Cris Rock é um dos melhores comediantes americanos. Ele é negro, rico e bem-sucedido. A série autobiográfica “Everybody hates Cris” foi um sucesso de público e crítica. Em 2005, ele foi o mestre de cerimônias do Oscar. Seus shows de stand-up lotam ginásios e auditórios por todo o país. De negro pobre, morador de uma periferia perigosa, fadado ao fracasso, se tornou capa das maiores revistas americanas e símbolo de sucesso, status e inteligência.
Troy Davis é negro, como Cris Rock; nasceu numa família humilde como Cris Rock; viveu numa vizinhança perigosa como Cris Rock; estudou numa péssima escola pública como Cris Rock; e o principal: todo mundo odeia Troy Davis. A diferença crucial é: Troy Davis deve ser executado hoje. Condenado pelo assassinato de um policial branco num julgamento repleto de dúvidas, falhas e contradições, Troy Davis deve receber hoje uma injeção letal e sua morte está sendo acompanhada por milhões de pessoas nos EUA e por todo o mundo.
Troy Davis é o Cris Rock da vida real, das estatísticas. Troy é o Cris que não deu certo. Troy é o Cris que não venceu o ódio, o preconceito, a discriminação e a injustiça. Troy é o Cris derrotado, é o Cris que não se levantou do chão depois do murro da força eugênica. Troy é o ator coadjuvante do filme de mocinhos e bandidos com final feliz e bandido morto que os americanos tanto precisam pra manter seu senso de justiça avivado.
Troy Davis é um assassino? Apesar de todas as provas em contrário, das testemunhas que o inocentaram, da falta de provas físicas, evidências e da arma do crime, o “sistema judiciário” o condenou porque alguém precisa ser sempre condenado no roteiro americano. Os americanos não sabem conviver com a dúvida, com a incerteza, com a insegurança. Preferem admitir depois o erro a deixar de agir rapidamente.
Troy é uma vítima? Troy Davis é alguém que nos espelha. Somos todos potenciais Troys. Estamos todos à mercê da máquina, do sistema, dessa potestade a quem todos se rendem submissos. Os EUA são o maior país protestante do mundo. Troy Davis foi condenado com base na Lei de Talião, olho por olho, dente por dente. Troy Davis talvez seja o melhor exemplo do que nos espera num aguardado governo evangélico? Troy Davis é prova do conselho salomônico: maldito o homem que confia no homem.
Atualização: A execução de Troy Davis foi adiada no último minuto por uma semana para análise do Supremo Tribunal. Aguardemos em oração.
Atualização 2: Na virada da noite, a Suprema Corte rejeitou o pedido de novo julgamento e Troy Davis foi executado com uma injeção letal. Suas últimas palavras, olhando nos olhos da família do policial morto: “Amarrado à cama, levantou a cabeça e disse: “Eu não matei seu filho, irmão. Vocês que tiram a minha vida, que Deus tenha misericórida de sua alma”.
Vi no http://tomfernandes.wordpress.com/2011/09/21/todo-mundo-odeia-troy-davis/
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
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