quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Clamor.






Senhor,


Poucas vezes te escrevi. Confesso meu medo! Meus mentores me ensinaram a falar contigo sempre de improviso. Tremo, pois minha prece se eternizará pela palavra escrita.


Escrevi para amigos e desafetos ultimamente, e foi aí que me perguntei: por que esse pavor de enviar algumas mal traçadas linhas para Deus?


Permita-me pular o prelúdio comum das preces. Já te disse em outras ocasiões o quanto te admiro e, por hoje, peço-te permissão para passar essa parte. Vamos diretamente ao ponto.


Confesso uma dor da alma. Quando escrevi aquele livro que combatia a teologia da prosperidade, fui inclemente, literalista e ortodoxo em minhas análises. Hoje sequer me reconheço no espírito que escrevi.


Tu sabes, Senhor, como ainda rejeito as promessas irresponsáveis que se fazem em teu nome. Não rechaço os conteúdos do meu livro, mas a intolerância que um dia encarnei. Não quero mais lidar com verdades daquele jeito. Eu, hoje, sofro contra-ataques de gente que discorda de mim com a mesma virulência que desferi no passado e sinto-me mal. Peço teu perdão pelas feridas que causei.


Senhor, preciso de tua ajuda. Tu, que visitas os cansados e fortaleces os joelhos desconjuntados, dá-me tua mão. Estou arrependido de um dia acreditar que possuía a verdade e que, fora de minha elaboração, seria difícil encontrar a versão mais acurada do Evangelho.


Parecido com o Ratzinger, pretensiosamente, acreditei representar o ramo mais próximo e verdadeiro da fé apostólica.


Senhor, preciso distanciar-me dos discursos religiosos exatos e dos professores das lógicas teológicas.


Ajuda-me! Antes de especular a letra, devo aprender a conhecer meu vasto e complicado coração. Por favor, afasta-me da arrogância de nunca admitir que também falo e escrevo obviedades.


Deixa-me como rolha, boiando a esmo no oceano do saber, contanto que faças de mim um homem bondoso – continuo demasiadamente ensimesmado. Esmerilha minha arrogância até que não sobre nenhuma ponta ferina.


Ensina-me o que ainda não aprendi: ser semente que morre; preferir os últimos lugares; levar as cargas alheias; virar o outro lado do rosto na hora do soco; evitar gritarias; não desdenhar do pobre; chorar com os que choram e rir com os que riem.


Não desejo mais sentar-me na cadeira de Moisés. Dá-me, tão somente, o privilégio de ficar um pouquinho parecido com Jesus, teu Filho. E isso será tudo.


Amém.


Soli Deo Gloria


Vi no http://betesda.com.br/reflexoes/clamor/

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