terça-feira, 31 de março de 2009

A Vida de Arminius

Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo
A Vida de Arminius
James Arminius foi um holandês que viveu a maior parte de sua vida em sua terra natal Holanda. Nasceu em Oudewater, em 10 de outubro de 1560, e morreu apenas quarenta e nove anos mais tarde, em Leiden, em 19 de outubro de 1609.[1] Como ele tinha apenas quatro anos de idade quando Calvino morreu em 1564, é claramente evidente que Calvino e Arminius nunca debateram a questão do Calvinismo como é comumente suposto. Ele foi o terceiro e o mais jovem filho de um ferreiro que ele nunca conheceu, pois o pai de Arminius morreu quando ele era uma criança, justamente o oposto que aconteceu com Calvino, cuja mãe morreu. Enquanto estudante universitário, Arminius latinizou seu nome holandês original, usualmente apresentado como Jacob Harmenszoon, imitando, como era comum, outros homens instruídos.[2] Ele se denominou Arminius, o nome do famoso comandante germânico que resistiu aos romanos no início do primeiro século.[3]

Após a morte de seu pai, designaram a Arminius um tutor legal, Theodorus Aemilus (m. 1574), um sacerdote inclinado ao Protestantismo e primo de sua mãe.[4] Aemilus tomou o jovem James para dentro de sua casa em Utrecht e treinou-o no latim, grego, e em teologia.[5] Na morte de Aemilus quando Arminius tinha quatorze anos, mais um primo de sua mãe, Rudolphus Snellias (1547-1613), retomou o papel de tutor de Arminius.[6] Snellias, um lingüista e matemático da Universidade de Marburg na Alemanha, matriculou Arminius na universidade em 1575.[7] Foi o reformador Philip Melanchthon que foi instrumental na fundação de Marburg como a primeira universidade protestante em 1527.[8]

Um acontecimento trágico aconteceu em 1575, interrompendo os estudos do jovem Arminius. Tropas espanholas invadiram Oudewater e massacrou a cidade – matando toda sua família, e capturando e enforcando o ministro protestante. Oudewater tinha anteriormente apoiado o protestante William of Orange, resultando em uma contínua controvérsia religiosa que culminou na citada invasão. Ao ouvir as novas, Arminius, após duas semanas de amarga lamentação, retornou à sua terra natal para se confrontar com morte e destruição.[9] Ele rapidamente viajou de volta a Marburg, e após um curto período de tempo lá, retornou por Roterdã para sua terra natal e matriculou-se na nova universidade de Leiden em 1576, onde iria passar os próximos cinco anos. Oudewater, entretanto, não ficou livre da ocupação espanhola até dezembro de 1576.

Na Universidade de Leiden, uma escola protestante fundada em 1575 por William of Orange, Arminius se distinguiu acima do resto de seus colegas de classe. Seu companheiro, Peter Bertius (c. 1564-1629), que futuramente proferiria uma oração fúnebre na morte de Arminius, relatou que “se qualquer um de nós tivesse um tema particular ou um ensaio a compor, ou um discurso a recitar, o primeiro passo que tomávamos era perguntar por Arminius. Se levantasse qualquer discussão amigável entre nós, a decisão da qual exigia o julgamento legal de um Palaemon [um deus grego do mar], íamos em busca de Arminius, que sempre era consultado.”[10] Um professor na universidade recomendava aos estudantes imitar o exemplo de Arminius e igualmente cumprimentava-o pelos “dons de seu gênio, e sua proficiência no aprendizado e virtude.”[11] Após terminar seus estudos em Leiden, que incluiu uma obtenção de um conhecimento suficiente do hebraico,[12] Arminius aceitou uma doação da Associação dos Comerciantes de Amsterdã para promover seus estudos teológicos em Genebra.[13] A doação veio de um fundo antigamente usado para “desnecessária superstição, embriaguez, e farra indecorosa” quando os membros da associação festejavam após assistir a uma missa solene especial, mas, após a cidade se tornar protestante, agora usado para “propósitos religiosos e dignos.”[14] Em troca dos benefícios financeiros, Arminius assinou um acordo para exercer seu ministério na igreja reformada em Amsterdã.[15]

Desde sua fundação em 1559, a universidade em Genebra tinha atraído muitos estudantes ministeriais holandeses. Arminius matriculou-se em Genebra no dia 1º de janeiro de 1582, durante o curso de palestras sobre o Livro de Romanos pelo veterano reformado, Theodore Beza.[16] Como sua permanência na Universidade de Marburg, a residência de Arminius em Genebra foi de curta duração. Entretanto, desta vez o acontecimento trágico foi o ressentimento sentido por alguns pelas suas palestras privadas que opunham seu sistema de lógica. Arminius seguia o sistema de Peter Ramus (1515-1572), um notável crítico de Aristóteles (384-322).[17] Arminius então se transferiu para a Universidade de Basel no verão de 1583.[18] A faculdade em Basel o estimava tanto que eles ofereceram promovê-lo a doutor de teologia, mas Arminius se recusou em razão de sua juventude.[19] No próximo ano Arminius volta a Genebra para reassumir seus estudos. Arminius deixou Genebra em 1586 e visitou as cidades italianas de Pádua e Roma. Foi a ocasião desta viagem a Roma que os inimigos de Arminius o acusaram de ter relações com os católicos.[20] Todavia o próprio Arminius observou de sua viagem que foi proveitoso a ele, pois ele viu em Roma “‘o mistério da iniquidade’ em uma forma mais sórdida, repulsiva e detestável do que sua imaginação jamais poderia ter concebido.”[21] Após retornar brevemente para Genebra, Arminius informou a Amsterdã no outono de 1587 seu treinamento para o ministério agora concluído.

Amsterdã era o centro da vida comercial holandesa. Como a maioria das cidades européias, foi solidamente católica romana no início do século dezesseis. E embora houvesse vários dissidentes, não foi até 1578 que os conflitos religiosos que tinham assolado desde o começo do século foram acalmados – em favor dos protestantes. Arminius logo passou nos exames para ser admitido como um “pregador em experiência,” e foi formalmente ordenado em 27 de agosto de 1588.[22] Ele foi o primeiro holandês natural a ministrar na igreja reformada em Amsterdã.[23] O acima mencionado Peter Bertius relata que “tão logo ele foi visto no púlpito, é impossível descrever a graça e o favor extraordinários que ele obtinha dos homens de todas as classes.”[24] Os outros ministros da cidade da mesma forma prestaram homenagem à sua erudição.[25] Após servir como pastor por dois anos, Arminius se casou com a filha de um notório comerciante e subseqüentemente gerou doze filhos – três morreram na infância. Ele continuou em Amsterdã quinze anos, até 1603, desempenhando os deveres pastorais comuns e exercendo muitas responsabilidades oficiais em favor dos ministros de Amsterdã, servindo como secretário, tesoureiro, delegado, presidente, e representante.[26]

Na mesma época, de volta à Universidade de Leiden, a praga tinha levado o notável professor de teologia, Franciscus Junius (1545-1602), e Arminius foi escolhido para sucedê-lo.[27] Ele se mudou para Leiden em junho de 1603, sua grande família precisando de duas casas perto da universidade. Junto com esta designação, Arminius recebeu seu doutorado em teologia, defendendo teses sobre a natureza de Deus.[28] Sua disputa então se tornou sua primeira obra publicada, pois ainda que ele tinha escrito extensivamente enquanto em Amsterdã (principalmente estudos teológicos), nada foi publicado durante esse tempo.[29] E embora Arminius da mesma forma escreveu extensivamente durante seus anos em Leiden, a maioria de suas obras não foi publicada até depois de sua morte.[30] A coleção de três volumes, atualmente disponível, contendo a maioria das obras de Arminius é uma reedição da edição do século dezenove de James e William Nichols.[31] A enfermidade seguiu Arminius até Leiden e ele ficou cada vez mais doente e freqüentemente ficava acamado.[32] A controvérsia igualmente o atemorizava, e seus inimigos eram inflexíveis.[33] Ele sofreu numerosos ataques pessoais e se ocupou com aparentemente infindáveis controvérsias teológicas sobre o Calvinismo – suportando-os até o fim – e morreu em seu próprio lar na presença de seus amigos e da família.

[1] A data tradicional do nascimento de Arminius é 1560, mas Carl Bangs (Arminius: A Study in the Dutch Reformation) argumenta em favor de 1559 como sendo a data correta.
[2] O nome de Arminius pode ser encontrado como: Hermann, Harmensen, Van Herman, Hermanss, Van Harmin, Harmenszoon, Harmensen, Harmenson, Hermanszoon, Hermandszoon, Hermans, Harmens, Harmsen, Hermannson, van Hermanns, Haemensz, e Harmanzoon.
[3] Bangs, Arminius: A Study, p. 25.
[4] Works of Arminius, vol. 1, p. ix.
[5] Ibid.
[6] Ibid., pp. ix-x.
[7] Bangs, Arminius: A Study, p. 37.
[8] Ibid., p. 38.
[9] Ibid., p. 37.
[10] Works of Arminius, vol. 1, p. 21.
[11] Ibid.
[12] Ibid., p. 22.
[13] Bangs, Arminius: A Study, p. 65.
[14] Citado em Bangs, Arminius: A Study, p. 65.
[15] Bangs, Arminius: A Study, p. 65.
[16] Curtiss, p. 18.
[17] Bangs, Arminius: A Study, p. 71.
[18] Ibid.
[19] Ibid., pp. 72-73.
[20] Ibid., p. 78.
[21] Works of Arminius, vol. 1, p. 26.
[22] Ibid., p. xii.
[23] Ibid.
[24] Ibid., p. 28.
[25] Ibid., p. 29.
[26] Bangs, Arminius: A Study, p. 155.
[27] Works of Arminius, vol. 1, pp. xiv-xv.
[28] Bangs, Arminius: A Study, p. 253.
[29] Ibid., p. 186.
[30] Works of Arminius, p. xv.
[31] Veja Works of Arminius, vol. 1, pp. xx-xxix, para a história da publicação dos escritos de Arminius.
[32] Works of Arminius, p. xvi.
[33] Bangs, Arminius: A Study, p. 329.

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