sábado, 3 de setembro de 2011

Educar-se para a diversidade






Há poucos dias, o Supremo Tribunal Federal brasileiro (STF) aprovou por unanimidade o reconhecimento da união civil de pessoas do mesmo sexo. Sem dúvida, um fato de peso histórico que sinaliza para o tempo de profundas transições no qual vivemos. Quem está atento sabe que esse debate não começou agora. Agora tivemos apenas a batida do martelo em um debate que começou há bastante tempo, senão nas igrejas cristãs, pelo menos para amplos setores da sociedade civil organizada. Nós, cristãos evangélicos, continuamos tristemente correndo atrás do bonde da história, a reboque das grandes questões que estão sendo discutidas pela sociedade.



Para mim, a grande pergunta a ser feita agora não é “como combater a imoralidade que campeia na sociedade?”, mas “como ser igreja numa sociedade pluralista e secularizada?”. Embora a influência do religioso seja forte atualmente, amplos setores da sociedade não querem mais a tutela das igrejas. Acham-se emancipados, e desejam fundamentar seus valores em convicções puramente humanistas. Nossas igrejas terão que aprender a conviver cada vez mais com essas mutações sociais, e é imperativo que nos eduquemos para isso. Transformar o mundo torna-se uma tarefa cada vez mais complexa, e somente uma igreja reflexiva, madura e fiel ao evangelho poderá fazê-lo a contento.



Considero um reflexo de imaturidade e arrogância a forma tacanha com que questões como a decisão do STF têm sido tratadas por certos grupos religiosos. Imaturidade, porque interpretam eventos como esse como “ondas de imoralidade”, quando na verdade são conquistas políticas de grupos que historicamente têm sido vitimados pelo preconceito e pela exclusão. Arrogância, porque em um estado laico como o Brasil, ainda querem que sua visão de mundo – neste caso, sua moral sexual – seja uma lei para toda a sociedade.



Necessitamos fazer de nossas igrejas espaços onde as pessoas sejam educadas para a diversidade. Com isso não estamos dizendo que a partir de agora temos que relativizar nossas crenças fundamentais, nem nossa moral sexual. Como dizia Jürgen Moltmann, “só existe comunhão verdadeira entre os diferentes”. Não podemos esquecer que o preconceito contra os negros, as mulheres, os homossexuais, tem fundamentos religiosos. Aceitar a diversidade e corroborar uma cultura de paz e de tolerância é o mínimo que podemos fazer como igrejas cristãs.


Para os grupos identificados pela diversidade sexual, a decisão unânime do STF foi recebida como uma grande vitória. Num estado laico e democrático de direito como o nosso, eles encontram na política um espaço eficaz para conquistar direitos que lhes têm sido negados historicamente. Certamente, nada disso diminuirá o preconceito de que são vítimas. Mas pelo menos algumas injustiças históricas serão corrigidas, e se reforçará a idéia de equidade defendida pela Constituição Federal. Inaugurar uma relação menos violenta junto a estas pessoas – organizadas, empoderadas e cada vez mais conscientes de sua condição e de sua cidadania – será uma tarefa que exigirá de nós humildade, maturidade, paciência e muita educação.




Por Paulo Nascimento é baiano de Muritiba, terra de Castro Alves. É casado com Patrícia Nascimento e sem filhos. Também é Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Nordeste (Feira de Santana-BA) e graduando em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas. Além disso, é pastor batista em Maceió e professor de Teologia Sistemática no Seminário Teológico Batista de Alagoas. É autor de Ópio coisa nenhuma: Ensaio de Teologia Crítica a partir de Alagoas.




Vi no http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=553

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