terça-feira, 31 de março de 2009

Confissões de Fé Batistas

Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo
Confissões de Fé Batistas
Os batistas, devido à sua ênfase na autoridade da Escritura, historicamente nunca foi um povo credal. Contudo, isto não significa que eles nunca produziram confissões de fé ou catecismos. Antes, os documentos confessionais que os batistas têm compostos foram muitas vezes preparados por razões apologéticas porque eles foram às vezes mal representados por seus oponentes. Das numerosas confissões de fé batistas que foram escritas há três que são mantidas em grande estima pelos batistas calvinistas, com duas destas sendo diretamente relacionadas à Confissão de Fé de Westminster. É, por essa razão, necessário completar este capítulo com um exame destas confissões de fé batistas, às quais os batistas ainda recorrem quando buscam provar que o Calvinismo é a posição batista histórica.

A primeira confissão a ser considerada é a que tem sido chamada a Primeira Confissão de Londres. Esta confissão foi primeiro publicada em 1644 por sete igrejas batistas particulares em Londres.[1] Naturalmente, era tanto batista quanto calvinista. Contendo cinqüenta e dois artigos, lê-se na página título:

A CONFISSÃO DE FÉ
Daquelas IGREJAS que são geralmente (embora falsamente)
chamadas ANABATISTAS;
Apresentada à vista de todos que temem a Deus, para examinarem segundo
o padrão da Palavra da Verdade: Como igualmente para tirar
aquelas difamações que são freqüentemente, tanto no Púlpito quanto na Imprensa,
(embora injustamente) lançadas sobre elas.

A Confissão foi veementemente oposta pelo ministro anglicano Daniel Featley (1587-1645). Ele tinha anteriormente participado numa disputa com os batistas mas agora estava preso após ser banido da Assembléia de Westminster.[2] No último capítulo de seu livro The Dippers dipt. or, The Anabaptists duck’t and plunged Over head and Eares, at a Disputation in Southwark, Featley discordou de seis artigos da nova confissão batista.[3] Os batistas, em 1646, então publicaram uma nova edição de sua confissão na qual mudanças significativas foram feitas.[4] Ela também continha uma dedicação ao Parlamento, exatamente como o livro de Featley:

Aos ilustres Lordes, Membros, Cidadãos e Deputados nas Assembléias do Parlamento. Ilustres e Magnânimos Patriotas, visto como recentemente lhes foi apresentado um livro (de Featley), em cuja Epístola Dedicatória há muitas infames acusações injusta e falsamente lançadas contra nós, julgamos necessário fazer alguma declaração de nossa inocência, e (para esse fim) humildemente apresentar para vossa inspeção esta nossa Confissão de Fé.[5]

Mas como foi provado, a edição revisada da Primeira Confissão de Londres enfraquecia a “característica batista distintiva de alguns dos artigos.”[6] Logo depois que esta confissão revisada apareceu, Benjamin Cox (n. 1595-c. 1661) publicou o que ele chamou de An Appendix to a Confession of Faith no qual, em vinte e dois artigos, ele se estende sobre alguns pontos na Confissão.[7] Este apêndice, entretanto, não foi publicado com a Confissão até 1981.[8] Outras edições e reimpressões da Confissão também apareceram posteriormente.[9]

Após a restauração da monarquia na Inglaterra em 1660, houve uma nova perseguição de dissidentes da Igreja da Inglaterra. Para manter uma frente unida, era mais que natural que os grupos de dissidentes tentassem mostrar a extensão do acordo entre eles em relação à doutrina. Os congregacionalistas (independentes) adotaram a Confissão de Fé de Westminster em uma forma levemente revisada em 1658. Denominada a Declaração de Savoy (porque ela foi redigida no Palácio Savoy, em Londres), ela foi essencialmente obra dos independentes que participaram da Assembléia de Westminster.[10] Dessa forma, os batistas, a fim de mostrar seu acordo com os presbiterianos e congregacionalistas, se reuniram em 1677 e, baseando seu trabalho na Confissão de Westminster, produziram o que veio a ser chamada a Segunda Confissão de Londres.[11] Contendo trinta e dois artigos, lê-se na página título:

Uma CONFISSÃO DE FÉ
Publicada pelos ANCIÃOS e IRMÃOS de muitas
CONGREGAÇÕES de
Cristãos (batizados conforme Profissão de sua Fé) em Londres
e em todo País.

Depois que o Ato de Tolerância foi emitido em maio de 1689, os batistas se reuniram novamente e no decurso de suas deliberações aprovaram a confissão de 1677 e a publicaram com o seguinte prefixo:

Nós os Ministros e Mensageiros de, e preocupados por, mais de cem congregações batizadas na Inglaterra e País de Gales (negando o Arminianismo) se reunindo em Londres, do terceiro dia do sétimo mês ao décimo primeiro dia do mesmo, 1689, para considerar algumas coisas que podem ser para a glória de Deus, e para o bem destas congregações; decidiram reunir-se (para satisfação de todos os outros cristãos que diferem de nós na questão do batismo) para recomendar ao seu exame a confissão de nossa fé, cuja confissão reconhecemos, como contendo a doutrina de nossa fé e prática, e desejamos que os membros de nossas igrejas respectivamente se suprem daqui em diante.[12]

Ela foi assinada por trinta e sete ministros, incluindo Hanserd Knollys, William Kiffin e Benjamin Keach.[13]

A Segunda Confissão de Fé de Londres, da qual relevantes partes podem ser encontradas no apêndice 7,[14] ainda que baseada na Confissão de Westminster, não obstante continha mudanças suficientes para torná-la uma confissão de fé batista. Good a chama “genuinamente batista e verdadeiramente calvinista.”[15] As principais mudanças foram a omissão de elementos no capítulo VII sobre os pactos, a inserção de um novo capítulo XX intitulado “O Evangelho e a Extensão de sua Graça,” a omissão dos capítulos XXX e XXXI sobre “Das Censuras Eclesiásticas” e “Dos Sínodos e Concílios,” o capítulo XXV sobre a Igreja foi expandido e reescrito, a omissão de elementos no capítulo XXVII sobre os Sacramentos e a alteração do capítulo XXVIII sobre o batismo. A seção principal sobre o Calvinismo, entretanto, é tirada quase textualmente da Confissão de Westminster. Isto é reconhecido pelos batistas calvinistas: “A Confissão de Londres de 1689 expressou sua soteriologia calvinista sem reserva numa linguagem praticamente copiada da Confissão de Westminster.”[16] Por causa de sua confiança na Confissão de Westminster, a Segunda Confissão de Londres tem sido criticada por alguns batistas calvinistas que defendem a superioridade da confissão de Londres mais antiga.[17] Mas como os outros batistas calvinistas têm mostrado, a Primeira Confissão de Londres não foi somente baseada nas fontes não-batistas mais primitivas, mas sua edição revisada reduziu a ênfase da primeira edição.[18] A Segunda Confissão de Londres é ainda considerada com reverência hoje entre certos grupos de batistas calvinistas. Por exemplo, a Associação Internacional de Batistas Reformados (IFRB), formada em 1990, mantém o rol de membros aberto a “ministros, obreiros cristãos ou igrejas locais que aprovam as doutrinas da graça conforme demonstradas na Confissão de Fé Batista de 1689.”[19]

A Segunda Confissão de Londres chegou até as colônias americanas com os batistas particulares que vieram ao novo mundo. Foi primeiro adotada em caráter oficial pela Associação Batista da Filadélfia em 25 de setembro de 1742.[20] Eventualmente denominada a Confissão de Fé da Filadélfia, a primeira edição foi impressa por Benjamin Franklin (1706-1790).[21] A única diferença entre a Confissão de Londres e sua cópia americana é a adição de dois artigos, trazendo o número total para trinta e quatro. Os dois novos artigos, “Do Cântico dos Salmos no Culto Público” (XXIII) e “Da Imposição das Mãos” (XXXI), são devidos à influência de Elias Keach (1667-1701), o filho do famoso signatário da Segunda Confissão de Londres.[22] Por causa de sua simetria, todas as referências subseqüentes à Segunda Confissão de Fé de Londres incluem a Confissão da Filadélfia também, e vice-versa.

Embora os Cânones de Dort somente abrangem as doutrinas do Calvinismo, os Cinco Pontos são incluídos nos outros credos calvinistas que foram mencionados. Os modernos batistas da Graça Soberana fazem muito alvoroço sobre a harmonia da eleição encontrada nestas confissões batistas mas paradoxalmente rejeitam as confissões quanto aos outros pontos. Assim o fato de que as mais bem conhecidas confissões de fé batistas na história são calvinistas significa apenas isso: um fato histórico. O argumento histórico usado pelos batistas para provar que todos os batistas legítimos deveriam ser calvinistas é tapeação. Em primeiro lugar, a “posição historica” da Confissão da Filadélfia ordena a imposição de mãos - uma pratica que nenhuma igreja batista da Graça Soberana emprega hoje. E em segundo lugar, os batistas da Graça Soberana hoje, dos quais a vasta maioria são premilenistas em sua escatologia, rejeitam o amilenismo não apenas da Confissão de Fé da Filadélfia, mas tanto das Confissões de Londres como da Confissão de Westminster também.

Ao encerrar esta seção histórica do livro, um citação dos calvinistas Steele e Thomas é pertinente antes de passarmos para a seção doutrinária. Ao fazer a mesma transição em seu livro The Five Points of Calvinism, eles afirmam: “Nenhuma tentativa tem sido feita nesta seção para provar a veracidade das doutrinas calvinistas. Nosso único propósito tem sido contar uma breve história do sistema e explicar seu conteúdo. Estamos agora prontos para considerar seu apoio bíblico.”[23] O oposto exato desta afirmação é aqui mantida, pois até agora nenhuma tentativa tem sido feita nesta seção para provar a falsidade das doutrinas calvinistas. Nosso único propósito tem sido contar uma breve história do sistema e explicar seu conteúdo. Estamos agora prontos para considerar sua falta de apoio bíblico.

[1] Lumpkin, p. 144.
[2] Ibid., p. 147.
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] Citado em W. J. McGlothlin, Baptist Confessions of Faith (Filadélfia: American Baptist Publications Society, 1911), p. 190.
[6] Richard P. Belcher e Tony Mattia, A Discussion of Seventeenth Century Baptist Confessions of Faith (Columbia: Richbarry Press, 1983), p. 18.
[7] Lumpkin, p. 150.
[8] The First London Confession of Faith With an Appendix by Benjamin Cox (Nova York: Backus Book Publishers, 1981).
[9] Lumpkin, pp. 150-152.
[10] Schaff, Creeds, vol. 1, p. 832.
[11] Lumpkin, p. 236.
[12] Citado em Lumpkin, pp. 238-239.
[13] Lumpkin, p. 239; Kiffin e Keach tinham também assinado a confissão de 1644.
[14] Lumpkin, pp. 241-295.
[15] Good, Calvinists, p. 67.
[16] Ibid., p. 66.
[17] Gary Long, Contemporary Preface to The First London Confession of Faith With an Appendix by Banjamin Cox, p. 29.
[18] Belcher e Mattia, p. 29.
[19] Introdução a Erroll Hulse, et al., Our Baptist Heritage (Leeds: Reformation Today Trust, 1993), p. ix.
[20] Lumpkin, p. 349.
[21] Ibid.
[22] Ibid.
[23] Steele e Thomas, p. 23.

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