sábado, 10 de setembro de 2011

Dons Espirituais Sem Graça





Desde o último post, temos refletido sobre a possibilidade de eliminarmos do Evangelho o conceito de graça. Já vimos, portanto, que falar do Reino de Deus sem a graça é o mesmo que apresentar um Deus tirano, que almeja cumprir Seus desígnios sem levar em conta Suas criaturas. Demonstramos que a justiça e o amor, atributos aparentemente contraditórios, são harmonizados pela graça, possibilitando assim uma inabalável estabilidade em todos os rincões do Seu Reino. Portanto, reino e graça são conceitos entrelaçados e indissociáveis.



Alguns que se consideram mais “espirituais” que a média, talvez aleguem que se subtrairmos o conceito de graça do Evangelho, ainda teremos os dons espirituais, as manifestações sobrenaturais, os milagres. O que dizer de tal raciocínio?



De onde, afinal, provém os dons do Espírito? Por quais critérios eles são distribuídos?



Examinemos as Escrituras:



“Temos diferentes dons, segundo a graça que nos é dada. Se é profecia, seja ela segundo a medida da fé. Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exerce misericórdia, com alegria” (Romanos 12:6-8).



A palavra dom vem do grego charisma, que tem como prefixo o vocábulo charis, que significa graça.



Portanto, não há charisma sem charis, pois a graça é a fonte de todos os dons. Repare no que diz Tiago:



"Toda boa dádiva e todo dom perfeito é la do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação" (Tiago 1:17).



Tais dons não são distribuídos aleatoriamente, nem com base nos méritos humanos. Eles são concessões da graça. No dizer de Paulo, "um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer" (1 Coríntios 12:11). O que vale aqui não são os méritos, nem o desejo humano, mas unicamente o propósito divino.
 
 
Ademais, a concessão de dons não eleva-nos ao status de espirituais. Um exemplo disso pode ser encontrado na igreja de Corinto, talvez a mais carismática/pentecostal igreja do primeiro século da Era Cristã. Paulo chega a dizer que nela não faltava dom algum (1 Co.1:7). Porém, na mesma epístola, ele diz: "Eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei, e não com alimento sólido, pois ainda não estáveis prontos para isso. Com efeito, ainda agora não estais prontos. Ainda sois carnais" (1 Co.3:1-3a). Faltava-lhes maturidade, apesar dos dons. Eram meninos, carnais, invejos, contenciosos, mesmo manifestando os carismas do Espírito. Se os dons fossem distribuídos meritocraticamente, aquele seria a última igreja que os receberia.



Se removermos a graça, o que vai sobrar é o culto ao ego, ao carisma humano disfarçado de carisma do Espírito. Pode ser que haja até manifestações aparentemente sobrenaturais, mas desprovidas do propósito central que é glorificar a Cristo e edificar o Seu Corpo. Os holofotes estarão sempre voltados para o indivíduo, suas habilidades, seu poder de persuasão, sua pseudo-santidade.



Eis, abaixo, o propósito pelo qual Ele distribui dons ao Seu povo:



“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do ministério, para a edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4:11-12).



Os dons não devem jamais ser usados na promoção pessoal de quem quer que seja. O fato de Deus ter dado a uns o que não deu a outros, não os faz melhores ou superiores, e sim, servos dos demais. Este é o Espírito da Graça e da Verdade. Confira o que Jesus disse acerca disso:



“Mas, quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade. Não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar” (João 16:13-14).



Quando o homem é glorificado no lugar de Deus, a mentira ocupou o lugar da verdade. Este age, ora na força do próprio braço, ora sob a influência de espíritos de engano. É o que Paulo chama de “operação do erro”, que opera segundo a “eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais e prodígios da mentira, e com todo engano da injustiça para os que perecem. Perecem porque não receberam o amor da verdade para se salvarem” (2 Tessalonicenses 2:9-10).



Que outra maneira teríamos de distinguir a atuação do Espírito de mero charlatanismo? Verifiquemos os frutos. O verdadeiro carisma do Espírito vem sempre acompanhado da manifestação do caráter de Jesus. Carisma sem caráter é embuste, carnalidade travestida de espiritualidade.



É a manifestação do caráter de Cristo que evidenciará nossa conversão. Falar em línguas pode até ser importante, mas não comprova que alguém fora realmente batizado no Espírito Santo. Lembre-se que Jesus jamais falou em línguas! E duvido que alguém tenha sido tão cheio do Espírito quanto Ele. A melhor evidência de quem alguém recebeu o Espírito de Cristo é “andar como ele andou” (1 João 2:6). E o Espírito Santo fará tudo para chamar a atenção de todos à Cristo, e não a Si mesmo ou àquele que O recebeu.



Acompanhe a continuação desta reflexão nos próximos posts.
 
 
 
 
Por Hermes C. Fernandes
 
 
 

2 comentários:

inndiotas com sois enis disse...

adorei!!!!!!111 muito legal

Nardier disse...

Valeu Leandro!!!!!
Fique a vontade pra deixar seu comentário!!!
Abraços!!!!