segunda-feira, 19 de março de 2012

“Pois nele vivemos, nos movemos e existimos.”

Em muitos arraiais religiosos eu percebo com pesar um esforço olímpico para que Deus se faça presente, se manifeste, mostre a Sua glória, como se Deus estivesse na tangência da Terra esperando o momento para entrar em cena!


Deus não precisa ser invocado para se fazer presente. Deus a tudo e a todos envolve, em tudo e em todos transparece, de tudo e de todos emerge. Os teólogos dizem que é Ele é onipresente. Deus está totalmente envolvido com a história humana desde o seu nascedouro. Deus não está à parte do mundo, do lado de lá, distante. Convocar um Deus que é Todo-Presença é, no mínimo, contraditório.


Deus está conosco, seu nome é Emanuel. Sua presença se dá de forma modesta, velada e silenciosa. Como o ar que respiramos sem nos darmos conta, Deus é o nosso fôlego; como o sol, que desde o horizonte clareia o meu quarto sem que eu esteja olhando para ele, Deus me renova; como a raiz que nutre a árvore, assim é Deus - a seiva da vida. A presença de Deus é a causa da nossa existência; só vivemos porque vivemos Nele.


Orar é compartilhar com Deus, é um desabafo e não uma técnica. Não devo confiar mais em minha oração do que em Deus. Não é porque orei “corretamente” que Deus vai fazer alguma coisa. Deus não se põe em movimento por causa da oração. Deus é pura gratuidade!


Como eu vou orar sabendo que Deus não se “move” por causa da oração? Como serão minhas palavras em oração, sabendo que Deus não está “fora” para que tenha que intervir, mas que está envolvido até ao pescoço com a minha história? Como serão os termos de minha oração sabendo que eu vivo, que eu me movo e existo em Deus?


Oração de invocação quer chamar mais a minha atenção do que a atenção de Deus. Quando eu digo “vem, e visita o seu povo”, na verdade quero convocar os meus sentidos à presença de Deus: “vem, minha alma, abre os seus olhos para Deus, ouça o que Ele diz, perceba a sua presença!”. Porque na verdade não sou eu que estou esperando algo de Deus; mas é Deus que espera algo de mim. A pergunta não é minha - “onde está Deus?”, mas a pergunta é de Deus - “onde está você? Onde está o seu irmão?” (Gênesis 3,9; 4.9).


Não sou eu que invoco a Deus; é Deus que me invoca para eu dar conta de minha existência e cuidar do meu semelhante! Que vocação nobre e cheia de significado!


Márcio Cardoso.


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