terça-feira, 31 de março de 2009

A Vida de Agostinho

A Vida de Agostinho
Aurelius Augustinus nasceu em 13 de novembro de 354, em Tagaste na romana África do Norte (hoje Argélia) e morreu perto de Hipona em 28 de agosto de 430. Foi filho de um pai pagão, Patricius, supostamente convertido um pouco antes de sua morte, e uma mãe cristã de nome Monica.[1] Com doze anos, Agostinho foi mandado a uma escola perto de Madaura, onde ele se debateu com o estudo do grego.[2] Durante um ano em casa quando tinha dezesseis anos, Agostinho diz que “os espinhos da luxúria cresceram vigorosamente sobre a minha cabeça.”[3] Ainda que sua mãe o alertou a “não cometer fornicação,” ele rejeitou seu conselho como “conselhos femininos” e se entregou ao desejo, até mesmo incrementando suas aventuras para sobrepujar seus amigos.[4] Na idade de 17, Agostinho foi para Cártago estudar. Em Cártago, ele afundou-se em pecado, alegando ter “sujado, então, a fonte da amizade com a vulgaridade da concupiscência” e “turvado seu resplendor com o inferno da lascívia.”[5] Foi aqui que ele manteve relações com uma amante e teve uma criança bastarda, Adeodatus.[6] E também foi aqui que Agostinho experimentou uma conversão, mas não ao Cristianismo.

Lendo o orador romano Cícero (106-143), Agostinho enamorou-se com a filosofia e se converteu à religião maniqueísta.[7] Fundada por Mani (216-276), que foi executado pelo governo persa,[8] o Maniqueísmo foi uma religião agnóstica extraída do Zoroatrismo, do Budismo, e do Cristianismo.[9] Surpreendentemente, alguns elementos do Maniqueísmo vieram aparecer mais tarde na teologia cristã de Agostinho. No dualismo do sistema maniqueísta, o mundo era uma luta entre a Luz e as Trevas.[10] Os Maniqueus deviam ajudar na separação da Luz do mundo pela abnegação, celibato, pobreza, e vegetarianismo – todos praticados posteriormente por Agostinho.[11] É também interessante que os maniqueus se dividiam em dois grupos: uma minoria, denominada os Eleitos, e a maioria, conhecida como os Auditores ou Ouvintes.[12] Pelos próximos nove anos Agostinho foi um ardente maniqueu, e fez numerosos conversos.[13] Após retornar à sua terra natal ensinar gramática, ele voltou novamente para Cártago ensinar retórica.[14] Passados oito anos em Cártago, Agostinho se desiludiu com o Maniqueísmo e partiu para Roma.[15] Quando ele descobriu que os estudantes em Roma não gostavam de pagar suas contas da escola, ele conseguiu um outro emprego em Milão.[16] Foi aqui que ele mandou embora sua amante, arrumou outra, e então experimentou uma nova conversão, desta vez ao Cristianismo.

Em Milão, três fatores levaram à conversão de Agostinho. Ele primeiro foi influenciado pela filosofia neoplatônica, um renascimento do Platonismo pelos filósofos pagãos Plotino (c. 205-270) e Porfírio (c. 232-302).[17] Surpreendentemente, entretanto, esta filosofia contribuiu para a busca espiritual de Agostinho, mas por causa de sua raiz maniqueísta e do fato dele atribuir elementos neoplatônicos do Cristianismo que não existiam nele.[18] Ele também começou a assistir à pregação de Ambrósio, de quem ele aprendeu o método alegórico de interpretar as Escrituras.[19] Mas talvez o fator preponderante, e que é muitas vezes ignorado, foi sua leitura das epístolas paulinas.[20] Em um período de grande convicção, Agostinho supostamente atirou-se sob uma figueira e chorou, e então ouviu uma voz de criança repetindo “levante e leia.”[21] Isto ele interpretou como “um comando dos céus para eu abrir o livro, e ler o primeiro capítulo que eu deveria esclarecer.”[22] O texto que ele abriu estava no livro de Romanos:[23]

Andemos honestamente, como de dia: não em glutonarias e bebedeiras, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e inveja. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo; e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências (Rm 13.13-14).

Logo depois, Agostinho abandonou seu cargo de professor, começou a escrever, e se preparou para o batismo para a Páscoa seguinte.[24] Seu batismo foi por imersão,[25] que continuou a ser a forma usual de batismo.[26] Após a morte de sua mãe, Agostinho foi para Roma por um ano e então retornou à sua terra natal para três anos de estudo monástico.[27] Durante uma visita à cidade de Hipona em 391, Agostinho foi ordenado presbítero e fundou um monastério.[28] Em 396 ele tornou-se o bispo de Hipona, onde ele permaneceria até o final de sua vida.[29] Ele morreu na idade de setenta e cinco anos enquanto Hipona estava sendo sitiada pelos vândalos.

Uma razão para a constante influência de Agostinho é sua tremenda produtividade literária. Sua Confissões, escrita logo depois de se tornar bispo, reconta a história de sua vida até seu retorno à África do Norte depois de sua conversão. De fato, há mais em sua Confissões sobre sua conversão do que em qualquer das obras de Calvino. Sua Retratações, escrita perto do final de sua vida, é uma análise sistemática e uma correção de suas obras. Uma das obras mais resistente de Agostinho, a Cidade de Deus, foi iniciada na ocasião do saque de Roma por Alarico o Godo (c. 370-410) em 410.[30]

As obras teológicas de Agostinho foram da mesma forma escritas em resposta ao que ele percebeu ser heresia. Três “heresias” em particular foram o objeto de suas campanhas literárias. A primeira foi a heresia maniqueísta. Começando logo após sua conversão, Agostinho usou sua caneta contra sua antiga religião.[31] Ele também debateu publicamente com líderes maniqueus.[32] Logo depois, ele virou sua atenção aos donatistas. Enquanto Agostinho e os católicos enfatizavam a unidade da Igreja, os donatistas insistiam na pureza da Igreja e rebatizavam todos aqueles que vinham dos católicos – considerando os católicos corruptos.[33] A terceira grande controvérsia que ocupou Agostinho foi sua disputa com os pelagianos. Esta é seu conflito teológico mais significante, e um que se aplica diretamente na questão do Calvinismo, pois como os calvinistas David Steele e Curtis Thomas sustentam: “As doutrinas básicas da posição calvinista foram vigorosamente defendidas por Agostinho contra Pelágio durante o quinto século.”[34] E por causa da moderna comparação dos sistemas opostos do Agostinianismo e o Pelagianismo com o Calvinismo e o Arminianismo que Pelágio e seu sistema demandam mais estudo.

[1] Gerald Bonner, St Augustine of Hippo (Philadelphia: The Westminster Press, 1963), p. 38.
[2] Ibid., p. 53.
[3] Agostinho Confessions 2.3.6.
[4] Ibid., 2.3.7.
[5] Ibid., 3.1.1.
[6] Peter Brown, Augustine of Hippo (Berkeley e Los Angeles: University of California Press, 1967), p. 39.
[7] New Dictionary of Theology (Downers Grove: Inter-Varsity Press, 1988), s.v. “Augustine,” p. 58.
[8] Brown, p. 44.
[9] Bonner, p. 161.
[10] Ibid., p. 58.
[11] Ibid.
[12] Ibid., p. 59.
[13] Ibid., p. 63.
[14] The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge, s.v. “Augustine,” Vol. 1, p. 366.
[15] A Dictionary of Christian Biography (Peabody: Hendrickson Publishers, 1994), s.v. “Augustine,” p. 72.
[16] Bonner, p. 71.
[17] Ibid., p. 80.
[18] Ibid., p. 86; Brown, pp. 98-99.
[19] Bonner, p. 72.
[20] Schaff, History, vol. 3, p. 991; Bonner, p. 84.
[21] Agostinho Confessions 8.12.29.
[22] Ibid.
[23] Ibid.
[24] Roy W. Battenhouse, ed., A Companion to the Study of St. Augustine (Nova York: Oxford University Press, 1955), p. 36.
[25] Armitage, vol. 1, p. 218.
[26] David Benedict, History of the Donatists (Gallatin: Church History Research & Archives, 1985), pp. 64-65.
[27] Bonner, pp. 104-108.
[28] Ibid., pp. 112-113.
[29] Battenhouse, p. 41.
[30] Ibid., p. 259.
[31] Bonner, p. 105.
[32] Ibid., p. 135.
[33] John Laurence Mosheim, An Ecclesiastical History, Ancient and Modern, trad. Archibald MacLaine (Cincinnati: Applegate & Co., 1854), p. 101; Benedict, Donatists, pp. 19, 29, 113, 187; Battenhouse, p. 194.
[34] Steele e Thomas, p. 19.

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