quarta-feira, 1 de abril de 2009

Sistemas Lapsários

Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo
Sistemas Lapsários
Se Deus tem somente um decreto, e também preordenou todas as coisas, então, e quanto aos decretos da eleição e predestinação sobre os quais ouvimos tanto? Qual é a diferença, se é que há alguma, entre a eleição e a predestinação? Visto que a natureza técnica desta discussão contribui para que o brado da deturpação seja levantado pelos calvinistas, tudo dito sobre os diferentes aspectos do decreto de Deus será exposto e definido pelos próprios calvinistas.

Conforme mencionado anteriormente, no pensamento calvinista, Deus tem um decreto. Este decreto é de natureza eterna e abrange todas as coisas. W. E. Best resume a posição calvinista: “Os decretos de Deus podem ser considerados como um único decreto complexo que inclui todas as coisas. A extensão do decreto de Deus cobre tudo antes do tempo, durante o tempo e depois do tempo. É imutável. Não há nenhuma mudança no propósito divino. Nenhuma ação nova jamais entrará na mente divina. Além disso, não haverá nenhuma reversão do plano divino.”[1] Conforme a Confissão de Fé de Westminster:

Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna.[2]

Então, particularmente falando, a parte deste decreto que se ocupa dos destinos eternos dos homens e dos anjos é denominada predestinação; entretanto, como Charles Hodge conta: “A palavra predestinação é ambígua.”[3] Algumas vezes a predestinação é usada para descrever o próprio decreto enquanto outras vezes ela se refere à atual eleição dos homens para a salvação. Na realidade, entretanto, ela é exatamente como Machen a descreve: “A doutrina da predestinação é apenas a doutrina dos decretos divinos que se referem à esfera específica da salvação.”[4] O fato de que a predestinação na Bíblia não tem nada a ver com os decretos de Deus é irrelevante por enquanto.

Esta predestinação é ainda dividida em duas partes: eleição e reprovação. Para confirmação destas distinções, citamos Berkhof e o teólogo da igreja Presbiteriana do Sul John Girardeau (1825-1898):

A predestinação inclui duas partes, a saber, a eleição e a reprovação, a predeterminação de ambos, bons e maus, para seu fim último, e para certos fins próximos que são instrumentais na realização de seu destino final.[5]

A Predestinação é, pelos teólogos calvinistas, considerada como um decreto geral que inclui sob ele a Eleição e a Reprovação como decretos específicos: o primeiro predestina alguns seres humanos, sem consideração com seu mérito, para a salvação, para a glorificação da graça soberana de Deus; o último preordenando alguns seres humanos, por seus pecados, para a destruição, para a glorificação da justiça retributiva de Deus.[6]

A natureza confusa desta terminologia é explicada por Sproul: “Geralmente o termo eleição é usado como sinônimo de predestinação. Tecnicamente isto está incorreto. O termo eleição se refere especificamente a um aspecto da predestinação divina: a escolha de Deus de certos indivíduos para ser salvos.”[7] Mas deve também ser lembrado, como Pink explica, que “a predestinação diz respeito a todas as criaturas, coisas e eventos; mas a eleição está restrita aos seres racionais – anjos e humanos.”[8]

O debate na teologia reformada relaciona-se não com a extensão, nem com a natureza eterna dos decretos, mas, antes, com a ligação dos decretos da eleição e da reprovação com a Queda. Dentro do âmbito das opiniões divergentes mantidas pelos calvinistas, surgem três sistemas lapsários do pensamento calvinista: o supralapsarianismo, o infralapsarianismo e o sublapsarianismo. Best explica como estes sistemas contraíram seu nome principal: “A palavra lapsário vem do latim lapsus que significa a ‘doutrina da queda.’”[9] Pela razão de suporem que o decreto de Deus seja único, eterno, os títulos destes sistemas se aplicam, não à ordem real dos decretos em relação à Queda, mas à ordem lógica, como Berkhof confirma: “A eternidade do decreto também indica que a ordem na qual os elementos diferentes nele mantêm entre si não podem ser considerados como temporal, mas somente como lógico.”[10] Isto é importante ter em mente, pois significa que todos os detalhes que se seguem sobre a ordem dos supostos decretos de Deus não passam de pura suposição. Mas, visto que ele é imprescindível para um entendimento adequado do Calvinismo, é importante continuarmos.

Entre os calvinistas de cinco pontos, o ponto de vista da minoria, devido às suas implicações ameaçadoras, é o supralapsarianismo, supra, do latim “acima,” e a palavra para a Queda, lapsus. Este esquema diz que Deus decretou a eleição enquanto os homens eram creabilis et labilis (certos de serem criados e de cair). O ponto de vista oposto é o infralapsarianismo, do latim infra, que significa “abaixo,” e lapsus. Por causa da acusação de que o supralapsarianismo torna Deus o autor do pecado e é a causa direta da condenação dos homens, a maior parte dos calvinistas tem se desviado para a posição “infra” na qual os homens são considerados creatus et lapsus (criados e caídos). A diferença inicial entre estes sistemas é habilmente afirmado por Berkouwer: “Originalmente era uma questão de diferentes interpretações da relação entre a predestinação e a queda. A pergunta surgiu se no conselho de Deus a queda do homem tinha sido desejada por Ele.”[11] Isto naturalmente levou a uma diferença na interpretação da maneira da rejeição dos “não-eleitos.” O resultado do primeiro ponto de vista foi a condenação dos rejeitados de acordo com o beneplácito de Deus, enquanto o último alegava basear a causa fundamental da condenação no pecado do homem. Destas disputas surgiu a questão sobre a sucessão dos decretos de Deus relacionados à Queda – um colocando a eleição e a reprovação acima (antes) da Queda e o outro abaixo (depois) da Queda.

Os assim chamados decretos de Deus no sistema supralapsarianismo são como segue:

1. Eleição e reprovação
2. Criação
3. Queda
4. Expiação para os eleitos
5. Salvação para os eleitos

Dessa forma, neste sistema, como Berkouwer mais uma vez pertinentemente afirma, a Criação e a Queda “formam, por assim dizer, o meio pelo qual se concretiza aquele decreto da predestinação original.”[12] Isto é, Deus primeiramente decidiu eleger alguns homens para o céu e reprovar os outros homens ao inferno, de forma que ao criá-los, ele os fez cair, usando Adão como um bode expiatório, de forma queorma queo enviar os "e Deus fosse gracioso em enviar os " sido desejada por Ele. pareceria que Deus foi gracioso ao enviar os “eleitos” ao céu e justo ao enviar os “reprovados” ao inferno. A característica distintiva deste esquema é seu decreto positivo da reprovação. A reprovação é a condenação deliberada, preordenada, predestinada de milhões de almas ao inferno como resultado do soberano beneplácito de Deus e conforme o “conselho da sua vontade” (Ef 1.11). Este ensino tem historicamente sido a parte mais repulsiva do sistema TULIP.

Visto que obviamente é contrário às Escrituras e repugnante, o supralapsarianismo tem estado sujeito a muita crítica. Porque foi uma importante questão em seu tempo, Arminius comentou longamente sobre este sistema. Ele cria que esta doutrina da predestinação era

repugnante à natureza de Deus,
repugnante à justiça de Deus,
repugnante à bondade de Deus,
contrária à natureza do homem,
diametralmente oposta ao ato da criação,
em evidente oposição à natureza da vida eterna,
oposta à natureza da morte eterna,
inconsistente com a natureza e propriedades do pecado,
repugnante à natureza da graça divina,
injuriosa à glória de Deus,
altamente desonrosa a Jesus Cristo nosso Salvador,
nociva à salvação dos homens, e
em evidente oposição ao ministério do Evangelho.[13]

Ele acusou o supralapsarianismo de tornar Deus um pecador,[14] e concluiu que esta doutrina da predestinação tinha sido rejeitada, tanto agora quanto anteriormente, pela vasta maioria dos cristãos.[15]

Não foi apenas o temido Arminius que se opôs ao supralapsarianismo. O editor da International Standard Bible Encyclopedia original, James Orr (1844-1913), tinha sua própria opinião:

Uma doutrina deste tipo, que nos manda pensar em seres ainda não concebidos como criados (por essa razão somente possíveis) – para não dizer como pecadores – reservados para a bem-aventurança ou miséria eterna, e da queda e redenção como simplesmente meios para efetuar esse propósito, é uma que nenhum pretexto de consistência lógica jamais fará a mente humana aceitar, e que com certeza irá provocar revolta contra todo o sistema ao qual ele está associado.[16]

O Rei Tiago da Inglaterra, que mandou delegados ao Sínodo de Dort, apesar disso confessou abertamente contra este sistema:

Esta doutrina é tão horrível, que eu estou persuadido que, se houvesse um concílio de espíritos imundos reunidos no inferno, e seu príncipe o diabo fosse colocar a questão a todos eles em geral, ou a cada um em particular, para aprender sua opinião sobre o meio mais provável de incitar o ódio dos homens contra Deus seu Criador; nada poderia ser inventado por eles que seria mais eficaz para este propósito, ou que poderia colocar uma afronta maior sobre o amor de Deus pela humanidade, do que esse infame decreto do recente Sínodo, e a decisão dessa detestável fórmula, pela qual a imensa maioria do raça humana é condenada ao inferno por nenhuma outra razão senão a mera vontade de Deus, sem qualquer consideração pelo pecado; a necessidade de pecar, assim como a de ser condenado, estando fixado sobre eles por esse grande prego do decreto previamente mencionado.[17]

Mas como em breve veremos, são os próprios calvinistas que condenam esta doutrina.

Visto que os adeptos do supralapsarianismo são a minoria, e a doutrina parece um tanto extremada, freqüentemente se refere a ela como hiper-Calvinismo por aqueles calvinistas que querem desviar a atenção do que eles realmente crêem e por meio disso fazer sua forma de Calvinismo parecer bíblica. Boettner é típico: “Hoje em dia é provavelmente seguro dizer que não mais do que um em cem calvinistas afirma o ponto de vista do supralapsarianismo. Somos calvinistas vigorosos o suficiente, mas não ‘calvinistas ao extremo.’ Por ‘calvinista ao extremo’ queremos dizer alguém que afirma o ponto de vista supralapsário.”[18] O jeito mais fácil de finalizar este desvio é opor o Arminianismo contra o hiper-Calvinismo e então tomar o Calvinismo comum como uma posição moderada. Isto faz o Calvinismo parecer ortodoxo. Assim, em 1990, Talbot e Crampton publicaram um livro chamado Calvinismo, Hyper-Calvinism and Arminianism, no qual eles atacam o que são denominados pontos de vistas extremados para que eles possam se acomodar confortavelmente no meio, esperando que ninguém note a diferença. Mas como sucintamente mencionado no capítulo um, o termo hiper-Calvinismo é altamente ambíguo e diz respeito à prática e não à profissão de alguém. A maioria dos calvinistas não somente não se preocupa com ataques ao hiper-Calvinismo, eles próprios os fazem. Eles usam o termo para fazerem-se parecer ortodoxo da mesma forma que eles usam o rótulo arminiano.

O sistema do supralapsarianismo não é o hiper-Calvinismo e nem vai além dos ensinos de João Calvino. Apesar da esmagadora evidência ao contrário, alguns têm afirmado que Beza e outros distorceram o “Calvinismo de Calvino” ao promover o ponto de vista supralapsário.[19] Custance alega que Calvino começou “supra” mas enfraqueceu sua posição anos depois.[20] Ele chama Beza o “mais ultra-calvinista da época.”[21] Best insiste que “Calvino podia ser classificado como nem infralapsário nem supralapsário. Ele tendeu mais para o infralapsarianismo.”[22] Schaff afirma que Calvino “levou a doutrina dos decretos divinos além do infralapsarianismo agostiniano” para “a própria beira do supralapsarianismo.”[23] Alguns mantêm que Calvino nunca afirmou esta crença,[24] enquanto outros que Calvino não se expressou claramente ou consistentemente sobre esta questão.[25] Enquanto a consistência não era um dos maiores atributos de Calvino, tampouco ela deve ser encontrada na maioria dos outros calvinistas. A maioria dos calvinistas, incluindo A. A. Hodge e Berkhof, que discordam de Calvino neste ponto, assim como os não-calvinistas, reconhecem que Calvino afirmou a posição “supra.”[26] A única razão para haver alguma dúvida é, como a Expiação Limitada, que a questão não tinha alcançado tal proeminência na época de Calvino que ela exigia seu próprio vocabulário para entendê-la. Um fator na determinação da posição de Calvino é, como afirmado pelo teólogo reformado holandês, Klass Dijk (1885-1968), que “a apresentação supra é a da Reforma.”[27] Lutero, Zwínglio e Bucer sendo os principais exemplos, e Bullinger e Melanchthon os discordantes. Por isso, o supralapsarianismo é a posição original do Calvinismo.

A melhor e a única honesta maneira de ver exatamente o que Calvino acreditava sobre a predestinação é ir diretamente aos seus escritos. “Calvino,” somos informados pelo ex-professor do Calvin Theological Seminary Fred Klooster, “não inventou a doutrina da predestinação, nem foi ele o primeiro a ensiná-la claramente. Entretanto, o nome de Calvino se tornou inseparavelmente ligado a esta doutrina, provavelmente porque ele, mais do que qualquer outra pessoa, foi chamado a defender a predestinação contra todo tipo de oposição.”[28] Então, como mencionado previamente, embora Calvino não foi o criador desse sistema teológico que enfatiza a predestinação, conhecido comumente como Calvinismo, ele obviamente teve tão forte ligação com ele que seu nome está inseparavelmente ligado a ele.

Embora Klooster afirma que Calvino “não se ocupou com raciocínio especulativo, insípido, teórico ao discutir a predestinação,”[29] a predestinação de Calvino tem sido convenientemente descrita como: absoluta, particular, dupla.[30] Esta designação é verdadeira, e agora veremos direto da pena de Calvino exatamente o que ele acreditava sobre a predestinação conforme está registrado em suas Institutas:

Chamamos predestinação o eterno decreto de Deus pelo qual houve por bem determinar o que acerca de cada homem quis que acontecesse. Pois ele não quis criar a todos em igual condição; ao contrário, preordenou a uns a vida eterna; a outros, a condenação eterna. Portanto, como cada um foi criado para um ou outro desses dois destinos, assim dizemos que um foi predestinado ou para a vida, ou para a morte.[31]

Portanto, estamos afirmando o que a Escritura mostra claramente: que designou de uma vez para sempre, em seu eterno e imutável desígnio, àqueles que ele quer que se salvem, e também àqueles que quer que se percam. Este desígnio, no que respeita aos eleitos, afirmamos haver-se fundado em sua graciosa misericórdia, sem qualquer consideração da dignidade humana; aqueles, porém, aos quais destina à condenação, a estes de fato por seu justo e irrepreensível juízo, ainda que incompreensível, lhes embarga o acesso à vida.[32]

Klooster afirma que “quase tudo que Calvino ensinou a respeito da predestinação está incluído nestes dois resumos.”[33] Ele sustenta que “a doutrina da predestinação de Calvino é sua tentativa de fielmente ecoar o que ele ouviu das Escrituras.”[34]

Excetuando estas “duas compreensivas definições,”[35] talvez a declaração mais vergonhosa que Calvino já emitiu foi seu decretum horribile:

De novo, pergunto: Donde vem que tanta gente, juntamente com seus filhos infantes, a queda de Adão lançasse, sem remédio, à morte eterna, a não ser porque a Deus assim pareceu bem? Aqui importa que suas línguas emudeçam, de outro modo tão loquazes. Certamente confesso ser esse um decreto espantoso. Entretanto, ninguém poderá negar que Deus já sabia qual fim o homem haveria de ter, antes que o criasse, e que ele sabia de antemão porque assim ordenara por seu decreto.[36]

É sobre esta palavra horrível que o escritor de hinos Charles Wesley baseou alguns de seus versos contra o Calvinismo:

Ó Decreto Horrível,
Digno do lugar de onde veio!
Perdoe a blasfêmia infernal
Que lançam sobre o Cordeiro![37]
Deus, sempre clemente e justo,
Encheu o Inferno de bebês recém-nascidos;
Para tormentos eternos os empurra para baixo;
Somente para mostrar Sua vontade soberana.
Este é aquele Decreto Horrível!
Esta é aquela sabedoria de baixo!
Deus (Ó, abomine a Blasfêmia!)
Tem prazer na morte do pecador.[38]

Agora, é verdadeiro, como Clark explica, que “em latim horrível não significa horrível. Significa ‘o que inspira reverência,’”[39] mas, apesar disso, o pensamento é horrível.

Para concretizar os resultados de seu sistema da predestinação, Calvino necessariamente cria que Deus diretamente ordenou a queda de Adão:

Eu desembaraçadamente reconheço que minha doutrina é esta: que Adão caiu, não apenas pela permissão de Deus, mas por Seu próprio conselho e decreto secretos; e que Adão arrastou toda a sua posteridade consigo, por sua queda, em eterna destruição.[40]

Eu, ao mesmo tempo, testifico como minha solene confissão que o que quer que aconteceu a, ou sobreveio a Adão foi assim ordenado por Deus.[41]

Não precisa dizer que Calvino também cria que todas as coisas foram preordenadas pelo eterno e soberano decreto de Deus:

Deus certamente decretou desde o princípio tudo que sobreviria à raça do homem.[42]

Minha doutrina é que a vontade de Deus é a causa primeira e suprema de todas as coisas.[43]

Ele sabia de antemão porque assim ordenara por seu decreto.[44]

Mas, por que diremos que o permite, senão porque assim o quer?[45]

Nada acontece senão o que ele, consciente e deliberadamente, o tenha decretado.[46]

No final de sua obra sobre a predestinação, Calvino até mesmo afirma: “Ninguém jamais tentará contestar a doutrina que eu tenho demonstrado neste livro, senão aquele que possa imaginar-se ser mais sábio do que o Espírito de Deus.”[47] Calvino muito bem merece ter o sistema TULIP nomeado em sua honra.

Após Calvino, Beza firmemente sustentou esta forma rígida do Calvinismo:

Não é satisfatório identificar a massa como a raça humana já caída e corrupta, pois Paulo aqui busca causas anteriores e concentra-se na misericórdia e justiça de Deus e a manifestação da glória divina em um decreto justo.[48]

O ponto é que Deus decreta por seu direito e conforme a sua vontade apenas. Quão grande insulto a Deus seria se concebêssemos seu decreto baseando-se sobre o resultado de atividade humana, ou formar uma hipótese de um segundo decreto divino, um decreto reativo, subseqüente à corrupção da criatura.[49]

Em seguida, descobrimos dois oponentes de Arminius continuando a tradição supralapsariana: o professor de Cambridge William Perkins e o professor de Leiden Franciscus Gomarus.[50] A influência de Gomarus, entretanto, não foi suficiente para convencer o Sínodo de Dort a decidir em favor da posição “supra.”[51] William Twisse, o moderador da Assembléia de Westminster, igualmente fracassou em incorporar na Confissão de Westminster suas concepções supralapsarianas.[52] Berkhof até mesmo diz que ele desenvolveu a predestinação a “uma forma supralapsária um tanto extremada.”[53] O batista particular John Gill também aderiu à concepção “supra,” mas buscou incorporar elementos do que é agora conhecido como infralapsarianismo para evitar que Deus seja o autor do pecado. Sobre os dois sistemas, Gill admitiu:

Creio que ambos podem estar incluídos, que no decreto do fim, o fim último, a glória de Deus, do qual ele faz todas as coisas, os homens podem ser considerados na mente divina como capazes de ser criados, mas ainda não criados e caídos, e que no decreto dos meios, que, entre outras coisas, inclui a mediação de Cristo, a redenção por ele e a santificação do Espírito, eles podem ser considerados como criados, caídos e pecadores, o que estas coisas sugerem.[54]

Embora não muitos batistas têm se identificado com esta doutrina, há um batista na história que ousadamente proclama seu supralapsarianismo:

Este escritor firmemente (após um prolongado estudo) assume a posição supralapsária, embora ele está bem ciente de que poucos na verdade estarão dispostos a segui-lo.[55]
Eu sou um vigoroso supralapsário, e em meu humilde julgamento, qualquer um que não está firmemente seguro com certeza irá se perder em seu subseqüente pensamento e postulados.[56]

Esta pessoa, obviamente, é Arthur W. Pink, de quem um de seus biógrafos corretamente disse que “foi responsável por muitos pastores se transformarem em calvinistas.”[57] Publicado em 1918, a primeira edição de 2000 cópias de seu livro The Sovereignty of God foi compreensivelmente difícil de vender.[58] Desta obra, Arno Gaebelein (1861-1945) observou:

O Sr. Pink era um contribuidor para a nossa revista. Seus artigos sobre Gleanings on Genesis são bons, e os imprimimos no formato de livro. Mas quando ele começou a ensinar sua doutrinas assustadoras que trasformavam o Deus de Amor em um monstro rompemos a sociedade com ele. O livro que você leu é totalmente anti-bíblico. Ele beira à blasfêmia. Ele apresenta Deus como um Ser de injustiça e difama Seu caráter santo. O livro nega que nosso bendito Senhor morreu pelos ímpios. De acordo com as perversões de Pink, Ele morreu apenas pelos eleitos. Você não é o único que foi levado para a escuridão por este livro. Quem quer que seja o editor, e quem quer que esteja por trás da circulação dessa coisa monstruosa tem uma grave responsabilidade. É exatamente este tipo de ensino que transforma pessoas em ateístas.[59]

Imagina-se que Pink começou como um infralapsário e então passou para a posição do supralapsarianismo.[60] Isto poderia ser deduzido de uma passagem no livro de Pink, The Sovereignty of God: “O decreto de Deus da Reprovação contemplou a raça de Adão como caída, pecadora, corrupta, culpada.”[61] Entretanto, Pink, como todos os calvinistas, algumas vezes se contradiz:

Deus teve uma razão definida por que criou os homens, um propósito específico por que criou este e aquele indivíduo, e em virtude da destinação eterna de Suas criaturas, Ele propôs que um passaria a eternidade no Céu e o outro passaria a eternidade no Lago de Fogo.[62]

Se houve alguns dos descendentes de Adão a quem Ele propôs não dar fé, deve ser porque Ele ordenou que eles fossem condenados.[63]

Se, por conseguinte, Deus preordenou tudo quanto acontece, então Ele deve ter decretado que um grande número de seres humanos passaria deste mundo sem ser salvo para sofrer eternamente no Lago de Fogo. Admitindo a premissa geral, a conclusão não é inevitável?[64]

Como foi mencionado no capítulo 1, porque as opiniões de Pink foram julgadas tão radicais, a edição de 1961 da The Banner of Truth Trust de The Sovereignty of God eliminou o capítulo sobre a reprovação, alegando que sua edição mais precisamente apresentava o “pensamento maduro de Pink.”[65]

Os provedores da forma supralapsária do Calvinismo são o povo reformado holandês. Nenhum dos teólogos presbiterianos importantes (Hodge, Dabney, Shedd) defendia esta posição. Entretanto, entre os holandeses não há acordo unânime. Kuyper, Vos e Van Til mantinham o supralapsarianismo,[66] enquanto Berkhof e Bavinck buscavam sintetizar os ideais “supra” e “infra.”[67] Um conflito entre os lados oponentes do debate culminou no Sínodo de Utrecht em 1905, que concluiu: “Que nossas Confissões, certamente com respeito à doutrina da eleição, seguem a apresentação infralapsária,” mas que “isto de forma alguma significa uma exclusão ou condenação da apresentação supralapsária.”[68] A tradição da “apresentação supralapsária” sobrevive hoje quase exclusivamente na Igreja Reformada Protestante, uma cisão da Igreja Reformada Cristã. Seu principal teólogo é Herman Hoeksema, que ousadamente afirmou: “Nós portanto nos colocamos sem reserva no ponto de vista do supralapsarianismo, e sustentamos que esta é a apresentação bíblica e a única consistente do decreto da predestinação de Deus.”[69] A coisa curiosa sobre esta doutrina é sua insistência que Deus decretou a eleição e a reprovação dos homens antes de sua criação. Por esta razão o teólogo reformado Otto Ritschl (1860-1944) mais corretamente o denominou “supracriacionismo.”[70] Mas o debate diz respeito à Queda, não à criação do homem. Isto torna o supralapsarianismo duplamente sujeito à crítica. O fato que os reprovados são condenados por seus pecados é apenas uma intenção adicional, pois de acordo com este sistema, Deus decretou a condenação dos homens e os criou explicitamente para esse propósito. A criação, a Queda e o pecado foram apenas meios para a concretização da vontade soberana de Deus.

Para evitar tornar Deus o autor do pecado e outras abomináveis implicações do “decreto horrível” de Calvino, o sistema original tem sido modificado numa tentativa de torná-lo agradável. Este esquema híbrido é conhecido como infralapsarianismo. Como mencionado anteriormente, os decretos da eleição e reprovação neste sistema são abaixo (infra) da Queda (lapsus), significando depois dela. Este coloca a ordem dos decretos como segue:

1. Criação
2. Queda
3. Eleição e reprovação
4. Expiação para os eleitos
5. Salvação para os eleitos

Nenhum dos decretos modificou, somente a suposta ordem é diferente. É como se alguém dissesse à Sra. Lincoln: “Com exceção disso, o que achou da peça?” Mas, apesar de sua localização, o decreto da eleição é o mesmo em ambos os sistemas; é o decreto da reprovação que perturba os infralapsários.

A maneira que os supralapsários falam do decreto da reprovação é preocupante aos infralapsários. Eles (os “infra”) preferem falar da reprovação como um decreto negativo ou permissivo e objetam quando falam dele em termos de um decreto positivo.[71] Isto é compreensível, visto que os aspectos positivos da reprovação são um tanto nefastos. Embora Gill preferia o termo rejeição “porque a outra palavra reprovação, pelas idéias errôneas e assustadoras que a ela são adicionadas, carrega nela, com muitos, um som áspero e desagradável,”[72] ele fundamentava a condenação dos rejeitados no beneplácito da vontade de Deus: “A causa motriz ou motivadora de Deus fazer tal decreto, pelo qual ele rejeitou alguns da raça de Adão de seu favor, não é o pecado, mas o beneplácito de sua vontade.”[73] Calvino igualmente baseou a condenação dos reprovados em Deus mesmo:

Portanto, aqueles a quem criou para vileza de vida e ruína de morte, a fim de que venham a ser instrumentos de sua ira e exemplos de sua severidade, para que atinjam a seu fim, ora os priva da faculdade de ouvir sua palavra, ora mais os cega e os endurece por meio de sua pregação.[74]

Mui longe está de admissível, pois, transferir a preparação para a perdição a outro fator fora do conselho secreto de Deus.[75]

O teólogo reformado protestante David Engelsma continua o legado de Calvino conforme se vê por sua concepção positiva, supralapsária, da reprovação:

A Escritura ensina que a reprovação é o decreto soberano, incondicional, de Deus para condenar alguns pecadores. Esta é a implicação inevitável da doutrina bíblica que Deus incondicionalmente escolheu alguns homens, não todos, para a vida eterna.[76]

A reprovação afirma que Deus eternamente odeia alguns homens, imutavelmente decretou sua condenação, e determinou negar-lhes Cristo, graça, fé e salvação.[77]

Não é de se estranhar que Boettner lamenta a propensão dos arminianos em concentrar-se na reprovação “como se fosse a soma e substância do Calvinismo.”[78] Dessa forma, não é nenhuma surpresa que John Wesley foi muito sincero em se opor a este sistema:

Cante, Ó inferno, e regozijeis, vós que estais debaixo da terra! Pois Deus, o próprio Deus todo-poderoso, tem falado, e condenado à morte milhares de almas, do nascer ao pôr do sol! Aqui, Ó morte, o seu aguilhão! Eles não fugirão nem podem fugir; pois a boca do Senhor tem falado. Aqui, Ó sepultura, sua vitória. Nações ainda não nascidas, antes de terem feito bem ou mal estão destinadas a nunca ver a luz da vida, mas tu irás consumi-las para todo sempre! Deixais todas as estrelas da manhã cantarem juntas, que caíram com Lúcifer, filho da manhã! Deixais todos os filhos do inferno exultarem de alegria! Pois o decreto já foi feito, e quem poderá anulá-lo?[79]

Apesar de suas visíveis diferenças, ambos os grupos estão unidos em seu reconhecimento da reprovação, como visto pelas palavras do supralapsário Homer Hoeksema e do infralapsário Loraine Boettner:

A verdade da eleição e da reprovação ficam em pé ou caem juntas. Negar a eleição é negar a reprovação. Negar a reprovação é negar a eleição. Crer na eleição é crer na reprovação. Crer na reprovação é crer na eleição.[80]

Aqueles que sustentam a doutrina da Eleição mas negam a da Reprovação podem reivindicar pouca consistência. Afirmar a primeira e negar a segunda torna o decreto da predestinação um decreto ilógico e assimétrico.[81]

Assim, ainda que ambos os grupos crêem na “dupla predestinação,” eles abordam o assunto diferentemente. Como Sproul observa: “A questão então não é se a predestinação é dupla, mas como ela é dupla.”[82] A concepção de que a eleição e a reprovação são simétricas é algumas vezes chamada de “final igual.” Sproul é rápido para nos contar que “embora o Calvinismo certamente adere a um tipo de dupla predestinação, isto não envolve final igual.”[83] Ele considera esta doutrina “sub-Calvinismo” ou “anti-Calvinismo.”[84] Mas, para confundir as coisas, Best mantém que os infralapsários “não admitem a dupla predestinação,” é somente os supralapsários que “crêem na dupla predestinação.”[85] Agora, o que Best quer dizer por dupla predestinação é a doutrina do final igual. Assim, ao distinguir um calvinista de outro, é importante entender como eles definem seus termos.

Para desviar a atenção do decreto positivo da reprovação, os adeptos da apresentação “infra” se unem aos arminianos no ataque ao sistema “supra.” Boettner, copiando Warfield,[86] sustenta que “o supralapsarianismo vai até o extremo de um lado, como faz o universalismo do outro. Somente o esquema infralapsário é em si consistente com outros fatos.”[87] Shedd observa que “a ordem supralapsária está sujeita à acusação de que ‘Deus cria alguns homens a fim de condená-los,’ porque a criação resulta da reprovação. A ordem infralapsária não está sujeita a esta acusação.”[88] Spurgeon insiste que “é uma doutrina que nós detestamos tanto quanto os próprios arminianos.”[89] Sproul tenta chocar seus leitores com um apelo emocional: “Alguns argumentam que Deus primeiro predestinou algumas pessoas à salvação e outras à condenação, e então decretou a Queda para ter certeza de que algumas pessoas iriam perecer. Algumas vezes esta visão pervertida é atribuída mesmo a calvinistas. Esta idéia era repugnante a Calvino.”[90]

A maneira que os infralapsários tornam a reprovação agradável é dividi-la em duas partes. A primeira parte é tornada incondicional como a eleição, e é geralmente chamada “preterição,” do latim praeter, “por,” e ire, “ir,” significando “passar por.” A segunda parte é então tornada condicional, e consiste de Deus condenar os homens por seu pecado em que eles ainda estão por causa de serem ignorados. Girardeau e Cunningham explica em detalhes a partir da perspectiva calvinista:

Temos visto que o ensino da Escritura é, que como resultado de sua mera misericórdia, e conforme o beneplácito de sua vontade soberana, ele decretou salvar alguns da massa caída e pecadora que foram assim contemplados como justamente condenados. Esta é a Eleição. O restante, conseqüentemente, não foi eleito para ser salvo, mas foi ignorado e ordenado continuar sob a justa condenação. Esta é a Reprovação. Há dois elementos que a envolve: o primeiro, um ato soberano de Deus, pelo qual eles foram em seu propósito ignorados e deixados na condição em que eles foram considerados como colocando-se a si mesmos. Isto é chamado Preterição. Em segundo lugar, há um ato judicial de Deus, pelo qual eles foram em seu propósito ordenados a continuar sob a sentença da lei violada e sofrer punição por seu pecado. Isto é chamado Condenação.[91]

Ao afirmar e discutir a questão com respeito à reprovação, os calvinistas são cuidadosos ao distinguir entre os dois diferentes atos anteriormente referidos, decretados ou determinados por Deus desde a eternidade, e executados por ele no tempo, – um negativo e o outro positivo, – um soberano e o outro judicial. O primeiro, que eles chamam não-eleição, preterição, ou passar por, é simplesmente decretar deixar – e, em conseqüência, deixando – os homens em seu estado natural de pecado: negar-lhes, ou se abster de lhes conferir aquelas influências especiais, sobrenaturais, graciosas, que são necessárias para capacitá-los a se arrepender e crer, de forma que o resultado é que eles continuam em seu pecado, com a culpa de sua transgressão sob o seu cabeça. O segundo – ato judicial positivo, – é mais propriamente aquilo que é chamado, em nossa Confissão, “preordenar à morte eterna,” e “ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus pecados.”[92]

Os Cânones de Dort igualmente expressam esta distinção:

A Escritura Sagrada mostra e recomenda a nós esta graça eterna e imerecida sobre nossa eleição, especialmente quando, além disso, testifica que nem todos os homens são eleitos, mas que alguns não o são, ou seja, são passados na eleição eterna de Deus. De acordo com seu soberano, justo, irrepreensível e imutável bom propósito, Deus decidiu deixá-los na miséria comum em que se lançaram por sua própria culpa, nao lhes concedendo a fé salvadora e a graça de conversão. Para mostrar sua justiça, decidiu deixá-los em seus próprios caminhos e debaixo do seu justo julgamento, e finalmente condená-los e puni-los eternamente, não apenas por causa de sua incredulidade, mas também por todos os seus pecados, para mostrar sua justiça. Este é o decreto da reprovação qual não torna Deus o autor do pecado (tal pensamento é blasfêmia!), mas O declara o temível, irrepreensível e justo Juiz e Vingador do pecado.[93]

Esta decreto dividido é também encontrado no Capítulo III da Confissão de Fé de Westminster:

III. Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna.

VII. Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas criaturas, o resto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus pecados.

Pode-se perceber que sem o último artigo uma interpretação supralapsária seria necessária.

Para contribuir com a discórdia entre os calvinistas e confundir as coisas ainda mais, há uma outra escola de pensamento a ser examinada, a do sublapsarianismo. O prefixo sub pode ser reconhecido imediatamente a partir de seu uso extensivo no português: submarino, submergir, subempreiteiro, etc. Por essa razão, tanto o infra quanto o sub significam a mesma coisa: “abaixo” ou “depois.” Por causa disto, quando Gill ou Girardeau ou Dabney menciona o sublapsarianismo eles estão se referindo ao que é mais comumente conhecido como infralapsarianismo. Calvinistas de cinco pontos também reconhecem dois sistemas sustentáveis: supralapsarianismo e infralapsarianismo ou sublapsarianismo. Mas esses calvinistas que rejeitam a Expiação Limitada têm acrescentado um terceiro para acomodar seu ponto de vista. Eles propõem a seguinte ordem:

1. Criação
2. Queda
3. Expiação para todos
4. Eleição e Reprovação
5. Salvação para os eleitos

Assim, neste sistema, não apenas os decretos da eleição e da reprovação são depois da Queda, eles também são depois da Expiação. Este esquema é também conhecido como “redenção hipotética,” e foi a posição de Moyse Amyraut, o primeiro calvinista de quatro pontos.[94] O que agora é chamado sublapsarianismo é a concepção de todos os calvinistas de quatro pontos. Como será apontado no próximo capítulo, o debate sobre a Expiação é insignificante, visto que, de qualquer maneira, somente os eleitos serão salvos. Assim como seus primos “infra”, os sublapsários buscam contornar as implicações irracionais de uma visão positiva da reprovação que é paralelo à eleição.

Berkhof afirma que “somente a teologia reformada faz completa justiça à doutrina dos decretos.”[95] Mas, mais uma vez, a Escritura diz destes decretos: “Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que prescrevem opressão” (Is 10.1). A natureza contraditória e confusa dos decretos de Deus como apresentados pelos teólogos reformados torna impossível qualquer possibilidade de Deus ser a fonte deles. Deus “não pode negar-se a si mesmo” (2Tm 2.13), e nem ele é “Deus de confusão” (1Co 14.33).

Há diversos problemas com estas teorias calvinistas quanto à relação do pecado e da Queda com a eleição e a reprovação. Obviamente, o supralapsarianismo torna Deus o autor do pecado e diretamente responsável pela condenação de bilhões de almas. Mas as outras duas hipóteses igualmente merecem desprezo. Se os decretos de Deus são somente um decreto, então, como Dabney explica: “O decreto de Deus não tem sucessão, e para Ele nenhuma ordem sucessiva de partes, porque é uma unidade que ocorre ao mesmo tempo, compreendido no todo, por uma percepção infinita.”[96] Por essa razão, não pode haver separação da predestinação em eleição e reprovação ou qualquer divisão da reprovação em preterição e condenação. Supõe-se também que este único decreto é eterno. Dessa forma, não pode haver diferença entre os sistemas lapsários porque, como Berkouwer afirma: “Não podemos falar de antes e depois nos decretos eternos de Deus como fazemos no tempo, por essa razão a diferença entre supra e infra pode ser chamada imaginária porque envolve a aplicação de uma ordem temporal à eternidade.”[97] Deve também ser lembrado que dizem que este único decreto eterno é de extensão todo-abrangente. Conseqüentemente, como Chafer admite: “Há um plano compreensivo no qual todas as coisas têm sua existência e pelo qual elas procedem. Com Deus há um único decreto imutável contendo em si mesmo todo detalhe, até a queda de um pardal.”[98] Por conseguinte, tudo que acontece, incluindo necessariamente o pecado, a Queda e a condenação final de certos homens, é de acordo com o beneplácio e propósito soberano de Deus. Acerca da Queda em particular, se Deus decretou a reprovação depois da Queda que ele igualmente ordenou, então, como Berkouwer observa: “A queda deve finalmente ter sido parte do conselho de Deus e portanto ele ‘descansa’ no soberano prazer de Deus. Mas nesse caso a concepção infra diz o mesmo que a supra.”[99]

Se houve uma diferença entre as três escolas lapsárias de pensamento quando o assunto é reprovação ninguém poderá dizer. Boettner, o “infra”, lamenta: “É difícil imaginar que muitos dos que estão bem à nossa volta (em alguns casos nossos amigos íntimos e parentes) estão provavelmente preordenados à punição eterna.”[100] Chafer, o calvinista de quatro pontos, comenta sobre a origem do pecado: “A abordagem arminiana para a solução deste problema não atribui a Deus nenhuma relação com a entrada do pecado no universo senão que Ele previu que ele aconteceria. Esta concepção é totalmente inadequada, visto que o pré-conhecimento da parte de Deus carrega com ele, necessariamente, toda a força de um propósito soberano. Uma coisa não pode ser pré-conhecida que não seja certa, e nada é certo até que o decreto soberano de Deus o torna assim.”[101] E, como agora veremos, todos os três grupos até usam as mesmíssimas escrituras para confirmar a reprovação! Pode-se perceber agora porque tanto tempo foi gasto sobre a natureza toda-abrangente do suposto decreto eterno de Deus. Se Deus pré-ordenou tudo para sua glória, então a reprovação dos ímpios é seu “determinado conselho” (At 2.23) e acontece “segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11) não importa a qual sistema lapsário alguém adere.

Especificamente a respeito da divisão em duas partes do decreto da reprovação, para ser consistente, os teólogos deviam, como Dabney observa: “Empregue uma análise similar ao decreto da eleição, e divida-o em uma seleção e uma pré-justificação. Dessa forma teríamos a doutrina da uma justificação eterna, que eles propriamente rejeitam como errônea. Por essa razão, a distinção deve ser consistentemente abandonada na explicação da predestinação negativa de Deus.”[102] Assim, Dabney está pelo menos parcialmente correto ao fazer a reprovação “uma simples preterição.”[103] Entretanto, há dois outros problemas. Se Deus escolheu os “eleitos” ele conseqüentemente não escolheu os “reprovados.” Portanto, não há tal coisa como uma reprovação negativa – uma preterição. Alguém não pode escolher algo sem passar por outros; os “eleitos” não podem ser escolhidos da massa caída da humanidade sem automaticamente passar pelos “reprovados.” Passar por alguém que não é criado é uma impossibilidade. A única forma que a reprovação pode ser um decreto separado é com um homem ainda por ser criado que pode, ou ser criado como “eleito” ou “reprovado.” É a Queda que é o verdadeiro “decreto da reprovação.” Mas a queda de Adão causou a reprovação de todos os homens, não apenas de uma certa classe: “Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1Co 15.22). Assim, em um sentido, todos os homens estão predestinados à morte eterna, mas não incondicionalmente, pois o Senhor Jesus Cristo proporcionou uma saída: “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (Jo 5.24).

Quando de frente com as insuperáveis dificuldades para explicar as fatais contradições inerentes em seus sistemas lapsários, o calvinista se refugia na misericórdia e graça soberana de Deus. Berkouwer relata que “não é portanto a questão mais importante se Deus na predestinação aceitou o homem como já criado e caído ou como ainda-não-criado e por isso antes da queda, mas a coisa mais importante é que a salvação do homem seja vista à luz da misericórdia de Deus.”[104] Pink nos informa que “A resposta contra todas as maldosas acusações de que a doutrina da predestinação é cruel, horrível e injusta é a seguinte: se Deus não tivesse escolhido alguns para a salvação, ninguém seria salvo.”[105] A máxima mais freqüentemente citada é a de Warfield: “A maravilha das maravilhas não é que Deus, em seu infinito amor, não elegeu para salvação todos desta raça culpada, mas que ele elegeu alguns.”[106]

Estas afirmações sentimentais são negadas, entretanto, quando é lembrado o que os calvinistas realmente crêem sobre o decreto de Deus. Elas também são construídas sobre uma falsa premissa, a da Depravação Total. Não é nenhuma gratidão à graça e misericórdia de Deus se ele soberanamente elege um pecador totalmente depravado de um grupo que ele primeiro conferiu a Incapacidade Total. A doutrina da Eleição Incondicional exige a doutrina da Depravação Total para sua execução. Entretanto, supondo que Deus não preordenou tudo e realmente permitiu a Queda e de fato proporcionou uma expiação universal, a “eleição soberana” magnificaria a graça de Deus se ninguém pudesse ser salvo sem ela? A verdadeira questão é se Deus seria justo em passar pelo resto (preterição). De acordo com a Bíblia – ele não seria. O Deus do calvinista é como o sacerdote e o levita que “passaram de largo” pelo homem “meio morto” na parábola do bom samaritano (Lc 10.31-32). E pior ainda, Deus também seria como os salteadores que “o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto”.1-32). sto (preteriçtotalmente depravado de um grupo que ele primeiro rno de Deus. (Lc 10.30). Dizer que, porque Deus voltou e “moveu-se de íntima compaixão, e, aproximando-se, atou-lhe as feridas” (Lc 10.33-34), ele devia ser louvado por sua graça e misericórdia é absurdo. Sobre o samaritano que “aproximou-se” (Lc 10.34), o Senhor ordenou: “Vai, e faze da mesma maneira” (Lc 10.37). Certamente o Senhor pratica o que recomenda.

Supõe-se que o decreto eterno e soberano da eleição provoca humildade. Baker nos recorda que “ninguém jamais devia ser tão presunçoso a ponto de tomar por certa sua eleição.”[107] Palmer piedosamente afirma: “Esta, então, é a humildade religiosa do calvinista. Ele confessa: Eu não sei. Não posso entender tudo, mas visto que está na Bíblia que Deus é cem por cento soberano e todavia que eu sou responsável, eu creio.”[108] Assim, ainda que o calvinista não entenda a eleição e não saiba com certeza se ele é eleito, visto que ele não pode presunçosamente tomá-la por certo, ele ainda audaciosamente alega que ele e os membros de sua família são parte dos “eleitos.” Na realidade, a Eleição Incondicional leva ao que está resumido neste antigo hino batista particular:

Somos os poucos eleitos de Deus,
Que o restante seja condenado;
Há espaço suficiente no inferno para vocês,
Não queremos ter o céu abarrotado![109]

A tentativa de explorar a mente de Deus à parte do que ele revelou na Bíblia é obra de teólogos “ortodoxos mortos” que transmitem suas especulações filosóficas e implicações teológicas de uma geração a outra. Seja a rota presbiteriana de Calvino a Hodge até Warfield, a rota reformada de Calvino a Kuyper até Berkhof, ou a rota batista de Calvino a Gill até Spurgeon, toda a suposição sobre a natureza, ordem e extensão dos decretos de Deus é justamente essa. Embora fortemente discordando entre si, os teólogos nunca deixam de elogiar e exaltar uns aos outros enquanto minimiza suas deficiências. Já vimos o enaltecimento feito sobre Agostinho. Calvino igualmente, embora um tanto merecidamente, foi muito elogiado. Dizem sem reservas a respeito de Clark que ele “permaneceu na tradição de Agostinho e Calvino por muitos anos.”[110] Mas qualquer um que conheceu alguma coisa sobre as heresias de Agostinho ou os erros de Calvino rechaçaria tal designação. A associação comum é justamente com Calvino, como se supusesse significar alguém como sendo um grande teólogo. Berkouwer, afirma-se, “encontra-se na linha do grande reformador João Calvino.”[111] Van Til afirmou que John Murray foi “o maior estudioso existente de Calvino.”[112] Boettner insistiu que Warfield foi “o excelente teólogo desde João Calvino.”[113] Mas o nome de Calvino não é nem mesmo necessário em alguns casos. Assim, depois da morte de Warfield, somos informados que “o manto do Dr. Warfield, o mais distinto expositor e defensor do Calvinismo da última geração, parece ter caído sobre os ombros do Dr. Boettner.”[114] Caspar Hodge (1870-1937) classificou Machen em sua morte como “o maior teólogo no mundo de língua inglesa.”[115] Ele também considerou Warfield como excedendo tanto o primeiro professor em Princeton, Archibald Alexander (1772-1851), como seu mais famoso professor, Charles Hodge, “em erudição.”[116] Clark referiu ao primeiro Hodge de Princeton, Charles, como “o maior teólogo da América.”[117] Francis Patton (1843-1932), ex-presidente de Princeton, falou de Warfield como “um dos três grandes mestres da teologia reformada daquela época (os outros sendo Abraham Kuyper e Herman Bavinck da Holanda).”[118] E A. A. Hodge se uniu a Shedd em considerar Dabney “o maior professor de teologia nos Estados Unidos.”[119]

Apesar de todo seu conhecimento e erudição, estes gigantes da ortodoxia presbiteriana e reformada tinham, entretanto, seus problemas. Kuyper acreditava na regeneração presumida e na justificação eterna.[120] John Murray pensava que o domingo era um sábado e consequentemente nenhum transporte público poderia ser usado para ir à igreja.[121] Boettner sustentava que “parece muito claro que o Cristianismo é a religião do mundo futuro. À luz destes fatos, encaramos o futuro confiantes de que o melhor ainda está para acontecer.”[122] Mas duas das maiores anormalidades entre alguns dos teólogos eram o fumo e a influência da evolução. Como sua influência sobre o teólogo batista, A. H. Strong, o pensamento evolutivo fez progresso na teologia de alguns teólogos de Princeton. Warfield de forma alguma insistia numa criação de seis dias literais.[123] Isto por sua vez foi passado para o seu pupilo, J. Gresham Machen,[124] que igualmente influenciou Boettner.[125] O teólogo reformado supralapsário Herman Hoeksema fumava e bebia coquetéis enquanto refletia sobre os decretos de Deus.[126] Machen se deleitava em “uma sala de Princeton cheia de colegas fumando,” e declarou: “Que maravilhosa ajuda é o fumo para a amizade e a paciência cristã.”[127] John Murray reconheceu: “Há muito fumo ao redor de minha casa onde quer que ela esteja.”[128] Então, embora eles meditavam sobre os decretos de Deus e sobre todas as distinções teológicas subseqüentes, muitos dos estudiosos e teólogos reformados não tinham fé suficiente na Bíblia para rejeitar a invasão do Darwinismo no Cristianismo ou bom senso suficiente para ficarem afastados do fumo. E, todavia, os calvinistas esperam que acreditemos em Berkhof quando ele diz que “somente a teologia reformada faz juz à doutrina dos decretos.”

[1] Best, God’s Decree, p. 6.
[2] Confissão de Fé de Westminster, III:3.
[3] Charles Hodge, Theology, vol. 2, p. 320.
[4] Machen, Man, p. 50.
[5] Berkhof, Theology, p. 113.
[6] John L. Girardeau, Calvinism and Evangelical Arminianism (Harrisonburg: Sprinkle Publications, 1984), pp. 9-10.
[7] Sproul, Grace Unknown, p. 141.
[8] Pink, Election, p. 15.
[9] Best, God’s Decree, p. 9.
[10] Berkhof, Theology, p. 104.
[11] G. C. Berkouwer, Divine Election, trad. Hugo Bekker (Grand Rapids: Eerdmans Publishing Co., 1960), p. 257.
[12] Ibid., 258.
[13] Works of Arminius, vol. 1, pp. 623, 624, 625, 626, 628, 629, 630, 631, 633.
[14] Ibid., p. 630.
[15] Ibid., p. 639.
[16] James Orr, citado em Sell, p. 7.
[17] James I, citado em Works of Arminius, vol. 1, p. 213.
[18] Boettner, Predestination, p. 129.
[19] Cunningham, Reformers, pp. 349, 358; Sell, p. 1.
[20] Custance, pp. 159-160.
[21] Ibid., p. 160.
[22] Best, God’s Decree, p. 10.
[23] Schaff, Creeds, vol. 1, p. 453.
[24] Kent Kelly, p. 12; Gill, Divinity, p. 185; Shedd, Theology, vol. 1, p. 409.
[25] Custance, p. 75; Leith, p. 114.
[26] A. A. Hodge, The Atonement (Memphis: Footstool Publishers, 1987), p. 389; George Park Fisher, History of Christian Doctrine (New York: Charles Scribner’s Sons, 1899), p. 300; Shank, Life in the Son, p. 345; Berkhof, Theology, p. 110; Works of Arminius, vol. 1, p. 92; Introdução a Calvino, Institutes, p. lviii; Cairns, p. 310; Jewett, p. 89; Neve, vol. 2, p. 16.
[27] Klass Dijk, citado em Berkouwer, pp. 260-261.
[28] Fred H. Klooster, Calvin’s Doctrine of Predestination, 2a. ed. (Grand Rapids: Baker Book House, 1977), pp. 13-14.
[29] Ibid., p. 14.
[30] George, p. 233.
[31] Calvino, Institutes, p. 926 (III.xxi.5).
[32] Ibid., p. 931 (III.xxi.7).
[33] Klooster, Calvin, p. 26.
[34] Ibid., p. 88.
[35] Ibid., p. 25.
[36] Calvino, Institutes, p. 955 (III.xxiii.7).
[37] Citado em Schaff, History, vol. 8, p. 567.
[38] Citado em Sell, p. 72.
[39] Clark, Presbyterians, p. 40.
[40] Calvino, Secret Providence, p. 267.
[41] Calvino, Eternal Predestination, p. 93.
[42] Calvino, Secret Providence, p. 266.
[43] Ibid.
[44] Calvino, Institutes, p. 955 (III.xxiii.7).
[45] Ibid., p. 956 (III.xxiii.8).
[46] Ibid., p. 201 (I.xvi.3).
[47] Calvino, Eternal Predestination, p. 185.
[48] Theodore Beza, citado em Muller, Christ and the Decree, p. 86.
[49] Ibid.
[50] Bangs, Arminius: A Study, pp. 208, 263-264.
[51] Engelsma, Hyper-Calvinism, p. 10; Works of Arminius, vol. 1, p. 75.
[52] Schaff, Creeds, vol. 1, p. 553; Works of Arminius, vol. 1, pp. 648-649.
[53] Louis Berkhof, Introduction to Systematic Theology (Grand Rapids: Baker Book House, 1979), p. 81.
[54] Gill, Divinity, p. 185.
[55] Pink, Election, p. 66.
[56] Carta de Arthur W. Pink a John C. Blackburn, 11 de novembro de 1935, em Arthur W. Pink, Letters of Arthur W. Pink (Edinburgh: The Banner of Truth Trust, n.d.), pp. 74-75.
[57] Belcher, Pink: Born to Write, p. 10.
[58] Iain Murray, Life of Pink, p. 19.
[59] Arno Baebelein, citado em Fisk, Divine Sovereignty, p. 24.
[60] Belcher, Pink: Predestination, p. 61.
[61] Pink, Sovereignty, p. 100.
[62] Ibid., p. 82.
[63] Ibid.
[64] Ibid., p. 84.
[65] Iain Murray, Life of Pink, p. 196.
[66] Zwaanstra, p. 51; Berkouwer, p. 177.
[67] Berkhof, Theology, p. 124; Berkouwer, p. 261.
[68] Berkouwer, p. 255.
[69] Herman Hoeksema, Dogmatics, p. 164.
[70] Berkouwer, p. 263.
[71] Gerstner, Predestination, p. 7; Sproul, Grace Unknown, p. 158; Best, God’s Decree, p. 25; Chafer, Theology, vol. 1, p. 236.
[72] Gill, Divinity, p. 192.
[73] Ibid., p. 197.
[74] Calvino, Institutes, p. 978 (III.xxiv.12).
[75] Ibid.
[76] Engelsma, Hyper-Calvinism, p. 45.
[77] Ibid.
[78] Boettner, Predestination, p. 123.
[79] John Wesley, citado em Sell, p. 72.
[80] Hanko, Unconditional Election, p. 36.
[81] Boettner, Predestination, p. 105.
[82] Sproul, Grace Unknown, p. 158.
[83] Ibid.
[84] Ibid.
[85] Best, God’s Decree, p. 23.
[86] Warfield, Salvation, p. 21.
[87] Boettner, Predestination, p. 127.
[88] Shedd, Calvinism, p. 35.
[89] Spurgeon, Two Wesleys, p. 54.
[90] Sproul, Chosen, p. 96.
[91] Girardeau, pp. 175-176.
[92] Cunningham, Theology, vol. 2, pp. 429-430.
[93] Cânones de Dort, I:15.
[94] Charles Hodge, Theology, vol. 2, p. 321; Dabney, Theology, p. 235.
[95] Palmer, p. 110.
[96] Berkhof, Theology, p. 105.
[97] Berkouwer, p. 261.
[98] Chafer, Theology, vol. 1, p. 228.
[99] Berkouwer, p. 261.
[100] Boettner, Predestination, p. 125.
[101] Chafer, Theology, vol. 1, p. 237.
[102] Dabney, Theology, p. 239.
[103] Ibid.
[104] Berkouwer, p. 267.
[105] Pink, Sovereignty, p. 239.
[106] Benjamin Warfield, citado em Storms, Chosen for Life, p. 122.
[107] Baker, p. 66.
[108] Palmer, p. 87.
[109] Citado em George, p. 333.
[110] John W. Robbins, ed., Gordon H. Clark: Personal Recollections (Jefferson: The Trinity Foundation, 1989), p. 77.
[111] Baker, p. 24.
[112] Cornelius Van Til, citado em Iain H. Murray, The Life of John Murray (Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1982), p. 40.
[113] Boettner, Predestination, p. 23.
[114] Ibid., parte interna da sobrecapa da frente.
[115] Ned B. Stonehouse, J. Gresham Machen: A Biographical Memoir, 3a. ed. (Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1987), p. 7.
[116] Ibid., p. 67.
[117] Gordon H. Clark, The Trinity (Jefferson: The Trinity Foundation, 1985), p. 68.
[118] Stonehouse, p. 67.
[119] Douglas F. Kelly, “Robert Lewis Dabney,” em David F. Wells, ed., Southern Reformed Theology (Grand Rapids: Baker Book House, 1989), p. 37.
[120] Baker, pp. 31-32.
[121] Iain Murray, Life of Murray, p. 35.
[122] Boettner, Predestination, p. 143.
[123] Benjamin B. Warfield, Biblical and Theological Studies, ed. Samuel G. Craig (Filadélfia: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1968), p. 258.
[124] Machen, Man, p. 81.
[125] Boettner, Predestination, p. 136.
[126] Gertrude Hoeksema, Therefore Have I Spoken (Grand Rapids: Reformed Free Publishing Association, 1969), p. 240.
[127] Stonehouse, p. 85.
[128] Iain Murray, Life of Murray, p. 113.

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