Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo
A Teologia de Arminius
Embora escritores calvinistas modernos dão a impressão de que Arminius foi nada menos do que um completo herético, uma olhada superficial em seus escritos é tudo que leva para ver que isto não é simplesmente o caso, pois Arminius foi tão ortodoxo sobre as doutrinas principais da fé cristã quanto qualquer calvinista, antigo ou moderno. E ainda que os escritos de Arminius sejam conseguíveis, eles são raramente, se alguma vez, lidos por alguém – especialmente os calvinistas. Mas é para suas obras que alguém deve ir para ver sua teologia – não para qualquer pregador, escritor, ou teólogo, sejam eles calvinistas ou arminianos. Um calvinista até admite que “a teologia de Jacob Arminius tem sido negligenciada tanto por seus admiradores quanto por seus caluniadores.”[1] Os sentimentos doutrinários de Arminius referentes ao Calvinismo serão explorados durante a análise doutrinária dos pontos particulares do Calvinismo, mas quanto às bases da fé cristã, as crenças doutrinárias de Arminius são consideradas abaixo.
Sobre a coisa mais importante que alguém crê – a inspiração e autoridade da Escritura – Arminius foi perfeitamente ortodoxo. Ele afirmou sobre a Bíblia:
A autoridade da palavra de Deus, que está inclusa nas Escrituras no Velho e Novo Testamento, repousa tanto na veracidade de toda a narração, e de todas as declarações, sejam aquelas sobre coisas passadas, presentes, ou futuras; e no poder dos mandamentos e proibições, que são contidos na palavra divina. Ambos os tipos de autoridade podem depender de ninguém senão de Deus, que é o Autor principal desta palavra; tanto porque ele é a Verdade sem suspeita de falsidade, quanto porque ele é de Poder invencível. Por causa disso, o conhecimento somente que esta palavra é divina, é compulsório sobre nossa crença e obediência; e tão fortemente é obrigatório, que esta obrigação pode ser aumentada por nenhuma autoridade externa.[2]
Arminius considerava a Bíblia infalível,[3] e aceitava como canônicos todos os sessenta e seis livros.[4] Ele sempre carregava seu Novo Testamento consigo,[5] e afirmava que da leitura atenta das Sagradas Escrituras: “Eu sinceramente ensinei mais do que qualquer outra pessoa, como toda a universidade e as consciências de meus colegas testificarão.”[6] Ele considerava como “insensata e blasfema” a alegação católica de que as Escrituras “não são autênticas senão pela autoridade da Igreja.”[7] E ele da mesma forma se considerava “de modo algum obrigado a adotar todas as interpretações particulares dos reformados.”[8] Por essa razão, não é surpreendente que os escritos de Arminius estão repletos de referências à Escritura.
Como Calvino e os outros reformadores, Arminius foi vigorosamente anti-católico, classificando-se do lado daqueles que disse que o papa era “o adúltero e o alcoviteiro da Igreja, o falso profeta, o destruidor e subversor da Igreja, o inimigo de Deus e o anticristo.”[9] Ele foi chamado de “um hábil e mais bem sucedido crítico dos papistas.”[10] Arminius nunca hesitou em descrever em termos precisos sua opinião a respeito do papa e daqueles que o seguem. Ele escreveu em sua tese On Idolatry que “o Pontífice Romano é ele mesmo um ídolo: E que aqueles que o estimam como a pessoa que ele e seus seguidores ostentosamente descrevem-no ser, e que apresentam a ele a honra que ele exige, por esses mesmos atos mostram-se idólatras.”[11] Ele também declarou que “uma reforma não deve ser esperada de qualquer um que é elevado ao Pontificado Romano,” e que “o papa será destruído no glorioso retorno de Cristo.”[12] Depois que alguns de seus inimigos acusaram-no da “apostasia de muitas pessoas ao papismo,”[13] Arminius escreveu sua mais forte denúncia do papado:
Eu abertamente declaro, que eu não reconheço que o Pontífice Romano seja membro do corpo de Cristo; mas eu o considero um inimigo, um traidor, um homem sacrílego e blasfemo, um tirano, e um violento usurpador do mais injusto domínio sobre a Igreja, o homem do pecado, o filho da perdição, esse mais notório criminoso.[14]
Sobre a missa católica, Arminius afirmou que “é ímpia, para qualquer sacrifício expiatório agora a ser oferecido pelos homens para os vivos e os mortos.”[15] Ele considerava a missa como oposta à “natureza, verdade e excelência do sacrifício de Cristo.”[16] E finalmente, ele defendia medidas severas contra o papismo: “Enquanto todos os devotos professores devem entusiasticamente desejar a destruição do papismo, como desejariam a respeito do reino do anticristo, eles devem com o maior zelo engajar-se na tentativa, e, no que estiver ao seu alcance, fazer os mais eficientes preparativos para a sua destruição.”[17] A acusação de que Arminius tinha afinidades católicas é obviamente infundada.
Sobre a natureza e atributos dos membros da Divindade, Arminius é novamente completamente ortodoxo. Ele acreditava na “Santíssima Trindade,”[18] ensinava que Deus criou “todas as coisas do nada,”[19] e mantinha que “Deus é capaz de tudo que seja possível.”[20] Arminius expôs sobre a infinidade, imensidade, impassibilidade, imutabilidade, onipresença, unidade, essência, e eternidade de Deus – assim como qualquer teólogo calvinista.[21] As opiniões de Arminius sobre o Senhor Jesus Cristo são da mesma forma consoantes com a Bíblia e as autoridades calvinistas. Ele acreditava que Cristo era eterno,[22] e o descrevia como “o Filho de Deus e Filho do homem; consistindo de duas naturezas, divina e humana, inseparavelmente unidas sem mistura ou desordem.”[23] Ele o identificava como o Jeová do Velho Testamento,[24] que se tornou homem,[25] e foi crucificado por nós.[26] Arminius acreditava na morte, sepultamento, ressurreição e ascenção de Cristo literais.[27] Considerava a Expiação de Cristo como “única, expiatória, perfeita, e de valor infinito.”[28] Sobre o Espírito Santo, Arminius mantinha que o Espírito era “da mesma natureza que Deus Pai e Deus Filho.”[29] É certamente aparente que Arminius foi um trinitariano ortodoxo.
Sobre a queda e depravação do homem, Arminius foi tão ortodoxo quanto o mais radical calvinista. Ele acreditava na completa ruína do homem por causa do pecado de Adão. Por causa desta transgressão: “O homem caiu sob o desprazer e ira de Deus, tornando-se sujeito a uma dupla morte, e merecendo ser privado da justiça e santidade primeva em que grande parte da imagem de Deus consistia.”[30] Esta condenação é “comum a toda a raça e a toda sua posteridade,” pois “qualquer punição que foi trazida sobre nossos primeiros pais, tem da mesma forma penetrado e ainda continua em toda sua posteridade: De modo que todos os homens ‘são por natureza filhos da ira,’ (Ef 2.3) odiosos, merecendo a condenação, a morte temporal e a morte eterna.”[31] Sem ser liberto por Jesus Cristo, Arminius insistia que o homem “permaneceria oprimido para sempre.”[32] Além disso ele caracterizou o homem como desesperadamente perdido:
Em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de e por si mesmo, pensar, desejar, ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições ou vontade, e em todos os seus poderes, por Deus em Cristo através do Espírito Santo, para que ele possa ser capacitado corretamente a entender, avaliar, considerar, desejar, e executar tudo quanto seja verdadeiramente bom.[33]
Dessa forma Arminius descreveu a presente condição do homem numa linguagem com que qualquer calvinista poderia concordar.
Pela razão de ter concluído que o homem estava em uma condição perdida, pecaminosa, Arminius atribuía a salvação inteiramente a Deus por meio de Cristo: “Acredito que os pecadores são contados justos unicamente pela obediência de Cristo; e que a justiça de Cristo é a única causa meritória por conta da qual Deus perdoa os pecados dos crentes e os considera tão justos quanto se eles tivessem perfeitamente cumprido a lei.”[34] Ele descreveu a doutrina da justifação pela fé da Reforma com o vocabulário próprio de Martinho Lutero:
É uma Justificação pela qual um homem, que é pecador, embora crente, sendo colocado diante do trono da graça que é erigido em Cristo Jesus a Propiciação, é contado e pronunciado por Deus, o justo e misericordioso Juiz, reto e digno da recompensa da justiça, não em si mesmo mas em Cristo, da graça, de acordo com o evangelho, para o louvor da justiça e graça de Deus, e para a salvação da própria pessoa justificada.[35]
Arminius até assentiu com as declarações de Calvino sobre a justificação como encontrada em suas Institutas:
Minha opinião não é tão diferente da dele que me impede de empregar a assinatura de minha própria mão para consentir com as coisas que ele pronunciou sobre este assunto, no Terceiro Livro de suas Institutas; isto eu estou preparado para fazer a qualquer hora, e dar a elas a minha completa aprovação.[36]
Ele da mesma forma caracterizou a doutrina da santificação:
É um ato gracioso de Deus, pelo qual Ele purifica o homem que é pecador, embora crente, da escuridão da ignorância, de habitar o pecado e de suas concupiscências e desejos, e o imbui do Espírito do conhecimento, justiça e santidade; que, sendo separado da vida do mundo e feito conforme a Deus, o homem pode viver a vida de Deus, para o louvor da justiça e da gloriosa graça de Deus, e para sua salvação conquistada.[37]
E sobre a segurança do crente, os sentimentos de Arminius eram exatamente como os dos calvinistas de seu dia. Ele até argumentava que “em nenhuma época eu afirmei ‘que crentes finalmente se afastam ou caem da fé ou da salvação.’”[38] Arminius também acreditava que alguém poderia ter segurança da salvação: “Em relação à certeza de salvação, minha opinião é, que é possível ao que crê em Jesus Cristo estar seguro e persuadido e, se seu coração não condená-lo, ele está agora na realidade certo, que é um filho de Deus, e se encontra na graça de Jesus Cristo.”[39] Os sentimentos doutrinários de Arminius referentes à salvação de um pecador são consoantes com os de qualquer calvinista.
Sobre algumas outras questões, Arminius foi como seus companheiros crentes reformados. Ele defendia o batismo de crianças por aspersão – assim como Calvino e as igrejas reformadas hoje em dia.[40] Ele foi também oposto aos anabatistas, e disputou com alguns deles em suas casas.[41] Em 1600 Arminius foi até solicitado para escrever “uma breve refutação de todos os erros dos anabatistas.”[42] Entretanto, até 1605 a refutação ainda não estava acessível, visto que Arminius estava ocupado demais.[43] Mas ainda que ele defendia a organização reformada da Igreja com o Estado, e contendia com aqueles fora da Igreja Reformada, Arminius foi conhecido por sua tolerância, e não há nenhum registro de qualquer perseguição praticada contra “heréticos.”
Embora Arminius acreditava que tinha liberdade para expor a palavra de Deus de acordo com os ditames de sua consciência, ele sempre foi cuidadoso no que ensinava e procurava evitar controvérsia e cisma. Durante um debate com Petrus Plancius (1552-1622), Arminius declarou que “ele sempre emprega extrema cautela nas doutrinas que ensinava, com receio de que algum deles pudesse ser corrompido a erradicar as fundações da fé cristã.”[44] Ele claramente afirmou o objetivo de sua vida cristã:
Com relação à Ambição, eu não a possuo, exceto aquela espécie honrosa que me impele a este serviço, - a indagar com toda a dedicação nas Sagradas Escrituras pela Verdade Divina, e brandamente e sem contradição declará-la quando encontrada, sem prescrevê-la a ninguém, ou trabalhar para forçar consentimento, muito menos através de um desejo de “ter domínio sobre a fé dos outros,” mas antes pelo propósito de vencer algumas almas para Cristo, para que eu possa ser um doce aroma a Ele, e possa obter uma reputação aprovada na igreja dos Santos.[45]
Mesmo em seu testamento Arminius mantinha esta posição e exaltava a Escritura, como este extrato de seu testamento mostra:
Acima de tudo, confio minha alma, em sua partida do corpo, às mãos de Deus, que é seu Criador e fiel Salvador; ante o qual eu também testifico, que caminhei com simplicidade e sinceridade, e “com toda a boa consciência,” em meu ofício e vocação; e que tenho guardado com a maior solicitude e prudência, de expor ou ensinar qualquer coisa, que, após uma diligente busca nas Escrituras, não tenha concordado com os registros sagrados; e que todas as doutrinas por mim expostas, foram na intenção de levar à propagação e crescimento da verdade da Religião Cristã, da verdadeira adoração a Deus, da devoção de todos, e de uma sagrada relação entre os homens, - e também para contribuir, de acordo com a palavra de Deus, a um estado de tranqüilidade e paz característico do nome cristão; e que destes favores eu excluí o Papado, com o qual nenhuma unidade de fé, nenhum laço de piedade ou da paz cristã pode ser conservado.[46]
Arminius merece ser classificado como um teólogo holandês reformado ortodoxo.[47] Ele foi natural, nascido em Oudewater, e treinado para o ministério em Leiden. Pastoreou em Amsterdã e depois treinou ministros em Leiden. Não conheceu nenhuma outra igreja senão a Igreja Reformada Holandesa, consentindo com seus credos, e defendendo-a contra todas as outras. Mesmo depois deste breve estudo da teologia de Arminius, as palavras de Bertius, proferidas no término da oração fúnebre quando da morte de Arminius, soam claras: “Viveu na Holanda um homem que aqueles que não conheciam não podiam suficientemente estimar, que aqueles que não estimavam nunca tinham suficientemente conhecido.”[48] Sua teologia foi ortodoxa, mas diferente de Calvino, ele exerceu tolerância com aqueles com quem discordava. Nas palavras do notável advogado Hugo Grotius (1583-1645): “Condenado pelos outros, ele não condenou ninguém.”[49]
Sobre a coisa mais importante que alguém crê – a inspiração e autoridade da Escritura – Arminius foi perfeitamente ortodoxo. Ele afirmou sobre a Bíblia:
A autoridade da palavra de Deus, que está inclusa nas Escrituras no Velho e Novo Testamento, repousa tanto na veracidade de toda a narração, e de todas as declarações, sejam aquelas sobre coisas passadas, presentes, ou futuras; e no poder dos mandamentos e proibições, que são contidos na palavra divina. Ambos os tipos de autoridade podem depender de ninguém senão de Deus, que é o Autor principal desta palavra; tanto porque ele é a Verdade sem suspeita de falsidade, quanto porque ele é de Poder invencível. Por causa disso, o conhecimento somente que esta palavra é divina, é compulsório sobre nossa crença e obediência; e tão fortemente é obrigatório, que esta obrigação pode ser aumentada por nenhuma autoridade externa.[2]
Arminius considerava a Bíblia infalível,[3] e aceitava como canônicos todos os sessenta e seis livros.[4] Ele sempre carregava seu Novo Testamento consigo,[5] e afirmava que da leitura atenta das Sagradas Escrituras: “Eu sinceramente ensinei mais do que qualquer outra pessoa, como toda a universidade e as consciências de meus colegas testificarão.”[6] Ele considerava como “insensata e blasfema” a alegação católica de que as Escrituras “não são autênticas senão pela autoridade da Igreja.”[7] E ele da mesma forma se considerava “de modo algum obrigado a adotar todas as interpretações particulares dos reformados.”[8] Por essa razão, não é surpreendente que os escritos de Arminius estão repletos de referências à Escritura.
Como Calvino e os outros reformadores, Arminius foi vigorosamente anti-católico, classificando-se do lado daqueles que disse que o papa era “o adúltero e o alcoviteiro da Igreja, o falso profeta, o destruidor e subversor da Igreja, o inimigo de Deus e o anticristo.”[9] Ele foi chamado de “um hábil e mais bem sucedido crítico dos papistas.”[10] Arminius nunca hesitou em descrever em termos precisos sua opinião a respeito do papa e daqueles que o seguem. Ele escreveu em sua tese On Idolatry que “o Pontífice Romano é ele mesmo um ídolo: E que aqueles que o estimam como a pessoa que ele e seus seguidores ostentosamente descrevem-no ser, e que apresentam a ele a honra que ele exige, por esses mesmos atos mostram-se idólatras.”[11] Ele também declarou que “uma reforma não deve ser esperada de qualquer um que é elevado ao Pontificado Romano,” e que “o papa será destruído no glorioso retorno de Cristo.”[12] Depois que alguns de seus inimigos acusaram-no da “apostasia de muitas pessoas ao papismo,”[13] Arminius escreveu sua mais forte denúncia do papado:
Eu abertamente declaro, que eu não reconheço que o Pontífice Romano seja membro do corpo de Cristo; mas eu o considero um inimigo, um traidor, um homem sacrílego e blasfemo, um tirano, e um violento usurpador do mais injusto domínio sobre a Igreja, o homem do pecado, o filho da perdição, esse mais notório criminoso.[14]
Sobre a missa católica, Arminius afirmou que “é ímpia, para qualquer sacrifício expiatório agora a ser oferecido pelos homens para os vivos e os mortos.”[15] Ele considerava a missa como oposta à “natureza, verdade e excelência do sacrifício de Cristo.”[16] E finalmente, ele defendia medidas severas contra o papismo: “Enquanto todos os devotos professores devem entusiasticamente desejar a destruição do papismo, como desejariam a respeito do reino do anticristo, eles devem com o maior zelo engajar-se na tentativa, e, no que estiver ao seu alcance, fazer os mais eficientes preparativos para a sua destruição.”[17] A acusação de que Arminius tinha afinidades católicas é obviamente infundada.
Sobre a natureza e atributos dos membros da Divindade, Arminius é novamente completamente ortodoxo. Ele acreditava na “Santíssima Trindade,”[18] ensinava que Deus criou “todas as coisas do nada,”[19] e mantinha que “Deus é capaz de tudo que seja possível.”[20] Arminius expôs sobre a infinidade, imensidade, impassibilidade, imutabilidade, onipresença, unidade, essência, e eternidade de Deus – assim como qualquer teólogo calvinista.[21] As opiniões de Arminius sobre o Senhor Jesus Cristo são da mesma forma consoantes com a Bíblia e as autoridades calvinistas. Ele acreditava que Cristo era eterno,[22] e o descrevia como “o Filho de Deus e Filho do homem; consistindo de duas naturezas, divina e humana, inseparavelmente unidas sem mistura ou desordem.”[23] Ele o identificava como o Jeová do Velho Testamento,[24] que se tornou homem,[25] e foi crucificado por nós.[26] Arminius acreditava na morte, sepultamento, ressurreição e ascenção de Cristo literais.[27] Considerava a Expiação de Cristo como “única, expiatória, perfeita, e de valor infinito.”[28] Sobre o Espírito Santo, Arminius mantinha que o Espírito era “da mesma natureza que Deus Pai e Deus Filho.”[29] É certamente aparente que Arminius foi um trinitariano ortodoxo.
Sobre a queda e depravação do homem, Arminius foi tão ortodoxo quanto o mais radical calvinista. Ele acreditava na completa ruína do homem por causa do pecado de Adão. Por causa desta transgressão: “O homem caiu sob o desprazer e ira de Deus, tornando-se sujeito a uma dupla morte, e merecendo ser privado da justiça e santidade primeva em que grande parte da imagem de Deus consistia.”[30] Esta condenação é “comum a toda a raça e a toda sua posteridade,” pois “qualquer punição que foi trazida sobre nossos primeiros pais, tem da mesma forma penetrado e ainda continua em toda sua posteridade: De modo que todos os homens ‘são por natureza filhos da ira,’ (Ef 2.3) odiosos, merecendo a condenação, a morte temporal e a morte eterna.”[31] Sem ser liberto por Jesus Cristo, Arminius insistia que o homem “permaneceria oprimido para sempre.”[32] Além disso ele caracterizou o homem como desesperadamente perdido:
Em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de e por si mesmo, pensar, desejar, ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições ou vontade, e em todos os seus poderes, por Deus em Cristo através do Espírito Santo, para que ele possa ser capacitado corretamente a entender, avaliar, considerar, desejar, e executar tudo quanto seja verdadeiramente bom.[33]
Dessa forma Arminius descreveu a presente condição do homem numa linguagem com que qualquer calvinista poderia concordar.
Pela razão de ter concluído que o homem estava em uma condição perdida, pecaminosa, Arminius atribuía a salvação inteiramente a Deus por meio de Cristo: “Acredito que os pecadores são contados justos unicamente pela obediência de Cristo; e que a justiça de Cristo é a única causa meritória por conta da qual Deus perdoa os pecados dos crentes e os considera tão justos quanto se eles tivessem perfeitamente cumprido a lei.”[34] Ele descreveu a doutrina da justifação pela fé da Reforma com o vocabulário próprio de Martinho Lutero:
É uma Justificação pela qual um homem, que é pecador, embora crente, sendo colocado diante do trono da graça que é erigido em Cristo Jesus a Propiciação, é contado e pronunciado por Deus, o justo e misericordioso Juiz, reto e digno da recompensa da justiça, não em si mesmo mas em Cristo, da graça, de acordo com o evangelho, para o louvor da justiça e graça de Deus, e para a salvação da própria pessoa justificada.[35]
Arminius até assentiu com as declarações de Calvino sobre a justificação como encontrada em suas Institutas:
Minha opinião não é tão diferente da dele que me impede de empregar a assinatura de minha própria mão para consentir com as coisas que ele pronunciou sobre este assunto, no Terceiro Livro de suas Institutas; isto eu estou preparado para fazer a qualquer hora, e dar a elas a minha completa aprovação.[36]
Ele da mesma forma caracterizou a doutrina da santificação:
É um ato gracioso de Deus, pelo qual Ele purifica o homem que é pecador, embora crente, da escuridão da ignorância, de habitar o pecado e de suas concupiscências e desejos, e o imbui do Espírito do conhecimento, justiça e santidade; que, sendo separado da vida do mundo e feito conforme a Deus, o homem pode viver a vida de Deus, para o louvor da justiça e da gloriosa graça de Deus, e para sua salvação conquistada.[37]
E sobre a segurança do crente, os sentimentos de Arminius eram exatamente como os dos calvinistas de seu dia. Ele até argumentava que “em nenhuma época eu afirmei ‘que crentes finalmente se afastam ou caem da fé ou da salvação.’”[38] Arminius também acreditava que alguém poderia ter segurança da salvação: “Em relação à certeza de salvação, minha opinião é, que é possível ao que crê em Jesus Cristo estar seguro e persuadido e, se seu coração não condená-lo, ele está agora na realidade certo, que é um filho de Deus, e se encontra na graça de Jesus Cristo.”[39] Os sentimentos doutrinários de Arminius referentes à salvação de um pecador são consoantes com os de qualquer calvinista.
Sobre algumas outras questões, Arminius foi como seus companheiros crentes reformados. Ele defendia o batismo de crianças por aspersão – assim como Calvino e as igrejas reformadas hoje em dia.[40] Ele foi também oposto aos anabatistas, e disputou com alguns deles em suas casas.[41] Em 1600 Arminius foi até solicitado para escrever “uma breve refutação de todos os erros dos anabatistas.”[42] Entretanto, até 1605 a refutação ainda não estava acessível, visto que Arminius estava ocupado demais.[43] Mas ainda que ele defendia a organização reformada da Igreja com o Estado, e contendia com aqueles fora da Igreja Reformada, Arminius foi conhecido por sua tolerância, e não há nenhum registro de qualquer perseguição praticada contra “heréticos.”
Embora Arminius acreditava que tinha liberdade para expor a palavra de Deus de acordo com os ditames de sua consciência, ele sempre foi cuidadoso no que ensinava e procurava evitar controvérsia e cisma. Durante um debate com Petrus Plancius (1552-1622), Arminius declarou que “ele sempre emprega extrema cautela nas doutrinas que ensinava, com receio de que algum deles pudesse ser corrompido a erradicar as fundações da fé cristã.”[44] Ele claramente afirmou o objetivo de sua vida cristã:
Com relação à Ambição, eu não a possuo, exceto aquela espécie honrosa que me impele a este serviço, - a indagar com toda a dedicação nas Sagradas Escrituras pela Verdade Divina, e brandamente e sem contradição declará-la quando encontrada, sem prescrevê-la a ninguém, ou trabalhar para forçar consentimento, muito menos através de um desejo de “ter domínio sobre a fé dos outros,” mas antes pelo propósito de vencer algumas almas para Cristo, para que eu possa ser um doce aroma a Ele, e possa obter uma reputação aprovada na igreja dos Santos.[45]
Mesmo em seu testamento Arminius mantinha esta posição e exaltava a Escritura, como este extrato de seu testamento mostra:
Acima de tudo, confio minha alma, em sua partida do corpo, às mãos de Deus, que é seu Criador e fiel Salvador; ante o qual eu também testifico, que caminhei com simplicidade e sinceridade, e “com toda a boa consciência,” em meu ofício e vocação; e que tenho guardado com a maior solicitude e prudência, de expor ou ensinar qualquer coisa, que, após uma diligente busca nas Escrituras, não tenha concordado com os registros sagrados; e que todas as doutrinas por mim expostas, foram na intenção de levar à propagação e crescimento da verdade da Religião Cristã, da verdadeira adoração a Deus, da devoção de todos, e de uma sagrada relação entre os homens, - e também para contribuir, de acordo com a palavra de Deus, a um estado de tranqüilidade e paz característico do nome cristão; e que destes favores eu excluí o Papado, com o qual nenhuma unidade de fé, nenhum laço de piedade ou da paz cristã pode ser conservado.[46]
Arminius merece ser classificado como um teólogo holandês reformado ortodoxo.[47] Ele foi natural, nascido em Oudewater, e treinado para o ministério em Leiden. Pastoreou em Amsterdã e depois treinou ministros em Leiden. Não conheceu nenhuma outra igreja senão a Igreja Reformada Holandesa, consentindo com seus credos, e defendendo-a contra todas as outras. Mesmo depois deste breve estudo da teologia de Arminius, as palavras de Bertius, proferidas no término da oração fúnebre quando da morte de Arminius, soam claras: “Viveu na Holanda um homem que aqueles que não conheciam não podiam suficientemente estimar, que aqueles que não estimavam nunca tinham suficientemente conhecido.”[48] Sua teologia foi ortodoxa, mas diferente de Calvino, ele exerceu tolerância com aqueles com quem discordava. Nas palavras do notável advogado Hugo Grotius (1583-1645): “Condenado pelos outros, ele não condenou ninguém.”[49]
[1] Richard A. Muller, God, Creation, and Providence in the Thought of Jacob Arminius (Grand Rapids: Baker Book House, 1991), p. 269.
[2] Works of Arminius, vol. 2, p. 324.
[3] Ibid., p. 323.
[4] Ibid., pp. 323-324.
[5] Ibid., vol. 1, p. 247.
[6] Ibid., p. 295.
[7] Ibid., vol. 2, p. 81.
[8] Ibid., vol. 1, p. 103.
[9] Ibid., vol. 2, pp. 264-265.
[10] Ibid., vol. 1, p. 49.
[11] Ibid., vol. 2, p. 306.
[12] Ibid., vol. 1, p. 299.
[13] Ibid., p. 298.
[14] Ibid.
[15] Ibid., vol. 2, p. 444.
[16] Ibid., p. 243.
[17] Ibid., vol. 1, p. 644.
[18] Ibid., vol. 2, p. 138.
[19] Ibid., p. 355.
[20] Ibid., p. 353.
[21] Ibid., pp. 115-118.
[22] Ibid., p. 143.
[23] Ibid., p. 379.
[24] Ibid., p. 141.
[25] Ibid., p. 379.
[26] Ibid., p. 387.
[27] Ibid., pp. 387-388.
[28] Ibid., p. 443.
[29] Ibid., p. 145.
[30] Ibid., p. 151.
[31] Ibid., pp. 156-157.
[32] Ibid., p. 157.
[33] Ibid., vol. 1, pp. 659-660.
[34] Ibid., p. 700.
[35] Ibid., vol. 2, p. 256.
[36] Ibid., vol. 1, p. 700.
[37] Ibid., vol. 2, p. 408.
[38] Ibid., vol. 1, p. 741.
[39] Ibid., p. 667.
[40] Ibid., vol. 2, pp. 440-441.
[41] Bangs, Arminius: A Study, p. 167.
[42] Ibid.
[43] Ibid., p. 168.
[44] Works of Arminius, vol. 1, p. 103.
[45] Ibid., vol. 2, p. 703.
[46] Ibid., vol. 1, p. 45.
[47] Bangs, Arminius as a Theologian, pp. 214-221.
[48] Peter Bertius, citado em Bangs, Arminius: A Study, p. 331.
[49] Hugo Grotius, citado em Curtiss, p. 50.
Fonte: http://www.arminianismo.com/
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