quinta-feira, 11 de agosto de 2011





… a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.
Hebreos 11.1



Escutei dizer que “Não nos irritamos com pessoas ou estruturas, mas com as formas com as quais construímos a fe”. Fiquei meditando. Lembrei-me da clássica passagem de Hebreus 11. Emergiu a pergunta: Se a fé tem a ver com aquilo que ainda não está presente, por que suas formas nos constrangem? A passagem mostra o paradoxo da fé. Um lugar ainda não presente. Uma segurança sobre o ausente.


Mas não é esta ênfase que sempre damos a estas palavras. Nos detemos mais nas certezas e convicções que nas esperas e nas negações. Nos esquecemos que a fé tem a ver com esta tensão entre as coisas que são e as que serão. Mais ainda, relaciona-se com a instabilidade dos caminhos que possuem uma capacidade inerente de ser mais do que são. O que se espera e o que não se vê minam o que é, o presente, nossos lugares e convicções, a partir da própria alma das coisas que existem, que têm lugar, que se fazem presentes. Mistério e realidade são elementos constitutivos da vida, elementos mesclados em um mesmo corpo.


Em outras palavras, matamos a fé quando a encarceramos em uma certeza, quando a encapsulamos em um lugar seguro. A fé são palavras, pensamentos, decisões, passos, mas não se constituem no seu estancamento mas em sua constante transitoriedade. A fé é dinâmica e mobiliza a vida. Dirige seu movimento quando encontra as fendas necessárias para deslizar-se; mas morre quando fica depositada em um recipiente que imita a verdade absoluta.


Fé é risco. É dispor o corpo. Os sentidos são levados a sua máxima expressão. Sente-se, sofre-se, contempla-se. Sua evocação do mistério da vida abre-nos às formas mais ricas do existente. Por isso, a fé é o chamado da beleza, do poder da estética em suas pluriformes cores e sensações. A opacidade do único e o insosso do que é imposto roem a fé, escurecendo-a sob o cálculo frio.


Para manter a fé viva é preciso aprender a andar em lugares inseguros. Fé não é a loucura de crer que algo é absoluto e real, mas a humildade de reconhecer que estamos a caminho, que tudo o que é devir é transitório e que a realidade está impressa no mistério. Vivificar a fé é aprender a desenhar com muitas cores, deixando-se levar pela fantasia e pela satisfação do resultado, mas estando sempre curiosos pelo novo.



Por Nicolás Panotto - Licenciado en Teologia pelo Instituto Superior Evangélico de Estudos Teológicos - ISEDET (Argentina). Mestrando em Antropologia Social e doutorando em Ciências Sociais pela FLACSO Argentina. Diretor geral do Grupo de Estudos Multidisciplinares sobre Religião e Incidência Pública (GEMRIP - www.gemrip.com.ar)


Vi no http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=620

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