terça-feira, 22 de novembro de 2011

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Ninguém deve ser idealizado, somos humanos.





Idealizar demais uma pessoa ou uma instituição, seja ela qual for, é a receita para a decepção. Projeções sempre geram frustrações. E se quem é idealizado não quiser ser decepcionante vai ter que ficar se esforçando pra ser o que esperam dele e isso é escravizante, tira qualquer possibilidade de ser autêntico.


Barack Obama foi eleito sob uma aura de quase santidade, um messias. Muitas expectativas. Quase todas frustradas. Ele é apenas mais um presidente estadunidense, não um messias.

No ambiente religioso isso é ainda mais comum. Mitificamos o passado e criamos santos, é a hagiografia cristã. Imaginamos que os santos eram perfeitos e tinham sempre aquela auréola sobre a cabeça. Mas eles foram homens e mulheres, imperfeitos.

O protestantismo também tem sua hagiografia. Mitificamos Martinho Lutero, por exemplo. Ninguém tira os méritos do grande reformador, mas ele se mostrou um anti-semita no fim de sua vida. Escreveu textos destilando ódio aos judeus. João Calvino esteve às voltas com o julgamento e condenação de seu opositor Servetus, que acabou executado. Martin Luther King Jr, um dos meus heróis, quem diria, tinha problemas na área de fidelidade conjugal. Todos são heróis, “santos” protestantes, mas eram apenas humanos, falhos e sujeitos às mesmas dificuldades que qualquer um.

Pode ser chocante ter conhecimento disso, mas precisamos reconhecer que ninguém é perfeito. Somos humanos. Fomos criados assim. E Deus gosta de nós assim mesmo.

Quando criou a humanidade, viu Deus que era muito bom. Deus nos aprecia. Não apenas nos tolera, apesar de nós mesmos, mas aprecia sua criação. Nos ama mesmo, de verdade.

Jesus não idealizou seus discípulos, sabia quem eles eram. Eles não foram chamados por serem perfeitos, mas por estarem dispostos. Deixaram tudo para abraçar uma proposta de vida transformadora trazida por aquele nazareno. A obra de Deus não é conduzida por pessoas perfeitas, mas por pessoas dispostas.

Por isso, não idealize seu pastor ou sua pastora. Eles são apenas humanos. A oração deles não é melhor que a sua e ninguém garante que eles tenham mais intimidade com Deus do que você.

Não idealize sua igreja. Ela é apenas um grupo de pessoas tentando acertar. Um grupo de maltrapilhos que anseiam por Deus, por seu amor e por sua graça. Não há igreja perfeita, nem infalível. Igreja boa não é aquela que se diz perfeita, essa é diabólica. Igreja boa é aquela que faz as pazes com a humanidade de seus membros e abre espaço para que sejamos autênticos. Sem falsas expectativas, sem idealizações adoecedoras, sem projeções escravizantes.

Tem gente que idealiza o Evangelho, desumanizando sua mensagem e fazendo dele um instrumento de opressão através da religião. Mas o Evangelho é libertador justamente porque foi escrito para humanos, não para perfeitos. Esses não são humanos.

Até Deus pode ser idealizado. Quem projeta em Deus um super-homem que vai sempre livrá-lo das enrascadas, vai ficar decepcionado. Quem idealiza Deus como um Papai Noel celestial, que vai sempre dar presentes pra seus filhos que se comportarem bem, também vai se frustrar.

Deus é o amor que abraçou nossa humanidade em Jesus Cristo. Não é um super-homem ou um papai Noel. É Deus.

Por fim, não idealize a você mesmo. Reconheça: você é humano. A vida é frágil, você é imperfeito, não é blindado, nem um santo, mas apenas um ser humano composto de luzes e sombras.

Fazendo as pazes com nossa humanidade, a vida fica mais leve.


Por Márcio Rosa da Silva


Vi no http://marciorosa.wordpress.com/2011/11/18/ninguem-deve-ser-idealizado-somos-humanos/

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

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Albert Schweitzer – Um outro mundo que só ele vê

—Albert Schweitzer


 
 
Por Rubem Alves




‘É um homem grande, 1.90 de altura; obviamente, um homem forte. Seus cabelos castanhos já estão grisalhos. E tem um grande bigode. Seus olhos profundos são azuis e bondosos. E o seu piscar revela humor. Um veadinho se esfrega nele pedindo carinho e sua mão grande deixa a caneta sobre a mesa e delicadamente agrada o bichinho. Lá fora, os crocodilos algumas vezes dormem com suas enormes mandíbulas abertas. E há os hipopótamos, os pelicanos, a vegetação impenetrável que se reflete nas águas barrentas do rio.’


A aparência é de um homem sólidamente plantado nesse mundo. Mas não é verdade. Seu coração e sua cabeça se movem de acordo com uma lógica estranha de um outro mundo que só ele vê.


Nasceu em 1875, numa aldeia da Alsácia, filho de um pastor protestante. Desde muito cedo ficou claro que ele era diferente. Sua sensibilidade para a música chegava à dor. Ele mesmo conta que, à primeira vez que ouviu duas vozes cantando em dueto – ele era muito pequeno ainda – ele teve de se encostar na parede para não cair. Outra vez, ouvindo pela primeira vez um conjunto de metais ele quase desmaiou por execesso de prazer. Com cinco anos começou a tocar piano. Mas logo se apaixonou pelo órgão de tubos da igreja na qual o seu pai era pastor. Aos nove anos já era o organista oficial da igreja, e tocava para os serviços religiosos.


Sentimento amoroso idêntico lhe provocavam os animais. Ele relata que, mesmo antes de ir para a escola, lhe era incompreensível o fato de que as orações da noite que sua mãe orava com ele apenas os seres humanos fossem mencionados. ’Assim, quando minha mãe terminava as orações e me beijava, eu orava silenciosa-mente uma oração que compus para todas as criaturas vivas’ : Oh, Pai, celeste, protege e abeçoa todas as coisas que vivem; guarda-as do mal e faz com que elas repousem em paz.’


Ele conta de um incidente acontecido quando ele tinha sete ou oito anos de idade. Um amigo mais velho ensinou-o a fazer estilingues. Por pura brincadeira. Mas chegou um momento terrível. O amigo convidou-a a ir para o bosque matar alguns pássaros. Pequeno, sem jeito de dizer não, ele foi. Chegaram a uma árvore ainda sem folhas onde pássaros estavam cantando. Então o amigo parou, pôs uma pedra no estilingue e se preparou para o tiro. Aterrorizado ele não tinha coragem de fazer nada. Mas nesse momento os sinos da igreja começaram a tocar, ele se encheu de coragem e espantou os pássaros.


Seu amor pelas coisas vivas não era apenas amor pelos animais. Ele sabia que por vezes era preciso que coisas vivas fossem mortas para que outros vivessem. Por exemplo, para que as vacas vivessem os fazendeiros tinham de cortar a relva florida com ceifadeiras. Mas ele sofria vendo que, tendo terminado o trabalho de cortar a relva, ao voltar para a casa, as suas ceifadeiras fossem esmagando flores, sem necessidade. Também as flores têm o direito de viver.


Também não podia contemplar o sofrimento dos animais em cativeiro.’Detesto exibições de animais amestrados. Por quanto sofrimento aquelas pobres criaturas têm de passar a fim de dar uns poucos momentos de prazer a homens vazios de qualquer pensamento ou sentimento por eles.’


O nome desse jovem era Albert Schweitzer. Doutorou-se em música, tornou-se o maior intérprete de Bach da Europa, dando concertos continuamente. Doutorou-se em teologia e escreveu um dos mais importantes livros de teologia desse século. Doutorou-se também em filosofia, e era professor na universidade de Estrasburgo, sendo também pastor e pregador.


Schweitzer tinha tudo aquilo que uma pessoa normal pode desejar. Ele era reconhecido por todos. Mas havia uma frase de Jesus que o seguia sempre:’A quem muito se lhe deu, muito se lhe pedirá.’ E, aos vinte anos, ele fez um trato com Deus. Até os trinta anos ele iria fazer tudo aquilo que lhe dava prazer: daria concertos, falaria sobre literatura, sobre teologia, sobre filosofia. Ao trinta anos ele iniciaria um novo caminho. E foi o que ele fez. Aos trinta anos entrou para a escola de medicina, doutorou-se em medicina, e mudou-se para a África, para tratar de uns pobres homens atacados pelas doenças e abandonados. E lá passou o resto de sua vida.


É preciso entender que Schweitzer não era só um médico curando doentes. Ele não se conformaria com isso. Dentro dele viviam a música, a filosofia, o misticismo, a ética. Schweitzer sabia que somente o pensamento muda as pessoas. E o que ele mais desejava era descobrir o princípio que vivia encarnado nele. E ele conta que foi numa noite – ele e remadores navegavam pelo rio para chegar a uma outra aldeia – seu pensamento não parava – e ele se perguntava - ’qual é o princípio ético?. De repente, como um relâmpago, apareceu na sua cabeça a expressão: reverência pela vida. Tudo o que é vivo deseja viver. Tudo o que é vivo tem o direito de viver. Nenhum sofrimento pode ser imposto sobre as coisas vivas, para satisfazer o desejo dos homens.


Há algo estranho na psicologia de Schweitzer. Um dos maiores desejos da alma humana – de todos – é o desejo de reconhecimento. Na Europa Schweitzer era admirado universalmente: organista, filósofo, teólogo, escritor. Aos vinte e poucos anos seu nome já era símbolo. Aí toma uma decisão que o levaria para longe de todos os olhos que o admiravam: a absoluta solidão de uma aldeia miserável. Hoje uma decisão como a dele seria imediatamente notada: os jornais e a televisão logo fariam brilhar a sua imagem de Cavaleiro Solitário – e ele apareceria como heroi. Seria grande, imensamente grande na sua renúncia! Também as renúncias podem ser motivo de vaidade! ( A esse respeito relembro a última cena do filme O Advogado do Diabo. Merece ser visto de novo. )Mas ele opta pela invisibilidade, a solidão, longe de todos os olhos e de todos os aplausos.. Isso só tem uma explicação: ele era, antes de tudo, um místico. O que lhe importava não era a brilho narcísico mas a consciência de ser verdadeiro com o princípio de ’reverência pela vida’, o seu mais alto princípio religioso.


Esse princípio, Schweitzer viveu intensamente. Não é difícil ter reverência pelas coisas fracas, a relva, os insetos, os animais. Fracos, eles não têm o poder de nos resistir. Difícil é ter reverência pelos homens fortes, que se encontram ao nosso lado. Jesus ordenou ’amar o próximo’. Porque é fácil amar o distante. O próximo é aquele que está no meu caminho, que tem o poder de me dizer não. Mais difícil que amar os doentes, que são carência pura, fraqueza pura, dependência pura, mendicância pura, é amar aqueles que estão ao meu lado e que são tão fotrtes quanto eu. Reverência pelos que estão ao meu lado. Se Schweitzer se relacionou com os pobres negros doentes por meio da compaixão, ele se relacionou seus próximos, iguais, companheiros de hospital por meio de amizade. E ele formula, na sua Ética, o princípio de que ’um homem nunca pode ser sacrificado para um fim.’


Schweitzer não era um ser desse mundo. Talvez ele tenha compreendido isso e que essa tenha sido uma das razões porque ele saiu do mundo civilizado, se embrenhando nas selvas da África. No mundo civilizado, das organizações, será possível ter reverência pelo próximo? Na lógica das organizações não há ’próximos’ nem amigas. A lógica das organizações diz:’cada funcionário é apenas um meio para o fim da organização, não importa quão grandioso ele seja! Nas organizações os sinos das igrejas não tocam para impedir que o pássaro seja morto.’


Vi no http://arminianos.wordpress.com/2011/11/18/albert-schweitzer-um-outro-mundo-que-so-ele-ve/
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Deus é amor – O que significa isso





Deus é amor. Eis a declaração central para se entender o cristianismo. Amor não é atributo que torna Deus racionalmente compreensível. Em Jesus, Deus não se assemelha a um Júpiter que dita, e micro gerencia, os nano detalhes do universo. Deus ama. Nesta afirmação se alicerça a mensagem de que ele não deseja outro tipo de relacionamento com a sua criação.



Uma autêntica relacionalidade com Deus só será possível caso se aceite que ele criou pessoas com liberdade. A correlação amor e liberdade é estreita. Relacionamento verdadeiro só acontece quando aceitação e rejeição se tangenciam. Isto implica que mulheres e homens têm o poder de voltar as costas para a oferta de amor. Deus ama. Portanto, não se força – “eis que estou à porta e bato”.


Quando Deus interpela, homens e mulheres são capazes de responderem sim ou de frustrá-lo. Está escrito em Lucas 7.30 que os indivíduos possuem liberdade de dar as costas ao conselho ou propósito (grego, boulê) de Deus: “Mas os fariseus e os peritos da lei rejeitaram o propósito (boulê) de Deus para eles, não sendo batizados por João”.


Também está escrito em Lucas 13.34 que a vontade (grego, thelô) de Deus pode ser frustrada. O lamento de Jesus sobre Jerusalém é emblemático: “Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram!”.


Deus não brinca, não dissimula, sua liberdade é real. Não faz sentido imaginar uma divindade escondendo alguma agenda na manga ou induzindo as criaturas a se sentirem livres sem que realmente sejam. Homens e mulheres apenas cumpririam um roteiro previamente escrito e determinado. Aceitar que Deus mantenha atos secretos, nega a revelação de que ele seja luz; nele não há sombra ou suspeita. C.S. Lewis argumentou sobre a onipotência divina em “O problema do Sofrimento” e concluiu:


A sua onipotência significa poder fazer tudo o que é intrinsecamente possível, e não para fazer o que é intrinsecamente impossível. É possível atribuir-lhe milagres, mas não tolices. Isto não é um limite ao seu poder. Se disser: “Deus não pode dar a uma criatura o livre-arbítrio e, ao mesmo tempo, negar-lhe o livre arbítrio não conseguiu dizer nada sobre Deus.


O Deus bíblico cativa amorosamente os seres humanos e os interpela para que se comprometam com a construção da história – que ainda não está pronta. O teólogo uruguaio Juan Luis Segundo dizia que “com infinita liberdade, Deus se dá a si próprio os limites que supõe (para não ser contraditório) todo amor no trato interpessoal. E isso nos recorda outra limitação, a suprema, realizada por Deus: a da Encarnação (cf. Fl, 2.7)”. Quando encarnou, Jesus não se fantasiou de humano, mas assumiu as limitações contingenciais comuns a todos.


Mesmo que alguns considerem absurdo, Deus corre, sim, riscos. A liberdade que ele soberanamente decidiu fundamentar suas relações abre diques tanto das virtudes como dos vícios. Mesmo assim, a liberdade que pavimenta o chão de seus relacionamentos não significa que Deus não consiga, em sua infinita sabedoria, desencalacrar o universo das possíveis consequências do mal. Deus é capaz de mobilizar gente disposta a redesenhar a história, nem que a partir de tragédias.


Como não está sujeito a qualquer necessidade, nada o força a fazer qualquer coisa. As Escrituras não deixam dúvida: em sua liberdade, Deus decidiu não controlar tudo o que acontece. Mas sua decisão foi coerente com seu próprio ser. Porque Deus é amor, convoca a homens e mulheres se tornem seus parceiros na condução da história. Este gesto é desdobramento de seu caráter. Deus jamais agrilhoaria a história; jamais colocaria cabrestos em seus filhos. A partir de sua boa vontade e de sua liberdade, Ele criou e convocou seus filhos para, em diálogo amoroso, entrar em parceria na construção do amanhã.


Espiritualidade só será verdadeira se aproximar as aparentes contradições da vida. Orar é acreditar que uma conversa genuína aconteceu. Houve uma sintonia entre a criatura e o Divino. Oram bem os que aceitam ser possível enlaçar e co-operar com Deus para, de alguma forma, alterar os eventos futuros – que não estão fixados.


O cristianismo não navega nas mesmas águas da religiosidade grega. Desde a metafísica aristotélica, a história era entendida como um destino inexorável. O pensamento helênico negava o valor e a consistência das parcerias entre Deus e a humanidade. Lamentavelmente, esse fatalismo ganhou força com a teologia da “Providência” que procura mostrar que Deus mantém a sua vontade em mundo contingencial. Na teologia iluminista, Deus passou a ser descrito com as mesmas atribuições que o “Motor Imóvel” de Aristóteles: um oleiro impassivo que zela por sua própria glória, não admite questionamentos, e não tem escrúpulos de usar vidas humanas para conduzir a história ao seu fim majestoso.


Essa função atribuída a Deus de organizar a ordem cósmica tornou-se um absoluto inquestionável do cristianismo. Os teólogos passaram a afirmar, com absoluta certeza, que Deus, desde sempre, decretou cada mínimo detalhe do que acontece no universo e nas vidas humanas. Assim, tanto o bem como o mal só ocorrem por sua vontade. Auschwitz, tráfico internacional de crianças para pedofilia e Darfur são, em última análise “da sua vontade, pois, se Deus permitiu é porque tem algum propósito”.


Juan Luis Segundo negou que esta divindade se pareça com o Deus bíblico: “O fato é que o Deus de Aristóteles e o Deus que, segundo João, é Amor, não são a mesma coisa. Se Deus é amor, é mister refazer o conceito da realidade divina”.


Portanto, liberdade adquire maior importância para que a espiritualidade não seja alienante (Marx), infantilizante (Freud) ou desumanizante (Nietzsche).


José Comblin afirmou que “as formas da antiga cristandade estão se apagando. Com o desaparecimento da cultura rural, o cristianismo dos avôs já pertence ao passado. Não adianta querer ressuscitar o passado nem querer contar com os movimentos de “entusiasmo” religioso para fundar nova cristandade… O evangelho é este: ‘Cristo nos libertou para que vivêssemos em liberdade’ (Gl 5.1).’Foi para a liberdade que vocês foram chamados (Gl 5.3). Deus é liberdade e nos criou para a liberdade. Esta é a nossa vocação humana. O sentido da nossa vida é construir e conquistar a liberdade”.


Soli Deo Gloria


Vi no http://arminianos.wordpress.com/2011/11/18/deus-e-amor-o-que-significa-isso/
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Um Problema com Recentes Tratamentos da Doutrina da Predestinação


G. B. McClanahan e Christopher Bounds



Dictionary of Everyday Theology and Culture. Bruce Demarest e Keith Mathews, eds. Colorado Springs: NavPress, 2010. ISBN: 978-1600061929



Peter Thuesen, Predestination: The American Career of a Contentious Doctrine. New York: Oxford University Press, 2009. ISBN: 978-0195174274


A doutrina da predestinação tem sido um dos temas teológicos mais controversamente debatidos através de boa parte da história da igreja. Atualmente, ela continua a estimular discussões animadas em contextos acadêmicos e igrejas locais.


Infelizmente, com o recente ressurgimento da teologia reformada no contexto americano, tentativas de sustentar a doutrina baseando-a no pensamento cristão consensual tem levado a afirmações falsas sobre a doutrina. No recém-lançado Dictionary of Everyday Theology, Bruce Demarest afirma que “A maioria dos cristãos crê que, de acordo com a sabedoria e vontade de Deus, ele, na eternidade passada, soberanamente escolheu dentre a humanidade caída, ainda a ser criada, aqueles que ele quis que fossem salvos pela graça. O restante ele deixou para sofrer a justa punição por seus pecados.... Os salvos são os objetos da vontade decretiva ou incondicional de Deus, enquanto os perdidos são objetos de sua vontade permissiva ou condicional.”


Esta concepção da “predestinação simples” na qual “a maioria dos cristãos crê” torna-se grotesca quando se percebe que o Catolicismo Romano e a Ortodoxia Oriental compõem a maior parte dos cristãos no mundo atualmente e nenhuma destas tradições defende tal concepção. Além disso, alguém poderia argumentar que esta não é nem mesmo a posição majoritária sobre a predestinação no Protestantismo atual. Quando estudiosos reformados, como Demarest, fazem afirmações atrevidas como esta, eles enganam seu público sobre a aceitação desta doutrina dentro da igreja mais ampla.


Estes exageros estão acontecendo em outras disciplinas. Tentativas de fundamentar a doutrina no consenso histórico tem levado a desastrosas deturpações. Em seu livro, Predestination: The American Career of a Contentious Doctrine, Peter Thuesen, professor associado nas universidades de Indiana e Purdue, em Indianapolis, fornece um excelente tratamento da doutrina da predestinação no contexto americano. Entretanto, na descrição do fundo histórico primitivo da doutrina, Thuesen claramente articula a posição de Demarest sobre a predestinação como a visão consensual da igreja ocidental após Agostinho.


Especificamente, quando examina as concepções de Agostinho sobre a graça de Deus, Thuesen apresenta o ensino de Agostinho sobre a predestinação, particularmente sobre os eleitos, como a posição “mais ou menos oficial” do Ocidente. Ele leva os leitores a crerem que o ensino agostiniano sobre a eleição é a “ortodoxia” padrão na igreja ocidental até o final do período medieval.


Enquanto visões reformadas da predestinação tirariam proveito deste tipo de validação histórica, a evidência fala vigorosamente ao contrário. Uma pesquisa cuidadosa mostra que a igreja ocidental não apoiou a doutrina de Agostinho sobre a eleição. Ao invés, a igreja seguiu entre os extremos do Pelagianismo e Agostinianismo.


Uma rápida análise de tratamentos acadêmicos que abordam os séculos V e VI da igreja revela este ponto. Jaroslav Pelikan em The Christian Tradition: A History of the Development of Doctrine: Volume 1 The Emergence of the Catholic Tradition (100-600) deixa claro que a condenação oficial do Pelagianismo pela igreja não acarretou a aprovação incondicional do ensino de Agostinho. Enquanto a igreja ocidental aceitou a doutrina da graça anti-pelagiana de Agostinho, ela foi “podada de seus elementos predestinacionistas.” O “ensino oficial do Cristianismo latino” rejeitou a “teoria particular e idiossincrásica” da predestinação de Agostinho.


Thomas Oden, em sua tentativa de afirmar o consenso do Cristianismo sobre a questão da eleição em The Transforming Power of Grace, argumenta que a igreja ocidental situou a doutrina da predestinação no preconhecimento divino antes que em um ato da vontade soberana de Deus antes da criação. O conhecimento de Deus do exercício da “fé” de um cristão e da “recalcitrância” de um incrédulo não “determina” a resposta de “um ou outro.”


Similarmente, Gerald Bray, teólogo reformado, em sua obra Ancient Christian Commentary on Scripture: New Testament, Vol. VI, Romans, ensina que os Pais da Igreja primitiva como um todo não seguiram a interpretação de Agostinho da predestinação em Romanos 9. Ao invés, eles viam passagens como “Amei a Jacó e odiei a Esaú” como exemplo do preconhecimento e avaliação do que estes dois irmãos fariam em vida mais tarde. Os Pais foram cuidadosos em esclarecer que Deus não era a causa “unilateral” do amor e do ódio aqui. Os Pais que vieram após Agostinho, como um todo, repudiaram a leitura predestinacionista deste texto.


Christopher Hall, em Learning Theology with the Church Fathers, admite que a igreja viu o ensino de Agostinho sobre o pecado e seu efeito sobre a vontade humana como muito mais próximo da verdade do que a visão de Pelágio. Entretanto, a adoção da Igreja da necessidade da graça para o arrependimento e a fé não “exigia que a Igreja aceitasse toda a soteriologia de Agostinho,” tais como o ensino extremado da predestinação.


Igualmente, J. N. D. Kelly, em Patrística: Origem e Desenvolvimento das Doutrinas Centrais da Fé Cristã, reconhece o triunfo da teologia agostiniana no Ocidente. Entretanto, ele qualifica esta afirmação dizendo que o ensino de Agostinho sobre “a irresistibilidade da graça e sua interpretação restrita da predestinação foram tacitamente deixadas de lado.”[1] Ele argumenta que, no final, a igreja ocidental adotaria uma teologia semi-agostiniana, com entendimento sinergista da salvação, mas com prioridade dada à graça de Deus em tudo.


Em conclusão, enquanto recentes tratamentos da doutrina da predestinação tem feito a perspectiva reformada parecer a visão dominante no Cristianismo e o consenso da igreja primitiva no ocidente, tais patrocinadores sofrem de miopia histórica e eclesiástica.


Tradução: Paulo Cesar Antunes


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[1] J. N. D. Kelly, Patrística (São Paulo: Vida Nova, 1994), p. 281.


Vi no http://www.arminianismo.com/index.php?option=com_content&view=article&id=1308:g-b-mcclanahan-e-christopher-bounds-um-problema-com-recentes-tratamentos-da-doutrina-da-predestinacao&catid=107&Itemid=45

terça-feira, 15 de novembro de 2011

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Foi então que surgiram os cristãos...





Depois de alguns dias de solidão e duras provocações do tentador, a notícia rapidamente chega até seus ouvidos.



Joãozinho seu primo como carinhosamente era chamado na infância e com o qual havia aprontado muitas traquinagens, agora estava preso por conta de anunciar o reino do qual Ele era o protagonista e personagem essencial.


Nazaré havia perdido seu brilho por conta dos agravos familiares sofridos. Uma ótima opção seria tomar uma brisa gostosa e caminhar pelas areias de Cafarnauam nas redondezas de Zebulon e Naftali, e continuar o que Joãozinho injustamente fora impedido de fazer pelas elites religiosas embrutecidas.


Os sábios ditos do seu antepassado Zazá, parece que agora ganhavam mais nitidez em todos os revezes acontecidos. Galiléia estava prestes a entrar para os anais da história e despontar para as nações.


Nela começaria um processo de iluminação para aqueles que encontravam-se em obscuridade existencial.


Impossível conter o ímpeto que jorrava do seu interior e não anunciar que o Pai havia se reconciliado com todos não lhes creditando quaisquer faltas que haviam ou haveriam de cometer.


O trabalho era imenso, precisava de amigos despretensiosos que vestissem a camisa para juntos anunciarem liberdade, saúde e paz a todo serzinho de boa vontade neste planeta.


Como era bom vê-lo sentir a vida e descalço na areia poder interagir com uma das mais belas pinturas do Pai, a mãe natureza!


Inesperadamente enquanto caminhava pela orla, suas aspirações começam a ganhar contorno e nomes definidos. Pedro e André não resistem a proposta de uma nova dimensão em suas vidas, e abandonam sem titubear a profissão que até então lhes tinha proporcionado sustento, para agora viverem do “peixe nosso de cada dia” tendo de encarar juntamente uma “rede de intrigas”.


Ele iria necessitar de mais gente desapegada dos seus próprios empreendimentos. Agora seria a vez de Tiago e João filhos do Seu Zé Bedeu o que fora presenteado por Deus, escutarem o convite de honra: “Venham comigo, e eu os farei pescadores de homens”.


Deixando pela metade o conserto das ferramentas de trabalho e despedindo-se do pai, partiram para a mais auspiciosa aventura de suas vidas.


Transitava Ele com seus amigos por toda Galiléia promovendo boas novas nos corações sensíveis ao seu discurso. Galiléia havia se tornado a capital das pessoas felizes. Para lá concorriam todos os dias gente carente da Síria, Decápolis, Jerusalém, Judéia, e muitos outros além do Jordão, que após o encontro tornavam-se os mais bem-aventurados dos seres viventes.


O projeto que havia sido iniciado por Joãozinho e que agora pagava um alto preço pela missão visionária, estava prosseguindo a todo vapor.


Seu tempo nessa dimensão havia chegado ao prazo estabelecido. Foi para o colo do Pai. Novos amigos colaboradores chegaram para tocar o projeto em frente, mas como em todo processo onde indivíduos pensantes se embrenham, desvios de conduta começaram a surgir com o passar dos anos.


Orgulho, exclusivismo e arrogância, eclodiram do interior de seus parceiros de missão que se sentiam diferenciados dos demais reles mortais, por terem sido escolhidos para fazerem parte de um circulo seleto de amizade.


Isso não foi nada bom. Desviaram-se da proposta. Ao invés de anunciarem que o Pai na pessoa de seu amigo Jesus o Cristo de Deus havia resolvido de uma vez por todas o problema da dívida existente com a humanidade, passaram a fazer pressão e terrorismo psicológico contra aqueles que não aderissem a sua mensagem.


Foi então que surgiram os cristãos... Surgiram com a pretensa áurea de “clube dos iluminados”. Dividiram-se em inúmeras facções lutando entre si e com outras expressões de espiritualidade, para uma disputa ensandecida e neurótica em busca de adeptos.


A mensagem que era de reconciliação foi pervertida e, desonestamente virou persuasão.


O que se propõe a partir de então é que, aqueles que não se adequam a mensagem do cristianismo, são passíveis das chamas alucinantes do inferno na companhia do mais indesejável e terrível vilão que alguém jamais gostaria de conviver: O diabo!


Esse é o mesmo diabo que se transforma em cristão todas as vezes que uma criaturinha bendita de Deus é tida como ser de segunda classe por não pertencer ao “clube dos escolhidos”, e todas as vezes que o apartheid religioso fala mais alto que a misericórdia e Graça do bom Pai manifestada no primo do Joãozinho lá nas bandas da Galiléia.

 
Por Franklin Rosa
 
 
Vi no http://conexaodagraca.blogspot.com/2011/11/foi-entao-que-surgiram-os-cristaos.html

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

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O poder de quem abriu mão do poder





Tentando de um jeito bastante confuso expor meus pensamentos políticos, sentado com alguns amigos frente a uma lanchonete, disse com algum desânimo que o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente.



– E Deus – replicou um amigo, discordando de modo categórico –, Ele é o detentor de todo poder e autoridade.


O interessante dessa questão, é que em nosso contexto capitalista, essa afirmação se torna contundente. Mas, apesar de nossa sociedade – inclusive as igrejas – abraçar com todas as forças esse sistema, o Evangelho grita veementemente contra esse principio. Não só nos evangelhos, mas em todo momento, tanto no Novo quanto no Antigo Testamento, vemos uma constante subversão da parte de Deus. O poder é divino só pela origem; no seu exercício segue os mecanismos de todo poder profano com seus mecanismos de segurança e de controle (Boff, 2006).


No Antigo Testamento vemos Deus andar em consonância com gente como Abraão, que demonstra ter uma moral inferior à dos adoradores do sol. Fica do lado de gente como Jacó, que engana o irmão descaradamente. Perde tempo tentando convencer Moises, um gago com antecedentes criminais, a guiar um povo escravizado numa terra alheia. Deus acerta os ponteiros com murmuradores ruidosos como Jó, assassinos como Davi, etc., mas, em nenhum momento Deus se deixa se compactuar com altivos, presunçosos e arrogantes. Deus trabalha ao lado do fraco, do incapaz, daqueles que recusam o chamado, pois, só os que rejeitam o poder estão aptos a geri-lo.


Os israelitas é o povo que mais dilataram a revelação de Deus, quando o povo era apenas povo. E esse povo foi escolhido não por que era a melhor nação ou a mais bem sucedida, muito pelo contrário, eram escravos. E Deus age no meio desse povo não como um senhor soberano e dominador, não! Deus intervém na história como um libertador. O agir de Deus no mundo é sempre um ato de libertação. E seu olhar diante do governo é sempre um olhar de reprovação. Moises foi escolhido para ser o porta-voz de Deus, guiando os israelitas até a terra prometida, e não para manter domínio e autoridade sobre os mesmos. Diante da leitura do Pentateuco vemos que Deus levantou Israel para ser como espelho para os outros povos, e foi estabelecido para ser uma nação única na terra, e não um estado à parte. Um dos ditames da Lei era para não se juntar aos outros governos, mas, caso eles quisessem manter vínculo, que os israelitas os recebessem passivamente. Pois bem, Israel não só quiseram manter conexão, como também quiseram um governo como os outros estados. Diante de pessoas com consciência mais elevada – como Samuel –, isso foi uma violação, uma atitude retrógrada. Diante de Deus, a atitude foi como uma total rejeição.


A partir de então, a Lei – que tinha como Moises seu devotado patrocinador –, não estava sendo o suficiente para guiar o povo. E Deus coloca em cena agora uma comitiva de profetas, que tem como missão denunciar a corrupção do poder estatal. Os profetas – tendo Elias como seu representante fiel –, geralmente é aquele que fala o que todo mundo tá vendo, mas ninguém tem coragem de arrazoar. A maioria de suas acusações sempre bate de frente com o rei. Sem dó e sem piedade, o profeta é aquele que fala em nome de Deus, e decididamente traz juízo sobre o poder centralizado. O próprio Davi é um dos maiores exemplos; homem segundo o coração de Deus, autor de poesias magnificas, e ao mesmo tempo, um homem truculento, homicida, péssimo pai e vingativo. Não escapou do juízo de Deus por seus abusos de autoridade.


As discursões sobre o poder não tem fim. Thomas Hobbes (†1679), teórico sobre a lógica do poder de estado, diz em seu famoso Leviatã que os homens em geral têm a tendência perpétua de desejo de poder e mais poder, que cessa apenas com a morte. E a razão disso não é a espera de um prazer mais intenso, mas, simplesmente no fato de que o poder só pode ser garantido na busca de mais poder. O principal motivo para o rompimento do psicanalista Adler com Freud foi por achar o poder e não o prazer (a libido) a pulsão central da psique. A famosa frase de Emerich Edward Dalberg-Acton (†1902) “O poder tem a tendência de se corromper e o absoluto poder a se corromper absolutamente”, sempre citada em contextos de corrupção, é uma verdade histórica incisiva.


Deus sempre trata o poder e os poderosos com um orgulhoso desdém. Diz o salmista que: “Embora o Senhor seja excelso, atenta para o pobre e humilde, mas ao soberbo, o rico e o dominador, os rejeita, pois conhece de longe”. No Evangelho de Lucas, todos os ricos são aferidos com julgamentos ironicamente perturbadores. Jesus se mostra nos Evangelhos como um Deus único, singular, ímpar e totalmente imprevisível, chegando ao ponto de retirar de si todo o manto que o determinava como um deus – tradicionalmente concebido pela historia. Jesus é um Deus que rejeita ser deus, sendo assim o verdadeiro Deus. Paulo disse que Cristo se esvaziou, assumindo forma de servo e a si mesmo se humilhando, admitindo que a humildade de Cristo é a sua gloria. E por esse motivo, o nome de Jesus está acima de todo nome.


Tratando o nosso mundo de forma irônica – pois, não há outra forma de abordar um mundo decaído como o nosso –, Deus vira todos os valores concebidos por nós de cabeça papa baixo. “O maior é aquele que mais serve”, “aquele que se humilha é que é verdadeiramente exaltado”, “quando estou fraco é ai que sou forte”, “a sabedoria dos homens é loucura pra Deus”, e a lista não para aqui, deixando a entender que o poder, na verdade, está nas mãos daqueles que rejeitam no encosto da simplicidade, na doçura da naturalidade.


Diante disso, nem sempre notamos esses princípios adotados no Antigo Testamento, pois, Deus geralmente é ofuscado por revelações deficientes e desajeitadas. Sobremodo, Deus só é verdadeiramente revelado em sua totalidade na pessoa de Jesus. Nem Abraão, nem Moises, ou Davi, ou Elias, conceberam a revelação de Deus fielmente. Somente na pessoa de Cristo a revelação foi filtrada com total pureza. Não é por acaso que Paulo afirma que a Lei é sombra das coisas que haveriam de vir, ou um escravo, que serviu apenas para nos guiar ao nosso Pai. Jesus é nosso modelo de subversão.


Por Lindiberg de Oliveira


Vi no http://ferazaoegraca.blogspot.com/2011/11/o-poder-de-quem-abriu-mao-do-poder.html
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Um Deus comunhão




A solidão me seduz, e ao mesmo tempo me assombra. É prazeroso ter momentos de isolamento, mas é horrível sentir-se só. E de princípio quero dizer que solidão nem sempre é você se sentir só e destituído de companhia, muito pelo contrário, os que se sentem sós se acham perdidos mesmo num ambiente repleto de pessoas.



O isolamento também é comunhão. É conectar-se com o resto da criação, com o Criador, com Todo. Isso quer dizer que solidão pode significar muita coisa, menos se sentir só. É sentir-se integrado, e não abandonado. Mario Quintana (†1994) propôs que apenas “Deus – que é único, e não tem par – poderia dizer o que é solidão”. O Deus que Quintana sugere é apenas um deus, somente um deus solitário é isolado.


Deus não sabe o que ser só. Ele é o Todo, e no Todo não há solidão. No princípio não está a solidão do Um, mas a comunhão dos Três. A comunhão entre Pai, Filho e o Espirito, entrelaçados e unidos como uma família, formando assim o Deus, Um-Relação-Amor. Contudo, a comunhão é o começo e a fundação de tudo, e a partir daí, tudo que Ele designa guarda as marcas da comunhão. Por isso, ninguém está só e isolado em absoluto. Em seu livro A força da ternura Leonardo Boff diz que tudo está relacionado com tudo, em todos os pontos e em todos os momentos, a formiga no chão com a estrela mais distante, o nosso coração com o coração de Deus.


Todos estão unidos a todos em essência, comungados com toda a criação, formando assim o Cosmo. O Cosmo é essencialmente um Universo, que quer dizer, uno e diverso, um composto de unidade e diversidade, reflexo da divindade, una em essência e múltipla em suas manifestações. Sobre essa comunhão de tudo para com o Todo, John Donne (†1631), grande pensador e poeta, disse o seguinte:


Nenhum homem é uma ilha, completo por si só. Todo homem é um pedaço do continente, uma parte do todo. Se um torrão é erodido pelo mar, a Europa é diminuída, como se fosse um promontório, ou a propriedade de um amigo seu, ou mesmo a sua. A morte de qualquer ser humano me diminui, porque estou envolvido com a humanidade. Por isso, nunca mande perguntar por quem o sino dobra; é por você.


A solidão como sentir-se só, é um prenúncio de inferno. A solidão como ato de isolamento, é um mergulho pra dentro de Deus. Umas das condições de Jesus para conversar com o Criador era dar um salto clandestino na solidão, em secreto, no seu quarto, com porta trancada, de modo simples e singelo. Às vezes o quarto de Cristo era o monte, às vezes era uma mesa farta, rodeada de pecadores. Pra Jesus quem sabe ter comunhão na verticalidade, com o Pai, sabe ter também na horizontalidade, com o próximo, pois, sendo assim, as hastes da cruz se culminam.


Por Lindiberg de Oliveira


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sábado, 12 de novembro de 2011

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Pastores devotos de São Maquiavel



Hermes C. Fernandes




Canonizaram Maquiavel, filósofo o autor de "O Príncipe", livro de cabeceira da maioria de nossos políticos, a quem se credita a máxima "Os fins justificam os meios".


E a prova disso é a crise de ética sem precedentes vivida pela igreja contemporânea. Em nome da eficiência, deixa-se o que é certo, pelo o que dá certo.


Para que se alcance um resultado considerado positivo, vale tudo. Em vez de rezarmos pela cartilha de Cristo, passamos a rezar pela cartilha Maquiavélica.


Descaradamente, usamos os resultados atingidos para justificar nossas estratégias, ainda que sejam completamente anti-bíblicas e antiéticas.


Olhamos a igreja de outros, e quando as vemos cheias, logo buscamos copiar suas estratégias, a fim de obtermos o mesmo êxito.


E assim, a cada dia que passa, o número maior de igrejas sérias estão se alinhando com os ‘moveres’ da vez. Umas copiam a Universal, com suas campanhas e amuletos, outras copiam as igrejas do G12, outras a Renascer com sua gospelização, etc.


Será que vale tudo em nome de bons resultados? Será que os frutos produzidos por essas estratégias são frutos que permanecem? O Evangelho, de fato, tem sido pregado? Quanto do Evangelho tem sido negligenciado para a igreja se adapte à visão?


Esse fenômeno não é recente. Remonta séculos de cristianismo. Veja por exemplo o caso de Charles Finney, introdutor do sistema de apelos. Durante mais de 1800 anos, jamais se fez apelos evangelísticos. As pessoas simplesmente eram convencidas pelo Espírito, e por isso, agregavam-se à Igreja, sendo batizadas e ensinadas no caminho da santificação. Quando Finney fez seu primeiro apelo, viu que deu certo, e passou a adotá-lo em todas as suas reuniões de maneira sistemática. No início parecia algo bom, mas aos poucos tornou-se uma maneira dos pregadores se vangloriarem para os seus colegas.


- Sabe quantas almas se converteram hoje? 300!


O outro, pra não ficar por baixo, logo buscava superar aquele número num próximo apelo.


Com o tempo, esses apelos se tornaram cada vez mais apelativos (parece até redundância!). Passou-se a usar técnicas de convencimento, que substituíram a ação do Espírito Santo.


Deus não Se impressiona com resultados.


Jesus deixou claro aos Seus discípulos que em alguns lugares eles seriam rechaçados, enquanto em outros, multidões afluiriam.


Felipe, depois de assistir à conversão de uma cidade inteira, foi levado pelo Espírito para o deserto, por causa de uma única alma.


Não podemos nos vangloriar de nada! Um planta, outro rega, mas o crescimento quem dá é o Senhor.


Portanto, o resultado jamais deve ser atribuído às nossas estratégias, ou à nossa performance ou carisma. Deus não divide Sua glória com ninguém.


Não estamos numa disputa para ver quem faz mais, ou quem ganha mais. O espírito de competitividade não se coaduna com a atmosfera prevalecente no Reino.


É claro que queremos ver as coisas acontecerem, mas jamais podemos transigir com a verdade em nome dos resultados.


Que as coisas aconteçam do jeito de Deus, no tempo de Deus, e que, assim, a glória seja inteiramente d’Ele.


* Nicolau Maquiavel, em italiano Niccolò Machiavelli, (Florença, 3 de Maio de 1469 — Florença, 21 de Junho de 1527) foi um historiador, poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento. É reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna (fonte: Wikipédia).


Vi no http://www.hermesfernandes.com/2009/10/pastores-devotos-de-sao-maquiavel.html
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Que tipo de revolucionário foi Jesus?




Hermes C. Fernandes




Quando se fala de revolução, pensa-se em um levante popular, rebelando-se contra autoridades constituídas, depondo governos, provocando divisões, instigando o ódio e a revolta. E não é por menos. Basta uma rápida verificada na História para constatar isso. Toda revolução política teve seus mortos, desaparecidos, desapossados de suas terras ou posições, etc.


Porém, ao falarmos de revolução, não estamos endossando tais coisas. Na revolução proposta por Jesus, ninguém sai machucado, destruído. Aliás, a expectativa dos discípulos era de que Jesus promovesse um levante contra Roma e as autoridades judaicas que havia se promiscuído com o Império. Mas Jesus propunha um tipo de revolução totalmente inversa ao que eles esperavam. Não uma revolução armada, mas uma revolução de amor. Existiria algo mais forte que o amor?


O Evangelho é, por si só, a mais subversiva mensagem jamais pregada. Vejamos alguns exemplos de seu conteúdo subversivo e revolucionário.


Talvez o mais subversivo sermão pregado por Jesus tenha sido o que ficou conhecido como Sermão da Montanha. Enquanto o senso comum acreditava que felizes eram os ricos arrogantes, Jesus afirma que felizes são os pobres de espírito. Se para eles felizes eram os que gargalhavam nos banquetes dos palácios, para Jesus, felizes eram os que choravam.


Neste sermão, o Mestre Galileu propõe uma ética totalmente inversa àquela disseminada pelos mestres da época.


“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao homem mau. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. E se alguém quiser demandar contigo e tirar-te a túnica deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas” (Mt.5:38-41).


Ora, se isso não é subversivo, o que é, então?


Não se trata apenas de pacifismo, mas de amor.


“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (vv.43-44).


Em momento algum, Jesus endossou o estilo de vida vigente à época. Seu compromisso não era com a manutenção do Status Quo, mas com a introdução de uma nova ordem de coisas, onde o ser humano teria mais importância do que as instituições e tradições. Onde o sábado fora feito para o bem-estar do homem, e não o homem para o sábado.


Ele denunciou através de Seus ensinamentos a inversão de valores predominante naquela sociedade. Desferiu um golpe fatal no espírito consumista, colocando a avareza como oponente de Deus.


“Ninguém pode servir a dois senhores. Ou há de odiar a um e amar o outro, ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (v.24).


Em outras passagens, Ele demonstra que no Reino de Deus as coisas funcionam de maneira inversa ao mundo. No Reino quem quiser ser o maior, tem que ser o menor. Quem amar sua própria vida, acabará desperdiçando-a, mas quem se dispuser a gastá-la por amor de Cristo, a reencontrará.


Ora, não há nome mais próprio para isso que subversão.


Infelizmente, a igreja cristã tem se promiscuído com o mundo, trocando os valores eternos do reino pelas propostas indecorosas feitas por um sistema apodrecido. Pastores, em busca de fama e reconhecimento, vendem-se e negociam os votos de seu rebanho.


Cristãos ajustaram suas crenças às agendas políticas e ideológicas. A verdade foi trocada por um prato de lentilhas, e pior, lentilhas podres.


Se antes corríamos o risco de colocarmos vinho novo em odres velhos, hoje há muitos odres novos, estratégias, marketing, estruturas eclesiásticas para todo gosto. Porém, o vinho está em falta. Os odres estão vazios. As igrejas estão cheias de pessoas vazias.


Creio que assim como a Reforma só aconteceu porque a igreja redescobriu o conteúdo subversivo das epístolas paulinas, a Revolução acontecerá quando a igreja redescobrir o teor subversivo dos Evangelhos, principalmente do Sermão da Montanha.


Em vez de gastarmos nosso tempo pregando invencionices humanas, retornemos à mensagem do Reino e do Amor de Cristo. Em vez de uma nova Reforma Protestante, necessitamos sim é de uma Revolução Reinista, isto é, centrada no Reino, e não em estruturas denominacionais.


Vi no http://www.hermesfernandes.com/2009/10/que-tipo-de-revolucionario-foi-jesus.html
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Por uma igreja 100% voltada para o Mundo




Por Hermes C. Fernandes




Uma das metáforas mais usadas nas Escrituras para referir-se à Igreja de Cristo é a do Corpo. Juntos formamos o Corpo Místico de Cristo. Paulo escreve: “Assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, formam um só corpo, assim é Cristo também” (1 Co.12:12).


Ora, sabemos que o corpo humano não é formado só de membros (externos), mas também de órgãos (internos). Por que Paulo escolheu a figura dos ‘membros’ para exemplificar nossa posição no Corpo?


Ele fala de pés, orelhas, olhos, mãos, e não pulmões, intestinos, estômago. Haveria algum motivo para que ele preferisse os membros externos, em vez dos órgãos internos? Estou convencido que sim. Não foi por acaso que ele escolheu a figura dos membros para referir-se a nós.


É através dos nossos membros que nosso corpo se relaciona com o mundo externo. Nossos órgãos não têm qualquer ingerência no mundo exterior. Se fôssemos órgãos do Corpo de Cristo, então deveríamos estar voltados para nós mesmos. O papel dos órgãos é a manutenção do corpo. Mas o papel dos membros é interagir entre si, e com o mundo à sua volta.


O vocábulo grego “ekklesia” (igreja), significa “tirados pra fora”, ou “voltados pra fora”. A única razão da existência e permanência da igreja aqui é o próprio mundo. Portanto, temos que nos converter a ele. Converter-se ao mundo não é conformar-se aos seus valores, mas voltar-se para suas necessidades, a fim de supri-las através do amor.


Fomos enviados por Cristo ao Mundo. Nos trancafiarmos em nós mesmos nada mais é do que um motim, uma rebelião. Estamos sob as ordens do comandante de nossa nau. E suas ordens são: içar as velas e levantar a âncora. Não importa se os mares estão calmos ou revoltos. Nossa missão é cruzá-los.


Somos as mãos de Cristo para socorrer os miseráveis deste mundo. Somos Seus pés para percorrermos os terrenos íngremes e acidentados em busca das ovelhas perdidas. Somos Seus ouvidos para ouvirmos o lamento dos desesperados e consolá-los. Somos Seus olhos para constatarmos a realidade, e Sua boca para contestarmos. Não temos o direito de ficarmos indiferentes ao sofrimento humano, esteja onde ele estiver.


Definitivamente, não somos Suas entranhas. Por isso, não há lugar para corporativismo entre nós. Não vivemos em função de nossa subsistência. Vivemos em prol do outro, daquele que está do lado de fora.


Os membros estão dispostos em pares, e isso nos remete à orientação de Jesus para que fôssemos enviados ao Mundo “de dois em dois”. Alguém pode alegar que a boca não tem um par, mas convém lembrar que ela é formada de dois lábios, superior e inferior. Assim como o nariz é formado por duas narinas.


Uma mão precisa da outra. Mesmo sendo destro, o corpo precisa da mão canhota. Imagine quão dispendicioso seria digitar este texto com uma só mão! Um pé não caminha sozinho (Estamos falando de Cristo, não de saci-pererê, rs). Um olho só não seria capaz de enxergar o mundo em 3D. Um só ouvido só ouviria em mono, e por isso, deixaria de identificar sons mais sutis, que somente se ouve em estéreo.


E os membros não se relacionam apenas com seus pares, mas também com os demais. Quando cai um cisco no olho, é a mão que vem socorrê-lo. Um olho é capaz de ajudar o outro a enxergar melhor, mas não pode remover um cisco de seu par.


E todos os problemas enfrentados pelos membros se devem à interatividade com o mundo. Da mesma forma, os membros do Corpo de Cristo devem socorrer uns aos outros, quando esses forem vítimas em sua caminhada pelo mundo. Paulo diz que não somos apenas membros de Cristo, mas também “individualmente somos membros uns dos outros” (Rm.12:5).

 
Vi no http://www.hermesfernandes.com/2010/11/por-uma-igreja-voltada-para-o-mundo.html
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Rm 9.15



R. C. H. Lenski



Pois (γάρ) diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia.



Yάρ não visa provar a afirmação de que não há justiça da parte de Deus nestas promessas, pois o que segue não é prova, nem o axioma da justiça de Deus exige prova. Nem γάρ elucida, pois o que segue não é elucidação ou explicação, e por que um axioma precisaria de mais elucidação? Este γάρ introduz uma palavra que foi dita pelo próprio Deus a ninguém menos que Moisés, uma palavra que vai muito além dos dois exemplos de promessas mencionados nos v. 9-12, uma palavra que abertamente afirma que, não somente em um ou dois casos Deus tem agido de tal maneira que mentes levianas poderiam ver injustiça em sua ação, mas que ele sempre age assim com respeito aos homens, que este é o próprio princípio de sua ação. Yάρ é algumas vezes usado simplesmente para confirmar; é o que ele faz aqui: “Sim.” Esta palavra dita a Moisés, o mediador da antiga aliança, permanece para sempre e excede até mesmo os exemplos citados da história patriarcal.


Sim, ele declara a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia (Êx 33.19). No grego, o primeiro verbo é transitivo: “Compadecer-me-ei de quem me compadecer.” Isto não é uma tentativa de diminuir o tom, justificar, fazer apologia; é exatamente o contrário, é uma afirmação pela qual se pretende ser extrema até o próprio ponto de aparente injustiça.


Mas o próprio fato que Deus afirma (λέγει) e pronuncia isto em uma sentença solene que vai muito além de qualquer dedução que nós ou Paulo pudéssemos fazer das promessas de Deus, estabelece a questão mais vigorosamente do que nunca. Sim, Deus estaria deliberadamente declarando a Moisés que a injustiça é o princípio que rege todas as suas ações com respeito aos homens! Ao que parece, essa é uma declaração impossível. O próprio fato que Deus declara isto a respeito de sua misericórdia fica estabelecido para sempre que, ao estender sua misericórdia como ele faz, nenhuma sombra de injustiça poderia possivelmente estar envolvida. Essa é uma grande vantagem de afirmar um princípio usando tal linguagem decisiva – ela literalmente esmaga e liquida todas as deduções equivocadas, embora elas possam ser feitas de apenas poucos atos com aparência de correção. Neste sentido Paulo cita a palavra de Deus dirigida a Moisés. O pensamento é este: Pereça o pensamento de injustiça! Sim (γάρ), Deus mesmo diz a Moisés o que vai além, muito além das duas promessas com as quais fez de Isaque e Jacó os próximos patriarcas depois de Abraão!


As duas afirmações significam a mesma coisa; a adição daquela sobre o compadecimento àquela sobre a misericórdia enfatiza o grande princípio. Os dois verbos gregos são como seus equivalentes hebraicos chanan e cicham, a única diferença sendo que estender misericórdia inclui tanto motivo quanto o ato resultante e compadecer se confina ao motivo. Sobre ἄν com sentenças relativas indefinidas, veja R. 958, etc.; quando o indicativo é usado em sentenças como no v. 18, ἄν não é necessário; obviamente, quando ἄν (= ἐάν) é usado, a sentença tem o subjuntivo como no v. 15. Ser misericordioso e compadecer devem aqui ser tomados no sentido mais amplo e, dessa forma, não em distinção a mostrar graça, mas como envolvendo graça. Pois esta misericórdia e esta compaixão são o favor Dei imerecido que é habitualmente especificado como χάρις ou “graça.”


“Compadecer-me-ei de quem me compadecer” significa “Eu não exigirei obras,” v. 11, pois então nenhuma misericórdia jamais seria demonstrada, pois ninguém é capaz de prover as obras necessárias. A extensão da misericórdia deve necessariamente ser de forma total e completa ἐκ τοῦ καλοῦντος, deve emanar unicamente daquele que oferece a misericórdia. Veja Ef 2.3, 4. Misericórdia e obras excluem mutuamente (Rm 11.6, onde a palavra usada é “graça”). Nos v. 4-12 tudo é visto com referência à ideia de promessa; aqui é visto com referência à ideia de misericórdia. Tudo que é listado nos v. 4, 5 era pura misericórdia aos israelitas; tudo que os cristãos, judeus e gentios, agora têm é a mesma pura misericórdia. A “compaixão” torna tudo isto ainda mais forte. Como a compaixão poderia exigir obras? A misericórdia, e ainda mais, a compaixão são evocadas pela condição miserável daqueles que perderam tudo e estão mergulhados em desgraça. Em Deus ambas as qualidades são perfeitas. Este é um outro ponto importante.


O Calvinismo desconsidera isto. Ele acredita que Deus estende misericórdia e compaixão a apenas alguns dos miseráveis e perdidos. Para a grande massa dos miseráveis, Deus não tem nenhuma misericórdia, nenhuma compaixão, mas apenas julgamento, condenação. Impiedosamente, inclementemente ele os deixa perecer em sua miséria; sim, decreta que eles assim pereçam. Na misericórdia e compaixão, a bendita qualidade que torna cada uma o que ela realmente é em Deus, a resposta de sua natureza à miséria do homem e de forma nenhuma resposta às suas obras, é substituída por uma soberania peculiar. Isto é feito colocando uma ênfase restritiva peculiar nas afirmações relativas: “de quem me compadecer – de quem eu tiver misericórdia.” Estas sentenças deixam de significar que Deus não permitirá que ninguém possa restringi-lo no exercício de sua misericórdia e compaixão, restringi-lo a homens e obras que eles supõem ter, ou pretensões e direitos (tais como nascimento físico) que eles imaginam serem seus. Elas são tomadas com o significado de que Deus pretendia mostrar misericórdia e compaixão somente aos poucos escolhidos por Deus de forma absoluta. O fato que tal soberania em Deus seria a própria personificação da iniquidade e injustiça é afastada pela simples negação calvinista e por pretextos como aqueles que Deus não deve nada aos não-eleitos.


A verdadeira soberania ligada à misericórdia e compaixão de Deus é que ele a estende a quem ele quer, desimpedida, irrestrita de limites que os homens possam estabelecer, despreocupada das acusações de injustiça que o raciocínio insensato dos homens possa preferir. Nesta bendita soberania, ele planeja o que fará de forma que o excelente propósito de misericórdia e compaixão seja atingido até o máximo entre os homens. A que ponto vai sua misericórdia, muito além do que os homens pensariam ser possível, vemos presentemente em seu tratamento dos obstinados que desprezam sua misericórdia e tentam interferir em sua operação. Não há nenhuma soberania que possa restringir a misericórdia e compaixão em Deus, nenhuma soberania que possa dispor impiedade e inclemência ao restante e misericórdia e compaixão a alguns. Há somente a soberania que destroi as restrições que os homens pensam ser estabelecidas pelas suas obras, etc., ou pelos decretos eternos secretos de Deus.


Quando Deus despejou sua misericórdia sobre Israel (v. 4, 5), ele inaugurou o plano para enviar Cristo e salvação ao mundo (Gn 18.18, “todas as nações da terra”). Esta vasta e irrestrita misericórdia era o propósito da primeira aliança com Abraão. Quando Deus fez de Abraão, Isaque e Jacó os três patriarcas desta aliança, ele os fez, não meramente em prol deles mesmos, mas de todos aqueles a quem esta aliança poderia possivelmente estender. Ismael teve a aliança em seu pai e seu meio irmão ao mesmo tempo em que recebeu o sinal da aliança da circuncisão (Gn 17.26). Esaú teve a aliança da mesma maneira. O desígnio soberano de Deus fez sua misericórdia e compaixão se estenderem até o máximo.


Fonte: The Interpretation of St. Paul’s Epistle to the Romans


Tradução: Paulo Cesar Antunes




Vi no http://www.arminianismo.com/index.php?option=com_content&view=article&id=1304:r-c-h-lenski-rm-915&catid=239&Itemid=38

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

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SEM IGREJA OU COM IGREJA?






Apesar do IBOPE recentemente ter apresentado uma pesquisa de que a igreja ainda é uma das instituições mais bem cotadas no quesito de confiança social, acredito que haja hoje em dia uma desconfiança crescente em relação a Igrejas Evangélicas e certo ceticismo em relação aos sacerdotes das mesmas.



Porém, quando falo de desconfiança não o faço a partir da mesma base da pesquisa, mas de impressões internas, nascidas de encontros e diálogos religiosos.


Não pretendo que este texto tenha validade científica, apenas reflito.


A população pode dar um crédito positivo, mas parece que cada vez mais os próprios crentes não confiam em suas instituições.


Não há uma desistência da fé, mas há um abandono e aversão às instituições.


Não acredito que a causa do desencanto com a igreja seja teológica. A teologia, como justificativa para o afastamento é usada como uma espécie de racionalização da dor.


A natureza da causa é mais de cunho emocional, fruto de relacionamentos conflituosos, mas como é comum buscar racionalizar as dores como um meio de alívio, teologiza-se.


Evidentemente, este afastamento causado por um alto índice de insatisfação traz consigo sentimentos negativos.


Temos como exemplo midiático o da Carol Celico, esposa do jogador Kaká, que falou sobre seu desligamento da igreja: “Olhando as atitudes dos meus líderes, percebi situações em que a palavra não condizia com a atitude”. (1) E num talk show disse "a igreja de Cristo está em qualquer um (...) hoje minha igreja é minha casa". (2)


Neste exemplo, está implícita uma dor (frustração) e a justificativa teológica que autentica o afastamento não da instituição que causou a dor, mas das instituições.


Não culpo ninguém e seria injusto culpar alguém ferido, pelos seus sentimentos negativos em relação à uma igreja e seus líderes, principalmente aquelas pessoas que abusadas e extorquidas sentiram-imbecilizadas e encontram-se feridas e empobrecidas.


Chamo a atenção para o perigo das generalizações e seus preconceitos.


Segundo Gordon Willard Allport (1954) – em “A natureza do preconceito”, o preconceito existe como resultado das frustrações das pessoas que em determinadas circunstâncias, podem se transformar em raiva e hostilidade.


Portanto, uma pessoa num ambiente pretensamente cristão sendo abusada em sua boa fé, e inibida por esta mesma fé em demonstrar esta raiva e hostilidade, pode na tentativa de não cometer pecado contra o próximo, projetar para a instituição e, para diluir mais ainda a possibilidade do pecado, projetá-las por meio de uma generalização – todas as instituições são com esta.


Desta maneira, cabem estigmas do tipo: “todo pastor é aproveitador e as igrejas são negócios”.


O fato de ter sido abusado, o que é grave, não deve furtar a capacidade de respeitar as individualidades e de conhecer as coisas como realmente são.


Uma classe ou um grupo não fazem um indivíduo. Não podemos esquecer que apesar de existirem aqueles que consideram a igreja como uma instituição falida, semelhante discurso já se fez e faz a respeito do casamento.


Talvez pudéssemos dizer que o modelo existente não comporta mais, mas não necessariamente que a instituição enquanto tal, não deva existir.


Para ilustrar que somos convenientemente seletivos nas generalizações, podemos comparar esta questão com o trânsito automobilístico.


A cada 40 minutos uma pessoa morre num acidente numa rodovia e a cada hora 17 são feridas. (3)


Apesar deste número alarmante não existe uma generalização e nem preconceito contra os motoristas e seus automóveis, do tipo: "todo motorista é perigoso" ou "automóvel não presta".


Isto, talvez, porque em cada família há pelo menos um que dirige não necessariamente habilitado, mas dirige. Obviamente que quando se está implicado na situação a própria pessoa rejeita generalizações: - "existem motoristas e motoristas".


Compreendo que uma adolescente, filha de um pai violento que tenha sido abusada, interprete que os homens não valham nada, mas o fato de compreender não me leva concordar com tal afirmação.


Por outro lado, é verdade, não consigo compreender porque uma pessoa em nome de Deus abusa daqueles que confiaram suas vidas às suas mãos.


Infelizmente muito do que se vê na TV, audível nas rádios e as experiências negativas experimentadas por alguns em algumas igrejas sugestionam a uma boa probabilidade de estigmatizar, isto é, a rotular pastores e suas igrejas.


Mas estes sentimentos negativos, a insatisfação e a frustração apontam uma tendência que, a meu ver, pode se tornar um grande problema.


Quando somos feridos e não temos como exigir justiça tendemos a nos afastar daquilo que nos feriu.


O preconceito, normalmente estereotipado, é uma forma de se estabelecer um tipo de distanciamento ressaltando aquilo que é negativo e predispondo-se a sentir, pensar e comportar-se a partir do negativo.


E mais ainda, influenciar outros na tentativa de preveni-los do possível perigo.


Há uma generalização que paira no ar em se pensar pastores e igrejas dentro de uma categoria ou características negativas do tipo: inútil, desnecessário, interesseiro, mercantilista e de abuso.


Não custa lembrar aos sem igreja, que cada vez mais aumentam em número, de que este tipo de generalização levou à prática de crimes de discriminação étnica, tanto de escravatura como de genocídio, como foi o caso dos africanos, dos índios, dos ciganos ou dos judeus. E sempre com o discurso de se desejar um mundo melhor.


Evidentemente que neste ponto da história a raiva ou hostilidade concretizada em atitudes altamente destrutivas são impensáveis, porém, não impossíveis.


Há que se cuidar.


Ao ler diversas frases e ouvir diversas expressões que rotulam genericamente pastores e igrejas percebo conteúdos que formulam uma discriminação.


O porta-voz do tema coloca-se em uma condição superior. Há sempre um “que” de que aquele que ainda está filiado a uma igreja seria inferior a ele que se livrou das tais.


Assim como o gênero masculino se considerou superior ao feminino e o branco superior ao negro, aqueles que desistiram das igrejas correm o perigo de transmitirem um pensamento de que aqueles ainda participam de igrejas são “fracos e inferiores”.


Não é para menos, já que a história religiosa revela que a cristianização do império ou a imperialização do cristianismo fez com que a fé fosse beligerante e os sem igreja seriam o pior tipo de pessoa, filhos do demônio. Porém, não é preciso inverter os polos.


Quem é vítima de preconceito, de estigmatização deve sempre lembrar que pisotear o outro, considerá-lo inferior é terrível.


Não quero com isto defender os maus, nem acobertar os erros, mas desejo apenas que a Paz reine, a liberdade de pertencer ou não a uma igreja seja fruto da experiência de cada um e não de um estigma, preconceito ou generalização.


A história da fé religiosa é igual a qualquer outro aspecto da história, têm suas feridas e curas, saúde e doença, bons e maus.


O papel de qualquer um ou melhor, de todos, deve ser o de escrever a parte dos bons.


Nem toda igreja é Igreja e nem todo pastor é Pastor, mas isto somente a vivência e convivência podem demonstrar.


Há sim, é sempre bom lembrar que nem todo o sem-igreja é sem-igreja.



Por Eliel Batista

 
Vi no http://www.elielbatista.com/2011/11/sem-igreja-ou-com-igreja.html
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Quem é o sujeito da história?






Os filósofos indagam o porquê da vida. Por isso, filosofia é definida não só como ciência, mas “uma decisão de não aceitar como naturais, óbvias e evidentes as coisas, idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido”.[1]Os teólogos buscam discernir o enigma do universo; principalmente a origem do mal. Assim, faz-se teologia com dois olhos. Com um, mira-se Deus, o mistério absoluto. Com outro, procura-se compreender o drama humano; busca-se, na teologia, um nexo que explique todas as suas ambigüidades, dilemas, dores, alegrias, triunfos e fracassos.



Para Marilena Chaui, as religiões ordenam a realidade segundo dois princípios: o bem e o mal.


“Há três tipos de religiões: as politeístas, em que há inúmeros deuses, alguns bons, outros maus, ou até mesmo cada deus podendo ser ora bom, ora mau; as dualistas, nas quais a dualidade do bem e do mau está encarnada e figurada em duas divindades antagônicas que não cessam de combater-se; e as monoteístas, em que o mesmo deus é tanto bom quanto mau, ou, como no caso do judaísmo, do cristianismo e do islamismo, a divindade é o bem e o mal provém de entidades demoníacas, inferiores à divindade e em luta contra ela.


No caso do politeísmo e do dualismo, a divisão bem-mal não é problemática, assim como não o é nas religiões monoteístas que não exigem da divindade comportamentos sempre bons, uniformes e homogêneos, pois a ação do deus é insondável e incompreensível. O problema, porém, existe no monoteísmo judaico-cristão e islâmico.


Com efeito, a divindade judaico-cristã e islâmica é definida teologicamente como um ser positivo e afirmativo: Deus é bom, justo e misericordioso, clemente, criador único de todas as coisas, onipotente e onisciente, mas, sobretudo, eterno e infinito. Deus é o ser perfeito por excelência, é o próprio bem e este é eterno como Ele. Se o bem é eterno e infinito, como surgiu sua negação, o mal? Que positividade poderia ter o mal, se no princípio, havia somente Deus, eterna e infinitamente bom? Admitir um princípio eterno e infinito para o mal seria admitir dois deuses, incorrendo no primeiro e mais grave dos pecados, pois tanto os Dez Mandamentos quanto o Credo cristão afirmam haver um só e único Deus.


Além disso, Deus criou todas as coisas do nada; tudo o que existe é, portanto, obra de Deus. Se o mal existe, seria obra de Deus? Porém, Deus sendo o próprio bem, poderia criar o mal? Como o perfeito criaria o imperfeito? Qual é, pois, a origem do mal? A criatura.


Deus criou inteligências imateriais perfeitas, os anjos. Dentre eles, surgem alguns que aspiram ter o mesmo poder e o mesmo saber que a divindade, lutando contra ela. Menos poderosos e menos sábios, são vencidos e expulsos da presença divina. Não reconhecem, porém, a derrota. Formam um reino separado, de caos e trevas, prosseguem na luta contra o Criador. Que vitória maior teriam senão corromper a mais alta das criaturas após os anjos, isto é, o homem? Valendo-se da liberdade dada ao homem, os anjos do mal corrompem a criatura humana e, com esta, o mal entra no mundo.


O mal é o pecado, isto é, a transgressão da lei divina que o primeiro homem e a primeira mulher praticaram. Sua punição foi o surgimento de outros males: morte, doença, dor, fome, sede, frio, tristeza, ódio, ambição luxúria, gula, preguiça, avareza. Pelo mal, a criatura afasta-se de Deus, perde a presença divina e a bondade original que possuía.


O mal, portanto, não é uma força positiva da mesma realidade que o bem, mas é pura ausência do bem, pura privação do bem, negatividade, fraqueza. Assim a treva não é algo positivo, mas simples ausência da luz, assim também o mal é pura ausência do bem. Há um só Deus e o mal é estar longe e privado dele, pois Ele é o bem e o único bem”. [2]


Diante desses pressupostos, deve-se perguntar: Como o movimento evangélico observa a história? Como responde quando estruturas políticas e econômicas produzem morte? Quem ou qual fator determina as escolhas de líderes, reis, generais e presidentes? Por que se vive com tanto sofrimento na América Latina?Antes da modernidade, os primeiros teólogos cristãos trabalhavam com a noção de que a história seguia bitolas previamente definidas por Deus e que a participação humana só valia pedagogicamente para amadurecer o próprio homem, nunca para re-inventar o futuro. Com a autonomia humanista da modernidade, esse paradigma foi lentamente corroído pela ciências sociais. Homens e mulheres passaram a ser considerados atores e não meros objetos históricos. Com a renascença rompeu-se com a visão medieval da depravação total dos seres humanos e com o determinismo histórico.Indubitavelmente a teologia cristã ensina que o pecado se universalizou. Entretanto, houve um pessimismo exagerado na elaboração dessa doutrina. Negligenciou-se muito o ensino sobre a “Imago Dei” – expressão latina para significar a imagem de Deus nos seres humanos. Santo Agostinho é responsabilizado de sobrepor as idéias de Plotino às de São Paulo sobre o pecado.


“As interpretações religiosas medievais se apóiam nos fundamentos racionais do pensamento de Platão. Inicialmente, Plotino 9205-270) desenvolve uma espiritualista e mística, o neoplatonismo. Nele, Santo Agostinho (354-430) buscará inspiração para a resolução de suas dúvidas, o que o encaminha para a conversão ao cristianismo e, posteriormente, à elaboração da grande síntese teológica cuja influência será decisiva na transição do final da Antiguidade para a alta Idade Média”. [3]


Esse conceito medieval da maldade humana significava que Deus mantinha-se fora da história, sempre a conduzindo e determinando segundo sua santidade e sabedoria. Só ele era “sujeito da história”. O homem era tão indigno que não podia cooperar com Deus. Somente Deus estava por detrás de todos os eventos. Sua vontade bastava para explicar cada anacronismo ou avanço humano. Porém a modernidade começou a pensar dentro de outro paradigma: o homem como “sujeito da história”.


“O mundo moderno substituiu esta noção de Deus como sujeito da história pela noção do ser humano como sujeito da história. A secularização, neste sentido, pode ser entendida como um processo de desencantamento do mundo e de reencantamento do ser humano. A Modernidade usurpa da Deus a imagem do sujeito e a transfere ao ser humano. Beste sentido, Alain Touraine diz: ‘ao entrar na Modernidade, a religião explode, mas seus componentes não desaparecem. O sujeito, cessando de ser divino ou de ser definido como a Razão, tornou-se humano, pessoal, torna-se uma certa relação do indivíduo ou do grupo a eles mesmos’, e que o ‘sujeito da Modernidade outro não é que o descendente secularizado do sujeito da religião.Com esta profunda transformação, uma autêntica revolução antropológica, a história passa a ser vista como um objeto na relação com o ser humano. Na construção do conceito de sujeito da história ocorre, ao mesmo tempo, a construção do conceito de história como objeto a ser construído pelo sujeito-humano. Nos primórdios da humanidade, predominou a noção do destino escrito pelos deuses ou pelos espíritos da natureza, não havendo ainda a noção da história. Com o tempo apareceu a noção do mal ético, o pecado, e com isso a noção da liberdade humana, dando origem à noção de história. O Antigo Testamento é um exemplo desta ruptura cultural, da visão da história como uma tensão entre a vontade divina e a humana. Entretanto, na maior parte do tempo, a história humana foi percebida como definida pelos deuses ou pela Razão. Com a modernidade surge esta novidade: a percepção da história como sendo construída por sujeitos humanos”.[4]


É necessário que também se considere a influência do determinismo científico e filosófico na teologia. No determinismo científico tudo o que existe precisa de uma causa. No século XIX, Augusto Comte ensinava que a liberdade humana não passava de mera ilusão. O filósofo positivista Taine (1828-1893) repetia que a vida se condicionava por três fatores diferentes: raça, meio e momento. Assim, os positivistas acreditavam que a carga biológica herdada, determinava o comportamento. Aceitavam igualmente que o meio com seus fatores geográficos, climáticos e socioculturais, não permitiam escolhas genuínas. E havia ainda o momento: subordinando os indivíduos a viverem de acordo com os valores de sua época. Ninguém podia se perceber livre. Muitos teólogos – Pascal era um deles – não pensavam diferente e iam além: tudo o que existe não tem apenas uma causa (Deus), mas necessariamente um propósito. Em diversas escolas renasceu o pensamento grego e pagão de que o futuro já é algo acontecido e está, portanto, fechado. Vários pensadores cristãos assumiram que não existe qualquer contingência no universo. Para elas, todo acontecimento obedece a uma necessidade. Para muitos teólogos ocidentais, a explicação final de todos os fatos resumia-se em: “Tinha que ser assim”! Eles refletiam dentro dos arraiais cristãos, o pensamento determinista de sua época.


Mas os tempos mudaram, aquele velho determinismo científico e filosófico esfarinhou-se:


“… não há como negar que o ser humano sofre determinações, situado que está em um tempo e espaço e sendo herdeiro de uma certa cultura. No entanto, é também um ser consciente, capaz de conhecer esses determinismos. Ora, esse conhecimento permitirá, a partir da consciência das causas (e não à revelia delas), construir um projeto de ação. Portanto, a liberdade se torna verdade quando acarreta um poder de transformação sobre a natureza do mundo e sobre a própria natureza humana.É assim que o filósofo francês Alain, pseudônimo de Emile-Auguste Chartier (1868-1951), explica como um hábil marinheiro manobra o veleiro e fazendo ziguezagues, pode seguir para onde quiser: ‘O oceano não quer mal nem bem. Aonde segue o vento e a lua, e se estendemos uma vela ao vento, este a impele segundo o ângulo. O homem orienta sua vela, apóia-se no leme e avança contra o vento pela própria força do vento’. A consciência do determinismo do vento se transforma nesse caso, em outra causa, capaz de alterar a ordem das coisas. Com isso, não se rompe o nexo causal, mas introduz-se uma outra causa – a consciência do determinismo – que transforma o sujeito em ser atuante, e não um simples efeito passivo das causas que agem sobre ele: o veleiro não segue apenas para onde sopra o vento, mas para onde o marinheiro deseja ir”. [5]


É possível fazer teologia evangélica na América Latina algemando a história a qualquer determinismo? Quando se afirma que há um compromisso histórico na Missão Integral, está implícito que há uma proposta de que a igreja precisa se comportar como “sujeito da história”, nunca seu objeto passivo. Em sua práxis ela deve acreditar que miséria, injustiça e violência não cumprem uma vontade divina, mas agridem a Deus. Ele não produz a desigualdade perversa e nem pode ser responsabilizado pela morte de crianças que não resistem a uma simples diarréia. Jung Mo Sung, teólogo brasileiro, comprometeu-se com o pobre e com a transformação da história quando percebeu que não existia nenhuma providência causando desgraça:


“A história não era mais para mim o desenrolar da vontade onipotente de Deus, mas resultado de ações humanas, dos conflitos de interesses de grupos e classes sociais. A pobreza deixara de ser para mim a cruz imposta por Deus para a salvação das almas. E, portanto, a superação da pobreza não viria das orações e das conversões dos corações, mas sim das transformações estruturais da sociedade”. [6]


Portanto, o evangelicalismo latino-americano só conseguirá manter-se fiel ao seu compromisso de fazer Missão Integral quando começar a libertar-se de pelo menos dois jugos fundamentalistas: o homem objeto e não sujeito da história e o determinismo agostiniano de que toda realidade cumpre a vontade de Deus. Se não se desvencilhar desses paradigmas, continuará apologético, porém impotente para transformar a fé em práxis.Soli Deo Gloria.


[1] Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2004, p.17.

[2] Ibid, 259.

[3] Aranha e Martins, Maria Lúcia e Maria Helena. Filosofando – introdução à Filosofia – São Paulo: moderna, 2004, p.327.

[4] Sung, Jung Mo, p. 52.

[5] Aranha e Martins, Maria Lúcia e Maria Helena. Filosofando – introdução à Filosofia – São Paulo: moderna, 2004, p.320

[6] Sung, Jung Mo. Sujeito e Sociedades Complexas. Para repensar os horizontes utópicos. São Paulo: Vozes, 2002, p.28.

 
Ricardo Gondim
 
 
Vi no http://arminianos.wordpress.com/2011/11/10/quem-e-o-sujeito-da-historia-ricardo-gondim/
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C.S. Lewis: a queda de um ateu

Por Christian History & Biography



“O cristianismo, se é falso, não tem nenhuma importância, e, se é verdade, tem infinita importância. O que ele não pode ser é de moderada importância” – C.S. Lewis.



“Ele era um homem pesado que parecia ter 40 anos, com um rosto carnudo e oval e compleição sadia. Seu cabelo preto já tinha deixado a testa, o que o tornava especialmente imponente. Eu nada sabia sobre ele, exceto que era o professor de Inglês da faculdade. Eu não sabia que ele tinha publicado algum livro assinando seu próprio nome (quase ninguém o fazia). Mesmo depois de eu ter sido aluno dele por três anos, nunca passou pela minha cabeça que ele poderia ser o autor cujos livros vendiam em média dois milhões de exemplares por ano. Uma vez que ele nunca falou de religião enquanto eu era seu aluno, ou até que ficássemos amigos, 15 anos depois, parecia impossível que ele fosse o meio pelo qual muitos chegariam à fé cristã”. Mesmo para seu melhor biógrafo e amigo de longa data, George Sayer, Clive Staples Lewis era uma surpresa e um mistério.


Como J.R.R. Tolkien aconselhou Sayer: “Você nunca chegará ao fundo dele”. Mas compreender ou até mesmo concordar com Lewis nunca foram pré-requisitos para gostar dele ou admirá-lo.


Seus livros continuam vendendo extremamente bem (a série As crônicas de Nárnia, por exemplo, está entre os 200 títulos mais vendidos da Amazon.com) e muitos leitores o consideraram o escritor mais influente em suas vidas. Um feito e tanto para um homem que por muito tempo desacreditou “a mitologia cristã” e considerava Deus “meu inimigo”.


Lewis nasceu em Belfast, na Irlanda, em uma família protestante que gostava de ler. “Havia livros no escritório, livros na sala de jantar, livros na chapeleira, livros na grande estante no alto da escada, livros no quarto, livros empilhados até a altura do meu ombro no reservatório de água no sótão, livros de todos os tipos”, Lewis lembrava, e tinha acesso a todos eles. Em dias chuvosos – e havia muitos no norte da Irlanda – ele tirava muitos volumes das prateleiras e entrava em mundos criados por autores como Conan Doyle, E. Nesbit, Mark Twain e Henry Wadsworth Longfellow.


Depois que seu único irmão, Warren, foi mandando para um colégio interno na Inglaterra em 1905, Jack, nome adotado por ele mesmo aos 3 anos, tornou-se um recluso. Ele passava mais tempo com os livros e um mundo imaginário de “animais vestidos” e “cavaleiros de armadura”.


A morte de sua mãe, de câncer, em 1908, tornou-o ainda mais introvertido. A morte da Sra. Lewis veio apenas três meses antes do décimo aniversário de Jack, e este jovem estava muito abatido pela perda de sua mãe. Além disso, seu pai nunca se recuperou totalmente da morte dela, e os meninos sentiram-se cada vez mais afastados dele; a vida em casa nunca mais foi agradável e satisfatória.


A morte da mãe convenceu o jovem Jack de que o Deus que ele encontrava na Bíblia que sua mãe lhe dera não respondia sempre às orações. Esta dúvida inicial, somada a um regime espiritual excessivamente severo e a influência de uma governanta do colégio interno moderadamente ocultista alguns anos depois fizeram Lewis rejeitar o cristianismo e tornar-se ateu declarado.


Lewis entrou em Oxford em 1917, como aluno e, na verdade, nunca saiu. “O lugar ultrapassou meus sonhos mais incríveis”, ele escreveu a seu pai depois de passar seu primeiro dia lá. “Eu nunca vi nada tão lindo”. Apesar de uma interrupção para lutar na Primeira Guerra Mundial (na qual foi ferido pela explosão de uma granada), ele sempre manteve seu lar e amigos em Oxford. Sua ligação com o lugar era tão forte, que quando ele ensinou em Cambridge, de 1955 a 1963, ele voltava à Oxford nos fins de semana para que pudesse estar perto de lugares e amigos que ele amava.


Em 1919, Lewis publicou seu primeiro livro, uma série de versos líricos sob o pseudônimo de Clive Hamilton. Em 1924, tornou-se instrutor de filosofia na University College, e no ano seguinte foi eleito membro do Magdalen College, onde ele era instrutor de Língua Inglesa e Literatura. Seu segundo volume de poesia,Dymer, também foi publicado sob um pseudônimo.


Conforme Lewis continuou a ler, passou a apreciar de modo especial o autor cristão George MacDonald. Um volume dePhantastes desafiou poderosamente seu ateísmo. “O que ele fez de verdade comigo, escreveu Lewis, foi converter, mesmo batizar… minha imaginação.” Os livros de G.K. Chesterton trabalharam da mesma forma, especialmente The Everlasting Man [O homem eterno], que levantou sérias questões sobre o materialismo do jovem intelectual.


“Um jovem que deseja permanecer um ateu assumido não pode ser muito cuidadoso com sua leitura”, Lewis escreveu mais tarde em sua autobiografia Surpreendido pela alegria. “Deus é, se posso dizer assim, incompreensível”.


Enquanto MacDonald e Chesterton estavam mexendo com os pensamentos de Lewis, seu amigo íntimo, Owen Barfield, atacava a lógica do ateísmo de Lewis. Barfield tinha se convertido do ateísmo para o teísmo, e então, finalmente, ao cristianismo, e ele freqüentemente atormentava Lewis sobre o seu materialismo. O mesmo fazia Nevil Coghill, um brilhante colega estudante e amigo de longa data, que, para a surpresa de Lewis, era “um cristão e um supernaturalista radical”.


Logo depois de entrar para a Faculdade de Inglês em Magdalen College, em Oxford, Lewis conheceu mais dois cristãos, Hugo Dyson e J.R.R. Tolkien. Estes homens tornaram-se amigos íntimos dele. Ele admirava sua lógica e o fato de que eram brilhantes. Logo Lewis percebeu que a maioria dos seus amigos, assim como seus autores favoritos – MacDonald, Chesterton, Johnson, Spenser e Milton – criam neste cristianismo.


Em 1929 estas estradas se encontraram e Lewis se rendeu, admitindo: “Deus era Deus. Ajoelhei e orei”. Em dois anos, o relutante convertido também passou do teísmo para o cristianismo e entrou para a Igreja Anglicana da Inglaterra.


Quase imediatamente, Lewis tomou uma nova direção, mais notadamente em sua escrita. Os esforços anteriores para ser um poeta foram deixados de lado. O novo cristão devotou seu talento a escrever prosa, que refletia sua fé recém-encontrada. Depois de dois anos de sua conversão, Lewis publicou O regresso do peregrino(1933). Este pequeno volume abriu uma torrente de 30 anos de livros sobre a defesa da fé cristã e discipulado que se tornaram a ocupação de toda sua vida.


Nem todos aprovavam seu novo interesse em apologética. Lewis recebia críticas dos membros do seu círculo mais íntimo de amigos, os Inklings (o apelido do grupo de intelectuais e escritores que se encontravam regularmente para trocar idéias). Mesmo amigos mais íntimos cristãos como Tolkien e Owen Barfield desaprovavam abertamente a fala e a escrita evangelísticas de Lewis.


De fato, os livros “cristãos” de Lewis causavam tanta desaprovação que mais de uma vez ele perdeu a nomeação para professor em Oxford, com as honras indo para homens com menores reputações. Foi no Magdalene College, na Universidade de Cambridge, que Lewis foi finalmente honrado com uma cadeira em 1955.


Os 25 livros cristãos de Lewis venderam milhões de exemplares, incluindo: Cartas de um diabo ao seu aprendiz (1942), Cristianismo puro e simples (1952), As crônicas de Nárnia (1950-56), O grande abismo (1946) e A abolição do homem (1943) – obras que aEncyclopedia Britannica incluiu em sua coleção de Grandes Livros do Mundo.


Embora seus livros tenham lhe dado fama mundial, Lewis era em primeiro lugar um estudioso. Ele continuou a escrever história e crítica literária, tais como The Allegory of Love [A alegoria do amor] (1936), considerado um clássico em sua área, e English Literature in the Sixteenth Century [Literatura inglesa no século 16] (1954).


Apesar de seus muitos feitos intelectuais, ele se recusou a ser arrogante: “A vida intelectual não é a única estrada para Deus, nem a mais segura, mas sabemos que é uma estrada, e pode ser a que foi apontada para nós. É claro, assim será enquanto mantivermos o impulso puro e desinteressado”.


Lewis teve pelo menos um choque de discordância em sua estrada intelectual: um debate em 1948 com a filósofa britânica Elizabeth Anscombe. Anscombe leu um trabalho diante do Oxford Socratic Club (um fórum que Lewis dirigiu por muitos anos) no qual ela atacou a recente publicação de Lewis, Milagres, e todo seu argumento contra o naturalismo. Ela venceu naquele dia, e relatos dizem que ele ficou “profundamente perturbado” e “muito triste”. Ele nunca mais escreveu sobre apologética pura, embora continuasse a comunicar sua fé através da ficção e de outras formas literárias.


Os livros não eram o único meio de compartilhar sua mensagem. Em 1941, o diretor de transmissão religiosa da BBC (que encontrava conforto pessoal através da leitura de O problema do sofrimento) perguntou se Lewis estaria interessado em falar no rádio. Embora o escritor odiasse rádio, ele reconheceu a oportunidade de alcançar uma audiência maior. O resultado foram sete grupos de conversas, transmitidos entre 1941 e 1944, com títulos como Right and Wrong: A Clue to the Meaning of the Universe [Certo e errado: uma idéia do significado do universo] eWhat Christians Believe [No que acreditam os cristãos].


As transmissões semanais eram muito populares – justamente o que os britânicos precisavam, pois andavam desencorajados e cansados da tristeza da Segunda Guerra Mundial. Sayer conta: “Eu me lembro de estar num bar cheio de soldados em uma noite de quarta-feira. Às 7h45, o barman ligou o rádio no programa de Lewis. ‘Ouçam este sujeito’, ele gritou, ‘vale realmente a pena ouvi-lo’. E os soldados ouviram com atenção por 15 minutos”.


Além da fama crescente de Lewis como palestrante e um defensor da fé, as conversas na BBC produziram, pelo menos, dois grandes resultados. Um foi o livro Cristianismo puro e simples (1952), uma coleção destes programas, que hoje em dia é a segunda obra mais vendida de Lewis. O outro foi um dilúvio de correspondências, incluindo muitas cartas de pessoas que buscam algo no mundo espiritual para quem ele desejava dar uma resposta pessoal e detalhada. O grande volume de cartas levou-o a buscar a ajuda de seu irmão Warren como secretário, mas não lhe impediu de criar respostas que mostravam a mesma clareza de pensamento e graça literária encontrada em toda a sua obra.


Uma correspondente em particular teve um papel importante na vida de Lewis. Em 1950, ele recebeu uma carta de Joy Davidman Gresham, uma nova-iorquina que se tornou cristã lendo O grande abismo e Cartas de um diabo a seu aprendiz. Lewis ficou impressionado com sua escrita e com a mente por trás de tudo e uma correspondência alegre e intensa se seguiu.


Dois anos depois, Joy atravessou o Atlântico para visitar seu mentor espiritual na Inglaterra. Logo depois, seu marido alcoólatra a abandonou para viver com outra mulher e ela se mudou para Londres com seus dois filhos adolescentes, David e Douglas. Joy aos poucos entrou em problemas financeiros. Lewis a ajudou, assumindo as despesas do colégio interno dos meninos e pagando o aluguel de uma casa não muito longe da sua. Entre os dois cresceu uma profunda amizade, para o desgosto de muitos dos amigos de Lewis. Joy tinha muitos pontos contra ela: era americana, de descendência judia, ex-comunista, 16 anos mais jovem que Lewis, divorciada e com personalidade forte. Entretanto, ela estimulava a escrita de Lewis, e ele gostava de sua companhia.


Ainda assim, não foi o amor, em primeiro lugar, que os motivou a se casarem em 1956. Joy não conseguiu renovar seu visto para viver na Inglaterra; sua única chance de ficar no país, então, era casar-se com um inglês. Lewis, gentilmente, ofereceu seus préstimos.


Poucos meses depois da cerimônia de casamento civil, algo aconteceu para levantar as emoções de Lewis. Depois de uma queda grave em sua casa, Joy foi diagnosticada com câncer nos ossos. “Desde que ela foi atingida por esta notícia, eu a tenho amado mais”, Lewis escreveu a um amigo. Os dois se casaram numa cerimônia religiosa, com Joy de cama, e ela se mudou para a casa de Lewis, aparentemente para aguardar sua morte.


No que pareceu um milagre, sua condição melhorou e ela e Lewis viveram três anos felizes juntos. Como ele escreveu para um amigo logo depois do seu casamento: “é engraçado ter aos 59 anos o tipo de felicidade que a maioria dos homens tem aos 20… ‘Mas você guardou até agora o melhor vinho’”. Uma escritora por seus próprios méritos, sua influência sobre o que Jack considerou seu melhor livro, Till We Have Faces [Até que tenhamos rostos] (1956), foi tão profunda que ele contou a um amigo próximo que ela foi, na verdade, sua co-autora.


A morte de Joy, em 1960, assim como a de sua mãe, foi para Lewis um duro golpe. O melhor modo que ele conhecia para lutar contra seus sentimentos de luto, raiva e dúvida era escrever um livro. A anatomia de uma dor apareceu em 1961, e veio ao público sob um pseudônimo, porque era algo tão íntimo e pessoal que Lewis não suportaria publicá-lo com seu próprio nome. Poucos exemplares foram vendidos até que ele foi relançado com o nome verdadeiro do autor, após a sua morte.


No verão e outono de 1963, a saúde de Lewis se deteriorou. Ele morreu enquanto dormia, no dia 22 de novembro: no mesmo dia em que John F. Kennedy foi assassinado. Talvez por causa do choque mundial pela morte do presidente, Lewis quase não foi mencionado nos jornais, e seu funeral teve a participação de sua família e de seus amigos íntimos, incluindo os Inklings.


Lewis pode ter sido enterrado sem alarde, mas seu impacto nos corações e vidas nunca parou de crescer. Nas palavras do líder cristão e escritor John Stott: “Ele era centrado em Cristo, um cristão de tendência da grande tradição, cuja estatura, uma geração após sua morte, parece maior do que qualquer um jamais pensou enquanto ele ainda estava vivo, e cujos escritos cristãos são agora vistos como tendo status de clássicos… Eu duvido que alguém tenha conseguido compreendê-lo completamente”.


Ted Olsen é diretor de notícias e diretor de redação de conteúdo online do grupo Christianity Today International.


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