Dia desses o cantor e compositor Nando Reis declarou-se ateu. Isso bastou pra que ele passasse a sofrer uma saraivada de insultos e ameaças por parte dos “amorosos” seguidores de Deus. Tem alguma coisa errada nisso. Não na declaração do artista, que, num país livre, deve ser recebida com naturalidade, mas na reação daqueles que se declaram tão crentes, tão seguros de sua fé, tão plenos da certeza da própria salvação. Se há tanta segurança, por que achar que declarações desse tipo sejam uma ameaça? Se há tanta fidelidade a Deus, não seria o caso de agir com mais amor com os que não professam a mesma fé, já que Deus é amor?
Desconfio que as ditas reações só reforcem o distanciamento de muitos. Quem é que quer um Deus tão virulento, tão tosco, que se sente tão ameaçado pela descrença, tão rancoroso com os que crêem diferente ou simplesmente não crêem? Eu é que não quero. O Deus que Saramago, outro célebre ateu, retratou no livro Caim, bem reflete as atitudes de muita gente crente, mas é um Deus completamente truculento e manipulador. Também sou ateu de um Deus assim.
Quanto mais truculentas forem as atitudes dos crentes com relação às descrenças, mais descrentes haverá, e com razão. Quanto mais gente houver que se acha portadora da lista dos que vão desfrutar o céu e dos que vão torrar no inferno, mais gente vai se declarar descrente. Quanto mais exclusivistas forem as instituições religiosas, tanto mais pessoas vão considerá-las irrelevantes e antipáticas.
Há um descompasso entre a forma como Jesus agia e como muitos de seus pretensos seguidores agem. Ele foi extremamente acolhedor e compreensivo, principalmente com aqueles que estavam fora dos quintais religiosos, os marginalizados e oprimidos. Socorreu até aqueles que crendo, descriam. Sua intolerância era apenas com religiosos que se viam como senhores da verdade, incontestáveis, implacáveis. A esses ele chamou de raça de víboras.
As virtudes revolucionárias do evangelho são, entre outras, amor incondicional, solidariedade, altruísmo, igualdade, liberdade, respeito à dignidade humana. Mas elas não passam nem perto dessa turma que mais se preocupa em anotar nomes de incréus na caderneta do inferno. Se gastassem suas energias em viver e espalhar aquelas virtudes o mundo seria outro e os descrentes, amados e, talvez, não tão descrentes.
Acho que é preciso aprender com o seguinte poema:
“Pra você guardei o amor que sempre quis mostrar, o amor que vive em mim. Vem visitar, sorrir, vem colorir, solar, vem esquentar e permitir.
Quem acolher o que ele tem e traz, quem entender o que ele diz no giz do gesto, o jeito pronto do piscar dos cílios, que o convite do silêncio exibe em cada olhar.
Guardei, sem ter porque, nem por razão, ou coisa outra qualquer. Além de não saber como fazer, pra ter um jeito meu de me mostrar.”
Sim, esta é uma canção dele, Nando Reis.
Márcio Rosa da Silva
Vi no http://marciorosa.wordpress.com/2011/09/09/o-ateismo-de-nando-reis/
sábado, 17 de setembro de 2011
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