sexta-feira, 6 de maio de 2011

Respostas de Oração





O tema oração acaba se tornando recorrente em meus textos, talvez porque eu considere uma expressão do relacionamento com Deus?




Gostaria de pensar sobre a lógica religiosa evangélica da oração. Apenas isto.

Um crente ora e absolutamente nada acontece.

Quais as respostas encontradas no meio evangélico?



1- Deus sabe o melhor. Algumas pessoas, Deus não abençoa porque ela não sabe usar a benção, ou isto poderá ser para ela uma pedra de tropeço.



2- A pessoa não está preparada. Para ser abençoada a pessoa precisa ter condições de administrar a benção. Se ela for relapsa Deus não concederá a benção.



3- Vida torta. Uma pessoa com a vida toda bagunçada Deus não pode responder.



4- Falta de querer. A pessoa quer, mas quer de qualquer jeito, não como alguém que de fato deseja.



5- Falta de fé. A pessoa não crê de todo o coração, por isso não recebe, pois Deus não atende quem não tem fé e sem ela é impossível agradar a Deus.



6- Prova. Deus quer provar a pessoa e por isso não dá.



Mas por outro lado, existem algumas pessoas que pedem e acabam se dando mal.

Como então explicar?



1- Deus não queria dar, mas a pessoa teve fé, vida reta e insistiu, então, como uma espécie de atendimento à teimosia, Deus cedeu e assim, a pessoa deve arcar com as consequências.



2- Não foi Deus que deu, foi o diabo, porque ele é enganador e pegou a oração do crente e se apressou em responder para fazer um laço para a pessoa.



Mas e quanto àqueles que têm vida “torta”, pouca fé e é abençoado?



1- Estes servem ao diabo que lhe atende os desejos para mantê-lo preso no pecado. Como o diabo não pode fazer sozinho, Deus é quem permitiu porque assim pode pegar o indivíduo no seu pecado.



2- Tem vida torta, pouca fé, mas é dizimista e como Deus é fiel, tem que abençoa-lo.



Existem mais respostas, mas aqui estão as mais comuns. Nem quero sugerir que se pense em como seria Deus dentro desta lógica: manipulável, sem vontade, pouco bom para não dizer mal?

Pergunto-me se esta descarada contradição não é sustentada pela conveniência: Tudo para justificar uma posição de que vale a pena crer.

Para que Deus, de fato, assuma este papel, ele precisa ser infiel, incoerente e caprichoso.



Talvez alguém esteja pensando: Se as respostas são incoerentes e contraditórias, elas apesar de se colocarem como explicações, não servem como uma explicação. Então surge a pergunta: Porque às vezes dá certo e outras não. Para algumas sim e para outras não?



A resposta para a pergunta só é possível se houver uma mudança de concepção.

A relação de Deus conosco deve ser diferente daquilo que se entende. As orações devem pertencer a outra categoria, diferente da usual.



Uma resposta coerente, só é possível através do abandono da lógica aplicada na oração: “funcionar” ou dar certo no sentido de conseguir que Deus realize nossos desejos.



Vejamos algumas concepções que precisam de avaliação:



1- Oração que conserte o passado.

A oração não deve ser um instrumento para que Deus conserte o que se passou. Imagina que Deus de alguma maneira poderosa, intervenha arrumando os fatos que causaram dor. O passado é irretocável. Deus não vai de maneira alguma fazer com que um evento seja apagado, mudado ou destruído da história. Aconteceu; é fato.



2- Oração que conserte o futuro.

Da mesma forma, a oração não serve para Deus consertar o que ainda não aconteceu, ou ainda, ajeitar o futuro para que se tenha melhor sorte do que hoje. Como se fosse uma compensação ou remendo das coisas ruins que aconteceram. O futuro é inalcançável.



Dentro disto, resta-nos uma oração que contemple o presente.

Vale lembrar que o presente é vivenciado numa estreita relação com o passado. Quem esteja experimentando uma dor hoje, saboreia o fruto do passado. Se o passado não será consertado, resta então reconhecer que o único presente que existe é exatamente este: que experimenta a dor.



Dito isto, devemos reconhecer que a oração ajuda a participarmos da ação de Deus que agindo em todas as coisas, faz com que cada evento, situação e experiência sejam matéria-prima para a construção de outro futuro, que antes do sofrimento não se havia pensado.

Exemplo:

Uma mulher traída e abandonada pelo seu marido. Esta mácula não pode ser mudada.

Apesar do sofrimento, trata-se do fruto do acontecido. Ela havia planejado sua vida a dois, junto de seu marido, mas agora ele não mais está. A oração não consertará o ocorrido, mas poderá alinhar seus pensamentos ao projeto de Deus que agirá nisto transformando em matéria-prima, para que o futuro não esteja eternamente prejudicado, inválido e impossível de ser vivido. Agora, ela deverá aprender a como construir outro futuro, não imaginado nem querido: sem o seu marido. A oração ajuda a beber o cálice e alinhar-se com a vontade de Deus que é boa e agradável, neste caso, a vontade de Deus é que ela se restabeleça, crie outras formas de conduzir sua vida e faça de seu futuro uma bela história.



Mudando a compreensão sobre oração, as perguntas propostas anteriormente não cabem, pois a questão não se resume em saber por que alguns conseguiram e outros não e, aleatoriamente se deram bem ou mal.

Se sabemos que Deus não é o mecânico do mundo, mas sim, que Ele se concentra em outro fator que é o de agir no presente para nos transformar e assim vivermos, nos colocaremos à sua disposição e não exigiremos que Ele esteja à nossa disposição e nem procuraremos justificar os acontecimentos mundanos como fruto de orações.

Deus transforma, não conserta.



Eliel Batista



Vi no http://www.elielbatista.com/

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