terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Pelo direito a uma vida desprovida de sentido

Parece inconcebível que alguém viva sem ter um plano. Quando as crianças aprendem a falar, já as perturbamos com perguntas do tipo “o que você vai ser quando crescer?”. Como se não desejar nada, ou viver um dia de cada vez esperando pra ver o que acontece fosse loucura demais. Você precisa ter um plano. Foi doutrinado a isto.


Então começo a reler o Novo Testamento e me deparo com algo que estava na minha cara o tempo todo mas eu nunca havia percebido. Deus tem um prazer quase mórbido de frustrar os planos dos homens. E exatamente quando tudo deu errado na História da Igreja, então deu certo.


Pra começar, a gloriosa História da Igreja começa com um fiasco engraçado. Os discípulos resolveram dar uma ajudinha pra Deus, elegendo quem seria o décimo segundo discípulo a ocupar o lugar de Judas Iscariotes. No sorteio direcionado (igual da Copa do Mundo), venceu um tal de Matias. Homem considerado íntegro em sua época, mas que nunca mais foi sequer citado nas Escrituras. Enquanto homens escolheram Matias, Deus preparava para si a Paulo.


Após a ressurreição de Cristo, os discípulos receberam instruções explícitas sobre como deveriam aguardar em Jerusalém até que o Espírito Santo os revestissem de poder. Pois os tais “ousadamente” se trancaram em um galpão, mortos de medo dos judeus. Por que então aquele local e momento específicos da história se tornaram marcantes? Por que o Espírito Santo veio e bagunçou tudo. Fez com que aqueles homens não resistissem às coisas que Deus queria falar através deles. De modo que outros viram e ouviram tais coisas e logo de cara indagaram se eles estavam loucos ou bêbados. Ainda bem que Cristo não explicou o que haveria de acontecer, senão os discípulos teriam se escondido mais longe.


Então o Ministério apostólico começa com todo o vigor o processo de evangelização. Enquanto os cristãos oravam para que Deus os livrasse das mãos de seus perseguidores, Deus tinha outros planos. Fez do maior deles o seu décimo segundo apóstolo. Saulo, agora Paulo.


O tal Paulo era um cara extraordinário. Conseguiu com maestria iluminar o entendimento dos cristãos a respeito de como o plano de Deus SEMPRE FOI a redenção através de seu Filho Jesus. Obviamente isto também gerou problemas gravíssimos para a época, fazendo com que momentaneamente houvesse um rompimento entre Pedro e Paulo. Um preferiu concentrar-se nos habitantes de Jerusalém e redondezas, enquanto o outro saiu para repartir o conhecimento de Deus com ímpios. Exatamente esta contenda entre os discípulos é que proporciona a evangelização dos gentios (nós).


Aí vem Paulo, homem letrado e hábil em planejar. Mas frustrado diversas vezes em seus intentos. No capítulo 16 de Atos dos Apóstolos pode-se observar claramente que o Espírito os impediram de ir a lugares que desejavam. E exatamente assim, acabaram terminando nos lugares certos. Parece que os planos dos homens já tem tradição em se distanciar da vontade do Criador.


Quando Paulo vai preso, julgando ser conveniente evitar uma morte precoce nas mãos dos judeus, apela a sua cidadania romana. Será que ele tinha consciência que seria levado a um tribunal em Roma por causa disso? Duvido. Haviam tribunais romanos ali mesmo.


Na viagem a Roma, um naufrágio e uma picada mortífera de cobra. Tudo continua terrivelmente longe dos propósitos humanos de comodidade e “resultados”. Deus continua no controle.


Meu questionamento é por que temos tanta dificuldade em compreender que o IDE de Cristo é em todas as direções. Ou seja, quando nos organizamos e institucionalizamos que fazer a obra de Deus é se engajar com determinada coisa, estamos mutilando o agir de Deus através de nós. Não pode haver separação entre a Missão e a sua Vida. Não podemos viver debaixo de metas a cumprir, de planejamentos realizados em gabinetes, de cobranças por parte de uma suposta liderança que tem se levantado na Igreja de Cristo, mas que raramente tem a ver com a perfeita vontade de Deus pra nós.


Precisamos mais do que nunca daquele velho Evangelho que continha Boas Novas de verdade. O que libertava. Fazia com que homens pudessem viver suas próprias vidas com a plena consciência de que não pertencem mais a si mesmos.


Homens e mulheres que não saem mais pra evangelizar, mas encarnam o evangelho de maneira tão intensa, que tudo que fazem glorifica a Deus e leva outros a glorificarem o autor e consumador da vida.


Quero uma vida desprovida de sentido. Por que agora sou livre pra servir a Cristo em qualquer circunstância, direção e tempo. E o sentido que me ensinaram a seguir desde que me converti, parece raso demais perto de tudo que Deus quer pra minha vida.


Por Ariovaldo Jr

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