quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Mudando uma vez mais (I)





Algumas semanas atrás me dirigi à prisão de segurança mínima para pegar nosso amigo Carl. Carl passou os últimos 16 meses em outra prisão, trabalhando o máximo possível fazendo horas extras na cozinha de modo que pudesse sair seis semanas mais cedo. Nosso Projeto TURN tem uma classe semanal na prisão local, então conheço bem lá. Carl também conhece bem. Ele já foi solto de lá mais vezes que ele pode contar em seus 52 anos.


Não há nada como o sorriso de um homem que acaba de sair da prisão. “Você se sente bem estando fora?”, eu lhe perguntei quando entramos numa estrada às 7h da manhã. “Você sabe que sim”. Carl estava quase cantando. Dirigimos de volta pra casa e comemos linguiça e ovos antes de alguém se levantar e aparecer por perto. Carl estava fazendo planos para assegurar um lugar para morar e começar a trabalhar na segunda-feira. Nossa conversa foi clara e focada. Ele saiu pela porta com uma calça jeans nova para ver um lugar para ficar aquela noite. Eu não o vi novamente por três dias.


Mas eu não tinha que ver já que sabia que Carl estava bebendo de novo - os mesmos demônios que tinha arruinado seu casamento, seu relacionamento com a família e a maioria dos empregos que ele já tinha tido. Sabia porque tínhamos orado contra aqueles demônios juntos. Quando está fora da prisão, Carl é uma presença certa nas orações da manhã e da noite. Ele veio uma manhã com um bastão de beisebol. “Você poderia ficar com isto para que eu não use para matar alguém?”. Nós ainda o temos guardado.


Com o lançamento de nosso novo livro Oração Comum, temos conversado muito na Casa Rutba sobre oração e o que ela significa para nossa vida aqui. Lemos os salmos juntos cada manhã. Alguns dias “Levanto meus olhos para os montes” é um agradável lembrete da Fonte dos dons abundantes que desfrutamos na nossa vida comunitária. E, algumas vezes, nosso clamor “Até quando te esquecerás de mim, Senhor? Para sempre?” resume mais ou menos como me sinto. Eu orei para que Carl fosse verdadeiramente livre desta vez - não apenas livre da prisão, mas livre do controle do vício. Juntei minha oração à dele porque sabia que era o que ele estava orando também.


O que fazemos com nossas orações quando amigos como Carl não são libertados - quando as guerras não cessam, quando as crianças continuam famintas, quando as instituições básicas de amor em nossa comunidade continuam a falhar com nossos amigos mais vulneráveis? É bom saber que o amor de Deus é a primeira e a última palavra. Mas o que fazemos com todas as palavras que parecem tão certas entre elas?


Carl estava na oração da noite passada. Ele entrou aos tropeções quando já tínhamos começado. Quando chegou a hora de elevar as petições, ele falou sem hesitação: “Obrigado, Deus, que esta gente nunca me julgou. Obrigado pelas pessoas da Casa rutba que me mostrou algum amor”. E eu agradeci a Deus por um amigo que nos recorda do nosso melhor. Porque eu suspeito que o que todos necessitamos, enquanto vamos sendo curados e crescemos na plenitude dos sonhos de Deus para nós, é saber que temos sido amados por Aquele que não nos condena mas oferece uma grande acolhida sempre que formos capazes de voltar pra casa.


Por Jonathan Wilson-Hartgrove


0 comentários: