terça-feira, 31 de março de 2009

Calvinismo e Calvinistas

Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo
Calvinismo e Calvinistas
Resta ainda a pergunta de, exatamente, o que determina se alguém é um calvinista. A rejeição do termo não quer dizer nada, pois como temos visto, para alguém recusar o título não significa que ele não seja um calvinista. Então quem são os calvinistas? Como mencionado em várias ocasiões, os grupos presbiterianos e reformados são inerentemente calvinistas. As diferenças em doutrina entre as igrejas e indivíduos presbiterianos e reformados são um tanto insignificantes, especialmente em relação às doutrinas do Calvinismo. Por isso, seus teólogos são sem exceção todos calvinistas. Isto incluiria:

Herman Bavinck (1854-1921) Herman Hoeksema (1886-1965)
G. C. Berkouwer (1903-1996) Abraham Kuyper (1837-1920)
Louis Berkhof (1873-1957) J. Gresham Machen (1881-1937)
J. Oliver Buswell (1895-1977) John Murray (1898-1975)
Gordon H. Clark (1902-1985) William G. T. Shedd (1820-1894)
William Cunningham (1805-1861) Henry B. Smith (1815-1877)
Robert L. Dabney (1820-1898) James H. Thornwell (1812-1862)
John Dick (1764-1833) Francis Turretin (1623-1687)
Jonathan Edwards (1703-1758) Cornelius Van Til (1895-1987)
Archibald A. Hodge (1823-1886) Geerhardus Vos (1862-1947)
Charles Hodge (1797-1878) Benjamin B. Warfield (1851-1921)

Por estes homens serem em sua maioria conservadores e ortodoxos, o Calvinismo tem sido equiparado à ortodoxia e, por isso, estabelecido uma posição segura na teologia. E por eles terem escrito a maioria dos livros teológicos, é muito difícil encontrar uma obra sobre teologia sistemática que não seja calvinista.

A identificação dos batistas que são calvinistas é, como tem sido visto, uma questão diferente. Não apenas a maioria deles menosprezam o nome de Calvino, mas eles têm tremendas diferenças entre si. Alguns são amilenistas; alguns são premilenistas. Alguns são KJV apenas [Nota: King James Version, Versão do Rei Tiago]; outros usam versões modernas. Alguns são igrejas locais apenas; outros consideram uma igreja universal. Alguns usam somente vinho fermentado na comunhão; outros usam somente suco de uva. Alguns enviam missionários; outros não enviam nenhum. Alguns acreditam que as mulheres devam obrigatoriamente cobrirem suas cabeças; outros acham que isto é opcional. Alguns permitem música intrumental; outros não permitem música nenhuma. Alguns dão convites do Evangelho; outros não dão nenhum. Alguns são pastores divorciados; outros não permitem nenhum; Alguns são fortemente dispensacionais; outros são apenas moderadamente dispensacionais. Assim, os batistas calvinistas diferem entre eles mesmos a um grau substancial. Todavia, seu Calvinismo é o elo comum que os une.

Então o que é o Calvinismo? O que faz um homem ser um calvinista? Embora os crentes na Bíblia que rejeitam o Calvinismo não concordam com a dicotomia calvinista/arminiano, em um aspecto os calvinistas dizem o seguinte:

O arminiano dirá que o homem é eleito porque ele crê. O calvinista afirma que o homem crê porque ele é um eleito.[1]

Assim, de acordo com o arminiano, a razão que um aceita e um outro rejeita o evangelho é que o homem decide; mas de acordo com o calvinista, Deus decide.[2]

Qual é a real questão em debate? Eu acho que eu posso dizer a você muito claramente. É a questão se alguém é predestinado – se por ora concedemos aos nossos adversários no debate seu uso livre desse termo – é a questão se um homem é predestinado por Deus para salvação porque ele crê em Cristo ou é capacitado para acreditar em Cristo porque ele é predestinado.[3]

Então tudo se resume a: os homens são eleitos para salvação ou não? Esta é a questão entre os cristãos. A questão não é como Warfield diz, que “há fundamentalmente somente duas doutrinas de salvação: que a salvação é de Deus, e que a salvação é de nós mesmos.”[4] Nenhum cristão discorda disso, ainda que um calvinista irá transferir a questão para fazer seu sistema parecer que seja o único que ensina a salvação pela graça. Wilson é ainda mais sutil: “Qual é o fator decisivo para, se ou não, alguém é um dependente da graça ou um arminiano na questão da salvação. É isso: o dependente da graça ensina que o fator decisivo final para, se ou não, alguém é salvo é a vontade e obra de Deus, enquanto que o arminiano ensina que o fator decisivo final para, se ou não, alguém é salvo é a vontade e/ou obra do homem.”[5] Ora, nenhum cristão verdadeiro acredita que as obras tenham qualquer parte em sua salvação; entretanto, o papel do desejo do homem é uma questão separada. Combinando os dois, o calvinista mais uma vez implica que somente seu sistema ensina a salvação pela graça. A questão é: eleição para salvação. Todos os calvinistas, sejam eles presbiterianos ou reformados, batistas primitivos ou batistas da Graça Soberana; todos os calvinistas, sejam eles premilenistas ou amilenistas, teólogos dispensacionais ou pactuais; todos os calvinistas, se chamados pelo nome ou não; todos os calvinistas têm uma coisa em comum: Deus, por um decreto soberano e eterno tem determinado, antes da fundação do mundo, quem será salvo e quem será perdido. Para obscurecer a real questão, um vocabulário tem sido inventado para embaraçar e confundir os cristãos. Os argumentos sobre o supralapsarianismo e infralapsarianismo, depravação total e incapacidade total, reprovação e preterição, sinergismo e monergismo, livre-arbítrio e livre-agência, graça comum e graça especial, chamada geral e chamada eficaz, perseverança e preservação, e a soberania de Deus são todos insignificantes. A dificuldade para o calvinista é a simplicidade da salvação, de modo que, ao rejeitar isso, um sistema tem que ser construído de acordo com o qual a salvação é feita um decreto misterioso, secreto e incompreensível de Deus. Assim, o erro básico do Calvinismo é confundir eleição e predestinação com salvação, que elas nunca estão na Bíblia, mas somente nas especulações filosóficas e implicações teológicas do Calvinismo: o outro lado do Calvinismo.

[1] Kober, p. 44.
[2] Palmer, p. 60.
[3] Machen, Man, p. 58-59.
[4] Benjamin B. Warfield, The Plan of Salvation (Boonton: Simpson Publishing Company, 1989), p. 27.
[5] Wilson, Sovereign Grace View, p. 8.

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