quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Economia para discípulos: um plano de investimento alternativo - Parte I





Quando Jim Douglass terminou a universidade em 1960, seu pai enviou para ele um seguro de vida como presente de graduação. Foi um investimento para ajudar a proteger o futuro da jovem família de Jim. Jim escreveu para o seu pai uma carta de agradecimento pelo presente mas retornou o seguro com sua carta. Ele não poderia aceitar o presente, escreveu, porque queria entender a verdade de uma “economia da providência” sobre a qual tinha lido no capítulo seis do Evangelho de Mateus. Invés de pagar parcelas mensais de um seguro de vida, Jim disse que ajuntaria tesouros no céu enviando mensalmente dinheiro para proporcionar assistência básica para uma criança na França.


Eu me encontrei com Jim em 2003, cerca de 40 anos depois que ele tinha começado sua experiência com investimentos eternos. Naquela ocasião, ele e sua esposa, Shelley, tinham criado sete filhos e se tornado ícones do movimento pacifista católico nos Estados Unidos. O trabalho deles ajudou a moldar a posição de Guerra Justa do Vaticano II, inspirado comunidades de paz e justiça ao redor do mundo, e testemunhando da possibilidade de um testemunho cristão não-violento nos Estados Unidos. Quando eu pedi a Jim conselho para minha própria vida, ele sempre retornou com a mesma ideia: uma economia da providência. Se Leah e eu íamos viver a vida que Jesus tinha para nós, Jim disse, tínhamos de assumir profundamente esta estranha economia.


Eu não tenho nem de perto o meio século de experiência com investimentos eternos que Jim e Shelley têm, mas tenho sido convencido pela experiência e testemunho de outros que Jim está certo. A maioria de nós está muito envolvida em assegurar nossos próprios futuros para confiar que Jesus quer nos dar uma boa vida agora — talvez esse seja o maior obstáculo para a fé nos nossos dias. Não é que nós queiramos rejeitar Jesus; a maioria de nós quer confiar na abundância de Deus acima de tudo. Mas vivemos constantemente deslumbrados pelos tesouros terrenos e suas promessas de criar um mundo seguro e agradável para nós.

A maioria de nós acredita que se guardarmos um pouquinho a cada mês na poupança, podemos assegurar uma boa educação para nossos filhos e ter uma aposentadoria confortável. Não pretendemos ser egoístas pensando desse jeito. Parece bem razoável. É assim que a economia do mundo funciona, mesmo quando separamos tempo para pensar nos outros. Mas à luz da economia da providência de Jesus, tal preocupação e trabalho parece um pouco inaceitável. Nós realmente confiamos na abundância da economia de Deus ou na bondade da família de Deus? Será que pais cristãos responsáveis deveriam gastar todo seu dinheiro extra de cada mês em vez de colocá-lo numa conta de poupança para os estudos dos filhos ou num plano de aposentadoria?

Por estranho que pareça, isto é o que Jesus nos desafia a fazer — colocar tudo que somos e os nossos recursos no Reino de Deus. Podemos concordar com os marxistas quando eles insistem que o capitalismo não vai acabar com a pobreza, mas o socialismo também não vai. Só o que acaba com a pobreza é a morte de Jesus Cristo e sua ressurreição no terceiro dia abrindo o caminho para todos nós entrarmos na casa de seu Pai. “Na casa de meu Pai há muitas moradas”, disse Jesus aos discípulos (João 14:2). Na economia de Deus há sempre o bastante, e somos convidados a participar investindo nós mesmos no reino de Deus de abundância que nunca acaba.


“Onde está o seu tesouro”, diz Jesus literalmente, “ali estará o seu coração” (Mateus 6:21). Soa simples, mas é uma questão importante: nos preocupamos com as coisas nas quais investimos e a forma como investimos revela o estado dos nossos corações.

Veja meu irmão, por exemplo. Ele ama caçar cervos. Ninguém precisa perguntar se ele ama caçar; se sabe pelo seu investimento. Ele tem um armário cheio de armas, um casaco de camuflagem e botas com proteção para os dedos para as frias manhãs de outono quando ele está sentado de tocaia atrás de uma árvore. Ele assina a revista especializada Outdoor World. Ele tem uma câmera filmadora — completa, com visão noturna — que grava a ação (ou não) no lugar onde ele prefere caçar, de dia e de noite. Eu já assisti cervos trombando com os chifres ou comendo da tigela de pipoca do meu irmão no meio da noite.


Mesmo quando tinha que pegar emprestado uma arma, meu irmão se levantava antes do amanhecer e se sentava no melhor lugar possível, mesmo no frio cortante, esperando pelo maior cervo que pudesse aparecer. Ele está pessoalmente envolvido. Seu coração está nisso.


Nós investimos nas coisas que amamos e nossos corações se envolvem com as coisas que investimos. Por isso falamos da importância de “comprar” referindo-nos ao compromisso das pessoas com coisas que são difíceis. Se pagamos por um programa de dieta, é mais provável perseverarmos. Se ofertamos regularmente a nossas igrejas, é mais provável que nos importemos com qual candidato o comitê de sucessão pastoral seleciona. Se fazemos sacrifícios por um relacionamento, é mais provável valorizarmos este relacionamento. Conselheiros conjugais frequentemente dizem às pessoas que sentem que estão se distanciando de seus parceiros para investir neles agora, antes que se tornem ainda mais distantes. Coloque seu tesouro no relacionamento, eles dizem, e seu coração seguirá.

Obviamente, é necessário disciplina para investir em algo antes de saber se valerá a pena; é sempre mais fácil fazer só o que sentimos vontade. É o que esperamos que as pessoas façam, e nos surpreendemos quando elas encontram lógica em não satisfazer seus desejos imediatos ou seguir a trilha que exige menos resistência. Colocar nossos tesouros antes dos nossos corações é uma anomalia.

O sociólogo Max Weber escreveu que o cristianismo — particularmente o protestantismo calvinista — impulsionou o capitalismo moderno porque, entre outras coisas, estimulou os europeus a refrear seus desejos imediatos e poupar dinheiro, criando, assim, o capital necessário para o investimento e o crescimento econômico. Este ascetismo intramundano combinou a disciplina das pessoas, que poderiam prorrogar o prazer pela esperança de algo melhor, com a visão social de um mundo redimido pelo Criador. A ética protestante tornou possível as pessoas colocarem seu tesouro onde queriam que seus corações estivessem.

É difícil negar os resultados deste investimento. O capitalismo mais do que dobrou a expectativa de vida nos países desenvolvidos nos últimos 200 anos, e tem contribuído para uma redução drástica nas doenças evitáveis, analfabetismo e fome extrema. Enquanto a globalização tem os seus críticos, os pobres do mundo parecem mais do que dispostos a acolher as oportunidades de trabalho e a consumir produtos do sistema econômico globalizado.

A lógica do investimento pessoal muda minha vizinhança também. Num contexto urbano onde tantas pessoas estão escravizadas pelo vício das drogas, a liberdade em Cristo pode levar alguém a recusar o alívio instantâneo que a droga oferece como um investimento num futuro melhor. Weber está certo: a fé em Cristo torna possível esse tipo de contenção. Desencadeia um poder incrível na vida das pessoas. Se você já viu a luta de um dependente químico para ficar limpo, você sabe que não há maior poder no mundo que a fé que o ajuda a investir seu tesouro em algo mais do que uma tragada.


Obviamente, mesmo no primeiro século, Jesus conhecia o segredo do capitalismo moderno. Mas ele disse que não é suficiente negarmos a nós mesmos para que possamos investir no que é bom. “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam” (Mateus 6:19). Não é suficiente investir numa boa casa, coisas legais para nossos filhos, melhor tecnologia e forças armadas mais poderosas para nossa nação. Todas essas coisas podem ser perdidas. Um sofá da La-Z-Boy ou segurança nacional não são coisas ruins, mas elas são frágeis, bens limitados. Já que não podemos esperar que durem, não devemos colocar nossos corações nelas.

Sendo este o caso, é tolice gastar a capacidade de investimento dos nossos corações em coisas que estão aqui hoje, mas que se vão amanhã; especialmente se Deus tornou possível investirmos em algo que durará para sempre. Investimento eterno é o convite de Jesus para liberarmos a capacidade de investimento dos nossos corações para o melhor bem possível — o Reino de Deus aqui na terra, como ele é no céu.


Por Jonathan Wilson-Hartgrove


Vi no http://www.novosdialogos.com/blog.asp?id=13

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