sábado, 24 de março de 2012

A Razão De Tomé




Há na opinião popular, mais conhecida como senso comum, a crença na incredulidade de Tomé.

 
À primeira vista quando se pensa em Tomé, pensa-se que ele não creu na ressurreição, antes duvidou e assim Jesus o advertiu de que jamais deveria duvidar, antes, ser um crente.

 
Com isto associa-se de pronto que o contrário de fé é dúvida. Duvidar, neste caso, é igual a descrer. Considero importante lembrar que o Movimento da Fé enfatizou este senso comum e praticamente afunilou os raciocínios para que de maneira geral se confundisse fé com confissão positiva. Não é preciso muito para convencer qualquer crente de que a fé cristã não é confissão positiva, mas no dia-a-dia, muito se pratica o pensamento positivo como se fosse fé.


Voltando ao nosso personagem, Tomé o Dídimo.


Jesus ressuscitou, apareceu para os discípulos que, deslumbrados, entre alegria e medo, testemunharam o inacreditável, porém Tomé não estava presente e, mesmo conhecendo bem seus amigos, disse que isto seria impossível, que não daria nenhum crédito ao testemunho se não pudesse constatar pessoalmente, de forma concreta que de fato, aquele personagem que aparecera aos seus amigos, era Jesus de Nazaré.

 
Nas palavras da NVI o registro ficou:

 
Os outros discípulos lhe disseram: "Vimos o Senhor!" Mas ele lhes disse: "Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei" (João 20:25ss)


Noutra feita, de igual forma, Jesus apareceu, porém desta vez Tomé estava presente e antes mesmo de se pronunciar Jesus se antecipou e convidou-o a tocar em suas feridas e constatar por si mesmo e concretamente que aquele que estava diante de todos e falando é o mesmo que fora assassinado cruelmente.

 
Tomé rapidamente desistiu de exigir as provas, se jogou ao chão, e adorou a Jesus.

 
Por sua vez Jesus lhe lançou um segundo convite: ... “Pare de duvidar e creia".


Apesar de a narrativa problematizar a dúvida, podemos ter um olhar mais acurado e nos perguntarmos se o problema seria a dúvida em si mesma, ou o tipo de dúvida que Tomé apresentou. Dito de outra forma: O pré-requisito exigido por Tomé para crer não serve para a fé.


Vejamos com mais detalhes.


Se você, amigo leitor, disser para mim que meu falecido pai deixou uma fortuna depositada num banco qualquer em meu nome, não basta eu dizer ao gerente, vim buscar meu dinheiro. Faz-se necessário verificar todos os registros que comprovem que há uma conta naquele banco aberta em meu nome e o quanto de dinheiro lá estaria depositado.

 
Sem as provas, ninguém, nem o presidente do banco me dariam um real sequer.

 
Isto significa o seguinte: tanto eu como o banco precisamos de provas para dar crédito àquilo que se diz ser verdadeiro.

 
Mas depois de verificar todos os comprovantes, ver a conta e o extrato, não é preciso crer, os fatos dizem o que é.

 
Acreditar naquilo que se tem comprovações factíveis, concretas e irrefutáveis não é fé, mas constatação. Tomé queria constatar concretamente a ressurreição, e Jesus lhe ensina que crer está para além da idéia de constatar fatos.


Não preciso ter fé para acreditar que estou neste exato momento escrevendo este texto, porque afinal, estou escrevendo este texto. Não é preciso ter fé para constatar que hoje podemos viajar longas distancias por vias aéreas.


Quando falamos de verdade de fé, a apreciação não é o toque, a vista, a comprovação científica, mas sim uma apreensão de alma, espiritual, um jeito de sei que sei, mas não sei como sei.


Jesus estaria dizendo a Tomé que a ressurreição foi real, que ele poderia checar com seus instrumentos de verificação, mas que esta exigência de provas para crer, diante do que de fato significa fé, não era fé.

 
Se Tomé entendesse isto seria mais bem-aventurado, mas enquanto ele exigisse comprovações, certezas empíricas para aceitar, ele ainda não havia experimentado o que de fato é fé.


Não podemos falar de verdades profundas com averiguações rasas. Ao medir uma curta distância posso fazê-lo com o metro, mas ao medir as distâncias estelares preciso usar a luz.

 
Assim, ao avaliar as coisas que existem no mundo material posso e consigo fazê-lo empiricamente, mas ao avaliar as coisas espirituais ou divinas estes métodos são inadequados, incapazes e inviáveis.


Se você quiser se aproximar de Deus, não exija provas de que Ele existe, porque quem quer se aproximar de Deus precisa crer. Sem fé é impossível uma relação genuína com Deus.

 
Tomé não foi um incrédulo por que não creu na ressurreição, mas sim porque considerou que a ressurreição e outros elementos espirituais para terem sua validade precisam de comprovações empíricas.


A fé, subjetiva, depende de abstração, tal qual Nicodemos que não conseguia entender que apesar de Jesus falar em nascer de novo, não estava falando de nascer de novo. Mas a linguagem de Jesus era apenas uma maneira de fazer com que aquilo que Nicodemos sabia fosse o meio para que ele apreendesse aquilo que não alcançava, mas desejava – uma verdade espiritual.


Em outras palavras, Tomé entendia que só poderia crer naquilo que ele pudesse provar. Jesus o corrige para que cresse. Simples assim? É uma loucura doida, dizer que a salvação é crer e ponto. Mas assim se faz a fé.


Eliel Batista


Vi no http://www.elielbatista.com/2012/03/razao-de-tome.html

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