quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A verdade não se rende aos cadáveres.

“Viver com a sensação da perda: talvez essa seja hoje a condição moral em que podemos permanecer fiéis ao nosso tempo.”

Imre Kertész.

“Para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma.”

Fernando Pessoa.


É evidente que exista momentos de clareza em nossa vida aos quais Sigmund Freud ligaria a uma experiência traumática. Assim, só para deixar claro, quando falo de clareza, falo de alguma coisa real que adquire uma aparência sobrenatural; a erupção repentina, quase violenta, de um pensamento que amadurece lentamente em mim, alguma coisa expressa pelo grito antigo: “Achei”. Mas o que achei?


Essa semana, tive mais uma daquelas experiências extraordinárias que nos traz um equilíbrio apaziguador não fundamentado em dualismos ou respostas claras.


Certo homem, forte, alto, e com aquela aparência intelectual que parece buscar na história um predicado que controle os deuses, entrou numa dessas reuniões que costumo fazer com amigos para exagerar e puxar a teologia de cada dia – Isso, para nos tornarmos bons heréticos.


Com uma compostura estranha, ele bradou: “Sim, encontrei a resposta!”


Como não costumo tirar conclusões precipitadas, simplesmente dei um sorriso, lhe fiz algumas perguntas e lhe dei espaço novamente. Então ele disse:


- Fazia um bom tempo que estava procurando por uma Igreja como essa. Que bom, encontrei um suspiro!


Rapidamente respondi:


- Ótimo! Mas acho que você está enganado ao nosso respeito. Não estamos procurando por respostas aqui. Isso aqui não é uma Igreja. Não vemos as Escrituras como um punhado de idéias aonde somente alguns possuem as conclusões corretas.


Então, já desempolgado, perguntou:


- Já fui vítima de uma ilusão de ótica em que a ótica, na realidade, chama-se manipulação de idéias, afinal de contas, o que é isso aqui?


Então respondi:


Diz a lenda que certa vez um ministro cristão brasileiro se perdeu na floresta Amazônica. Por três meses esse pastor procurou, procurou por um caminho que o tirasse da selva, mas não obteve sucesso. Finalmente, um dia em sua procura, encontrou um grupo de sua Igreja que também estava perdido na floresta. Entusiasmadamente, o grupo bradou: “Pastor, como é maravilhoso tê-lo conosco! Você pode nos levar para fora dessa selva para um lugar seguro”. “Me desculpe, eu não posso ajudar vocês – respondeu o pastor de cabes baixa -, estou tão perdido quanto qualquer um aqui”. O que posso fazer é, porque tenho mais experiência em se perder, dizer como não se perder mais ainda nessa selva. Com está pobre afirmação do pastor, o grupo, agora sem distinções, decidiu procurar por outra solução – Obviamente, conformados com um possível fracasso.


Em suma, o rapaz que veio nos visitar decidiu ficar. Com um belo sorriso no rosto, agora sem modéstia, me disse: Morri mais uma vez, quando isso acontece, vejo novas oportunidades de sobreviver.


Fica a dica: Muita explicação nos separa das surpresas. Necessitamos transformar pessoas, e não oferecer respostas.


Por Nelson Costa Jr


Vi no http://nelsoncostajr.com/2012/02/a-verdade-nao-se-rende-aos-cadaveres/

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