terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Somos todos iguais





Tudo parece tão grande, tão vasto. A vida, que o tempo arrasta, leva-nos a perceber de que tamanho somos.


Nosso desejo se confunde com nossas histórias e mesmo difusos, nunca cessamos de lacerar a carne. Complicamo-nos na esteira dos dias. Em nossos melhores movimentos, tropeçamos e claudicamos. Vemos o mundo e engolimos seco. No esforço de ajudar, batemos a canela nas quinas do siso e nada fazemos. Contemplamos a imensidão do dever e de olhos inchados nos perdemos em resmungos.


Na enormidade do dever, perguntamos: para onde foi o Raimundo da rima? Quem rasgou o cardápio do banquete? Se falam de mistério, dizemos: esqueci o segredo do cofre; se nos cobram praticidade, insistimos: não tenho receita. Se nos propõem enigmas, confessamos: mataram a Esfinge. Misturamos intuições nas proposições mais intrincadas, por isso seguimos na contramão. Temos medo de admitir que nosso mapa perdeu o norte.


Seguimos de olhos vendados. Nossos dedos perderam o tato da lucidez. Vez por outra o desconsolo que nos acompanha protesta, e sem conseguir nos segurar, gritamos: “Por que o sofrimento”? Do fundo das taperas não para de vir o odor de Josés e Marias que se liquefazem na miséria. Diante do absurdo reclamamos sem sucesso a ausência do Bem.


Tentamos resignar a alma. Mas o espírito continua abatido. Miramos o céu para gritar uma prece. Nada se move. Nenhuma roda de fogo se aproxima. O único fumo que nos engasga brota do fosso de onde vidas lamentam a sorte de terem nascido. Diante de covas rasas todas as guerras ficam estúpidas. Quando o Hades rodeia nossa cama não encontramos a via de escape.


As ruelas do vilarejo por onde caminhamos durante o sono encontram-se entupidas de esfarrapados. As cachoeiras de nossos devaneios românticos despencam inocentes. Assistimos passivos ao fluir de uma economia que gera “quase-humanos”, gente sem nome e sem esperança. Ouvimos uivos do beco que imaginamos quieto e nos perguntamos se em algum deles uma jovem se debate na ânsia de livrar-se de um estupro. Do alto de nossa pretensa onipotência falhamos em atrair um Serafim qualquer em sua defesa.


Nossa dor pode não parece real, entretanto, lateja. A angústia que nos corrói não dá trégua. Nosso sofrimento, nunca peculiar, é comum. Daí o imperativo de repetir aos bedéis caiados: vocês também vivem dentro desse espelho, vestem nossas camisas, calçam nossos sapatos e falam o mesmo dialeto. Somos todos iguais.


Soli Deo Gloria


Por Ricardo Gondim

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