terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Eclesiastes 3.1-11 em minhas próprias palavras





A vida acontece entre dois sentimentos, ambos repletos de terror: esperança e medo. A imprevisibilidade que a esperança excita, anima; o futuro indeterminado, apavora. Debaixo do céu, nunca se sabe o que acontecerá.

  • No dia do parto, esperança. Na certeza da morte, medo.
  • Na semeadura, esperança. Na desproteção de que uma praga forçará a perda da lavoura, obrigando que se arranque o que foi plantado, medo.
  • No dever de ter que assassinar (mesmo internamente) pessoas e sentimentos, medo. Na expectativa do bálsamo, poção que cura feridas impronunciáveis, esperança.
  • Na convicção de que os projetos estejam fadados ao nada, medo. Na teimosia de continuar a soerguer, reinventar ou reconstruir, esperança.
  • Na antecipação de muitas lágrimas, medo. No desejo de que os risos se alonguem, esperança.
  • Na insegurança do luto, nas câmaras lúgubres do velório, medo. Na valsa suave e delicada, no arrepio de corpos que se tocam durante a melodia, esperança.
  • Na crispação de lábios, na segurança de mãos arremessando pedras, medo. No juntar de pedras que ferem e com elas montar altares, esperança.
  • Na improvisação do abraço, esperança. No cálculo da distância segura que separa os insidiosos de abraçarem, medo.
  • Na busca do que jamais se imagina perder, esperança. Na resignação de que algumas dimensões da vida nunca serão recuperadas, medo.
  • No anseio de segurar e eternizar, esperança. Na conformidade do imperativo de deixar o tempo arrastar para o oceano do nada o que foi vivido, medo.
  • No desespero de saber que algumas dimensões carecem de serem rasgadas, descosturadas, medo. Na perseverança em dar mais um ponto, alinhavo ou remendo, esperança.
  • No discernimento do momento de tornar o silêncio maçã de ouro em bandeja de prata, esperança. No ímpeto de frisar um solene não quando todos dizem sim ou de negar quando a ordem for afirmar, medo.
  • Na capitulação de aceitar que homens e mulheres, ao contrário dos bichos, guerreiam por maldade nunca por motivos justos, medo. Depois da batalha, da vala comum, do túmulo do soldado desconhecido e da sucata bélica, esperança.

O Pregador, meticuloso, notou o modo como Deus sobrecarregou homens e mulheres: não deixou nada previsível. Todo o dia traz um potencial de angústia e desespero bem como de alegria e de boas perspectivas.


A pior das inquietações descansa na alma: incerteza. Ninguém consegue se antecipar ao porvir e nunca saberá esquadrinhar o que espera depois da morte. A eternidade não faz sentido para os finitos, a imortalidade não cabe no coração dos mortais. Devido a esse derreamento existencial, nessa prostração infinita, homens e mulheres nunca terão a resposta final para o porquê dos atos divinos: não sabem como foi o começo e só especulam sobre o fim de tudo.


Soli Deo Gloria


Por Ricardo Gondim

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