Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo
Incapacidade Total
Quando um calvinista diz Depravação Total, o que ele realmente quer dizer é Incapacidade Total, que não tem nada a ver com a Depravação Total, mas é particularmente o suposto resultado dela. Um batista da Graça Soberana simplesmente diz: “Depravação total é a causa da incapacidade total e a incapacidade total é o resultado da depravação total.”[1] Good explica que “a incapacidade está relacionada com a depravação como uma parte de um círculo está relacionada com o todo.”[2] Mas de acordo com os calvinistas, a incapacidade do homem não é apenas que “a natureza humana foi e está completamente corrompida pelo pecado de forma que o homem é totalmente incapaz de fazer qualquer coisa para efetuar sua salvação.”[3] Esta ainda não é a história toda. A doutrina calvinista da depravação é despretenciosamente declarada pelos calvinistas como se referindo à incapacidade do homem para livremente crer em Jesus Cristo para a salvação. Talbot e Crampton autenticam esta proposição: “A Bíblia enfatiza a total incapacidade do homem caído de responder às coisas de Deus; ele não é capaz de agir assim. Isto é o que o calvinista quer dizer com ‘depravação total.’”[4] Pink expande ainda mais a respeito da incapacidade do homem: “Como uma criatura o homem natural é responsável por amar, obedecer, e servir a Deus; como um pecador ele é responsável por se arrepender e crer no Evangelho. Mas no início somos confrontados com o fato de que o homem natural é incapaz de amar e servir a Deus, e que o pecador, de si mesmo, não pode se arrepender e crer.”[5] Então a incapacidade não tem nada a ver com a depravação do homem e a necessidade de um salvador, mas antes se relaciona com a incapacidade do homem em fazer o que, vez após vez, é comandado por Deus a fazer:
E dizendo: O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho (Mc 1.15).
Mas Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam (At 17.30).
Isso nos leva ao real significado da Depravação Total. Pink reconhece o que ele e todos os calvinistas realmente acreditam sobre a Depravação Total quando diz que é a liberdade da vontade para resistir ou render-se que “define nossa concepção da depravação humana.”[6] A Depravação Total é então uma doutrina negativa. Quando alguém pensa na depravação do homem, pensamentos de ações positivas do homem vêm à mente: pensamentos pecaminosos, palavras pecaminosas, ações pecaminosas. Mas Depravação Total não é sobre algo que o pecador faz, ela se relaciona com o que o pecador não é capaz de fazer.
Então, quando consultando a Confissão de Westminster para apoiar o primeiro ponto do Calvinismo, o lugar certo para olhar não é o supracitado Capítulo VI, mas o Capítulo IX, “Do Libre-Arbítrio,” que diz em parte:
III. O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso.
IV. Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele o liberta da sua natural escravidão ao pecado e, somente pela sua graça, o habilita a querer e fazer com toda a liberdade o que é espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por causa da corrupção, ainda nele existente, o pecador não faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é mau.
Os Cânones de Dort imitam esta descrição da “incapacidade” do homem:
Portanto, todos os homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes de qualquer ação que o salve, inclinados para o mal, mortos em pecados e escravos do pecado. Sem a graça do Espírito Santo regenerador nem desejam nem tampouco podem retornar a Deus, corrigir suas naturezas corrompidas ou ao menos estar dispostos para esta correção.[7]
Ainda que alguns calvinistas na verdade chamam seu primeiro ponto Incapacidade Total,[8] a maioria simplesmente diz “depravação ou incapacidade total” querendo dizer a mesma coisa.[9] Outros são mais sutis e preferem o termo Depravação Total mas o define como Incapacidade Total.[10] Quanto a por que mais calvinistas não usam o termo correto, Palmer admite que o termo Incapacidade Total “sofre por ser tão negativo.”[11] Mas apesar desta confusa série de terminologia, e não importa o que um calvinista chama o primeiro ponto do Calvinismo, o significado é claro: o homem é incapaz de se arrepender e crer no Evangelho que Deus o comanda a assim fazer. O fato de que nem a Depravação Total nem a Incapacidade Total ser mencionada na Bíblia não desanima um calvinista, ele simplesmente reage dizendo que “ambas as expressões são reveladas na Palavra de Deus em outras maneiras de expressar sua moderna conotação.”[12]
Para direcionar alguém para longe do aspecto da incapacidade, os calvinistas concluem que as pessoas confundem incapacidade com algo que eles chamam de “depravação absoluta.”[13] Isto é devido em parte à tática dos calvinistas quando confrontados com sua verdadeira posição. Como vimos no capítulo 1, o calvinista tem um hábito peculiar de mudar o assunto ou informar o que ele não crê quando confrontado com as objeções de sua posição. Mas novamente estamos atolados em um abismo de terminologia. Sproul prefere o termo “corrupção radical,”[14] enquanto seu mentor John Gerstner (1914-1996) contrasta total com “absoluta e extrema e final depravação.”[15] Depravação absoluta tem sido definida como: “A expressão do mal de sua natureza pecaminosa enquanto for possível, sempre.”[16] Os calvinistas corretamente insistem que este não é o caso; então, o cristão é levado a crer que a Depravação Total é ortodoxa visto que ele obviamente concorda com o calvinista ao desprezar uma depravação absoluta. Talbot e Crampton até chamam o ensino da depravação absoluta “hiper-calvinista.”[17] Mas justamente quando o vocabulário único dos calvinistas estava se tornando compreensível, o teólogo reformado protestante Herman Hanko rejeita o contraste entre total e absoluta, inisistindo que esta distinção “é pretendida precisamente para dar lugar a algum bem que o homem é capaz de executar.”[18] Ele crê que foi inventado “para suavizar a verdade da depravação total.”[19] Um outro teólogo da Igreja Reformada Protestante, David Engelsma, afirma que o debate sobre a depravação absoluta “não é certamente útil para entender a real questão em jogo na controvérsia sobre a condição espiritual do homem caído.”[20] Então, como veremos ao longo desta obra, os calvinistas muitas vezes têm diferenças substanciais entre si – até mesmo referentes às doutrinas do Calvinismo.
E dizendo: O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho (Mc 1.15).
Mas Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam (At 17.30).
Isso nos leva ao real significado da Depravação Total. Pink reconhece o que ele e todos os calvinistas realmente acreditam sobre a Depravação Total quando diz que é a liberdade da vontade para resistir ou render-se que “define nossa concepção da depravação humana.”[6] A Depravação Total é então uma doutrina negativa. Quando alguém pensa na depravação do homem, pensamentos de ações positivas do homem vêm à mente: pensamentos pecaminosos, palavras pecaminosas, ações pecaminosas. Mas Depravação Total não é sobre algo que o pecador faz, ela se relaciona com o que o pecador não é capaz de fazer.
Então, quando consultando a Confissão de Westminster para apoiar o primeiro ponto do Calvinismo, o lugar certo para olhar não é o supracitado Capítulo VI, mas o Capítulo IX, “Do Libre-Arbítrio,” que diz em parte:
III. O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso.
IV. Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele o liberta da sua natural escravidão ao pecado e, somente pela sua graça, o habilita a querer e fazer com toda a liberdade o que é espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por causa da corrupção, ainda nele existente, o pecador não faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é mau.
Os Cânones de Dort imitam esta descrição da “incapacidade” do homem:
Portanto, todos os homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes de qualquer ação que o salve, inclinados para o mal, mortos em pecados e escravos do pecado. Sem a graça do Espírito Santo regenerador nem desejam nem tampouco podem retornar a Deus, corrigir suas naturezas corrompidas ou ao menos estar dispostos para esta correção.[7]
Ainda que alguns calvinistas na verdade chamam seu primeiro ponto Incapacidade Total,[8] a maioria simplesmente diz “depravação ou incapacidade total” querendo dizer a mesma coisa.[9] Outros são mais sutis e preferem o termo Depravação Total mas o define como Incapacidade Total.[10] Quanto a por que mais calvinistas não usam o termo correto, Palmer admite que o termo Incapacidade Total “sofre por ser tão negativo.”[11] Mas apesar desta confusa série de terminologia, e não importa o que um calvinista chama o primeiro ponto do Calvinismo, o significado é claro: o homem é incapaz de se arrepender e crer no Evangelho que Deus o comanda a assim fazer. O fato de que nem a Depravação Total nem a Incapacidade Total ser mencionada na Bíblia não desanima um calvinista, ele simplesmente reage dizendo que “ambas as expressões são reveladas na Palavra de Deus em outras maneiras de expressar sua moderna conotação.”[12]
Para direcionar alguém para longe do aspecto da incapacidade, os calvinistas concluem que as pessoas confundem incapacidade com algo que eles chamam de “depravação absoluta.”[13] Isto é devido em parte à tática dos calvinistas quando confrontados com sua verdadeira posição. Como vimos no capítulo 1, o calvinista tem um hábito peculiar de mudar o assunto ou informar o que ele não crê quando confrontado com as objeções de sua posição. Mas novamente estamos atolados em um abismo de terminologia. Sproul prefere o termo “corrupção radical,”[14] enquanto seu mentor John Gerstner (1914-1996) contrasta total com “absoluta e extrema e final depravação.”[15] Depravação absoluta tem sido definida como: “A expressão do mal de sua natureza pecaminosa enquanto for possível, sempre.”[16] Os calvinistas corretamente insistem que este não é o caso; então, o cristão é levado a crer que a Depravação Total é ortodoxa visto que ele obviamente concorda com o calvinista ao desprezar uma depravação absoluta. Talbot e Crampton até chamam o ensino da depravação absoluta “hiper-calvinista.”[17] Mas justamente quando o vocabulário único dos calvinistas estava se tornando compreensível, o teólogo reformado protestante Herman Hanko rejeita o contraste entre total e absoluta, inisistindo que esta distinção “é pretendida precisamente para dar lugar a algum bem que o homem é capaz de executar.”[18] Ele crê que foi inventado “para suavizar a verdade da depravação total.”[19] Um outro teólogo da Igreja Reformada Protestante, David Engelsma, afirma que o debate sobre a depravação absoluta “não é certamente útil para entender a real questão em jogo na controvérsia sobre a condição espiritual do homem caído.”[20] Então, como veremos ao longo desta obra, os calvinistas muitas vezes têm diferenças substanciais entre si – até mesmo referentes às doutrinas do Calvinismo.
[1] Harold Harvey, em “The Berea Baptist Banner Forum,” The Berea Baptist Banner, 5 de outubro de 1989, p. 190.
[2] Good, God’s Purpose, p. 16.
[3] Rose, p. 2.
[4] Talbot e Crampton, p. 20.
[5] Pink, Sovereignty, p. 149.
[6] Ibid., p. 136.
[7] Cânones de Dort, III, IV:3.
[8] Boettner, Predestination, p. 60; Seaton, p. 8; Good, God’s Purpose, p. 16.
[9] Kober, p. 7; Kruithof, p. 33; Steele e Thomas, p. 24; Talbot e Crampton, p. 17.
[10] Hanko, Total Depravity, p. 18.
[11] Palmer, p. 14.
[12] E. D. Strickland, em “The Berea Baptist Banner Forum,” The Berea Baptist Banner, 5 de outubro de 1989, p. 190.
[13] Palmer, p. 9; Spencer, Tulip, p. 24.
[14] Sproul, Eleitos de Deus, p. 76.
[15] John H. Gerstner, A Predestination Primer (Grand Rapids: Baker Book House, 1960), p. 10.
[16] Spencer, Tulip, p. 24.
[17] Talbot e Crampton, p. 18.
[18] Hanko, Total Depravity, p. 17.
[19] Ibid., p. 16.
[20] David J. Engelsma, “The Death of Confessional Calvinism in Scottish Presbyterianism,” Standard Bearer, 1º de dezembro de 1992, p. 102.
Fonte: http://www.arminianismo.com/
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