segunda-feira, 31 de outubro de 2011

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aplicação dos méritos

Uma das coisas que separou católicos de protestantes desde o início é que os católicos têm um complexo sistema teológico e litúrgico construído ao redor da questão de mérito pessoal, enquanto os protestantes rejeitam a ideia por completo. Para um católico, o mérito é um lastro de merecimento que o cristão vai angariando através da acumulação de sacrifícios, de orações, de esmolas, de abstinências e de atos de caridade. Esse depósito espiritual pode ser contabilizado, acumulado, armazenado e eventualmente aplicado; é pessoal, mas transferível.




Este é um componente fundamental da noção católica de purgatório: a ideia de que os méritos dos cristãos vivos podem ser aplicados na compensação dos pecados não ressarcidos dos cristãos mortos, de modo a acelerar a sua entrada no Paraíso. Isso se faz oferecendo-se missas, ofertas e orações – não aos mortos, mas em favor deles.



Essa aplicação dos méritos é a transação que faz a fila do purgatório andar. Se não contarem com a intervenção indenizadora dos vivos, as almas do purgatório terão de purgar suas dívidas através de seus próprios sofrimentos, processo que é tão dolorido quanto demorado. Nessas horas vale mais ter um amigo na terra do que um no céu. Santa Teresa de Ávila¹:



Recebi a notícia da morte de um religioso que havia sido padre provincial naquela província, mais tarde também em outra. Embora esse homem fosse louvável por muitas virtudes, fiquei apreensiva pela salvação da sua alma, pois ele havia sido Superior pelo espaço de vinte anos, e sempre temo muito pelos encarregados com o cuidado de almas. Muito aflita, fui até um oratório, onde supliquei que nosso Divino Senhor aplicasse em favor desse religioso o pouco bem que eu havia praticado durante a minha vida, suprindo o restante por seus infinitos méritos, a fim de que essa alma pudesse ser liberta do purgatório. Enquanto buscava essa graça com todo o fervor de que era capaz vi à minha direita essa alma surgir das profundezas da terra e ascender ao céu num arrebatamento de júbilo.



Tirando de lado por um momento a própria ideia de purgatório, que requer tratamento mais generoso do que o que podemos dar aqui, para nós de herança protestante parece haver algo de inerentemente perverso e inaceitável na lógica do acúmulo e da aplicação de méritos pessoais. Algo de, para dizer o mínimo, pouco neo-testamentário. Então o Novo Testamento não ensina que não há um justo sequer? Não ensina que as obras são mortas, inteiramente incapazes de produzir qualquer crédito em nosso favor? Não ensina que o único mérito pelo qual acessamos a salvação é o de Jesus, creditado em nosso favor mediante a fé nele? Não foi essa própria sacada, a da salvação pela fé e pela graça, que impulsionou a Reforma?



Não há aqui espaço para retraçar de que modo a igreja católica desenvolveu a sua teologia do mérito, ou de que modo a Reforma a demoliu. O certo é que essas duas ortodoxias produziram culturas e visões de mundo muito diversas.



Do nosso lado, a ênfase da Reforma na salvação pela graça acabou meio que banindo as boas obras do ideário protestante. Lembramos constantemente que “pela graça sois salvos, por meio da fé; isto não vem das obras, para que ninguém se glorie”, mas esquecemos com facilidade que o verso seguinte explica que “fomos criados para boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas”. Criados para as boas obras talvez nos pareça exigente demais; por certo nos parece legalista demais. Preferimos parar em “salvos por meio da fé”.



A teologia reformada, que gerou a seu modo protestantes e evangélicos, deixou-nos como herança a constrangedora hesitação que temos diante de fazer a coisa certa. Não queremos usurpar em nada a divina primazia nessa área, pelo que tomamos a humilde resolução de sequer desejar para nós mesmos uma bondade ativa e positiva. Nos casos mais extremos, a mera possibilidade de fazer atos meritórios nos causa repulsa e indignação. Como estamos convictos de que nada há de verdadeiramente meritório nas boas obras, fazer o bem não apenas nos interessa: em certo sentido enxergamos a coisa como verdadeira tentação.



Historicamente, esse banimento teológico da generosidade gerou a proverbial vacilação calvinista em ajudar os pobres e envolver-se em projetos assistenciais – tarefas que preferimos deixar a católicos que não sabem o mal que estão fazendo. Não é de admirar, diante desse cenário, que o reformado sinta-se teologicamente constrangido a permanecer politicamente de direita. Qualquer tentativa de mudar o mundo pela via das boas obras e da distribuição de renda é interpretada como usurpação de uma bondade e de um mérito que cabem apenas a Deus. Quem somos nós, meros humanos e pecadores, para nos arvorarmos a fazer a coisa certa?



Essa postura, ao mesmo tempo, não é mera curiosidade histórica. Há nos nossos dias pensadores reformados que defendem seriamente a tese de que a generosidade para com os pobres, quer exercida em nível pessoal ou institucional, representa na realidade uma perversa usurpação da autoridade divina. Nenhum rico deve sentir-se culpado pela sua opulência ou constrangido a dividi-la, porque foi a divina soberania quem decidiu em favor do rico e contra o pobre. Não devemos absolutamente deixar que a tentação da generosidade nos leve a desafiar ou alterar a justa ordem daquilo que Deus predeterminou.



Evangélicos e pentecostais, que são em geral menos ricos do que os reformados e não podem contar com o refrigério econômico de sua teologia, preferem investir o dinheiro que lhes resta em campanhas institucionais de prosperidade – enchendo o bolso de pastores que lhes oferecem, incessantemente, a promessa de ser tornarem tão ricos e bem sucedidos quanto sonham.



Em resumo, as chances de que protestantes e evangélicos sejam apanhados fazendo alguma obra meritória são pequenas. A bondade cristã é um serviço sujo que, se alguém tem de fazer, que sejam em sua cegueira e idolatria os católicos.



Por outro lado, apesar de nossa hesitação ideológica em angariar méritos pela acumulação de boas obras, a verdade é estamos longe de rejeitar a prática da aplicação de méritos em favor de uma causa específica.



A primeira diferença está em que, ao contrário de Teresa de Ávila e dos católicos em geral, os créditos que pedimos que Deus aplique para a realização de nossas súplicas não são os que nós mesmos acumulamos (porque, como vimos, não nos rebaixaríamos a tanto), mas os de Jesus. A mecânica subjacente é a mesma da oração de Teresa, mas não requer esforço nenhum de nossa parte. Quando a questão é mérito, com Jesus não dá pra competir, por isso decidimos nem tentar.



A segunda diferença (e esta talvez seja ainda mais reveladora) está em que Teresa pedia em favor de outra pessoa, alguém que ela cria estar precisando de mais auxílio do que ela mesma – e nós em geral suplicamos em favor de nós mesmos e de nossos próprios interesses. Nossas orações são saques que fazemos de uma conta celestial com fundos inesgotáveis (quem ousaria encontrar um fim para os méritos do Filho!), e esses cheques saem mundo afora, milhões deles, todos assinados em nome de Jesus. O curioso é que, embora creiamos ter toda essa formidável riqueza a nosso dispor, é muito raramente que nos ocorre pedir a Deus que aplique esses recursos em favor dos outros. Que Deus não esqueça de proteger a minha casa, de abençoar a minha família, de dar a mim um bom emprego, de conservar-me com saúde, de conceder-me prosperidade e de aumentar a minha fé.



Se é tão raro que peçamos a Deus em favor dos outros também é porque, no mero ato de enumerar as necessidades dos outros correríamos o risco de trazer ao nível da consciência aquilo que nós mesmos poderíamos fazer por eles; poderíamos nos ver até mesmo tentados a cometer um ato meritório ou dois, e Deus nos livre de sujar as mãos com a virtude. Queremos manter a nossa integridade.



Os católicos, portanto, ousam pedir a Deus em favor dos outros com o lastro de méritos que eles mesmos acumularam. Mais humildes e mais cristãos, preferimos pedir a Deus em nosso próprio favor com o lastro do mérito dos outros. Quem poderia nos condenar?



Não ousamos sequer acompanhar a nossa súplica de uma promessa, como por vezes fazem os católicos – porque, veja bem, fazer o bem em reposta à bondade comprovada de Deus seria muita arrogância da nossa parte.



NOTAS


1.Citada por F. X. Schouppe em seu Purgatório. []



Vi no http://www.baciadasalmas.com/2011/a-aplicacao-dos-meritos/
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Betesda do Ceará não abre mão de caminhar com o Ricardo Gondim.

Prezados Pr. Ricardo e Pra. Gerusa.




Quando o sonho chamado Igreja Betesda nasceu para a vida no ano de 1981, talvez seus primeiros idealizadores não se dessem conta de quão sacrificante, estafante, e mesmo assim, tão gratificante seria o caminho pelo qual homens e mulheres, que optassem pelo mesmo, teriam que percorrer.



Em meio a forte desconfiança e acusações absurdas, vindas à maioria das vezes daqueles mesmos que pregavam o amor em seus púlpitos, logramos êxito em continuarmos vivos, levando a palavra de Deus e Seu evangelho da forma como acreditamos ser legítima. Sempre lutando para nos manter coerentes à realidade e contra as injustiças praticadas por interesses eclesiásticos egoístas.



Como é duro lutar contra quem deveria ter mais escrúpulos do que discursos inquisitórios. Compartilhamos essas dores, Ricardo e Gerusa, elas fazem parte de todos aqueles que um dia tiveram seus olhos abertos para o sonho do qual vocês foram dos primeiros a acreditar. Lutamos as mesmas lutas, somos afligidos pelo mesmo mal, embora em amplitudes e efeitos diferentes. Para exemplificar tal fato basta ver as inúmeras ofensas que cada um de nós, homens e mulheres da Betesda, sofremos por não nos intimidarmos a ordem vigente. Mesmo assim não estamos dispostos a abandonar este sonho. Pelo contrário, ainda mais fortes prosseguiremos.



Contudo, para isso temos que deixar claro que em meio a tão corriqueiras demonstrações de afronta e perfídias, congregamo-nos para declarar publicamente apoio incondicional a sua pessoa Ricardo, e contra o linchamento moral o qual tem sofrido. Confiamos na sua índole, provada ao longo dos anos de incansável serviço para com a Igreja Betesda. Confirmamos nosso desejo de estreitar mais ainda nossos laços. Laços estes visíveis durante nosso último encontro, onde palestras e conversas amigas nos provaram o quanto temos em comum, e o quanto ainda podemos caminhar como verdadeiros irmãos. Por favor, não nos tenha entre aqueles que se enchem de deslealdade, buscando em meio a conversas fraternais palavras para acusações desvirtuadas e cheias de dolo. Antes, logre encontrar em sua memória os sorrisos sinceros e as palavras de admiração, carinho e respeito das quais você é merecedor.



Como membros deste sonho não abrimos mão de sua mentoria e do seu pastoreio. Pensar em Betesda é pensar em Ricardo Gondim, assim como em muitas outras pessoas que fazem parte de nossa história e não podem ser alijadas destas páginas escritas com o suor, a luta, os sonhos e a abnegação de muitos. As polêmicas são parte da história de pessoas que se propõe a trilhar o caminho da justiça, assim também como o caminho estreito do amor e da misericórdia não comporta uma multidão. Porém, ao invés da comodidade que muitos querem, escolhemos o caminho que Deus tem proposto aqueles que têm coragem a responder ao Seu chamado para serem profetas nos nossos dias atuais, como aqueles que Deus levantou outrora. É uma honra servir á Deus com tais pessoas.



Desta forma, queremos contar sempre com sua presença e afeto, sabendo que o povo da Igreja Betesda do Ceará lhe respeita e é grato pelos muitos anos de serviço a Deus e as nossas próprias vidas.



Assinam essa carta



Álvaro Jansen Viana da Silva (Betesda Aldeota)

Anderson Garcêz de Lima (Betesda José Walter)

Antônio Marcelo Lima Oliveira Filho (Betesda Jardim Castelão)

Célia Aderaldo Mendonça (Betesda Barra do Ceará)

Francisco Chagas da Silva (Betesda Conjunto Ceará)

Francisco Eudes Venâncio Cardoso (Betesda Russas)

Francisco de Assis Pereira Fernandes (Betesda Cascavel)

Francisco Flávio de Castro Leite (Betesda Sul)

Francisco Finésio Ferreira de Azevedo (Betesda Cidade 2000)

Francisco José Morais de Souza (Betesda Messejana)

George Sousa Cavalcante (Betesda Antônio Bezerra)

Gilmar Pacífico de Sousa (Betesda Parangaba)

Izaías Alves do Nascimento (Betesda Serviluz)

James Cley Lima da Silva (Betesda Juazeiro do Norte)

José de Souza (Betesda Horizonte)

José Maria Mendes Uchôa (Betesda Serrinha)

Leonardo Farias Cruz (Betesda Vila das Flores)

Marcelo Horácio Pedroso (Betesda Granja Portugal)

Márcio Oliveira Cardoso (Betesda Montese)

Mardes Silva (Presidente Betesda Ceará)

Maria Leny Brito da Silva (Betesda Jaguaribe)

Maria Mônica Santana (Betesda Nova Metrópole)

Nino Rodrigues Vieira (Betesda Autran Nunes)

Otacílio de Pontes Lima (Betesda Joaquim Távora)

Paulo de Moraes Filho (Betesda Itapery)

Paulo César da Silva (Betesda Sítio São João)

Paulo Maurício Gonçalves Barbosa (Betesda Messejana)

Roberto Rinaldo Campos Moura (Betesda Crateús)

Rodolfo de Almeida Eloy (Betesda João Pessoa)

Ronaldo Pereira da Silva (Betesda Papicu)

Salete M. Lima (Betesda Joaquim Távora)

 
Vi no http://marciocardosobr.blogspot.com/2011/10/betesda-do-ceara-nao-abre-mao-de.html
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Sola Scriptura ou Sola Prateleiras?

Quando o assunto é a interpretação de textos, a honestidade proíbe a certeza.

Kevin Vanhoozer.



Acreditar em absolutos de “particulares básicos”? A certeza cartesiana, um conhecimento absoluto fundamentado no sujeito do conhecimento, não é possível nem cristã. O cristão é um “particular básico” – um conceito primitivo que não pode ser explicado por algo mais básico. Prefiro perguntar de onde vem essa posição elevada. Prefiro rejeitar todas as formas de posições privilegiadas acima do fluxo.

John Caputo.



Pois a letra mata, mas o Espírito vivifica (2 Co 3.6).

Aquilo que constitui um texto é algo escorregadio de se definir

Geoffrey Hartaman.



Um critério apenas funciona em determinada prática social, porque um grupo de pessoas precisa “que algo seja feito”. O leitor desse critério, não é só um consumidor, mas também um produtor de significado. Gostemos disso ou não, o que encontramos em textos bíblicos muitas vezes é influenciado por quem somos e onde estamos. Isso pode não ser totalmente óbvio, mas, tendemos a acreditar que a maneira pela qual vemos as coisas reflete verdadeiramente a maneira como as coisas são. Ou seja, não só os textos bíblicos necessitam de desmitificação, mas também nossas maneiras de lê-los.



É certo que a Bíblia possui poder limitado. Ela precisa esperar pacientemente nas prateleiras até que um leitor a pegue, abra e comece a ler. Querendo ou não, ela se encontra à mercê dos caprichos do leitor – Interpretação boa ou má. Um texto bíblico pode ser memorizado ou decorado, ou pode ser usado para decorar o fundo de uma gaiola. De qualquer forma, o texto não pode retrucar, protestar ou se defender. Os leitores parecem ter sempre a última palavra. Eles podem ignorar as Escrituras, pular páginas, acrescentar coisas e, enfadados, podem descontextualizar e interromper tudo. Os textos bíblicos podem parecer inteligentes – Já dizia Sócrates sobre textos -, mas, quando lhe fazemos uma pergunta, eles ou guardam um silêncio solene, ou “dizem sempre a mesma coisa”. O versículo bíblico por exemplo, é desafortunado e desamparado, inerte e mudo, até ser tomado por um leitor.



A Bíblia, na era da escravidão interpretativa que, executa os “desígnios providenciais do senhor” – como um mecanismo de defesa – contra a pós-modernidade, se parece com um boneco de ventríloquo: ele serve como oportunidade para que se projete a própria voz. Ela passa a ser percebida. Em sentido restrito, torna-se uma oportunidade para os leitores perceberem a si mesmos. Ela se torna um espelho. E sabemos que, se um asno olha para ela, não se pode esperar que um apóstolo olhe de volta. Como dizia Kierkegaard:



E as interpretações, então: 30.000 diferentes!



Acreditar ou não no cânone literário, então, pode ser um reflexo da política ( e da teologia) na qual a pessoa se insere. Acreditar no blefe elaborado da filosofia ocidental, para manter uma “verdade”, é imputar um significado a uma epistemologia que falta com o respeito pela realidade do passado que caracteriza a história revisionista. Dar confiança absoluta na desculpa maravilhosa da hermenêutica, para condenar aqueles de quem se discorda – considerando-os ou tolos ou heréticos – , é não entender que a estabilidade não é uma imutabilidade.



Para se ter uma Sola Scriptura, muitas condições precisam ser atendidas. Às vezes é necessário reafirmar “banalidades”, tais como “ o mundo é mais do que a consciência que dele tenho”. Outras vezes é preciso compreender que, se preciso de uma guinada hermenêutica, de projeções filosóficas ou de uma panacéia interpretativa para voltar à doutrina cristã, Sola Scriptura já virou Sola Prateleira há muito tempo!



Nós cristãos, temos o direito e a responsabilidade de começar nossa reflexão sobre Deus, sobre a Sola Scriptura, sobre o mundo e sobre nós mesmos, nos apoiando no amor. Cuidadosamente, podemos negociar nosso rumo entre o delírio do arbitrário e o desespero do abismo, através da graça de Deus, e não de ideologias opressivas inscritas em nossas interpretações . Em nome da diferença multicultural, também, questionar se nosso pensamento oferece alguma coisa mais do que a pretensa objetividade à um mundo carente. Por amor ao significado, buscar nas santas literaturas, metáforas e outras nebulosas figuras de linguagem dos escuros céus retóricos, possibilidades de desfazer os ídolos do mercado, das tribos e das cavernas. E finalmente, pararmos de nos preocupar como interpretar textos e apenas utilizá-los.



Assim, a Bíblia deixa de ser um banquete móvel perdido no labirinto da linguagem, ou um conceito que se parece com chaves mágicas que destrancam o céu, e passa ser a palavra de Deus.



Vi no http://nelsoncostajr.com/2011/10/sola-scriptura-ou-sola-prateleiras/
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Que uma serpente não decida por nós

Por Erich Fromm, em O ESPÍRITO DE LIBERDADE




Adão e Eva são o Todo Homem e Toda Mulher bíblicos, seu pecado é o nosso pecado




Deixemos de lado Adão e Eva como nomes próprios. Não os tratemos como indivíduos sobre os quais pese a total culpa do primeiro delito. Não pensemos que Adão e Eva eram invólucros de pleno purismo interior vivendo em estado de imperturbada perfeição (A perfeição do homem é a perfeição de uma vocação, não de uma situação, como escreve F. Varillon). Desprendamo-nos da idéia de um primeiro casal exemplar e puro sulcando delituosamente a maçã num paraíso primordial. Desconsideremos que a árvore ocultava uma ameaça. Que o mal estava contido no fruto.



No lugar do casto e ingênuo casal das origens, coloquemo-nos a nós mesmos, com seco realismo, abocanhando nossa mais alucinada ganância, nossa mais ostentosa ambição, nosso mais agudo desejo de dominação.



Como Deus sereis. O prêmio é a conquista imediata da alteridade, o completo desimpedimento da percepção. A árvore não é boa nem má, a ciência é neutra, sua manipulação é que a inclina para o bem ou para o mal. Dependendo da vontade daquele que da ciência se apropria, pode ser que seja inventada a cura para o câncer, ou, pode ser que apareça uma bomba mais devastadora do que a de Nagasaki e Hiroshima. A cobiça gerada no coração, de onde procedem os maus desígnios como dizia o Nazareno, é que antecede a fatídica dentada. O gesto consumado só evidencia a mais ativa e sombria potencialidade que se abriga em nosso íntimo, o mal em estado embrionário.



Convidados a tomar parte na vida divina através do humilde acolhimento, inaugurando alvoradas, fruindo crepúsculos dias a fio no mundo, optamos pela via do rompimento; a negação de nossa humana vocação. Colocado em termos que diariamente arrazoamos sobre seus benefícios, nada mais tentador que inventarmo-nos como Deus. Quanto aos encargos de conhecer o bem e o mal fingimos não saber do que se trata, melhor ainda – e isso limpa a nossa barra – dizemos que tanto o bem quanto o mal pertencem a Deus, e que não nos compete arquitetar sobre o caso. O velho determinismo fatalista disfarçado de piedade.



Tapamos o entendimento para a evidência de que a Bíblia não fecha com a afirmação de ser o homem totalmente mau – totalmente depravado como queria o obscuro legista de Genebra – nem totalmente bom – como querem alguns educadores atuais –, mas que é dotado de ambas as tendências. Inclina-se tanto para uma quanto para a outra. Desconversamos quanto ao relato do Gênesis onde queremos ver uma “Queda”, a escritura não classificar, e não dar espaço, para compreendermos o ato de Adão como pecado. Parece que o melhor para nossa disposição ao cinismo é não sabermos que na opinião do Pentateuco o homem é dotado de “impulsos malignos”, quer dizer, há em seu caráter uma tendência para o mal.



Fazemos de conta que nunca ouvimos dizer que a expressão que a Bíblia usa para essa tendência para o mal é yetzer, palavra que deriva da raiz YZR, que significa “formar”, “modelar”, algo como o ceramista que modela o barro para fazer um vaso. Que a palavra yetzer tem como significado “forma”, “estrutura”, “propósito” com referência a imaginação. Yetzer, portanto, significa fantasias, sejam elas boas ou más. Não, não levamos em conta que estes impulsos só são possíveis à base daquilo que é peculiarmente humano: a imaginação. Ser bom ou mal é algo dado somente ao ser humano. A questão problema do bem e do mal surge quando háimaginação[1]. Jesus deixa isso às claras quando alerta para o enraizamento da maldade na profundidade de nosso ser, onde fervilham maquinações que quando colocadas para fora revelam o que realmente vai em nosso interior.



Está certo que o homem só desenvolve seu impulso para o mal após ter rompido sua unidade primordial com a natureza e ter adquirido autoconsciência e aprimorado, com malignidade, sua imaginação. Na concepção judaica – que não leva em conta as neuras de Stº Agostinho e Calvino – o homem nasce com a capacidade de pecar, mas pode também de voltar-se para Deus e se redimir alinhando seus passos ao desejo divino, sem que para isso precise ser forçado, ou predestinado. A idéia de escolha é fundamental na mentalidade judaica, pois, ela determina quais impulsos o homem vai seguir se para o bem, se para o mal.



Que uma serpente não decida por nós



Não levamos em consideração que o “pecado original” nos termos em que fomos treinados a acreditar se conforma à nossa ociosa falta de atitude e brio pessoal em nos colocarmos em nosso lugar e arcarmos com os desmazelos próprios do nosso ego avultado. Nossa preguiça, e, pouca ou nenhuma disposição para cingir tudo o que estamos destinados a ser, avoluma o débito impagável que Adão e Eva deixaram em nossa conta. Até polimos a expressão do Bispo de Hipona, não por ser coesa com o Sacro texto, mas por ser coerente com nossa anuência em deixar que uma serpente sempre decida por nós.



A noção de “pecado original” como enunciado dogmático provoca em nós uma resignação aliviante ao sugerir que entramos na vida com dois pontos a menos em nosso cômputo, ambos perdidos lá no Éden, sem sequer termos tido a chance de protestar – como se por um acaso fosse-nos dada a chance de fazê-lo fossemos mesmo capazes. No início não queríamos, com o tempo, deixamos de ser homens, falidos e descontentes com nossa sorte, porém, relutantes em assumir nossa responsabilidade pelo que fizemos no passado e pelo que faremos daqui em diante. A sublimação voluntária de nossa responsabilidade e consciência evolutiva do mal que nós mesmos gestamos, fizeram florescer imagens de Satãs e Luciferes heróicos como o de Milton ou patéticos como o de Goethe, tornando o pecado mais interessante e o pecador mais atraente que o santo, embora não admitamos publicamente.



Isolando o dogma, a necessidade de redenção pessoal foi arquitetada a partir da noção de “pecado original” e “Queda”, que não constam em Gênesis, mas para todos os efeitos é dito e ensinado que constam, tornando-se pedras fundamentais sobre as quais foi construída a mensagem cristã de salvação.



O pecado de todos nós e o que estamos destinados a ser



Passivos e trêmulos observamos da coxia Adão, o homem-pecador em cena, homem-insurrecionário, altivo e rebelde tumultuando o céu, instalando com apenas uma dentada a desordem cósmica como efeito do orgulho que lhe penetrou o coração. (Um início caricatural do mundo, em que Deus cria tudo perfeitamente e o homem abala essa perfeição introduzido o caos e a desordem). Daí as imagens de auto-afirmação – a cobiça de Adão no Éden ao pé da árvore da ciência – seguidas de sexo desordenado – fora dele quando foram expulsos – que povoam nossa mente quando pensamos no pontual primeiro delito e em sua extensão; e viram que estavam nus. Não por acaso, no imaginário cristão, o primeiro casal só foi conhecer o sexo após a “Queda” e a expulsão do paraíso. Uma definição prometéica do pecado, que nas obras de T.S.Eliot começou a ser redefinida.



Eliot expôs um mundo de lume fosco acinzentado, habitado por homens ocos e empregados de aparência débil, diagnosticando a verdadeira doença de nosso tempo, enquanto que nossa geração avança manquejando, não para sua realização, mas para o queixume e o tédio. Becket nos apresentou personagens que lançam olhares apreensivos das latas de lixo e dos montes de sujeira, onde chafurdam inertes e impotentes, trocando palavras desconexas e banais. Kafka nos fez apavorar com a parábola do ordinário empregado de escritório cuja primeira reação, ao ver-se transformado num terrível inseto, é calcular se ainda dará pra chegar a tempo ao trabalho. No século XXI a figura prometéica perdeu lugar na cena, que foi ocupada pelos fracos, passivos e trêmulos observadores da coxia.



Ao localizarmos a “Queda” com excessivo rigor na história do fruto proibido, nublamos o entendimento para o verdadeiro gerador do pecado no homem que consta, por exemplo, na paulada criminosa de Caim em Abel, na arrogância religiosa da Torre de Babel, na tentativa de homicídio contra José; a recusa do homem em viver em reciprocidade com seu próximo, compartilhando a terra e dividindo seus frutos e conquistas. O primeiro pecado humano não é um pecado de orgulho, é um pecado de condescendência. A má ação original de Eva – que representa o Todo Homem e Toda Mulher – não foi comer o fruto, pois, antes mesmo de esticar o braço e apanhá-lo seu coração já o havia cobiçado, renunciando a sua posição de domínio sobre si e responsabilidade sobre seus atos. A má ação original de Eva foi deixar que uma cobra lhe dissesse o que fazer.



A meia verdade da mítica serpente, não por acaso fálica, se confirmou, não morreram eles e não morremos nós ao comermos da árvore. Não se trata dessa morte que, acossados, tanto fazemos questão de desconversar. Não se trata desse nosso medo mais acirrado. Trata-se de outro tipo de morte. Da morte antecipada, da morte provocada, da vida abreviada, do fôlego extinto ao meio dia, das primaveras corrompidas. Asseveramos com tanta ansiedade a inauguração da morte física como um castigo divino, que ofuscamos o brilho de nossa mais fulgente virtude, emanar as qualidades invisíveis do Eterno antes que se rompa o fio de prata. Ambicionamos ser iguais a Deus sem acolhe-lho, então negamos, suprimimos, rejeitamos nossa humanidade, nos desumanizamos no processo; deixamos de ser homem. O homem é a criatura que está destinada a realizar seu próprio destino através do acolhimento do divino. Quando cede esse direito de decisão a outrem, e opta por não acolher o dom da reciprocidade divina, deixa de ser homem, se torna desumano.



O pecado que convencionamos chamar de “original” não é o pecado apenas de um, ou dois indivíduos num estranho e longínquo Jardim de Delícias, antes, é o pecado de todos nós na secularidade das nossas vidas, porque todos pecaram. No egoísmo somos solidários em pecado com o genérico Adão, para a morte. Na reciprocidade somos solidários em santidade com o Cristo ressuscitado, para a vida. O apático esquivamento de nossas responsabilidades, nossas decisões pessoais transferidas a outrem, a alienação de uma vida de harmonia com o semelhante, a passividade diante das varias expressões da maldade, a negação da nossa humana vocação; eis o pecado em sua origem. Eis o pecado original.



[1] Erich Fromm, O ESPÍRITO DE LIBERDADE, p 128-131




Vi no http://arminianos.wordpress.com/2011/10/30/que-uma-serpente-nao-decida-por-nos/




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Deus, unplugged

Por Peter Rollins, filósofo e escritor.





Perto do final da vida o teólogo e ativista Dietrich Bonhoeffer começou a preocupar-se com o fato de que a compreensão cristã de Deus havia sido em grande parte reduzida ao status de uma muleta psicológica. Ele descreveu essa compreensão como um “Deus ex machina”.




A expressão, que significa “deus proveniente de uma máquina”, refere-se originalmente a uma técnica usada na Grécia antiga, pela qual uma pessoa era descida ao palco através de um mecanismo, a fim de representar a entrada em cena de um ser sobrenatural. O processo, no entanto, ganhou uma má reputação quando muitos dramaturgos de segunda categoria começaram a usar esse artifício de modo indolente e arbitrário. Quando queriam matar um personagem, criar um novo desafio para o protagonista ou resolver um conflito do enredo, essas caras simplesmente arriavam um deus história adentro. Desse modo, o ser sobrenatural não era parte orgânica da história, mas uma presença intrusiva empregada unicamente para fazer o enredo avançar ou resolver alguma questão.



A expressão deus ex machina passou a significar a introdução de um elemento que não faz parte da lógica interna do desdobramento de uma história, mas que é na verdade um artifício deselegante despejado na narrativa só para desempenhar um papel específico.



Para Bonhoeffer, a igreja encara Deus como um deus ex machina. Deus é só uma ideia toscamente despejada no nosso mundo a fim de cumprir uma tarefa. Ele é inserido no mundo em nossos próprios termos a fim de resolver um problema, em vez de expressar uma realidade vivida. O resultado disso é um Deus que simplesmente justifica nossas crenças e nos ajuda a dormir tranquilos. Deus é trazido em cena apenas quando enfrentamos um problema que não se presta a ser resolvido por outros meios. Na visão de Bonhoeffer, esse Deus desempenha o mesmo papel medíocre dos seres sobrenaturais nas peças gregas de terceira categoria.



O resultado é uma fé que só existe nas margens da nossa vida, uma fé que só tem algo a oferecer quando nos sentimos deprimidos, assustados ou diante da morte. Mas e aquela pessoa que gosta de viver e abraça a vida? O Deus que é uma muleta psicológica não parece ter-lhe algo a oferecer. A única opção que resta ao apologista que é confrontado com alguém que de fato aprecia a vida é tentar demonstrar que essa pessoa se recusa a enfrentar a realidade e está na verdade clamando por Deus pela via de sua negação. Se não conseguir convencer essa pessoa feliz de que ela é na realidade infeliz, fica sem outra opção não rejeitá-la como alguém aferrado à rebelião, ao engano e à desobediência.



Embora Bonhoeffer acreditasse que o Deus da religião já havia chegado ao fim de sua carreira no nosso mundo, a realidade parece discordar. Algumas das maiores organizações do mundo são religiosas, e parece não haver um fim para a fila de gente disposta e encher os pratos de coleta daqueles que afirmam ter a solução. Há todo um exército de indivíduos que apoia entusiasticamente os seus ministérios, compra os seus livros e senta-se nos seus bancos. Levar as pessoas a crer em alguma forma de deus ex machina é fácil como levar crianças a acreditar em Papai Noel.



Em contraste, convidar gente a abrir-se para experimentar a dúvida e o desconhecido é muito mais complicado: o Deus da religião nos provê com tamanha estabilidade que a experiência de perdê-lo envolve nada menos do que a aterrorizante experiência de ser abandonado. Tal jornada escuridão adentro pode ser tão pouco natural e tão assustadora que evitamos a todo custo esse caminho estreito, usando até mesmo de violência contra quem nos encoraja a fazê-lo.



Aquele que se compromete com a tarefa de ajudar gente a realmente adentrar o domínio da dúvida, do desconhecido e da ambiguidade precisa ser dez, vinte ou cem vezes melhor do que os que vendem certeza. Se quer convidar pessoas a entrar nesse mundo sombrio e incerto, tem de estar preparado para caminhar ele mesmo por um caminho difícil e por vezes perigoso, pois no processo acaba trazendo à superfície toda uma multidão de ansiedades que gastamos muito tempo e muitos recursos reprimindo.



É compreensível que determinados pastores encham estádios com gente que anseia por solidificar desejos já estabelecidos, reconvertendo gente à aquilo a que já se converteram tantas vezes antes. Levar as pessoas a acreditar é fácil precisamente porque é tão natural em nós. Qualquer pessoa persuasiva pode fazê-lo, e ainda ganhar algum dinheiro no processo. Mas para de fato puxar da tomada o Deus da religião, com toda a ansiedade e angústia que o processo envolve, requer-se coragem.



Pode-se na verdade dizer que requer-se Deus.



Tradução: Paulo Brabo



Vi no http://arminianos.wordpress.com/2011/10/30/deus-unplugged/
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O poder de Deus e o poder do amor


François Varillon*



Nós, cristãos, afirmamos tranquilamente, como se isto fosse evidente, que Deus é todo-poderoso ou será que pronunciar tais palavras provoca em nós um mal-estar?




Creio que para muita gente, isto não apresenta dificuldades; efetivamente, Deus é Deus, não se compreende como não será todo-poderoso. Mas há outras pessoas, contudo, cada vez mais numerosas na época de crise que ora atravessamos, para as quais as afirmações de uma onipotência de Deus é o mais grave motivo para não crer.



Não sejamos superficiais ao analisar a posição desses homens: no fundo, eles julgam mais digno do homem e, consequentemente, mais verdadeiro proferir um céu vazio ao fantasma de um Imperador do mundo, potentado, déspota, dramaturgo supremo, a manobrar as marionetes da tragicomédia humana, fixando, petrificando ou curto-circuitando liberdades, que, aliás, supõe-se que haja criado.



Admito ateus que são ateus por lhes parecer contraditório o conceito do Absoluto ou de Transcendente. Creio, porém, que a maioria dos ateus são aqueles que abominam uma onipotência que seria denegadora ou destruidora de nossa liberdade. De todas as flechas que visam a fé cristã ou mesmo ao deísmo, a que pretende ferir Deus em sua onipotência é a que mais seguramente se aproxima do alvo.



Ora, se reflito naquilo que creio (e eu os convido a refletir naquilo em que crêem), vejo claramente o seguinte: seria radicalmente impossível para mim fiar-me em Deus, abandonar-me a Ele em confiança se nada soubesse sobre a natureza de seu poder. Ele é todo-poderoso mas poderoso com que poder? Diante de um ser muito poderoso, recomenda-se prudência.



A mais elementar sabedoria manda desconfiar. Antes de tudo, permanecer livre, salvaguardar a independência. Mais vale o niilismo (do latim, nihil: nada) que a escravidão. O niilismo é a grande tentação deste século, pois o gosto pelo nada, por amargo que seja, é menos amargo que o da servidão. Entre não ser e ser escravo do poder de Hitler, escolho deliberadamente não ser.



Bem sei que o niilismo é um sonho, pois o fato é que eu existo. Mas posso ao menos deixar-me escorregar pela rampa que conduz ao suicídio. Menor loucura é suicidar-se que cair nas mãos de alguém que nos ameaça a liberdade. Não posso afirmar que creio num Deus todo-poderoso, a não ser que tenha a certeza de que se trata de um poder que não ameaça a minha liberdade.



Em outros termos (e aqui peso as palavras, pois se trata do essencial de minha fé), se eu não acreditasse que Deus só é poderoso para amar e ir até o cúmulo do amor, até a morte (morrer pelos que se ama) e o perdão (perdoar os que nos matam), se eu não acreditasse que o poder de Deus é um Sobrepoder cuja natureza é renunciar por amor à utilização dos meios do poder para manipular as criaturas, eu imediatamente aceitaria que os homens descessem a encosta do sonho niilista e teria o cuidado de não acusar meus contemporâneos que se deixam fascinar por esse sonho.



Tudo muda, porém, se a onipotência de Deus é a onipotência de amor. Entre onipotência e amor todo-poderoso, há uma grande diferença; há, literalmente, um abismo. O cristão não diz acreditar que Deus é todo-poderoso, diz acreditar em um Deus Pai todo-poderoso. Importância decisiva na preposição “em” seguida do nome próprio. No credo, a afirmação de Deus e de sua onipotência é pronunciada e compreendida num movimento de confiança e amor, expresso precisamente por essa preposição. Dizer: creio em ti é dizer: sei que teu poder não é um perigo para a minha liberdade, mas que ele está, bem ao contrário, a serviço de minha liberdade. “Crer em”, a chave é esta.



[...]



A fé é o impulso de todo ser para Deus, o comprometimento do mais profundo de si; se assim não for não se trata de fé. Um tal impulso seria delírio e loucura, não houvesse a certeza de que Deus é todo-poderoso para amar, que o amor, não o poder, é que é a essência de Deus; que o poder é um atributo do amor. Confiar-me sem reservas a um poder que poderia ser perigoso para minha liberdade seria loucura. Abandonar-me a um ser desprovido de poder seria igualmente loucura. E a ideia de um amor isento de poder ou energia é igualmente louca, insensata. Mas, ao contrário, o que se preenche magnificamente de sentido é a acolhida à Energia de amar. Ora, o Espírito Santo é isso: a Energia Divina de amar que nos foi dada.



[...]



Crer na onipotência de Deus, crer que Deus é todo-poderoso sem acreditar nele: nada há de igual para falsear a vida religiosa pela raiz. Nada de igual para desencadear uma mentalidade mágica. A história das religiões demonstra que a mentalidade e as práticas mágicas pululavam na história e ainda em nossos dias, mesmo nos meios cristãos, a despeito dos eufemismos vocabulares eclesiais. Não nos deixemos enganar pelas palavras. O que está em jogo, em relação a Deus, são frequentemente o interesse e o medo.



Manda o interesse que se busque utilizar a onipotência em nosso benefício; e exige o temor que se encontrem meios de preservar do perigo que ela encerra. E isto nada tem a ver com a fé. É magia. Se fosse possível psicanalisar o conteúdo do espírito de certo número de cristãos mal-educados, perceber-se-ia que eles dizem, baixinho: “O que será que Deus está cozinhando lá em cima? Que estará preparando para mim? Ventura ou desventura? Saúde ou doença? Sucesso ou fracasso? Por interesse e por temor, vou orar para que não me prepare nada de desagradável”.



Até o dia em que surge a tentação de exorcizar radicalmente a ameaça, dizendo: não há um Deus todo-poderoso. Nesse momento é que o ateísmo irrompe para a consciência adulta como a mais racional das atitudes. E isto não é de todo falso. É só não esquecer a frase de Pascal: “O ateísmo é sinal de força do espírito, mas só até certo grau”. Porque sob o céu transformado em deserto, esvaziado do supremo todo-poderoso, nascem e proliferam outros poderes, poderes que não se temerá absolutizar alegremente, em todos os níveis da vida individual e coletiva. São poderes que bem conhecemos: dinheiro, sexo, raça, partido, etc. Tudo nele pode tornar-se poder de dominação, de opressão, de destruição. Toda mutação da civilização é, de certo modo, uma mutação de idolatria.



Tudo isto – magia supersticiosa ou ateísmo negativo (a escolha é de vocês) é inevitável, se o poder de Deus não for compreendido como poder de amor. O cristão crê na onipotência do amor. A fé é um ato íntimo de sua liberdade, que o compromete até o mais profundo de si e o põe em movimento rumo a um Amor que só sabe amar. O cristão não diz que crê em Deus todo-poderoso; ele diz crer em Deus Pai todo-poderoso. O que clama, o que canta é o poder de uma paternidade.



A estrutura do Credo é trinitária. Nem eu nem os cristãos cremos que Deus é um eterno Narciso, a contemplar a si mesmo, a admirar-se, a consumir-se a si mesmo, a absorver-se, a encarnar-se. Crer num tal Deus seria manifesto absurdo. Quando muito, eu poderia pensar que tal Deus narcísico existe. Mesmo assim… crer nele é impossível.



Ser a preposição “em” é essencial ao ato de fé, Aquele em quem eu creio só pode ser o Pai. E se o nomeio Pai, isto exige que, no mesmo impulso de pensamento e de amor, eu nomeie também o Filho e o Espírito. Dizer que Deus é amor, e dizer que Ele é Trindade é exatamente a mesma coisa.



(Extraído de “Crer para viver” – Edições Loyola – páginas 143-147)



François Varillon (1905-1978)



Um dos mestres de espiritualidade mais lidos da nossa época, o padre Varillon nasceu na França e entrou para a Companhia de Jesus em 1930. Participou ativamente da resistência ao nazismo durante a ocupação da França, tornando-se em seguida professor de jovens jesuítas, conferencista muito solicitado e pregador de retiros. Profundamente interessado em questões artísticas, citava sempre Claudel e Wagner (depois de Fénelon)como motivos de inspiração constante. O trecho seguinte foi extraído de um de seus livros mais conhecidos, “A humildade de Deus”.



“Deus respeita de modo absoluto a liberdade do ser humano. Ele a criou, e não foi para petrificá-la, ou violentá-la. É por isso que ele jamais grita, nem impõe. Ele sugere, propõe, convida. Ele não diz “Eu quero”, mas “Se tu quiseres … ” Expressões como “os mandamentos de Deus” ou “a vontade de Deus” devem, assim, ser tomadas com cuidado, e compreendidas segundo o amor. Deus não repreende: ele deixa esse cuidado à nossa consciência. “Ele é maior que o nosso coração”, diz são João na sua primeira carta. Ele fica escondido para não se tornar irresistível.. A sua invisibilidade é uma forma de pudor”.




Vi no http://arminianos.wordpress.com/2011/10/30/o-poder-de-deus-e-o-poder-do-amor/



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Solitude





Em um mundo de tantos príncipes, ouço um convite para ficar só. Quero distanciar-me um pouco do frenesi das ideias. Necessito sair do ruge-ruge, espairecer. Tornou-se uma urgência preservar o pouco de sanidade que me resta depois de decepções, safanões existenciais, alfinetadas espirituais. Quero sorver o silêncio como bálsamo, deixar-me conduzir pela vastidão, embrenhar-me no vazio. Ouvir a partir das ausências pode ser terapêutico.




Minha solitude pertence às estepes. Careço da grandeza que só as colinas oferecem. Se eu me sentar na pedra que se inclina no precipício, desacompanhado dos tumultos, ouvirei, no sicio da aragem, o essencial. A quietude me remenda. Se fui retalhado na arena, em algum esconderijo, sei que me costuro. Posso fazer de algum lugar remoto o atelier do supremo artesão.



Os passos que dou para fora dos povoados são esforços de não deixar-me institucionalizar. Acumulei patrões pelos anos. Resignado, desaprendi a dizer não. Abandonei-me ao gerenciamento de especialistas; todos especialistas em mandar na vida alheia. Chegou a hora de preservar um pouco do selvagem que carrego desde a minha terra natal. Já fui menino do calção, descalço. Eu não me intimidava com as cercas. Quando queria chupar manga, nadar em charcos ou cavalgar em pangarés, pulava arames farpados. Fui atrevido. Eu não carregava relógio no pulso. Agendas, normas, demandas, roteiros. Assimilei cabrestos e me domestiquei.



Devidamente adequado às exigências de gente que mal conheci, por anos evitei a liberdade do descampado. Passei a ter medo de abrir picada, de aventurar-me por trilhas nunca exploradas. Acostumei-me à sendas bem pavimentadas. Perdi o viço. De repente, anseio por algum lugar remoto, onde não vou esbarrar em ninguém. Estou certo: no anonimato, recobro antigas ousadias.



Só na amplidão do nada, aprendo a não gastar o resto de minha história a procurar aportar no impossível ancoradouro do contento. Recuso-me continuar; tenho que reconciliar-me com inadequações sem precisar responder a ninguém sobre o porquê dos devaneios que lotam a minha alma de poesia. Quando me percebo só, perco o medo de questionar. Desacompanhado, não assusto, não frustro, não decepciono.



Para que homogeneizar-me? Ficar igual seria despersonalizar-me. O fardo de cumprir o padrão imposto seria um suicídio em vida. Devo retrair-me. Em algum esconderijo, ganho alguma chance de lidar com os fragmentos mal encaixados de sentimentos, ideias e comportamentos. Esses cacos, por outros desprezíveis, fazem parte de minha vida.



Sinto falta de um claustro. Edificarei algum monastério – se não conseguir espaço, o erguerei no tempo. Cheguei à idade em que não tenho mais pernas para correr de mim mesmo. Na cela desse mosteiro imaginável, serei iconoclasta. As paredes pintarei de cinza, as janelas não terão qualquer vitral. Despojado de tudo o que possa roubar a atenção, enfrento demônios, converso com anjos e desmascaro fantasmas.



Nas pegadas do Nazareno, sinto o apelo de perder-me para os aplausos, de encolher-me diante do fascínio da glória. Não sei se consigo, mas estou consciente que é nesta estrada onde se aprende: o mal tem sede de brilho e a verdadeira vida se esconde na simplicidade.



Soli Deo Gloria

 
 
Vi no http://www.ricardogondim.com.br/meditacoes/solitude/

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

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Tiro no pé

Quando Cristo afirma que ao julgarmos também somos julgados, fica explícito que não fazem parte do Reino aqueles que porventura venham a imaginar que as medidas servem apenas para os outros. De modo que aquele que profere julgamento, condena a si mesmo primordialmente; e num segundo plano revela o pecado alheio. Tal revelação jamais é condenatória de fato por parte de quem a proferiu, visto que a responsabilidade pelo pecado é exclusivamente daquele que o cometeu.




O propósito desta revelação de pecados jamais é gerar competição, mas fazer valer a voz profética (a verdadeira voz profética), que enfatiza os fundamentos da palavra de Deus corrigindo qualquer desvio (como o fazem com excelência as cartas de Paulo).



Na vida dos profetas podemos também perceber duas coisas. A primeira é que eles são sempre redundantes. Ou seja, raramente trazem algo de novo à narrativa do texto bíblico. Profeta de verdade é o que aponta para o óbvio de uma maneira ousada o suficiente para incomodar os acomodados. A segunda coisa é que eles incomodam DE VERDADE. E se não o fazem, é por que geralmente são falsos. Mas quando analisamos com delicadeza a questão, percebemos que não é bem o profeta que traz o incômodo, mas sua persistência em relembrar os fundamentos da fé.



Por isso antes de dar um tiro pro alto, recomendo que atire no próprio pé. Pra se lembrar o quanto dói. E se ainda sim a fúria não cessar, pelo menos irá caminhar bem mais devagar devido à ferida auto infligida. Um profeta que sofre e conhece o peso de suas palavras tende a ser um homem melhor.



Por Ariovaldo
 
 
 
Vi no http://www.ariovaldo.com.br/2011/tiro-no-pe/
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Jesus morreu na cruz pra eu trepar

Sexo! Masturbação! Antes ou depois do casamento? Pornografia?




Como se o Reino de Deus se resumisse a você satisfazer os desejos de seu pênis/vagina. Como se as verdades do Reino não estivessem tão explícitas, que fosse preciso que houvesse explicação sobre o que convém ou não. Não fode vai!



Se você é cristão de verdade (ou deseja ser), concentre-se nos fundamentos. Por que quem é capaz de discernir sua IDENTIDADE em Deus, não perde tempo garimpando justificativas para seus pecados.



Ou seja… seu erro está em gastar toda a pólvora lutando contra o ERRO. Enquanto você ainda é criança demais para poder ACERTAR O ALVO. Você desconhece a verdade e por isso não aprendeu ainda a conviver com os privilégios da liberdade.



O que você deve fazer? Você sabe o que deve fazer! O problema é que provavelmente você NÃO QUER FAZER. E se está procurando um cúmplice, sinto muito. Não posso te ajudar.



Agora… se precisa de um amigo para sonhar com as coisas do Reino, conte comigo.



Iremos nos infectar DA VERDADE até as entranhas! Até que Cristo seja em nós e isto não possa ser desfeito.



A propósito… eu sei o peso que as palavras que empreguei neste texto tem. Mas perto da desgraça que tem sido a nossa atitude como cristão, elas são bem leves. Então vamos deixar de hipocrisia e deixar passar as expressões pesadas por licença poética, tá? Não fode vai!



Por Ariovaldo
 
 
 
Vi no http://www.ariovaldo.com.br/2011/jesus-morreu-na-cruz-pra-eu-trepar/
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Minha mente oxigenada

Eu choro pela minha geração. Sinto como se estivéssemos tão perto e ao mesmo tempo tão longe de uma fé que colocava o sorriso no rosto do homem queimado na fogueira por se recusar a negar a Jesus, o Cristo. Pois sabia que todo sofrimento e agonia não duraria mais do que alguns minutos… e que sua mulher e seu filho, amarrados ao seu lado, experimentariam de gozo eterno, incomparavelmente melhor do que qualquer coisa conhecida nesta vida. Aquela era uma época em que retroceder não era uma opção.




Hoje temos tudo e ainda sim falta tudo.



Nos falta a guerra… o sangue sendo derramado e a coragem de preferir que este sangue seja o nosso.



A tarefa passada por Tyler Durden no filme clube da luta quando diz “provoque uma briga com alguém desconhecido e perca”, nos parece absurda por que nos recusamos veementemente a perder.



Nos falta a convicção de que o anonimato é poderoso no Reino de Deus. Nos esquecemos de que o Reino é movido pelas orações feita no quarto, e não pelos pregadores nos púlpitos.



Que nossos púlpitos são as ruas… nossa pregação é nas conversas com estranhos.



Nossa vitória está na discussão inflamada de paixão… que não tenta argumentar a favor de Deus, mas revela as maravilhas que só quem possui o Santo Espírito é capaz de compreender.



Onde estão os profetas de nossa geração? Até quando acreditaremos nas mentira que nos foram contadas?



Até quando teremos medo do espírito de devorador? Pq o mundo precisa de homens como João Batista, que comia devorava o gafanhoto devorador…



Sinto falta em nossa literatura contemporânea das histórias fantásticas. Cadê os exemplos de garotos franzinos que vencem guerreiros gigantes pelo poder de Deus? Dos homens que montam um exército com uma multidão de angustiados e endividados. Ou será que isto não acontece na nossa realidade. Ou será que perdemos a capacidade de contar histórias com toda a beleza inspiradora de um evangelho que nunca morre?



Nossa fé perdeu a relevância ou nós é que estamos olhando tudo pela ótica equivocada?



Somos cansados, mas não desanimados. Perxplexos, mas não desamparados.



Nós somos aqueles que escrevem a história da igreja.



E que nosso nome seja esquecido. Mas um dia as pessoas dirão “NAQUELE LUGAR HOUVE UM POVO QUE FEZ COISAS INCRÍVEIS. E POR ISSO NÓS ENCONTRAMOS A SALVAÇÃO TRAZIDA PELO FILHO DE DEUS”.



Inspirado nos temas discutidos durante a conferência Oxigênio 2011 (Recife)



 Por Ariovaldo
 
 
 
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Por Que “Ópio Coisa Nenhuma”: Sobre o potencial ambivalente da experiência religiosa






Quando eu resolvi produzir meu blogue, há três anos, uma grande amiga achou o título Ópio Coisa Nenhuma horrível. Num papo confidencial, ela me dizia que o nome era estranho, foneticamente deselegante, e espiritualmente esquisito. O blogue de um pastor, dizia ela, deveria ter um nome mais espiritual, mais suave, mais bíblico. Quando submeti meu livro, com o mesmo título, ao conselho editorial da EDUFAL, o(a) parecerista me recomendou que o mudasse. O título havia sido considerado confuso, editorialmente não recomendado e mercadologicamente fraco. O livro foi aprovado para a publicação com o título Religião e compromisso social (no prelo).




Para mim, era óbvio que o título Ópio Coisa Nenhuma seria automaticamente compreendido pelas pessoas. Eu pensava que todo mundo veria nele uma explícita referência ao aforismo de Marx “a religião é o ópio do povo...”. Todo mundo vai notar que Ópio Coisa Nenhuma é uma negação e uma afronta a esse aforismo, assim eu pensava. E a história que se seguiu foi a de inúmeros esforços para ter que justificar o porquê desse título.



Eu vislumbrei desde muito cedo minha vocação como teólogo. Lembro-me de enfrentar meu examinador do concílio com a estranha vontade de ser pastor-teólogo. E uma de minhas ênfases enquanto teólogo tem sido a de reforçar o potencial positivo da experiência religiosa. Já há muita gente interessada no potencial negativo da religião, dentro e fora das igrejas. Mas eu tinha razões muito fortes e pessoais para assumir outra postura.



A primeira delas diz respeito à minha própria experiência com a religião. Eu também tive uma fase inicial de fundamentalismo e êxtase irracional. Já me entreguei aos devaneios carismáticos que vivem da negação do mundo e da demonização dos prazeres da vida. Mas essa fase não durou muito, embora tenha sido bastante necessária. No geral, foi com a experiência religiosa que tive a experiência de encantamento do mundo. Aprendi o valor das pessoas, descobri potencialidades latentes em mim mesmo, e venci uma série de dificuldades pessoais que por muito tempo eu havia experimentado como travas existenciais. Quando o efeito do ópio fundamentalista acabou, uma fé madura me encheu de paixão pela vida, e uma vontade de lutar por um mundo melhor tornou-se o mote principal de minha existência. Devo tudo isso à minha experiência religiosa.



Em segundo lugar, uma das razões para reforçar o potencial positivo da experiência religiosa havia sido a descoberta de algumas biografias magníficas. Eu havia descoberto um número significativo de pessoas para quem a experiência religiosa não poderia ser chamada de ópio. Nos livros, eu ia me dando conta de que a experiência religiosa estava na base da ação de grupos e de pessoas fantásticas, amplamente celebradas mundo afora.



A religião da comunidade primitiva de Atos 2,42-47 e 4,32-37, que partilhava todos os bens a fim de que ninguém tivesse necessidade, não podia ser chamada de ópio. O episcopado libertador de Basílio de Cesaréia (329-379) não podia ser chamado de ópio. As reivindicações sociais dos camponeses anabatistas do século XVI, liderados pelo espiritualismo de Thomas Müntzer (1490-1525), não podiam ser chamadas de ópio do povo. A abnegação dos irmãos moravianos, que se vendiam como escravos para evangelizar as colônias européias, não podia ser chamada de ópio do povo. Muito menos a sensibilidade de John Wesley (1703-1791) frente aos trabalhadores ingleses que começavam a ser vitimados pelos efeitos da Revolução Industrial, e o evangelho social de Walter Rauschenbusch (1861-1918) na virada para o século XX.



Eu ia descobrindo nos livros que a América Latina era um caldeirão fervilhando com um tipo de religião que não podia ser adjetivada de ópio do povo. Entre evangélicos e católicos, havia indivíduos e grupos que deveriam ser tratados diferentemente. Como chamar de ópio do povo a religião de Richard Shaull, de Paulo Wright, Rubem Alves e Paulo Evaristo Arns? Como chamar de ópio do povo a religião daqueles que escreveram o Manifesto da Ordem dos Pastores Batistas de 1963? Como chamar de ópio do povo à religião dos que organizaram a Conferência do Nordeste, em 1962, com o tema Cristo e o processo revolucionário brasileiro? Como chamar de ópio do povo às Comunidades Eclesiais de Base e à Teologia da Libertação de Gustavo Gutierrez, Jon Sobrino, José Comblin e Leonardo Boff? Nos livros, eu ia me dando conta de um tipo de experiência religiosa que não aparecia na crítica dos professores universitários.



Em terceiro lugar, minha ênfase enquanto teólogo no potencial positivo da experiência religiosa se reafirmava na medida em que eu ia conhecendo gente de carne e osso, cuja experiência religiosa não poderia ser adjetivada como ópio. Com o tempo, fui me acercando de pastores e pastoras, missionários e missionárias, teólogos e teólogas diferentes. Eu não poderia chamar a religião de Marcos Monteiro de ópio do povo, com sua opção pelos pobres e sua renúncia às pompas da atividade pastoral. Eu não podia chamar a religião de Wellington Santos e Odja Barros de ópio do povo, por conta de sua coragem na denúncia de realidades de opressão fundiária, política e de gênero. Eu não poderia chamar a religião de Adriano Trajano de ópio do povo, com sua abnegação por humanizar um torrão de Alagoas que pouca gente que saber, e por seu enfrentamento de certas oligarquias históricas que por lá se perpetuam. Enfim, eu estava totalmente convencido de que a religião de Waldir Martins, Raimundo César, Paulo César, Jardson Gregório, Reginaldo Silva, Claudio Márcio, Joel Zeferino, e tantos outros e outras que fui conhecendo durante a caminhada, não poderia ser chamada de ópio do povo.



Mas não se engane: pessoas religiosamente virtuosas não são apenas aquelas capazes de grandes realizações no campo social. Há um número enorme de pessoas anônimas, sem diplomas, sem vínculos com movimentos e iniciativas sociais, membros de comunidades religiosas, que fui conhecendo em minha trajetória pastoral, cuja vida é encantadora. Ou, como diria Foucault, gente que [a partir da religião] “foi fazendo de suas vidas uma obra de arte”. Pessoas simples, algumas delas sem estudos formais, mas profundamente inspiradoras.



Citar nomes é um ofício que comporta uma única certeza: a de que cometeremos a injustiça de esquecer alguém. Mas ainda assim eu mencionaria o irmão Altino (Acupe-BA), pregador do Evangelho completamente iletrado, do alto dos seus 85 anos (quando o conheci há nove anos), e com uma vitalidade de dar inveja em gente de 18 anos. Gente como Dró (Eduvirgens – Barra do Rocha-BA), cuja alegria contagia a quem estiver perto, qualquer que seja a situação. Gente como o irmão Zeca (Utinga-AL), cuja simplicidade apaixonante nocauteia qualquer presunção. Gente como Alda Galdino (Forene – Rio Largo-AL), cuja sensibilidade e humanidade constrangem a muitos humanistas. Gente como Pêu (Forene – Rio Largo-AL), cuja bondade, inteligência e sede espiritual são fascinantes.



Isso não minimiza as coisas vergonhosas que certos religiosos praticaram e praticam mundo afora. Mas tais coisas devem nos fazer pensar que nenhuma religião é intrinsecamente má. Bom ou mau é o uso que as pessoas fazem de sua experiência religiosa.



Com a religião as pessoas podem aprender a discriminar os outros, mas foi com ela que eu mesmo aprendi a respeitar as diferenças humanas. As pessoas podem ser motivadas a matar em nome de sua fé, mas foi pela fé que eu mesmo aprendi que a vida é o nosso bem maior. Com a religião as pessoas podem aprender que esse mundo não tem jeito e a cruzarem os braços esperando o céu, mas foi com a religião que eu me convenci de que o mundo pode ser transformado agora mesmo. As pessoas podem aprender com a religião que a cultura humana e as coisas alegres que nela há são entes contra os quais temos que resistir, mas foi com a religião que eu aprendi que “tudo na criação de Deus é bom”, e que a vida deve ser protegida e aproveitada da melhor maneira possível.



Ópio do povo? Pode até ser aqui e ali.



Para mim? Coisa nenhuma!



Por Paulo Nascimento - é baiano de Muritiba, terra de Castro Alves. É casado com Patrícia Nascimento e sem filhos. Também é Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Nordeste (Feira de Santana-BA) e graduando em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas. Além disso, é pastor batista em Maceió e professor de Teologia Sistemática no Seminário Teológico Batista de Alagoas. É autor de Ópio coisa nenhuma: Ensaio de Teologia Crítica a partir de Alagoas.
 
 
 
Vi no http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=694
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Coisas que aprendi com Henri Nouwen





Escrevi um artigo há certo tempo, falando de modo resumido sobre Henri Nouwen como um modelo de vida e espiritualidade radicais, tratando um pouco de sua origem, formação, e de alguns fatos marcantes de sua trajetória e pensamento (1).




Não menos resumidamente, quero aqui partilhar algo mais sobre Nouwen só que de um jeito mais pessoal — forma predominante em seus escritos. Como eu o enxergo? Por que me tornei tão fascinado por sua vida e escritos? Que coisas tenho aprendido com ele?



Quem foi Nouwen?



Usando uma expressão de Zygmunt Bauman (2), para mim Nouwen foi um “artista da vida”. Primeiramente porque ele foi alguém profundamente fascinado pela vida e pelas pessoas, por conectar-se e relacionar-se. Parte de sua veia artística está em ter conseguido pintar de modo tão brilhante, sensível e inspirador sua teia particular de relações com a vida e com Deus. Um resumo das coisas que Nouwen mais amava fazer pode ser encontrado, em suas próprias palavras, no Diário de seu último ano sabático: “Escrever livros, fazer amigos, criar comunidade, partilhar histórias” (3).



Nouwen foi um santo-homem. Sua santidade estava não em feitos sobrenaturais, mas na forma íntegra com que efetuou as coisas mais naturais da vida — como amar, orar, sofrer, se alegrar, celebrar, morrer. Ele foi um pastor sensível e compassivo, atento a cada encontro e à singularidade de cada pessoa. Mas também foi um ministro vulnerável, ao ponto de escancarar sua vida, suas feridas e limitações de um modo às vezes até constrangedor pra quem o lê.



Foi um discípulo radical e apaixonado por Jesus. Extremamente consciente de sua dependência de Deus e também de seu inacabamento, nunca deixou de estar em busca, a caminho, ansioso por entender o que o Senhor queria para ele e para onde desejava conduzi-lo. A ele cabem as sábias palavras do frei Carlos Mesters: “A luz só se faz é na travessia e na escuridão”. O mais impressionante é que tanto a luz quanto a escuridão de Nouwen serviram como canais de benção e de cura para muitas pessoas.



Por que Nouwen?



Porque em Nouwen descobri um modelo de espiritualidade não focado em performances para Deus, mas em vida, abertura e entrega. Uma vida baseada na honestidade, uma abertura recheada de autenticidade, e uma entrega movida pelo amor e pela paixão de Cristo. Ele foi e continua sendo um modelo atual, pois conseguiu reunir em sua pessoa uma intelectualidade frutífera com o sentimento sincero de quem vive intensamente tanto “por fora” quanto “por dentro”, e a experiência da orientação sábia junto com uma postura de constante quebrantamento diante de Deus e da vida. Sua existência foi um protesto contra o superficialismo e um rompimento com os dualismos perniciosos que se propagaram no cristianismo. Nele vejo o paradoxo belo de uma coerência desarmônica, de uma resiliência frágil e de uma melancolia esperançosa.



O que aprendi com Nouwen?



Dividirei esta breve incursão naquilo que aprendi com Nouwen por temas.



1. Vocação. Aprendi que, embora seja Deus quem chame, confirme e capacite — o que dá um peso enorme à questão — o processo de despertar para e prosseguir em uma vocação não é estático, mas dinâmico. A certeza do caminho vem enquanto caminhamos. Não somos chamados primordialmente para um lugar ou uma função, mas para andar com Jesus em serviço ao seu reino. Isto significa que a pergunta pela vocação nunca será respondida inteiramente; na caminhada estaremos sempre tentando discernir os caminhos. É o que Nouwen fez sua vida toda, como em sua passagem pela América Latina, ou em sua trajetória de uma carreira acadêmica prestigiada em Harvard para uma vida fora dos holofotes entre os deficientes da Arca, em Toronto. Assim ele resumiu: “Tentei discernir a voz de Deus; e, no meio de uma grande variedade de minhas respostas interiores, tentei encontrar o caminho para ser obediente àquela voz” (4).



2. Sofrimento e fragilidade. A vida do ser humano (e do cristão) pode não ser (e como poderia ser?) só sofrer, mas indubitavelmente envolve sofrer. Aprendi com Nouwen que privar-se ou tentar se proteger do sofrimento é como que privar-se da própria vida — e de tudo o que podemos aprender com ela. Entendi que o sofrimento pode nos fazer mais humildes enquanto gente — ou uma gente da mais amarga espécie, dependendo de como o encaramos. O sofrimento me aproxima da, e me ensina a aceitar a, fragilidade de minha condição. Também me aproxima de Deus e me faz vê-lo como um Todo-Poderoso vulnerável, que nem sempre vai me livrar das dores da vida e do mundo, mas que sofrerá comigo sempre que tiver de enfrentá-las, oferecendo inexplicável conforto. Aprendi também que mesmo um ser ferido pode se tornar fonte de cura para as pessoas. E que, como ministro da cura, preciso desfazer-me da ilusão de que serei capaz de explicar o mistério da dor do outro ou de aboli-la; ou de que poderei conduzir alguém para fora do deserto sem tê-lo experimentado em minha própria pele. O sofrimento, assim, pode ser um convite “a depositar nossas feridas e mãos maiores”, e para ver “Deus sofrendo por nós” e nos chamando a compartilhar este sofrer de seu amor por um mundo ferido (5).



3. Integridade. Aprendi com Nouwen que ser cristão tem a ver com desenvolver-se como um ser humano inteiro, aceitando-se a si mesmo como amado de Deus, da maneira como se é e com a vida que lhe foi dada. Isto não significa que tenho que me resignar a um modo de ser torto. Pelo contrário, implica que toda a minha vida pode ser abraçada como um processo em que, pela graça, estou a caminho de me tornar a pessoa que Deus projetou; nada vem fácil ou é instantâneo e nem se confunde com o meramente superficial. Parte-se, portanto, da compreensão de que o ser como um todo, bem como “tudo na vida, por mais insignificante ou difícil que possa parecer, abre-nos para a obra de Deus em nós” (6).



4. Alegria e tristeza. Na vida e pensamento de Nouwen, como já disse antes, pode-se notar um rompimento com dualismos perniciosos. Dentre eles o dualismo que opõe alegria e tristeza. Em nosso mundo, costuma-se pensar que a alegria não pode conviver na mesma casa em que a tristeza está. Assim, a alegria significaria ausência de tristeza e a tristeza, ausência de alegria. Quando, porém, olhamos para a vida em sua complexidade, vemos que muitas vezes elas andam juntas e estão até misturadas. E diria mais: a alegria que se vive se torna mais profunda quando se conhece o que é tristeza. O próprio Jesus, como Nouwen diz, “foi o homem das dores, mas também o homem da total alegria” (7). Aprendi com ele, portanto, que “o cálice da vida é o cálice da alegria tanto quanto é o da tristeza. É o cálice no qual tristezas e alegrias, dor e felicidade, luto e dança nunca se separam. Se as alegrias não pudessem estar onde as tristezas estão, o cálice da vida jamais poderia ser bebido” (8).



5. Comunidade. Vida cristã é vida em comunhão. Comunhão que cria a comunidade — a partir do desejo que Deus cria em nós: “O Deus que vive em nós faz com que reconheçamos o Deus em nossos semelhantes” (9) — e que se manifesta em formas concretas: no perdão, na reconciliação, no gesto de amor, compaixão, preocupação com o outro, na repreensão e no conflito, na intimidade, na amizade, no partir do pão. Com Nouwen, aprendi que a eucaristia é muito mais que mero ritual, é um “gesto humano” que relembra uma presença, a do Cristo com quem me comprometo, e a do irmão e da irmã com os quais me envolvo por causa de Cristo. Segundo Nouwen, mais do que a eucaristia, a “vida eucarística” é que faz a diferença no dia a dia, a cada gole, a cada gesto, como uma celebração constante no seio da graça e na casa de Deus, que existe onde quer que dois ou três estejam reunidos em seu nome. Essa compreensão permitiu com que Nouwen respirasse e vivenciasse a experiência de ser igreja até mesmo em reuniões íntimas com familiares e amigos. Ele disse: “Todos os dias celebro a eucaristia. Às vezes na igreja de minha paróquia, com centenas de pessoas presentes, às vezes na capela de Daybreak, em Toronto, Canadá, com minha comunidade, às vezes em um quarto de hotel, com alguns amigos, e às vezes na sala de estar de meu pai, apenas ele e eu” (10).



A mensagem de Nouwen sobre a comunidade dá o tom de sua espiritualidade: não há um só ser humano que não receba o convite permanente para participar do banquete de celebração do amor do Pai. Sua paixão por Jesus e pelas pessoas se expressou em um enorme apreço e fidelidade à Igreja, como pouco se vê em nossos dias. Embora fosse um contemplativo crítico da realidade, era raro ver Nouwen fazendo críticas muito duras ou usando de acidez e sarcasmo para falar da Igreja. Mesmo em sua verve profética era possível perceber uma ternura sábia e um olhar esperançoso. As maiores transgressões de Nouwen eram transgressões de si mesmo, sempre que falava abertamente de seus pecados, idiossincrasias e temores. Essa foi também a sua maior arte, seu jeito de ser discípulo e ser humano, e sua forma de tomar a cruz.



Notas

(1) Ver: Jonathan MENEZES. “Henri Nouwen”. In: Novos Diálogos. Dicionário de Cristãos Radicais. Disponível em: http://www.novosdialogos.com/.

(2) BAUMAN, Zygmunt. A arte da vida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009, p. 70ss.

(3) NOUWEN, Henri. Diário: o último ano sabático de Henri J. M. Nouwen. São Paulo: Loyola, 2003, p. 170.

(4) Id. Gracias. A Latin American Journal. Maryknoll, New York: Orbis Books, 1993, p. xvii.

(5) Id. Transforma meu pranto em dança. Rio de Janeiro: Textus, 2003, p. 10.

(6) Ibid., p. 15.

(7) Id. A Volta do Filho Pródigo. São Paulo: Paulinas, 1997, p. 128.

(8) Id. Podeis beber do cálice? São Paulo: Loyola, 2002, p. 42.

(9) Id. Com o coração em chamas. Meditação sobre a vida eucarística. Aparecida, SP: Santuário, 2005, p. 62.

(10) Ibid., p. 09.




Por Jonathan Menezes - Professor de história e teologia na Faculdade Teológica Sul Americana e no ISBL – Centro Educacional Evangélico, em Londrina. É mestre em História Social pela Universidade Estadual de Londrina.



Vi no http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=699
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Ter fé é também correr riscos





O que é fé, senão uma aposta? Para aquilo se tem certeza a fé não é necessária. Fé é para aquilo que não se vê, que não se pode tanger, pode-se tão somente esperar. Ter fé é arriscar-se. Acreditar num futuro diferente e melhor é ter fé. Por isso que em Deus temos fé. Não o vemos, não o tocamos, mas cremos. É uma aposta que fazemos.




Isso acontece também nos relacionamentos. O casamento, por exemplo, é uma aposta. Não há certeza que vai dar certo, não se consegue prever o futuro. Mas quem se casa, o faz apostando que vai dar certo.



Em tudo na vida é assim. Por mais planejamento que se tenha, por mais que se tenha calculado todas as probabilidades, há sempre uma dose de imprevisão.



Quem não quer correr riscos não pode empreender coisa alguma, nem se relacionar com ninguém, porque relacionar-se é correr riscos, inclusive de se decepcionar muito e gravemente. Mas se não arriscar como saber?



Se não quer correr o risco de se decepcionar com pessoas, nunca se envolva, não faça amigos, se isole completamente, assim você não corre o risco de se machucar e também não machucará ninguém. Mas isso não é vida. É preciso arriscar-se.



Se você só vai participar de uma igreja quando encontrar uma em que as pessoas sejam perfeitas, cheias de fé, plenas de amor, retas em justiça, prontas para o céu, então se isole, fique só em sua casa, nunca entre em uma igreja. Mas se você aceita se arriscar para caminhar ao lado de gente capenga, falha, finita, pecadora, com todos os vícios e todas as virtudes que qualquer ser humano tem, então arrisque-se, envolva-se, comprometa-se com uma comunidade de fé.



Se você acha que o mundo não tem jeito, que nada nunca vai mudar, que os injustos sempre vão se dar bem e que os bons sempre vão sofrer, que não há nada que você possa fazer para alterar o mundo em sua volta para melhor, então não faça nada, fique olhando as coisas acontecerem e seja absorvido pelo seu cinismo. Mas se acredita que alguma coisa pode ser diferente e que você pode colaborar para isso; se você aposta que alguma coisa pode ser alterada se você deixar o imobilismo e o comodismo, então arrisque-se. Dê um salto de fé.



Se você acha que a vida é uma droga. Se não consegue ver nada de belo na vida, se não é agradecido por nada, então tem mesmo que ficar sentado num “trono de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar”, como já cantou Raul Seixas. Mas você pode se arriscar e fazer algo.



Se você acha que as palavras de Jesus são uma balela e que a proposta de amor ao próximo como lei maior não vale nada e não muda nada, então tudo bem, continue como está, vivendo uma religiosidade fria, sem vida e irrelevante. Se você vê a Deus como um Papai Noel bíblico que está pronto a dar a você os brinquedinhos que você tanto pede, se sua relação com o sagrado é infantil e baseada na troca, então continue se infantilizando.



Mas se você vê algo de transformador na mensagem de Cristo, algo revolucionário na proposta dos Evangelhos, então arrisque-se e comece a agir de modo a alterar para melhor o atual estado de coisas. Isso é fé.



Márcio Rosa da Silva



Vi no http://marciorosa.wordpress.com/2011/10/21/ter-fe-e-tambem-correr-riscos/
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ENTRE A BÍBLIA E JESUS.





Temos grande dificuldade em ouvir o que as Escrituras nos falam hoje. Talvez desenvolvamos com a Bíblia, mais o olhar do que os ouvidos. Quer dizer, valorizamos mais o texto do que o que ele nos fala. Nos esquecemos que a fé vem pelo ouvir?




Tenho percebido que cresce o número de pessoas que não sabem como se relacionar com a Bíblia. Em nome disto proponho este texto. Desejo comunicar tanto com os radicais letristas que não aceitam sequer pensarem na Bíblia como letras humanas, assim como com os que não sabem o porquê considerá-la como Sagrada.



É comum na fé dos evangélicos olhar para a Bíblia e pensá-la como palavra eterna. Com isto cria-se uma dificuldade, a de se fazer distinção entre Deus e o texto bíblico.



Em função do que se entende por Escritura e também da interpretação do texto, diversas tradições transformaram a Bíblia ou em um manual de rituais e condutas, ou em um vernáculo celestial, para não dizer psicografismo.



De dentro do próprio judaísmo, de onde se originou a fé cristã, podemos extrair o entendimento sobre as escrituras, pois o nome dado ao resumo de toda a Bíblia Hebraica é Torá, que significa, “Caminho ou Direção”.



Sendo assim, podemos entender que a meta principal do texto bíblico é introduzir a humanidade ao único Deus. Eu diria, a Bíblia nos prepara para acolhermos o Deus que se revela.



Para nós os cristãos, o caminho não é um texto, mas uma pessoa: Jesus Cristo. Não é de se estranhar, o choque para os fariseus terem ouvido Jesus afirmar ser o Caminho, a Verdade e a Vida.



O arcabouço da fé cristã apresenta Jesus como o princípio, portanto antes das escrituras. Jesus é pré-existente com o Pai. Afirmamos esta nossa verdade de fé, porém muitos de nós não estamos dispostos a levar isto até o fim.



Quais as conseqüências em se afirmar tal coisa?



Não podemos aceitar que Jesus veio para se submeter a um texto. Do tipo, o ator que lê o script e agora repete exatamente o que o autor escreveu. Jesus não representa um texto, mas o texto aponta para ele.



Explicando:



O texto bíblico apresenta símbolos para encaminhar o leitor à imagem original, que no caso da fé cristã trata-se de Cristo.



O texto fala dele, mas ele não está sujeito ao texto, pois ele e o texto não são um. Ele e o Pai são um.



Ele não pode se sujeitar ao texto, pois ele é a Palavra. (Lc 24: 27 E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras. / Jo 5: 39 Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito;)



E quanto aos textos que dizem coisas do tipo: “tudo isto aconteceu para que se cumprisse as Escrituras”?



A ideia de cumprimento das escrituras, não parte do texto para a imagem real, mas parte da imagem real para identificá-la no texto.



Lembremo-nos que Jesus vem antes de tudo, portanto tudo é a partir dele.



Tendo em mente que a Bíblia narra a história de fé de um povo, devemos ler da seguinte forma:



Olhar para Jesus, a Imagem Real, e encontrar as pistas desta imagem, como por exemplo a de um Cordeiro. Portanto, Cordeiro é uma figura religiosa do judaísmo no qual pode ser percebido Jesus, mas Ele de fato, não é cordeiro, Ele é o Filho de Deus.



O cumprimento das Escrituras não é para comprovar que o texto está correto, mas para nos mostrar que Deus vem por toda a história se revelando, por meio do Único Mediador - Jesus. A princípio com pistas e por fim revelou-se plenamente em Jesus de Nazaré.



Assim nas figuras religiosas judaicas, ele é o sábado, o cordeiro, o filho de Davi, a Torá (caminho)e muito mais, enfim, Ele é.



A Bíblia é indispensável e importantíssima para nos inserir na história da fé, para nos apresentar nesta história o Cristo, mas ela jamais pode ser colocada em pé de igualdade com Cristo.



O Livro é inspirado, mas em letras humanas e Deus não se confina em construções humanas. Ele fez para si morada: Habitou entre nós e vimos sua glória, em Jesus de Nazaré, a Palavra Viva de Deus. Ouçam a Ele.



Eliel Batista
 
 
 
Vi no   http://www.elielbatista.com/2011/10/entre-biblia-e-jesus.html
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Da superficialidade à maturidade





Vivemos a era da superficialidade. Tanto é assim, que um dos maiores fenômenos da atualidade é o Twitter, microblog no qual as postagens não podem exceder 140 caracteres. Um amigo, editor de um blog muito acessado, disse-me que quando ele posta textos com mais de quatro parágrafos, quase ninguém lê. Se a pessoa não lê algo que tenha mais de quatro parágrafos, como vai ler Guerra e Paz, Os miseráveis, ou Os Sertões?




Nos relacionamentos há muita superficialidade. “Ficar” tornou-se uma modalidade de relacionamento amoroso, lembrando que esse ficar é dar uns beijos ou algo mais, por apenas um evento. Nem precisa ligar no dia seguinte. Tempos rasos.



Essa cultura da superficialidade foi levada para o campo religioso. Hoje se vive muito claramente uma religião de mercado. Aquela que oferecer o melhor “produto” terá mais “clientes”, ou melhor, fiéis. Fiéis é modo de dizer, porque só serão fiéis enquanto houver conveniência. No dia em que aquela religião não mais lhe servir, muda pra outra mais adequada aos estímulos de consumo.



O “ficar” migrou para a experiência religiosa. A pessoa “fica” com Deus. Vai a uma igreja, sente um friozinho na espinha, tem uns êxtases, é gostoso, mas depois que sai daquele ambiente não “assume” Deus na vida diária.



Pode ser também a superficialidade baseada na necessidade de algo. A pessoa está numa enrascada, quer passar num concurso, quer arrumar alguém para casar, então vai à igreja pra ver se Deus arruma isso pra ela. Enxergam a igreja como uma fornecedora com grandes prateleiras onde produtos são oferecidos. Ora, isso não é espiritualidade, é consumismo.



Então Jesus morreu na cruz pra isso? Para que as pessoas fiquem olhando para o próprio umbigo e fazendo “campanhas” de oração pra arrumar marido, conseguir um carro novo e coisa e tal? Não, definitivamente, não. Isso é ser superficial demais!



O convite de Jesus é para rompermos a superficialidade e explorarmos águas mais profundas.



Quantos cristãos ainda são imaturos na fé? Eternamente perguntando se pode fazer isso ou aquilo, melindrados e magoados por qualquer coisa, incomodados com qualquer cisco no olho do outro, mas sem enxergar as traves no próprio.



Quantos não conseguem fazer qualquer abstração e levam tudo ao pé da letra? Se não há capacidade de abstração, como entender que Jesus é a porta, a água, o pão, o vinho, o caminho? Quem leva a bíblia ao pé da letra é um imaturo na fé. Como vai entender, por exemplo, as parábolas de Jesus?



Há um convite à maturidade, para deixar essa relação utilitária com Deus, do toma lá, dá cá: “toma lá minhas orações, meus jejuns, minhas vindas à igreja, minhas ofertas… dá cá a minha benção, minha vida blindada, meus livramentos”.



A maturidade nos leva a uma relação de cooperação com Deus. Não ficar esperando Deus fazer as coisas por si e pelo mundo, mas se colocar como cooperador para realizar transformações junto com Deus, ser um agente de transformação. Mas isso exige um abandono do superficial para uma relação madura com Deus e com a vida.



Márcio Rosa da Silva



vi no http://marciorosa.wordpress.com/2011/10/14/da-superficialidade-a-maturidade/
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A relação com Deus segundo Jesus





Os Evangelhos não apresentam nenhum manual de adoração, nenhuma orientação ou modelo para sistematizarmos o processo. Jesus, apesar de ser chamado de Mestre, não comunica nenhum sistema teórico, não propõe nenhuma filosofia da religião ou da história. Ele está longe de ser enquadrado no perfil dos pensadores. Nem sequer anuncia amanhãs radiantes. Sua mensagem é o que podemos chamar de imprevisível e consequentemente distanciada das interpretações dominantes da religião de sua época.




Quanto à questão da relação com Deus, os judeus pensavam esta relação a partir dos conteúdos concretos da esperança messiânica, da importância atribuída a Lei, do privilégio reconhecido à eleição e da fascinação pela terra prometida. Em outras palavras, a relação com Deus acontecia mediada pela Lei, pelo templo e pelas convicções dos espaços identificáveis do Reino de Deus, a saber, o templo, a terra e o povo eleito.



Porém, não vemos nenhuma dessas ênfases em Jesus. Ele se declara Messias negando todas as ênfases judaicas (Jo 4, 21-27). O Deus de Jesus não está em lugar nenhum. O Templo e Cidade de Jerusalém perderam a vocação de mediarem à relação com Deus. Quanto a Lei, é evidente nos textos como Jesus a relativizou em favor da vida humana. Aos seus discípulos não exige fidelidade a Lei, mas a si próprio como visibilidade humana de Deus.



Enfraquecidos o Templo, a Cidade e a Lei como mediadores da relação com Deus, a convicção de povo eleito perde o sentido. A universalidade da Graça e a fraternidade humana são afirmadas. Agora não é possível basear-se numa etnia eleita, pois até das pedras Deus suscita filhos (Mt 3,9)



Tanto na oração do Pai Nosso (Mt 6.5-15) quanto na conversa com a samaritana (Jo 4), os dois textos mais indicativos sobre o assunto , Jesus não responde a questão de como nos relacionamos com Deus, apenas indica que tal relação é resultado de uma profunda convicção de Deus, que ele chama de fé, e que ocorre nos ambientes secretos da alma, e não nas exterioridades e aparências. Assim nada e nem ninguém pode ocupar o lugar de identificação de Deus, restando à máxima que o “justo viverá da fé”.



Por Ivo Fernandes

 
Vi no http://ivofernandes.blogspot.com/2011/10/relacao-com-deus-segundo-jesus.html
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Esperança no Meio da Crise

Efésios 3.16-20





Introdução



Numa conversa em casa minha mãe me perguntou: Como a religião nos prepara para suportar as pancadas da vida? Na hora a minha resposta limitou-se ao lugar comum, a repetir aquelas expressões que ouço desde que comecei a frequentar a igreja: Deus é bom, ele nos protege, espera milagres, etc. Todas estas afirmações são corretas, mas eu não fiquei satisfeito e continuei pensando sobre o assunto.



Alguns dias mais tarde, pensei sobre a fé em Deus e na importância que ela teve para me ajudar a superar as dificuldades da vida, que não foram poucas. Cheguei à conclusão de que é o relacionamento com Deus que faz toda a diferença na hora em que a tempestade chega com força.



O texto de Efésios 3.16-20 sempre me vem à mente nas horas difíceis. Ao estuda-lo podemos ver o quanto o relacionamento com Deus pode nos ajudar a encontrar esperança, mesmo no meio de uma grande crise.



Para facilitar o entendimento da mensagem, dividiremos o texto em três partes:



I



"Que ele se digne, segundo a riqueza da sua glória, fortalecer a todos vocês no seu Espírito, para que o homem interior de cada um se fortifique. 17 Que ele faça Cristo habitar no coração de vocês pela fé". Efésios 3.16-17a.



Para enfrentar uma trilha difícil, é preciso estar bem alimentado. Quando alguém está fraco, à medida que o tempo passa, a força se reduz sinalizando que o corpo está sentindo falta da alimentação que não recebeu. Dependendo do preparo físico, a pessoa não conseguirá chegar ao fim do caminho e terá que voltar para receber ajuda.



A boa alimentação produz força para seguir em frente, ela torna o corpo resistente às doenças que debilitam, desanimam, roubam a energia vital e podem até matar.



Fortalecer o espírito também é importante, pois é complicado acordar, sair de casa, enfrentar o trânsito para trabalhar e pensar que o final do mês está se aproximando e que o dinheiro não será suficiente para pagar todas as contas.



O texto bíblico afirma: “segundo a riqueza da sua glória, fortalecer a todos vocês no seu Espírito, para que o homem interior de cada um se fortifique”. Quando o espírito está forte, temos condições de suportar a luta diária pela sobrevivência, para enfrentar as incertezas e as crises, que estão rondando e aparecem para causar problema e tirar a paz.



O apóstolo Paulo ressalta a fé como o ponto de partida para a nossa união com Deus. A fé nos aproxima do Pai celestial. Este contato proporciona a consciência do amor de Cristo. Conscientes deste amor, podemos cuidar do alicerce de nossa fé.





II



"Enraizados e alicerçados no amor, vocês se tornarão capazes de compreender, com todos os cristãos, qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, de conhecer o amor de Cristo, que supera qualquer conhecimento, para que vocês fiquem repletos de toda plenitude de Deus". Efésios 3.17b-18



As árvores suportam ventos fortes no momento da tempestade. Quando estão bem enraizadas elas se vergam, mas não caem. Aquelas que estão doentes, ou com o tronco comido pelos cupins, não resistem, e causam muitos prejuízos.



Casas bonitas e bem arrumadas também sofrem as consequências da falta de um alicerce profundo e são levadas pela enxurrada causada por uma chuva mais forte. Quanto mais enraizados e alicerçados estivermos em Cristo, termos mais condições para resistir no dia mau.



Este enraizamento é fruto de um relacionamento com Deus. Uma árvore não cresce de um dia para o outro, ela precisa de tempo para se desenvolver e aprofundar as suas raízes no solo.



Da mesma forma acontece na vida com Deus, se cultivamos um relacionamento com ele, na hora em que a necessidade aparecer, saberemos onde buscar. Quando estamos fortes, mesmo que as pancadas nos atinjam de forma dolorida, elas não irão nos derrubar.



As amizades se fortalecem com o tempo. Quanto mais investimos em conhecer alguém, mais chances haverá para descobrir interesses comuns, preferências, até que chegar ao ponto de entendermos o que o outro quis dizer apenas com um olhar.



Devemos nos envolver com Deus de tal forma que não sejam necessárias muitas palavras, seja para expressar os nossos sentimentos, ou para ouvir a sua doce voz.



Conhecer intelectualmente o amor de Deus não é suficiente. É necessário experimentá-lo. A partir do momento em que estamos alicerçados e enraizados no amor, podemos compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo.



Estes conceitos remetem às construções que traze a ideia de uma casa onde podemos entrar e encontrar proteção e refúgio do mundo ameaçador. O lar é o nosso lugar, que transmite segurança e paz.



O Senhor nos convida a habitar em seu amor e a descobrir que a bênção que ele nos oferece, supera qualquer expectativa que possamos ter do que seja melhor.



Ao compreender esta dimensão do cuidado divino, podemos olhar as dificuldades de um novo patamar, o da esperança. Não temos a capacidade para resolver todos os problemas, mas confiamos naquele que pode cuidar daquilo que escapa ao nosso controle.





III



"Deus, por meio do seu poder que age em nós, pode realizar muito mais do que pedimos ou imaginamos; a ele seja dada a glória na Igreja e em Jesus Cristo por todas as gerações, para sempre. Amém!" Efésios 3.19-20.



Fazer muito mais é transformar o mal em bênção. Ao olhar para a minha vida posso contar muitas situações que poderiam gerar consequências terríveis, mas que me proporcionaram coisas boas, quando foram colocadas na perspectiva do amor divino.



Em alguns momentos difíceis, eu achei que estava sozinho, mas ao analisar todos os fatos, percebo o quanto fui ajudado por pessoas que estiveram ao meu lado e me ampararam. Elas representaram a presença de Deus me consolando e renovando as forças.



Estas bênçãos precisam ser colecionadas no coração, armazenadas na memória para que sejamos capazes de recordá-las nos tempos difíceis e consigamos renovar a esperança.



Fazer muito mais é trazer novas perspectivas para a vida a partir das tragédias pessoais. Não é somente o desemprego e a falta de dinheiro que atrapalham a vida. A doença, o acidente e até mesmo a morte, podem surpreender e nos deixar sem chão. Ainda que estes problemas machuquem, nos façam chorar, Deus tratará de cada situação e revelará novas perspectivas.



Decisões erradas produzem arrependimento, mas Cristo estabelece pontos de restauração, que permitem a construção de uma nova história, cuja matéria prima está nos cacos da antiga.



Fazer muito mais, na perspectiva divina, é poder contemplar os pequenos milagres do cotidiano. Isto é importante porque às vezes a situação está muito complicada, mas temos a oportunidade de ver Deus atuando em alguns detalhes, que se são prestarmos a devida atenção, passarão despercebidos.



Uma conversa com o amigo, a visão do por do sol, uma viagem ou um passeio. Coisas simples no dia a dia, que vão encher o coração de alegria. Estes são pequenos milagres que acontecem e nos ajudam a caminhar. Quase sempre eles não resolverão todo o problema, mas trarão conforto e consolo para a alma.



Fazer muito mais é não perder a capacidade de sorrir, mesmo sentindo dor. A alegria de que a bíblia fala, é fruto de uma esperança que não está associada à situação presente, mas à fé que tem a certeza de que, independentemente do resultado, tudo vai colaborar para o bem daquele que ama a Deus. Sorrir, ainda que sentindo dor, traz saúde ao coração.



Conclusão



O apóstolo Paulo tinha experiência com as situações difíceis e podia falar com autoridade sobre como o seu relacionamento com Deus produziu a esperança que lhe fortaleceu para superar as crises que ele precisou enfrentar ao longo do seu ministério.



Em II Coríntios 4.8-9 ele define como o poder de Deus opera levando-nos mais além do que podemos imaginar: "Somos atribulados por todos os lados, mas não desanimamos; somos postos em extrema dificuldade, mas não somos vencidos por nenhum obstáculo; somos perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados".



Esta é a essência que da bênção de Deus. Ela não nos retira do mundo nem nos livra dos problemas, mas nos ajuda a vencê-los. Ela nos ajuda a rir, apesar de tudo, porque a nossa alegria está mais adiante, nas mãos do Pai.



Um entendimento que obtive a partir das dificuldades que enfrentei é o seguinte: Por mais demorada que seja uma provação, ela sempre passa. Por mais complicado que seja um problema, ele termina. Quando deixamos a semente da esperança florescer no coração, somos capazes de enfrentar os problemas e chegar ao fim alegres e com saúde.



Precisamos habitar no amor de Deus, trazer as suas promessas para o nível da realidade. É nesta esperança que eu desejo finalizar a mensagem convidando-os para orar e receber a bênção do Senhor.

 
 
Por Marcos Vichi
 
 
 
Vi no http://compartilhandopalavras.blogspot.com/2011/10/esperanca-no-meio-da-crise.html