quarta-feira, 1 de abril de 2009

Definições

Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo
Definições
O que os calvinistas querem dizer por Eleição Incondicional? Deve ser evidente que eleição e predestinação são termos da Bíblia usados para provar esta doutrina. E termos bíblicos eles são. É a deturpação calvinista destes termos que está sendo questionada. Antes de iniciar uma discussão sobre eleição e predestinação, ou no que diz respeito ao assunto, qualquer discussão, primeiro é necessário definir exatamente o que está em discussão. As palavras eleição e predestinação devem primeiro ser definidas de acordo com seus significados comuns, usuais, antes de carregar para a Bíblia e tentar determinar seu significado de acordo com idéias e opiniões preconcebidas. Um simples dicionário é algumas vezes a primeira ferramenta que precisamos para iniciar um estudo da Bíblia. A palavra eleger significa “selecionar” ou “escolher.” A cada quatro anos temos uma eleição onde escolhemos um candidato. Não há nada de especial acerca do significado da palavra. A outra temida palavra é predestinação. Desta palavra, as formas predestinar e predestinado ocorrem, cada uma, somente duas vezes na Escritura. Predestinar obviamente é uma palavra composta formada do prefixo pre, que significa “antes,” e destinar, que significa “determinar,” por isso predestinar, significando “determinar de antemão.” As questões a ser respondidas claramente não são o que eleição e predestinação denotam mas, antes, quem ou o que é eleito? Por que eles foram eleitos? Para que eles foram eleitos? Assim, embora sustente opiniões extremadas sobre a eleição, Pink todavia está correto quando mantém: “Devido ao fato que os termos ‘predestinado,’ ‘eleito’ e ‘escolhido’ ocorrem tão freqüentemente na Bíblia, alguém certamente concluiria que todos que alegam aceitar as Escrituras como divinamente inspiradas receberiam com fé irrestrita esta grandiosa verdade.”[1] Mas como o calvinista Storms corretamente supõe: “Claramente os termos usados no Novo Testamento não nos diz, de si mesmos, alguma coisa definitiva sobre a base da eleição divina. Essa questão deve ser determinada pelo modo no qual cada termo é usado, assim como outras afirmações relevantes em cada contexto.”[2]

Ainda que veremos adiante neste capítulo que os calvinistas têm um significado teológico preciso para as palavras eleição e predestinação, eles mesmos usam os termos intercambiavelmente conforme aplicam à escolha de Deus de certos indivíduos a serem salvos. Assim, para descobrir o que os calvinistas querem dizer por Eleição Incondicional, um apelo é agora feito aos próprios calvinistas. Embora crendo na doutrina, Sproul lamenta que “o termo eleição incondicional pode ser enganador e grosseiramente abusado.”[3] Com isto não poderíamos concordar mais, e iremos ainda além, desconsiderando não apenas o termo, mas a doutrina também. Alguns calvinistas preferem o termo “eleição soberana,”[4] enquanto “graça soberana” é a denominação preferida dos batistas calvinistas.[5] Mas chamem como quiser, o abuso e mal emprego da predestinação e da eleição encontrado na doutrina da Eleição Incondicional é o mesmo.

Ao definir a Eleição Incondicional, todos os calvinistas, sejam batistas, reformados ou “outros,” dizem basicamente a mesma coisa, enfatizando diferentes aspectos:

Todos que finalmente serão salvos, foram escolhidos para salvação por Deus Pai, antes da fundação do mundo, e dados a Jesus Cristo na aliança da graça.[6]

Eleição é, portanto, aquele decreto de Deus que Ele eternamente faz, pelo qual, com liberdade soberana, Ele escolhe para Si mesmo um povo, sobre quem Ele determina dirigir Seu amor, quem Ele resgata do pecado e da morte através de Jesus Cristo, para Si mesmo em glória eterna.[7]

Queremos dizer, portanto, por esta doutrina, que Deus, na eternidade, escolheu ou selecionou dentre a humanidade quem Ele salvaria (por meio da morte de Cristo e da obra do Espírito Santo), por nenhuma outra razão senão Seu próprio sábio, justo e gracioso propósito.[8]

Estas especulações calvinistas têm permeado tanto todo o espectro da teologia que não importa qual teologia sistemática ou dicionário teológico você consulta, lá estarão presentes estas concepções falsas da eleição.[9]

Também seria oportuno examinar como a Confissão de Fé de Westminster e os Cânones de Dort descrevem a Eleição Incondicional:

Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna.[10]

Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual Ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça pura. Estas são escolhidas de acordo com o soberano bom propósito de sua vontade, dentre todo o gênero humano, decaído pela sua própria culpa de sua integridade original para o pecado e a perdição. Os eleitos não são melhores ou mais dignos que os outros, porém envolvidos na mesma miséria dos demais. São escolhidos em Cristo, quem Deus constituiu, desde a eternidade, como Mediador e Cabeça de todos os eleitos e fundamento da salvação.[11]

Assim, de acordo com os calvinistas, a Eleição Incondicional é um decreto soberano, eterno, onde Deus escolhe quem será salvo e quem se perderá. Não é de admirar o que Tom Nettles afirma da Eleição Incondicional: “Talvez uma das mais temidas e ignoradas doutrinas no evangelicalismo contemporâneo.”[12]

[1] Arthur W. Pink, The Doctrines of Election and Justification (Grand Rapids: Baker Book House, 1974), p. 12.
[2] Storms, Chosen for Life, p. 18.
[3] Sproul, Chosen by God, p. 155.
[4] Coppes, p. 56; Sproul, Chosen by God, p. 155; Morton Smith, p. 7.
[5] Veja qualquer edição da The Berea Baptist Banner ou do The Baptist Examiner.
[6] John L. Dagg, Manual of Theology and Church Order (Harrisonburg: Sprinkle Publications, 1982), p. 309.
[7] Herman Hanko, “Unconditional Election,” em Hanko, et al., The Five Points of Calvinism, p. 33.
[8] Beck, p. 12.
[9] J. Oliver Buswell, A Systematic Theology of the Christian Religion (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1962), vol. 2, pp. 149-150; Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics (Grand Rapids: Reformed Free Publishing Association, 1966), p. 161; Millard J. Erickson, Christian Theology (Grand Rapids: Baker Book House, 1985), p. 346; A. A. Hodge, Evangelical Theology (Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1976), pp. 126-127; James P. Boyce, Abstract of Systematic Theology (North Pompano Beach: den Dulk Christian Foundation, n.d.); p. 347); Wayne A. Grudem, Systematic Theology (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1994), p. 670; William G. T. Shedd, Dogmatic Theology, 2a ed. (Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1980), vol. 1, p. 426; Thomas P. Simmons, A Systematic Study of Bible Doctrine, 6a ed. (Clarksville:Bible Baptist Books & Supply, 1979), p. 194; The Zondervan Pictorial Bible Dictionary (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1967), s.v. “Election,” p. 242; Floyd H. Barackman, Practical Christian Theology (Old Tappan: Fleming H. Revell, 1984), p. 247; James M. Pendleton, Christian Doctrines (Valley Forge: Judson Press, 1906), p. 107; Emery H. Bancroft, Christian Theology, 2a ed. rev. (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1976), p. 237; Baker’s Dictionary of Theology, s.v. “Elect, Election,” p. 179; Evangelical Dictionary of Theology, s.v. “Elect, Election,” p. 348; Berkhof, Theology, p. 114; Strong, p. 779; Dagg, p. 309; Charles Hodge, Theology, vol. 2, p. 333; Chafer, Theology, vol. 7, pp. 134-135.
[10] Confissão de Fé de Westminster, III:3.
[11] Cânones de Dort, I:7.
[12] Nettles, By His Grace, p. 267.

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