quarta-feira, 1 de abril de 2009

CAPÍTULO 7 - Eleição Incondicional

Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo

Capítulo 7

ELEIÇÃO INCONDICIONAL


A segunda pétala da TULIP é a Eleição Incondicional. Como o primeiro ponto do Calvinismo, o termo Eleição Incondicional sofre da adição de um prefixo inventado para uma diferente doutrina bíblica. Vimos no capítulo anterior que, embora a depravação do homem seja uma doutrina bíblica, o suposto resultado dessa depravação - a incapacidade do pecador para crer - mostra que a Depravação Total é realmente Incapacidade Total, e de nenhuma forma sobre a depravação do homem. Dessa forma, embora a doutrina da eleição seja escriturística, iremos provar que a doutrina calvinista da Eleição Incondicional é uma deturpação dela. Mas, visto que há muita bagagem teológica que acompanha a Eleição Incondicional, isto necessariamente fará deste o mais extenso capítulo entre aqueles que analisam os Cinco Pontos do Calvinismo.

A eleição incondicional é necessitada pelo ponto fundamental do Calvinismo - a Depravação Total. Por causa desta necessidade, alguém não pode logicamente rejeitar um e não o outro, como Seaton explica: “Nossa aceitação ou rejeição da depravação total como uma afirmação bíblica verdadeira da condição do homem por natureza largamente determinará nossa atitude em relação ao próximo ponto que foi analisado no Sínodo de Dort.”[1] E por causa desta necessidade: “A doutrina da eleição incondicional segue naturalmente da doutrina da depravação total.”[2] A ligação deste segundo “ponto” com o anterior é ainda explicado por Boettner:

Se a doutrina da Incapacidade Total ou Pecado Original for admitida, a doutrina da Eleição Incondicional segue pela mais inescapável lógica. Se, como as Escrituras e a experiência nos conta, todos os homens estão por natureza num estado de culpa e depravação do qual são totalmente incapazes de livrar-se e não têm sobre Deus qualquer direito a livramento, segue que, se alguém for salvar-se, Deus deve escolher aqueles que serão objetos de Sua graça.[3]

Seaton nos conta a proposição inversa: “Se o homem é incapaz de salvar-se em razão da Queda em Adão ser uma queda total, e se somente Deus pode salvar, e se todos não são salvos, então a conclusão deve ser que Deus não escolheu salvar todos.”[4] Agora, o que estes calvinistas estão dizendo é verdade absoluta. Por essa razão, como Gerstner sucintamente conclui: “Se a pessoa não crê que a eleição é necessária, ela invariavelmente crê que ela não é necessária, pois o homem à parte da eleição é capaz de crer e ser salvo.”[5] Assim, se a doutrina da Depravação Total pode ser refutada, então a Eleição Incondicional se torna completamente desnecessária.

Como vimos no capítulo anterior, a Depravação Total, como a fundação do sistema TULIP, destinou todos os homens à seguinte sorte na vida:

Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor (Lm 3.26).

Reconhecendo a autenticidade desta afirmação, Spencer conclui que a Depravação Total “declara que a única esperança do homem perdido é em uma eleição baseada no propósito ou plano de Deus.”[6] Se a doutrina calvinista da Depravação Total for verdadeira, tudo que alguém pode fazer é ter esperança de ser objeto da Eleição Incondicional, e se for, então aguardar em silêncio Deus salvá-lo pela Graça Irresistível. Simples assim. Mas, de modo inverso, se for provado que a Depravação Total é falsa, o resto da TULIP definha. Mas a ilegítima fundação da Depravação Total tem sido de fato provado ser falsa. Assim, o primeiro problema com a Eleição Incondicional é que ela é construída sobre a falsa premissa da Depravação Total. Por essa razão, se o homem não tem incapacidade, ele pode ser salvo sem a Eleição Incondicional. Entretanto, isto, em e de si mesmo, automaticamente torna a Eleição Incondicional uma falsa doutrina. Se a Eleição Incondicional for verdadeira, Deus ainda poderia “incondicionalmente” eleger um pecador apesar de sua capacidade para ser salvo sem ela. Por isso, ainda é necessário analisar as alegações dos calvinistas sobre seu segundo ponto.


[1] Seaton, p. 11.
[2] Ibid.
[3] Boettner, Predestination, p. 95.
[4] Seaton, p. 12.
[5] Gerstner, Predestination, p. 12.
[6] Spencer, Tulip, p. 28.


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