terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Espiritualidade não religiosa





Espiritualidade é não esquecer que a retina da alma retém imagens alegres e tristes. É possível guardar o rápido instante como uma relíquia. Mesmo fugaz como um raio, o minuto vivido tem a capacidade de prolongar alegrias. Basta um segundo para o ano se desdobrar em muitos. Também, punir-se com uma imagem que se repete anos a fio pode gerar culpa doentia.


Cheiros despertam sentidos inimagináveis. Em nossa animalidade, somos guiados por odores. O nariz consegue ressuscitar pessoas, lugares, eventos. O olfato é matéria prima da saudade. A cozinha materna, o lençol da infância, o perfume da viagem, tudo pode ser fonte de vida ou de morte.


É sagrado memorizar rostos. Felicidade tem pouco a ver com lugares. As pessoas que nos tocaram em determinados lugares ou praças são responsáveis por nossas histórias – boas ou más.


Não podemos esquecer de entalhar certas palavras no coração. As palavras escritas, sussurradas ou gritadas, geram alegria, decepção, tédio – mulheres e homens não vivem só de pão, mas de substantivos e verbos.


Espiritualidade depende de uma visão retrospectiva. A vida que o rio chamado tempo levou, não jaz cristalizada. O passado de todas as pessoas continua aberto, esperando para ser resignificado por decisões presentes. Dependendo da postura atual, o bem outrora vivido pode se transformar em péssima memória. Por outro lado, a vida percebida na Graça tem a capacidade de revolver o passado horroroso para que um futuro inédito aconteça.


Soli Deo Gloria


Por Ricardo Gondim

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