sexta-feira, 18 de junho de 2010

Quem intercede por nós?



Atrevo-me mais uma vez a tentar pensar sobre oração. Aliás, para não correr risco de tentar racionalizar o mistério, prefiro iniciar meu pensamento naquilo que antecede a oração.




Se entendermos a oração como uma comunicação entre Criador e criatura, a imagem que fazemos ou temos de Deus influencia diretamente na maneira como oramos.

Se para o fiel Deus é um severo juiz, estar na presença dEle causa medo e deixa-o inseguro. E assim por diante.



Para uma fé trinitariana, acredito que dentre todas as imagens, a da Trindade é a que mais precisa ser resgatada nas nossas orações, principalmente porque nos dedicamos mais a orar petições e intercessões e nisto está implícito a relação existente entre Pai, Filho e Espírito Santo e como nos comportamos neste meio, pois orar consiste em participar desta comunhão.



Jesus nos diz que sua unidade com o Pai é indissolúvel. Ele não veio por si mesmo,(Jo 5:44; 8:42) não falou suas próprias palavras (Jo 7:16) e não agiu de sua própria cabeça (Jo 8:28), mas tudo é do Pai (Jo 13:3).



O Espírito Santo não fala, não revela e não age por si mesmo, mas sim em função do Filho (Jo 16).



O Pai exalta, glorifica e revela o Filho.



Assim, há um só pensamento e um só Deus. Entre eles não há discórdia, desajustes, desencontros e resistência. Tudo de um é do outro. Se há um só Deus e Senhor sobre todos, há um só pensar, uma só intenção para com todos (Jo 12:50).



Isto muda completamente, muito daquela imagem que comumente se tem ao orar. Entendemos que pedir ao Pai em nome do Filho com a ajuda do Espírito Santo é resolver um problema de distância ou de resistência do Pai em relação a nós. Jesus se uniria ao Espírito Santo para formar um pára-raios ou pára-choques na relação de Deus para com os homens.



Um texto bastante conhecido é aquele que Paulo escreveu aos Romanos que encontra-se registrado em 8:26-27 “Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus”.



Neste texto é muito comum imaginarmos os fiéis tentando comunicar alguma coisa para Deus e Ele sem entender do que se trata ou pior ainda com resistências para atender porque trata-se de ralés criaturas, só cede se o Espírito Santo e o filho entrarem na conversa.



Quando ouço Jesus falando algumas coisas fico pensando sobre esta lógica, se faz sentido...

Mt 6:8 o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem.

Mt 6:3-32 Portanto, não se preocupem, dizendo: 'Que vamos comer?' ou 'Que vamos beber?' ou 'Que vamos vestir?' Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas.



Deus sabe tudo a nosso respeito, conhece nossas necessidades, nossas palavras antes de proferirmos e até mesmo as intenções com que as dizemos. Ele também nos ama, cuida de nós e exerce sua graça estendendo suas renovadas misericórdias sem fim a cada dia.



Disto surgem muitas perguntas:



Cada componente da trindade tem um pensamento diferente a nosso respeito?

Qual o papel do Espírito Santo?

Deus não nos entende?

Ele não sabe o que precisamos?

Deus precisa ser convencido? Deus tem intenções a nosso respeito diferente do Espírito Santo?

O Espírito Santo teria o jeitinho brasileiro para convencer Deus?



Se Deus nos entende, sabe o que precisamos e não precisa ser convencido. Se Deus pensa a mesma coisa que o Espírito Santo e este têm a mente de Deus, percebo que a intercessão do Espírito não serve para convencer Deus ao nosso querer, mas nos convencer ao querer de Deus. Nós é quem precisamos ser convertidos aos interesses de Deus, mas parece que usamos a intercessão e a ajuda do Espírito Santo para converter Deus aos nossos interesses.



Nosso coração que precisa ser quebrado, pois o de Deus já se enterneceu por nós de tal maneira, que quando éramos seus inimigos nos deu o seu único Filho. Servimos a um Deus rico em compaixão e que nos ama com profundo amor.



Por isso leio o texto sob esta outra lógica:





Temos o desafio de manifestar nosso caráter de filhos de Deus, mas isto não é fácil. Desanimamos e vivemos errando, e isso se torna um constante gemido. Mas temos algo que nos dá esperança: Não estamos gemendo sozinhos! Deus o Espírito geme. Ele que conhece perfeitamente a mente de Deus quer que assumamos a vontade do Pai como filhos amados. Ele percebe nossa dificuldade para realizarmos esta tarefa, e tão amante como o Pai não nos abandona, mas nos assiste nesta fraqueza, porque nossas orações seriam inadequadas, apenas gemidos constrangidos. Mas o Espírito que comunica o Filho a nós, também sabe o que é ser humano, o que é padecer e sendo o outro consolador se une a nós com gemidos inexprimíveis nos comunicando sempre a vontade do Pai e nos desafiando a não desistirmos de manifestarmos a glória de filhos de Deus num mundo que aguarda esta revelação.



Portanto, quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz e se hoje ouvirmos a sua voz não endureçamos o coração, pois Ele intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus.



A oração deve nos levar a um quebrantamento tal, que saímos dela dispostos a cumprir com o desejo de Deus: sermos filhos amados que brilham na escuridão.



Eliel Batista



Vi no http://www.elielbatista.com/

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