:31-32




Com estas palavras, Jesus denunciou a apatia daquela geração, que não se satisfazia com nada, mas que sempre buscava motivos para criticar, zombar, escarnecer. Ele diz mais: “Pois veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demônio. Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos cobradores de impostos e dos pecadores” (vv.33-34). Repare nisso: nem mesmo Jesus, o homem perfeito, justo, foi capaz de agradá-los.



Parece-me que aquela geração não é muito diferente da nossa. As pessoas nunca se contentam com o que têm, ou mesmo com o que são. Isso ocorre também no campo dos relacionamentos. É mais fácil apontar os defeitos, do que identificar as virtudes. Fulano não serve porque é muito devagar. O outro não serve porque é atirado demais. Ela é bonita, mas não é prendada. Ou ela é do tipo Amélia, mas não é bonita. A gente sempre destaca os pontos negativos, esquecendo que também não somos perfeitos. Que bom que sempre há um chileno velho para um pé torto…rs



Para que um relacionamento amoroso funcione, não é necessário que encontremos a pessoa ideal, mas que aprendamos a conviver com a pessoal real.



A vida é um salão de dança. Começar um relacionamento é como tirar alguém pra dançar. A gente passa os olhos, verifica se ainda há alguém sem par, se aproxima pra ver se a pessoa é interessante, lança um olhar pra ver se fisga… estende a mão, e a convida para a próxima dança.



Aquela dança tem tudo pra dar errado. Mas também tem tudo pra dar certo. Tudo vai depender da habilidade de ambos em acompanhar os passos um do outro.



A primeira coisa a ser considerada quando se começa a dançar é a música. Seus passos precisam estar no compasso do seu ritmo. Imagine se um dos parceiros estiver com um fone no ouvido, ouvindo outra canção. Seus passos vão acompanhar a canção do fone, enquanto os do seu companheiro acompanharão a do salão. Um acidente será inevitável. E se a música que ela estiver ouvindo no fone for lenta, e a que estiver tocando no salão for animada? Imagine o descompasso…



Assim é o relacionamento a dois. Tem que ter a mesma trilha sonora. Isto é, ambos precisam estar sentimentalmente sintonizados. Se forem dirigidos por interesses diferentes, será como se cada um dançasse sua própria música. Se a mulher é romântica, enquanto seu parceiro está pensando somente naquilo, será como se ela dançasse valsa e ele tango. É claro que de vez em quando, troca-se a música, e isso requererá que os dançarinos acertem os passos. Há momentos para valsa, e há momentos para um tango bem assanhado. Há momentos de dançarmos uma música bem animada, e há outros de dançarmos coladinhos. O que não podemos é perder a sintonia com o outro.



É sobre os diversos ritmos da vida que o escritor de Eclesiastes fala: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu (…) tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar” (Ec.3:1,4-5). O problema começa quando para um é tempo de chorar, enquanto para o outro é tempo de rir. Um quer abraçar, o outro prefere ficar sozinho. Nestas horas, temos que acertar os passos, para não tropeçarmos no outro.



Veja a recomendação de Paulo:



“Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos a mesma coisa, e que não haja entre vós divisões, para que sejais unidos no mesmo sentido e no mesmo parecer” (1 Co.1:10).



Não basta dançar a mesma música, tem que acompanhar os passos de quem está guiando. As Escrituras ensinam que compete ao marido a liderança do lar. Portanto, nesta dança, ele é o guia. A mulher precisa relaxar e confiar, seguindo os passos do seu par. Se ele a conduz para um lado, mas ela o empurra para outro lado, o que deveria ser uma dança harmônica, se tornará num “samba do crioulo doido”.



Mesmo estando a cargo da liderança da família, nada impede que o marido ouça a opinião de sua amada, e atenda aos anseios do seu coração. Poderia dizer-se que o marido dá a direção, o sentido, mas a mulher dá a cadência, o ritmo. Diz-se que se o homem é o cabeça, a mulher é o coração.



Veja ainda outra recomendação do apóstolo:



“Completai a minha alegria, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa. Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus” (Fp.2:2-5).



Não se trata de uma competição pra ver quem se sai melhor no salão. Embora cada um tenha seu próprio espaço, e que deve ser respeitado pelo outro, eles estão dançando juntos. São parceiros, não adversários. Portanto, há que se ter cuidado para não pisar no pé do outro, nem fazer movimentos bruscos ou empurrar. Se um se atrapalha, o outro também sai perdendo. Por isso, em vez de competir, coopere. Em vez de criticar, encoraje. Em vez de interromper o fluxo, dê-lhe vazão.



Isaías, profetizando acerca de Cristo, diz que Ele “não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na praça. A cana ferida não quebrará, e não apagará o pavio que fumega” (Is.42:2-3). Em outras palavras, Jesus não corta o barato de ninguém. Ele prefere animar, estimular, impulsionar. Que bom seria se O tomássemos como exemplo em nossos relacionamentos. Se há algum fogo, não o apague, antes, alimente-o. Se o que restou de seu casamento for água, transforme-a em vinho. Não seja um estraga-prazer.



Dançar é saber administrar o espaço. Quando um dá um passo à frente, o outro dá um passo atrás, num vai e vem interminável. O espaço do outro deve ser respeitado, jamais invadido. A privacidade deve ser um bem cultivado. Há momentos em que precisamos ficar só. É como a dança em que os corpos se afastam um do outro, para depois se reencontrar.



Dançar também é arte de promover o encontro. Não apenas o encontro de corpos, mas também de almas, de sentimento, de propósito. Para isso, o salão precisa ter alguma luz. Se as luzes estiverem todas apagadas, os dançarinos correm o risco de se colidirem. João diz em primeira epístola que “aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço” (1 Jo.2:10). É o amor o holofote que ilumina o salão, promovendo encontros, e não colisões.



Às vezes ocorrem pequenos acidentes. Num momento de distração, pisamos no pé da pessoa amada, magoamos seu coração. Mas não é preciso parar de dançar pra consertar o erro. Basta um elegante pedido de desculpas, sussurrado no pé do ouvido, e pronto, a dança continua.




Hermes C. Fernandes



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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

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O Jesus que Nunca Conheceremos

Scot Mcknight





Os estudiosos do Cristo histórico não nos dizem as coisas mais importantes sobre ele.








Saber quem foi Jesus, o que ele fez e qual o significado de sua passagem pelo mundo sempre foi uma espécie de obsessão das pessoas. Além do que está escrito sobre aquele que os cristãos consideram como o Salvador nas páginas da Bíblia, muitos estudiosos têm-se debruçado sobre os registros acerca do homem que viveu na Palestina do século I – alguém tão importante que foi ele mesmo que estabeleceu, com seu advento, essa contagem do tempo. A partir dos anos 1980, o interesse acadêmico sobre o Jesus histórico deu um salto. Na América, pesquisadores como Ben F. Meyer, E. P. Sanders, John Dominic Crossan, Marcus Borg, Paula Fredriksen, e N. T. Wright começaram a traçar quadros os mais diversos do chamado Filho de Deus. Alguns destes estudos pareciam bizarros; outros aproximavam-se um pouco mais da ortodoxia e dos evangelhos canônicos.







Mas a quê a expressão ‘Jesus histórico’ de fato se refere? Para início de conversa, Jesus – o rabi galileu que viveu, respirou, comeu, conversou e chamou discípulos, sendo ao fim de 33 anos crucificado – é um personagem cuja existência gera hoje pouca controvérsia. Mesmo fora do registro bíblico, já há evidências suficientes de sua trajetória: um homem pobre, nascido na Judeia sob a dominação romana, que exerceu ofícios manuais ao lado da família até iniciar seu trabalho de pregador itinerante, por volta dos trinta anos. Através de diversos estudos históricos, esse Jesus tem sido inserido em seu contexto judaico. Podemos chamar esse Jesus de o “Jesus judeu”. Já os quatro evangelistas e outros autores do Novo Testamento, que levam em conta o que está desvendado nas Escrituras, interpretam Jesus com o uso de termos como “Messias”, “Filho de Deus”, e “Filho do Homem”, entendendo-o como o agente da redenção de Deus. Podemos chamar esse Jesus de o “Jesus canônico”. Outro aspecto precisa ser observado: a Igreja ampliou seu entendimento de Jesus, uma vez que o interpreta à luz de conceitos teológicos. Esse seria o “Jesus ortodoxo”, a segunda pessoa da Trindade.







Mas o Jesus histórico é alguém ou algo à parte. Ele é o Jesus que os estudiosos reconstruíram com base nos métodos históricos, tanto o Jesus canônico do Novo Testamento como o Jesus ortodoxo da teologia da Igreja. O Jesus histórico parece mais com o Jesus judeu do que com o ortodoxo ou o canônico. Fazer distinções entre estas visões é importante para entender o que acontece no cenário acadêmico. Em primeiro lugar, o Jesus histórico é o Jesus que os acadêmicos reconstruíram com base nos métodos. Visto que os estudiosos são diferentes uns dos outros, suas reconstruções também o são umas das outras. Os métodos também são distintos, o que diferencia ainda mais a reconstrução. A maior parte deles toma os evangelhos como pouco confiáveis – mesmo assim, não os abandonam, tentando ver o que eles dizem. Outros critérios foram desenvolvidos, criticados, rejeitados e modificados, mas todos têm isso em comum: estudiosos do Jesus histórico reconstruíram Jesus com base em seus métodos históricos para, então, determinar o que, nos evangelhos, deve ser crido.







O critério essencial usado, ainda que cheio de falhas, é chamado de dissimilaridade dupla. De acordo com ele, os únicos ensinos ou ações de Jesus que podem receber crédito são os que são dissimilares tanto para o judaísmo dos dias de Jesus quanto para seus primeiros seguidores. Um dos principais exemplos é sua forma característica de chamar Deus de Abba, expressão raramente encontrada no judaísmo ou cristianismo primitivo como referência a Deus e que significa “pai”, ou, ainda, “paizinho”. Em segundo lugar, a palavra reconstruir precisa receber mais atenção. A maioria dos estudiosos do Jesus histórico entende que os evangelhos excederam nas imagens que construíram de Jesus, e que a teologia trinitariana da Igreja maximiza tudo o que Jesus pensou acerca de si mesmo, e tudo no qual os evangelistas acreditavam. Estes estudiosos construíram um Jesus que é diferente daquele ensinado pela Igreja e pelos evangelhos.







Novo Jesus – Não há razão para fazer estudos sobre o Jesus histórico – provar quem ele realmente era – se os evangelhos estão corretos e se as crenças da Igreja são justificáveis. Há apenas duas razões para se engajar na busca do Jesus histórico: a primeira, ver se a Igreja o entendeu de forma correta; e a segunda, caso a igreja não o tenha feito, é a de achar um personagem que seja mais autêntico do que o que a Igreja apresenta. Isso leva à conclusão necessária de que os acadêmicos do Jesus histórico construíram, na verdade, um quinto evangelho. A reconstrução apresenta um Jesus que não é idêntico ao canônico nem ao ortodoxo. Ele é o Jesus reconstruído; isto é, um novo Jesus. E os acadêmicos realmente acreditam no Jesus por eles construído. Durante o que ficou conhecido como a “primeira busca” pelo Jesus histórico, no começo do século 20, Albert Schweitzer entendeu que Jesus era apocalíptico. Nas mais recentes buscas, temos diversos perfis: o Jesus de Sanders é um profeta escatológico; o de Crosan, um camponês mediterrâneo cínico e cheio de perspicácia; o de Borg é um gênio místico; já Wright o aponta como um profeta messiânico do fim do exílio, que acreditava ser Deus voltando a Sião.







O terceiro ponto, e que precisa ser reforçado nos dias de hoje, é de que os acadêmicos do Jesus histórico construíram um Jesus em contraste com as categorias que os evangelistas e a Igreja primitiva apresentam. Wright é o mais ortodoxo dos conhecidos estudiosos dessa área. Eles partem do princípio que os evangelhos exageraram, e que a Igreja absorveu o profeta galileu nas categorias da filosofia grega. A busca pelo Jesus histórico é uma tentativa de ir além da teologia e estabelecer a fé no Jesus que foi – é preciso dizer desta forma – muito mais do que o Jesus que gostaríamos que ele fosse.







Há quem pense se o que está por trás desse movimento de busca histórica não seja uma descrença, a priori, na ortodoxia, mais do que uma genuína busca histórica ou interesse pelo que aconteceu. As conclusões teológicas daqueles que buscam o Jesus histórico simplesmente correlacionam de forma muito forte com suas próprias predileções teológicas para sugerir o contrário. A pergunta que muitos de nós devemos fazer é a seguinte: podem a teologia, a cristologia ou, até mesmo, a fé, estar conectadas com as vicissitudes da busca histórica e de seus resultados? A academia espera que nós descubramos o Jesus verdadeiro. Um a um, quase todos fomos convencidos de que não importa o quanto tentemos: alcançar o Jesus não interpretado é praticamente impossível. Além disso, um Jesus descoberto é apenas a versão de um pesquisador. E o detalhe é que é incomum que pessoas, que não o próprio estudioso e alguns de seus seguidores, sejam realmente convencidas por suas descobertas.







O teólogo alemão Martin Kähler convenceu sua geração que fé em Jesus não poderia nem deveria estar baseada nas conclusões históricas sobre o que aconteceu ou não. Precisamos, então, nos perguntar: em qual Jesus devemos confiar? Será no dos evangelistas e apóstolos? Será no da Igreja – aquele dos credos? Ou no Jesus ortodoxo? Será na mais recente proposta de um historiador brilhante? Será em nosso próprio consenso baseado nas pesquisas modernas? Ou tudo deve ser somente balizado pela fé?







“Produzimos o que queremos” – Diante de tantos descaminhos, temos presenciado a morte dos últimos estudos sobre o Jesus histórico. Não completa, é verdade, porque alguns ainda estão ocupados tentando reconstruir Jesus para eles mesmos e para os que os ouvirem. Ainda assim, o entusiasmo se foi, e as propostas parecem-se cada vez mais com teses vagas do que com uma esperança de um verdadeiro encontro da história de Jesus. Dois estudiosos recentes leram o obituário dos estudos nessa área. James Dunn argumenta em suas obras que o mais longe que podemos chegar além dos evangelhos é compreender a figura de Jesus com base no que seus primeiros seguidores disseram. Isso é o máximo que podemos fazer. Esse é o Jesus que deu vida à fé cristã, e o Jesus que é digno de ser seguido. Na perspectiva de Dunn, o Jesus relembrado contém a perspectiva de seus discípulos – e além dela não podemos ir.







Dale Allison, um dos mais bem preparados acadêmicos do Novo Testamento nos Estados Unidos, é menos sanguíneo e mais cínico que Dunn em seu recente livro. Depois de três décadas de trabalho nessa área, Allison esboça a variedade de percepções sobre o Jesus histórico e a suposta teoria moderna de que, se unirmos nossas mãos, chegaremos a conclusões firmes. Ele apresenta essa conclusão deprimente: “O progresso não abrangeu todos os assuntos, e seja qual for o consenso existente, ele permanecerá excessivamente chato”. Em uma única sentença, ele diz tudo: “Usamos nossos critérios para produzir o que queremos”. E ele admite isso em relação a um de seus próprios livros sobre Jesus: “Abri meus olhos para o óbvio: criei um Jesus à minha própria imagem. Talvez tenhamos transformado a sua biografia em nossa própria autobiografia”, conclui.







Quando dois estudiosos desse porte, ambos altamente dedicados à busca do Jesus histórico por ângulos distintos, chegam a conclusão similar – a de que não chegaremos ao Jesus original por esses caminhos –, uma mensagem é transmitida. Podemos provar que Jesus morreu e que ele pensou em sua morte como uma expiação. Podemos estabelecer que a tumba estava vazia e que a ressurreição é a melhor explicação para tal fato. Contudo, algo que nossos métodos históricos não podem provar é que Jesus morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação.







Em um determinado ponto, métodos históricos encontram seus limites. Estudos acadêmicos sobre Jesus não podem nos levar a lugares nos quais o Espírito Santo nos leva. O homem curado por Jesus da cegueira sintetizou tudo magistralmente a dizer que não sabia quem era o homem que o curou; disse apenas: “Sei que outrora estava cego, e que agora posso ver”. De maneira análoga, os métodos históricos, a despeito de seu valor, não são capazes de nos fazer enxergar com clareza o Filho de Deus. A fé não pode ser completamente baseada no que a história é capaz de provar. A busca pelo verdadeiro Jesus, árdua e longa, tem provado exatamente isso.







Scot McKnight é professor de religião na Universidade North Park, em Chicago (EUA) e autor de diversos livros.







Fonte: http://cristianismohoje.com.br/interna.php?id_conteudo=701&subcanal=43


Tradução: Daniel Leite Guanaes

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

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Família, lugar de afetos






A vida acontece em família, em grupos, seja uma família biológica ou não. Precisamos de pessoas e de família. Fomos feitos para viver e conviver com outras pessoas. Ouvi de Adélia Prado que “família é o lugar onde temos toda a alegria e toda a dor. Onde temos toda a felicidade e toda a tristeza”.




Uma família é feita de afetos, de sentimentos. O vínculo que forma uma família não é o sangue, mas o afeto, o amor. Todos nós vivemos em família. Sempre há alguém, pais, irmãos, tios, filhos, primos, sobrinhos, netos, bisnetos, e quando não há mais ninguém da família, há os amigos, que às vezes são mais chegados que um irmão.



A família passa por transformações, mas continua sendo um porto seguro, ou pelo menos deve ser esse porto seguro afetivo, emocional, de todos nós. Lugar em que somos queridos, amados de graça, sempre perdoados, sempre acolhidos. Mas para que assim seja é necessário observar algumas pistas.



Primeiro é preciso acabar com o mito de que existe família perfeita. Existem famílias felizes, mas não perfeitas. Uma família só tem a chance de ser feliz quando reconhece suas limitações, seus problemas, seus desajustes e suas imperfeições. Há pessoas que vivem culpadas porque suas famílias têm problemas. Elas não estão sozinhas. Família normal é aquela que tem problemas e tenta resolvê-los, não as que não têm problemas, estas não existem.



Também é indispensável que as “fórmulas infalíveis” para resolver problemas familiares sejam descartadas. Cada pessoa é um mundo, um universo. As pessoas são diferentes e reagem de modo diferente, por isso um mesmo conselho pode ser bom pra uma família, mas inócuo ou pernicioso para outra.



Edificar uma família dá trabalho, é preciso estar disposto para isso. Na cultura do fast-food tudo tem que ser imediato, queremos algo que funcione rapidamente, apertar um botão e tudo funcionar. Conflitos podem ser resolvidos, mas leva tempo e muita disposição. Não há mágica. É preciso trabalhar aos poucos e com constância.



Dedicar tempo, um tempo com qualidade com a família é de um valor inestimável. Pequenas tradições devem ser sagradas: refeições à mesa, com todos reunidos e conversando olhando-se uns para os outros, a conversa no fim do dia que demonstra interesse pelo outro, os passeios, por mais simples que sejam, mas que marcam as emoções para sempre.



Nessas oportunidades você pode transmitir seus valores para seus filhos para sejam cidadãos responsáveis no futuro. Foi Frei Betto que escreveu: “Ensina a teus filhos evitar a via preferencial dessa sociedade neoliberal que tenta nos incutir que ser consumidor é mais importante que ser cidadão, incensa quem esbanja fortuna e realça mais a estética do que a ética. Convence-o de que a felicidade não resulta de prazeres e a via espiritual é um tesouro guardado no fundo do coração – quem consegue abri-lo desfruta de alegrias inefáveis”.



Finalmente, os relacionamentos familiares devem ser permeados de Graça. Graça que ajuda a perdoar, compreender, acolher, a tolerar, a não fazer exigências descabidas, a crer que um recomeço é sempre possível, a corrigir com firmeza e, ao mesmo tempo, com ternura.



A sociedade adoecida é o resultado de famílias adoecidas. A cura para isso talvez esteja em transformar as famílias em um lugar de afetos.



Márcio Rosa da Silva

 
 
Vi no http://marciorosa.wordpress.com/
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Uma atitude que poderia mudar o mundo: servir




Quando Jesus afirmava categoricamente que seu Reino não era deste mundo estava com isso dizendo que seu Reino não tem as mesmas práticas dos reinos deste mundo, suas categorias são outras, seus princípios são outros, sua lógica é outra. Pela lógica mundana um reino, um império, um país, sempre se sobrepõe a outro pela força, pelo seu poder bélico ou econômico. Mas o Reino de Jesus não é assim. No Reino de Deus o poder é outro, as relações não são baseadas no poder, mas no amor e no serviço.




Mas os discípulos de Jesus, a despeito de estarem numa espécie de intensivão, porque estavam com ele o tempo todo, ainda não entendiam a dimensão do seu Reino, os princípios desse Reino, e ainda tinham a expectativa de que Jesus seria um rei como outro qualquer, que se imporia pela força e ainda por cima usando poderes sobrenaturais para isso, o que o colocaria em ampla vantagem sobre outros monarcas. Sim, porque já o tinham visto ressuscitar Lázaro, transformar água em vinho, multiplicar pães, então derrubar Pilatos e chegar a César, não seria muito difícil.



Tanto aspiravam por isso, que já estavam querendo dividir os melhores cargos. Queriam saber quem seriam os ministros do novo Reino. No episódio da Santa Ceia eles entraram numa discussão sobre quem seria o maior no Reino de Deus.



O tempo já estava acabando. Naquela noite Jesus seria preso e levado a um julgamento injusto e, dentro de algumas horas, seria crucificado. Depois de três anos andando com aquele pessoal, nas horas finais, Jesus ainda vê seus discípulos, como crianças, querendo saber quem era o maior. Acho que se fosse eu, pensaria comigo: “Falhei, não deu certo, que pena, deu tudo errado”.



Mas mesmo naquele contexto, nas horas finais, Jesus vê uma oportunidade para ensinar a natureza do seu Reino para seus discípulos. Enquanto era servida a ceia, levantou-se da mesa, tirou sua capa, enrolou uma toalha na cintura, colocou água numa bacia e lavou os pés dos discípulos, para surpresa geral. Aquela tarefa era dos escravos, ou do menor filho da casa, da pessoa menos importante, nunca de um mestre. Pedro até hesitou em aceitar ter seus pés lavados por Jesus, porque era inconcebível que o mais importante fizesse o trabalho do menos importante. Mas Jesus queria dar-lhes a lição. Queria que as palavras se transformassem em prática: “Os reis das nações dominam sobre elas; e os que exercem autoridade sobre elas são chamados benfeitores. Mas, vocês não serão assim. Ao contrário, o maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa como o que serve”.



Quando terminou, ainda sob olhares espantados, disse que deveriam fazer o mesmo, e que seriam felizes, bem-aventurados, se o fizessem.



Lavar os pés, servir, estar disposto a ajudar os que nos rodeiam. Eis o caminho para um mundo solidário, justo e feliz. E ainda que pareça impossível mudar o mundo, é possível mudar-se a si mesmo e isso já será o começo de uma transformação maior. Ele deu o exemplo para que fizéssemos o mesmo. Quão diferentes seriam as coisas, se servir humildemente uns aos outros fosse uma realidade.



Márcio Rosa da Silva




Vi no http://marciorosa.wordpress.com/
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Você se Sente Salvo?

David M. Battle



Então, você se sente salvo? Isso é louvável, mas não é uma questão sobre a qual você quer estar errado. O apóstolo Paulo diz aos membros da igreja de Corinto para examinarem a si mesmos para ver se eles permanecem na fé (2Co 13.5). Você já examinou a si mesmo?




Jesus descreve uma cena muito triste no julgamento. Um grupo de pessoas ficará em pé diante do assento do Juiz e clamará a Jesus dizendo, “Senhor, Senhor”. Eles achavam que estavam salvos e destinados aos Novos Céus e Nova Terra (Mt 7.21). Muitos tinham até mesmo feito milagres em nome de Jesus, mas Deus lhes disse, “Apartai-vos de mim, eu nunca vos conheci” (Mt 7.21; 25.41). Essas pessoas sentiam que estavam salvas, mas não estavam. Que horror descobrir no Dia do Julgamento que você estava destinado ao inferno e não ao céu! Se você é sábio, reservará um tempo e examinará a si mesmo para ver se permanece na fé e não está destinado à condenação.



Então você se diz salvo! Isso é bom, mas como você sabe que está falando a verdade? A salvação é um dom de Deus. Por qual evidência você diz que Deus tem verdadeiramente dado a salvação a você?



A evidência da salvação não é uma mera afirmação da história do Evangelho ou a participação em algum ritual como o batismo ou a santa ceia. Até o diabo pode contar como Deus enviou o Seu Filho para morrer na cruz como pagamento pelos nossos pecados. Ele tem mais conhecimento das realidades espirituais do que nós. Outros apenas enganam a si mesmos. Eu me lembro de ouvir um jovem testemunhar que Jesus tinha morrido por seus pecados e posteriormente admitiu que adorava a Gaia, a Mãe Terra. Ele era um pagão que seguia os espíritos deste mundo. Ele não era salvo. Eu tenho até mesmo lidado com um alcoólatra que testemunhou que tinha atendido ao apelo e que tinha orado a “oração dos pecadores”. Ele tinha testemunhado um “bom batismo” que foi confirmado por um sinal milagroso. Mesmo assim, ele continuou fortemente na vida de bêbado. Ele desajeitadamente ignorou o aviso de Paulo de que os bêbados não herdarão o reino de Deus (1Co 6.10; Gl 5.21). Esses dois homens declaravam salvação para si mesmos. Tristemente, ambos ignoraram os claros e repetidos ensinos da Escritura que nem os idólatras e nem os bêbados entrarão no Reino dos Céus. Eles estão andando direto para o inferno enquanto cantam, “Estou a caminho da terra prometida”.



Que o Senhor tenha misericórdia desses que encorajam tais ilusões.



Amigo, eu não sei se a graça de Deus foi aplicada na sua alma. Eu sei que Cristo morreu para pagar pelos nossos pecados e que Deus enviou o Espírito Santo para nos preparar para o Seu Reino vindouro. A pergunta que precisamos responder é, “Essa graça está sendo aplicada na minha vida?” Como eu testo a mim mesmo para ver se permaneço na fé com Paulo ordenou (2Co 13.5)? Estou verdadeiramente salvo? Ou sou um reprovado iludido? Você deve responder essas perguntas para si mesmo. Nenhum outro humano nessa terra pode respondê-las para você.



Nem todo mundo pode ter esse conhecimento. Aqueles que não acreditam no nome do Filho de Deus não têm esperança da vida eterna. Nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual alguém pode ser salvo (At 4.12), e Jesus é o único caminho para Deus (Jo 14.6). Você deve acreditar na mensagem do Evangelho antes que possa ter essa certeza.



Felizmente, Deus tem nos revelado os testes que nós crentes devemos usar para examinar o destino das nossas almas quando declaramos que temos a salvação. A Primeira Carta de João no Novo Testamento foi escrita para que os crentes soubessem que eles têm a vida eterna (1Jo 5.13).



João fornece três testes para aqueles que creem no Nome do Filho de Deus pelos quais eles possam saber que têm a vida eterna. O crente deve examinar a si mesmo por esses três testes antes que possa saber que tem a salvação.



Enquanto os testes são apresentados por toda a carta, João os sumariza em 1 João 5. O primeiro teste, que aquele que professa crer em Cristo deve passar, é o teste do amor divino. Ele deve verdadeiramente amar a Deus. O segundo teste é a vida de obediência santa. Quando um crente experimenta alegria em obedecer a Deus, ele vai naturalmente viver uma vida santa. O teste final é que o crente deve acreditar nos testemunhos de Deus.



O Maior Mandamento é amar ao Senhor Deus com todo o nosso coração, mente, alma e força. Todos os que são perdoados amam a Deus, pois Jesus nos diz que o nosso amor por Deus está diretamente ligado ao perdão de Deus. Jesus certa vez estava à mesa e uma mulher veio e lhe ungiu os pés. O anfitrião reconheceu a mulher como uma pecadora impura e no seu coração menosprezou a percepção espiritual de Jesus. Jesus sabendo o que o homem estava pensando disse a ele, “Se um credor tivesse dois devedores, um devendo R$ 800.000,00 e outro devendo R$ 400.000,00, e ele perdoasse as dívidas deles, qual deles o amaria mais?” O anfitrião respondeu, “Suponho que seria aquele que devia mais a ele”. Jesus concordou (Lc 7.41-43). Aquele que foi perdoado pouco, amará a Deus somente um pouco, mas aquele a quem Deus perdoou, muito amará a Deus mais profundamente.



João declara que o primeiro sinal de que os crentes nasceram de Deus é que nós amamos a Deus (1Jo 5.1-2). Se amamos a Deus, então amamos aqueles que nasceram de Deus, pois não podemos odiar os Seus filhos e amar a Ele (1Jo 2.9-10). Tiago vai mais além e descreve como “morta” ou “imprestável” uma fé que não alcança os irmãos que estão em necessidade (Tg 2.15-17). Ainda mais, se você ama alguém, você quer estar com ele. A expressão mais básica do nosso amor por Deus é o desejo de se unir aos Seus filhos em adoração. Resumindo, o nosso amor por Deus nos motiva a congregar com os crentes em adoração divina a Deus e a atender as necessidades dos irmãos.



Quanto menos amamos a Deus, mais morno é o nosso desejo de adorar e a nossa motivação para ajudar os outros. Se somos indiferentes a Deus, seremos indiferentes à congregação dos crentes. Quanto maior for a nossa indiferença, menos pecados nos serão perdoados. Os seus pecados foram realmente perdoados? Você passa neste teste?



O segundo teste é a extensão do nosso amor na vida de obediência ou vida santa. O crente que tem completa certeza da salvação é motivado por seu amor por Deus a buscar e atingir aquilo que é impossível para uma pessoa que não foi salva. João declara que nós sabemos que somos filhos de Deus “quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos”, os quais o crente irá descobrir que não são penosos ou pesados (1Jo 5.2-3). Isso é como um marido que ama profundamente a sua esposa. Ele terá prazer em estar com ela, permanecendo com ela mesmo durante um tempo de dificuldade. O marido que não ama a sua esposa pensará que ajudá-la é um peso e uma distração das coisas que ele quer fazer. Quando nós amamos a Deus, descobriremos que guardar os Seus mandamentos não é um jugo pesado, mas sim uma aplicação libertadora de retidão e sabedoria. João declara ainda que o crente que obedece a Deus com amor encontrará vitória sobre o mundo (1Jo 5.4-5), porque ele irá derrotar esse mundo e suas paixões desenfreadas: a concupiscência[1] da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida (1 Jo 2.16-17). Essas coisas não mais serão a regra nem vão reinar sobre a vida do crente, porque o amor de Deus vai permanecer firme no seu coração.



O segundo teste é o amor divino florescendo na vida santa. A sua vida é guiada pelo seu amor a Deus? Você sente prazer em obedecer a Deus? A sua vida é marcada por vitórias sobre os pecados, especialmente aqueles que eram comuns a você antes da salvação? Examine sua própria vida para ver se passa neste teste.



Uma vez que alguém afirma com o seu próprio coração e lábios que Jesus pagou por seus próprios pecados e começa a seguir Jesus obedecendo aos mandamentos do nosso Senhor, a certeza da salvação pode ainda estar faltando. Enquanto a verdadeira certeza da salvação não pode ser obtida sem ter primeiro um profundo amor por Deus e obedecer aos Seus mandamentos, uma pessoa pode ter os dois e ainda não ter certeza. O terceiro teste é a chave para se ter a certeza da salvação.



No terceiro teste está o testemunho do Espírito, o qual conclui o testemunho de Deus acerca do Seu Filho (1Jo 5.9). Na terra quem dá o testemunho é “o Espírito, a água, e o sangue” (1Jo 5.6, 8). As testemunhas divinas da água e do sangue reafirmam duas verdades fundamentais que alguém precisa aceitar a fim de ter a vida eterna. Deus o Pai testemunhou que Jesus é o Seu Filho Unigênito no Batismo (Jo 1.14, 32-34). Um Filho Unigênito possui a mesma essência de Seu Pai. O testemunho do sangue declara com poder que Jesus é o Filho de Deus pela ressurreição de Seu corpo dos mortos (Rm 1.4).



Essas duas verdades são fundamentais para a salvação e a pessoa deve aceitá-las a fim de ganhar a vida eterna. Ainda, a salvação não é uma mera afirmação intelectual dessas verdades. A pessoa deve escolher acreditar nelas colocando a sua fé em Cristo. Uma vez que a pessoa crê em Deus, se arrepende de sua rebelião contra Deus e vive na fé obediente, Deus promete salvá-la.



O terceiro teste novamente requer que a pessoa creia que Jesus é o Salvador vindo de Deus, que essa pessoa ame ao Senhor com todo o seu coração, alma e força, e que esteja obedientemente vencendo esse mundo caído. O terceiro teste ou o Testemunho do Espírito é também o mais difícil de explicar. Se o tem, você o sabe. Se não o tem, você não vai entender isso. Se não o tem, vá a Deus em oração e implore a Ele para que Ele abra os seus olhos e para que saiba que Ele é bom.



A pergunta aqui é, “Como você sabe que Deus aplicou o sangue de Jesus na sua alma?” Você pode amar a Deus, estar vivendo uma vida santa, e ter aceitado os dois primeiros testemunhos de Deus e ainda assim não ter certeza da salvação. De novo, você não pode ter certeza se você não ama a Deus, não está vivendo uma vida santa ou rejeita qualquer dos dois primeiros testemunhos de Deus.



Ainda que você tenha estas coisas, você ainda necessita de mais uma coisa antes que possa estar seguro de que tem a salvação. A fim de finalmente ter certeza da salvação, você deve ter o conhecimento experimental que vem do testemunho do Espírito com o seu espírito (1Jo 5.10). O crente tem completa certeza da salvação quando o Espírito de Deus testemunha com o espírito do crente que Deus o tem adotado. O crente recebe o Espírito de adoção que clama a Deus, dizendo, “Pai” (Rm 8.15-17). A certeza vem naquele momento que você pode olhar para a sua vida e dizer, “Sim, eu creio que Jesus é o Filho de Deus, o Salvador do Mundo”. “Sim, eu tenho um profundo amor e desejo de agradar a Deus”. “Sim, Deus está operando através de mim, e eu acho o Seu trabalho prazeroso”. Então, nesse momento você sente o Espírito de Deus se achegando e dando a você um completo abraço e sussurro em seu ouvido, “Você é meu filho amado” e a sua alma alcança a Deus, clamando, “Pai”. Nesse momento, você tem completa certeza.



Se você sabe sobre o que estou escrevendo, tenha coragem e vá mais fundo nessa caminhada. Peça a Deus para dar a você uma caminhada mais profunda com Ele, um mais profundo amor por Ele. Cresça em santidade e Deus dará a você muito mais certezas internas de que você é Dele. Que você viva de fé em fé e de vitória em vitória.



Se você não sabe sobre o que estou escrevendo, não posso dar isso a você. Somente Deus pode. Examine a sua vida e busque o que falta a você. Você realmente acredita nos testemunhos de Deus? Você acredita que Jesus é o Filho de Deus que veio em carne? Você confessa que é um pecador corrupto e que não tem qualquer direito de pedir o amor de Deus? Você crê que a Sua morte pagou por todos os seus pecados e transgressões? Se a resposta é não, comece a ler a Bíblia. Se você foi criado na igreja, leia o Evangelho de João. Se não foi, leia o Evangelho de Lucas e o livro de Romanos no Novo Testamento.



O amor de Deus é o centro da sua vida? Você está expressando o seu amor pela sua preocupação e cuidado pelos filhos de Deus? Se você não está frequentando uma igreja regularmente, comece neste domingo. Procure uma igreja onde a Bíblia seja exposta e evite aquelas igrejas onde a auto-ajuda, emoções, filosofia ou psicologia são exaltadas. Tenha certeza de buscar em oração a direção do Espírito.



Você está vivendo uma vida santa como o Espírito capacita? Ponha de lado qualquer hábito e prazer mundano que não deixa você buscar a Deus. Evite fazer mal a alguém e procure fazer todo o bem que puder. Se a sua resposta for “sim” a todas essas perguntas, então vá a Deus em oração e peça a Ele para sondar o seu coração e testar você. Peça a Ele para revelar se há algum caminho mal em você mesmo e guiar você pelo caminho da vida eterna (Sl 139.23-24).



Se você diligentemente buscar, o Espírito revelará o que você precisa. Como John Wesley ensinou, a certeza da salvação é o privilégio do crente. Todo crente deveria tê-la, mas ninguém pode dá-la. Busque o reino de Deus e a Sua justiça e achará graça.



Tradução: Thiago D. M. Silvino




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[1] Nota do Tradutor: Desejo desesperado.



Vi no http://www.arminianismo.com/
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Deus nos livre de um Brasil evangélico





Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles, em avenidas, com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.




Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação, mas hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. A mensagem subliminar da grande placa, para quem conhece a cultura do movimento, era de que os evangélicos sonham com o dia quando a cidade, o estado, o país se converterem em massa e a terra dos tupiniquins virar num país legitimamente evangélico.



Quando afirmo que o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar "crente", com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).



Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse essa tal levedação radical do Brasil.



Imagino uma Genebra brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo moreno. Mas, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias do cancioneiro gospel? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?



Uma história minimamente parecida com a dos puritanos provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?



Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português.



Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.



Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada, de várzea aconteceria quando?



Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.



Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura do Norte. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.



Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro a perguntar: Como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.



Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado.



Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista.





O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo.



Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador.



Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.





Soli Deo Gloria

 
 
Vi no http://www.ricardogondim.com.br/
 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

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Conhecimento Médio e Eleição Divina

William Lane Craig





Questão 1:








Tenho estudado o conceito de conhecimento médio e gostaria de saber o seu ponto de vista sobre o seguinte:







1) Existem pessoas que Deus não pode predestinar à salvação porque elas livremente rejeitariam a Cristo não importam quais circunstâncias Deus as jogue?



2) Existem pessoas que não responderiam a um apelo[1] mas que responderiam a um encontro com Cristo na estrada de Damasco?



3) Deus negaria passivamente um encontro com Cristo na estrada de Damasco à pessoa da Q2 se Deus não a houvesse escolhido?







Agradecido,



Michael.







Questão 2:







Dr. Craig,







Eu aprecio esta oportunidade de fazer uma pergunta a um grande pensador como você. Estou fascinado pelo debate em torno do conhecimento médio, mas superficialmente parece que ele pode ser muito simplista. Por exemplo, digamos que entre os mundos possíveis existam dois sob as seguintes condições:







Mundo Possível #1:







1. Existem três pessoas (A, B e C).



2. A Pessoa A encontra uma Bíblia e é salva.



3. A pessoa A compartilha o Evangelho com a pessoa B que é então salva.



4. A Pessoa C nunca é salva porque mesmo que ela escute o evangelho, colocou na cabeça que sempre discordaria com qualquer coisa que B acredita. (Eu conheço pessoas assim!)







Mundo Possível #2:







1. Existem três pessoas (A, B e C).



2. A Pessoa A encontra uma Bíblia e é salva.



3. A pessoa A compartilha o evangelho com a pessoa C que é então salva.



4. A Pessoa B nunca é salva porque mesmo que ela escute o evangelho, colocou na cabeça que sempre discordaria com qualquer coisa que C acredita.







Pergunta: Que mundo Deus preferiria? Aquele em que as pessoas A e B são salvas (Mundo #1) ou aquele no qual as pessoas A e C são salvas (Mundo #2)? Como muitos mundos possíveis de contingências existem, parece que Deus pode ter de fazer escolhas onde pessoas potencialmente salvas nunca seriam salvas.







Obrigado,



Bruce.







Dr. Craig responde:







É importante ter sempre em mente que Luis de Molina desenvolveu sua doutrina do conhecimento médio divino em resposta às visões fortemente predeterminacionistas dos Reformadores Protestantes como Lutero e Calvino. Ele quis enunciar uma doutrina extremamente forte da soberania divina, satisfazendo para tanto as demandas teológicas dos reformadores, tendo a vantagem de afirmar também a realidade do livre arbítrio humano. Pessoas que não gostam das afirmações fortes dos reformadores sobre a soberania divina estão, portanto, inclinados a desgostar também das visões de Molina. Mas Molina, assim como os reformadores, tomou com seriedade, gostassem disso ou não, a afirmação bíblica sobre a soberania divina acima dos negócios dos homens.







Bruce, tomemos primeiro a sua questão, e assumamos que esses não são apenas mundos possíveis, mas mundos que são viáveis para Deus de criar (Sobre a diferença veja a Questão #138). Além disso, pelo bem do argumento, suponhamos que esses sejam os únicos mundos habitados por apenas A, B e C que são viáveis para Deus. Num caso como esse, cabe à liberdade e soberania de Deus escolher qual mundo preferir. Tudo o mais sendo igual (não sabemos como é o restante desses mundos), esses dois mundos parecem exatamente os mesmos em valor, e portanto eu não posso ver qualquer razão para a preferência de Deus sobre um mundo em vez do outro. Parece ser uma escolha como aquela descrita no caso clássico do asno de Buridan, o infeliz animal que foi pego à mesma distância entre dois pacotes igualmente apetitosos de feno. O debate foi sobre se o asno, em faltando-lhe o livre-arbítrio, iria morrer de fome, não tendo ímpeto para escolher um ao invés do outro. Um ser humano nunca cairia numa armadilha como essa, já que é da própria natureza do livre arbítrio fazer escolhas arbitrárias entre alternativas igualmente boas. Então, parece-me que Deus poderia escolher arbitrariamente entre esses dois mundos (embora existam outras incontáveis opiniões).







Suponha que Deus escolha fazer surgir o mundo #2. Então B está condenado, mesmo que ele teria sido salvo se Deus tivesse escolhido criar, pelo contrário, o mundo #1. Isso parece deixá-lo desconfortável, Bruce. Se sim, então o que você precisa manter em mente é que em qualquer mundo, Deus deseja a salvação de todas as pessoas e provê graça suficiente para a salvação delas. O mundo de A, B e C que Deus realmente prefere criar é aquele em que A, B e C todos abraçam livremente a graça de Deus e encontram a salvação. Infelizmente, ex hypothesi, esse mundo, embora possível, não é viável para Deus de criar. Uma das três pessoas irá perversamente rejeitar a graça salvadora de Deus e separar-se dEle eternamente. Então, mesmo embora a soberania de Deus escolha qual mundo criar, a decisão é das pessoas daquele mundo se serão ou não salvas. Um molinista francês colocou esse paradoxo muito eficientemente:







Cabe a Deus decidir se eu me encontro num mundo no qual sou predestinado; mas cabe a mim decidir se eu sou predestinado no mundo em que me encontro.







Pense muito e cuidadosamente sobre isso. Contanto que a segunda cláusula seja verdadeira, Deus não pode ser culpado pela condenação de ninguém.







Agora, nós estamos restringindo artificialmente as opções de Deus pelo bem do argumento. Portanto, não segue do seu experimento mental que Deus tem de “fazer escolhas onde pessoas potencialmente salvas nunca são salvas”. Porque talvez Deus tenha escolhido realizar um mundo no qual os condenados são exclusivamente pessoas que teriam rejeitado a graça de Deus em todo mundo viável para Deus no qual elas existem. Nesse caso, não é verdade que Deus criou quaisquer pessoas não salvas que são, como você colocou, “potencialmente salvas”. (É claro, todas as pessoas são potencialmente salvas já que existem mundos possíveis nos quais aquelas pessoas são livremente salvas; mas tais mundos podem não ser viáveis para Deus). Talvez todos os réprobos são indivíduos trans-mundialmente condenados pelo seu próprio livre-arbítrio. Isso é, obviamente, pura especulação, mas mostra que nós não deveríamos assumir assim tão precipitadamente que existem pessoas que são condenadas mas que seriam salvas se algum outro mundo viável fosse o real.







Isso nos traz à sua questão, Michael. A resposta curta a todas elas é, “Nós não sabemos”. (1), como já vimos, é certamente possível; de fato, talvez todos os réprobos sejam assim. Novamente, talvez existam pessoas como aquelas descritas em (2). Tome, por exemplo, alguém que é salvo lendo a Escritura e tornando-se cônscio da convicção do Espírito Santo. Talvez ele também teria sido salvo se tivesse tido uma experiência como a do apóstolo Paulo na estrada de Damasco; mas ele não teria respondido a um apelo. Não consigo ver qualquer razão para pensar que não existam pessoas assim.







Com respeito à (3), sua pergunta é um pouco enganadora: Numa visão molinista, o problema não é que Deus não tenha escolhido essa pessoa, mas que essa pessoa não o escolheu. De acordo com a visão de Molina, Deus oferece graça suficiente para a salvação de todo ser humano, mas a sua graça é extrinsecamente eficaz, não intrinsecamente, porque ela requer a livre resposta da parte da pessoa para que seja eficaz em salvá-la. O que Deus realmente faz é escolher um mundo no qual aquela pessoa livremente responde à salvação de Deus ou livremente a rejeita. Então o que eu penso que você realmente está perguntando é isso: existem pessoas que são condenadas porque elas livremente rejeitam à graça de Deus mas que teriam sido salvas livremente num mundo viável em que elas estivessem em outras circunstâncias? E a resposta para essa pergunta é, como venho dizendo, “Nós não sabemos”. Podemos muito bem imaginar por que Deus não criaria um mundo no qual essas pessoas se encontrassem em outras circunstâncias: talvez, em um mundo assim, incontáveis outras pessoas teriam sido perdidas, de tal forma que esse mundo tem desvantagens predominantes. Por outro lado, talvez, como sugerido acima, todos os réprobos são trans-mundialmente condenáveis, de forma que ninguém poderia dizer a Deus no dia do julgamento: “Se você tivesse me criado em outras circunstâncias, então eu teria escolhido livremente ser salvo!”.







A doutrina do conhecimento médio não toma uma posição específica nessa espécie de questões, mas pode ser empregada com criatividade para elaborar várias opções.







Fonte: http://www.reasonablefaith.org/site/News2?page=NewsArticle&id=7803



Tradução: Samuel Carvalho Santos







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[1] Nota do tradutor: No original está “altar call”. Um “altar call”, segundo a Wikipedia, é aquela prática em algumas igrejas evangélicas em que aqueles que desejam fazer uma nova aliança espiritual com Cristo são convidados a irem à frente do altar, para “aceitar a Jesus” publicamente. É o chamado “apelo”, realizado algumas vezes no final das reuniões ou dos cultos.