Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo
Pelagianismo e Agostinho
Assim como um estudo de Arminius e do Arminianismo é requisito para um estudo do Calvinismo, uma olhada em Pelágio e no Pelagianismo é necessária se quisermos completamente entender o Agostinianismo. Isto é necessário por causa da enxurrada contínua de retórica dos calvinistas sobre todos os homens ser divididos em duas classes: um ensinando o que eles acreditam e o outro oposto a tudo que eles acreditam. McFetridge alega que “Agostinho e Pelágio manteve a mesma atitude entre si como Calvino e Arminius no século dezesseis. Por conseguinte o Calvinismo é freqüentemente e corretamente chamado Agostinianismo; e o Arminianismo, Semipelagianismo. Estes são os dois sistemas que são agora mais extensivamente defendidos, e com os dois, todos os outros sistemas teológicos cristãos têm afinidades orgânicas.”[1] Por essa razão, visto que estas distinções arbitrárias são aduzidas em apoio à sua causa, a abordagem calvinista terá que ser seguida. Como mencionado na Introdução, o Arminianismo é freqüentemente associado com o Pelagianismo apenas para adicionar insulto à injúria. O rótulo pelagiano é duvidosamente invocado para condenar qualquer doutrina que venha a ameaçar a primazia da graça. Boettner indomavelmente nos conta: “A origem do Arminianismo pode ser achada no Pelagianismo tão definidamente quando pode o Calvinismo ser achado no Agostinianismo. O Arminianismo em suas radicais e mais desenvolvidas formas é essencialmente uma renovação do Pelagianismo.”[2] Charles Hodge afirma que o Arminianismo foi uma vez conhecido como Semipelagianismo.[3] Como os modernos ataques feitos ao Arminianismo, em seu dia o Pelagianismo foi também associado com toda heresia em existência na época. Jerônimo associa Pelágio com os gnósticos e os maniqueus.[4] Embora seja verdadeiro que em sua forma original, “as duas concepções foram desenvolvidas independentemente antes dos autores se conhecerem,”[5] as doutrinas da graça soberana de Agostinho foram principalmente uma reação a Pelágio.[6] Isto é até admitido pelos calvinistas.[7] O problema com Pelágio é que quase toda a informação sobre ele vem de Agostinho e dos escritos dos calvinistas de hoje, e como um historiador comentou, seu nome “tem se tornado indelevelmente associado com a heresia que minimiza a necessidade da Graça.”[8]
Embora seja certo que Pelágio nasceu na Grã Bretanha, a data de seu nascimento é geralmente colocada entre os anos 350-380.[9] É também indisputável que ele se mudou para Roma e viveu lá por algum tempo antes da controvérsia com Agostinho.[10] Ele ficou chocado em sua chegada devido à baixa moral da cidade,[11] e não somente os calvinistas reconhecem que ele era de um caráter impecável,[12] como o próprio Agostinho também.[13] Como Agostinho, Pelágio se opôs aos maniqueus e escreveu extensivamente contra numerosas heresias.[14] Foi na época em que ele estava em Roma em 405 que Pelágio teve seu primeiro encontro com Agostinho. A ocasião foi um certo bispo citando a ele uma passagem da Confissões de Agostinho: “Dê o que o Senhor comanda, e comanda o que o Senhor dá.”[15] Pelágio ficou enraivecido porque ele sentia que isto fazia do homem um mero boneco na mão de Deus.[16] Após a queda de Roma, Pelágio e Celéstio, um de seus convertidos, tomaram rumo à África do Norte.[17] Eles desembarcaram em Hipona mas Agostinho estava fora da cidade em Cártago, ainda discutindo com os donatistas.[18] Eles, entretanto, trocaram cartas.[19] Pelágio e Celéstio então se transferiram para Cártago, e Pelágio continuou até a Palestina, enquanto Agostinho retornou a Hipona desapontado por não tê-lo encontrado.[20] Assim, diferente de Calvino e Arminius, que não viveram durante a mesma época, Agostinho e Pelágio nunca se encontraram pessoalmente, embora pudessem.
Em Cártago foi Celéstio quem promoveu as concepções de Pelágio. Após ter buscado ordenação, Celéstio foi acusado de heresias por suas opiniões.[21] As principais acusações foram que ele ensinava que “a queda de Adão feriu a ele apenas, não a raça humana” e que “as crianças vêm ao mundo na mesma condição em que Adão veio antes da queda.”[22] Celéstio foi excomungado e retirou-se para Éfeso.[23] Foi depois disto que Agostinho produziu a primeira de suas obras anti-pelagianas: On the guilt and the Remission of Sins, and Infant Baptism. Embora o debate entre Agostinho e Pelágio girava em torno das questões do livre-arbítrio e do pecado original, a oposição inicial a Pelágio era sobre o propósito do batismo infantil.[24] Pelágio ensinava que as crianças eram nascidas em uma condição neutra, com a capacidade para o bem ou para o mal.[25] Elas são como Adão, exceto pelo fato de que elas não foram ainda conferidas com o uso da razão.[26] Pelágio ensinava que quando Adão caiu isto não teve nenhum efeito em sua posteridade: a única relação do pecado de Adão com a raça humana é a do mau exemplo.[27] Embora Pelágio não negava a necessidade do batismo infantil, ele negava que era necessário lavar o pecado original, visto que ele acreditava que as crianças nasciam inocentes. O batismo, de acordo com Pelágio, é a marca da santificação.[28] Em oposição a Pelágio sobre o batismo, Agostinho, o grande defensor da predestinação, defendia que o batismo era necessário para a remissão dos pecados. E se o batismo era essencial, então quanto mais cedo melhor, daí o batismo de crianças. Assim não é apenas Pelágio que defende concepções teológicas não-ortodoxas, pois como brevemente estaremos vendo, Agostinho é tão culpável quanto ele. Por causa de sua visão deficiente da queda de Adão, Pelágio também manteve opiniões heréticas sobre a expiação de Cristo. A crucificação de Cristo não foi uma expiação pelo pecado, ela meramente deu aos homens um exemplo de perfeição humana a seguir.[29] Sobre a questão do livre-arbítrio, Pelágio afirmava que o homem tinha um livre-arbítrio para não somente seguir o exemplo de Cristo, mas também para viver sem pecado.[30] O Pelagianismo foi condenado no Concílio de Milevis em 416 e no Concílio de Cártago em 418.[31] Mas apenas porque o Pelagianismo não é ortodoxo não necessariamente significa que o Agostinianismo deve ser comparado com o autêntico Cristianismo do Novo Testamento. Por isso, as doutrinas do próprio Agostinho devem ainda ser testadas pela palavra de Deus.
Embora seja certo que Pelágio nasceu na Grã Bretanha, a data de seu nascimento é geralmente colocada entre os anos 350-380.[9] É também indisputável que ele se mudou para Roma e viveu lá por algum tempo antes da controvérsia com Agostinho.[10] Ele ficou chocado em sua chegada devido à baixa moral da cidade,[11] e não somente os calvinistas reconhecem que ele era de um caráter impecável,[12] como o próprio Agostinho também.[13] Como Agostinho, Pelágio se opôs aos maniqueus e escreveu extensivamente contra numerosas heresias.[14] Foi na época em que ele estava em Roma em 405 que Pelágio teve seu primeiro encontro com Agostinho. A ocasião foi um certo bispo citando a ele uma passagem da Confissões de Agostinho: “Dê o que o Senhor comanda, e comanda o que o Senhor dá.”[15] Pelágio ficou enraivecido porque ele sentia que isto fazia do homem um mero boneco na mão de Deus.[16] Após a queda de Roma, Pelágio e Celéstio, um de seus convertidos, tomaram rumo à África do Norte.[17] Eles desembarcaram em Hipona mas Agostinho estava fora da cidade em Cártago, ainda discutindo com os donatistas.[18] Eles, entretanto, trocaram cartas.[19] Pelágio e Celéstio então se transferiram para Cártago, e Pelágio continuou até a Palestina, enquanto Agostinho retornou a Hipona desapontado por não tê-lo encontrado.[20] Assim, diferente de Calvino e Arminius, que não viveram durante a mesma época, Agostinho e Pelágio nunca se encontraram pessoalmente, embora pudessem.
Em Cártago foi Celéstio quem promoveu as concepções de Pelágio. Após ter buscado ordenação, Celéstio foi acusado de heresias por suas opiniões.[21] As principais acusações foram que ele ensinava que “a queda de Adão feriu a ele apenas, não a raça humana” e que “as crianças vêm ao mundo na mesma condição em que Adão veio antes da queda.”[22] Celéstio foi excomungado e retirou-se para Éfeso.[23] Foi depois disto que Agostinho produziu a primeira de suas obras anti-pelagianas: On the guilt and the Remission of Sins, and Infant Baptism. Embora o debate entre Agostinho e Pelágio girava em torno das questões do livre-arbítrio e do pecado original, a oposição inicial a Pelágio era sobre o propósito do batismo infantil.[24] Pelágio ensinava que as crianças eram nascidas em uma condição neutra, com a capacidade para o bem ou para o mal.[25] Elas são como Adão, exceto pelo fato de que elas não foram ainda conferidas com o uso da razão.[26] Pelágio ensinava que quando Adão caiu isto não teve nenhum efeito em sua posteridade: a única relação do pecado de Adão com a raça humana é a do mau exemplo.[27] Embora Pelágio não negava a necessidade do batismo infantil, ele negava que era necessário lavar o pecado original, visto que ele acreditava que as crianças nasciam inocentes. O batismo, de acordo com Pelágio, é a marca da santificação.[28] Em oposição a Pelágio sobre o batismo, Agostinho, o grande defensor da predestinação, defendia que o batismo era necessário para a remissão dos pecados. E se o batismo era essencial, então quanto mais cedo melhor, daí o batismo de crianças. Assim não é apenas Pelágio que defende concepções teológicas não-ortodoxas, pois como brevemente estaremos vendo, Agostinho é tão culpável quanto ele. Por causa de sua visão deficiente da queda de Adão, Pelágio também manteve opiniões heréticas sobre a expiação de Cristo. A crucificação de Cristo não foi uma expiação pelo pecado, ela meramente deu aos homens um exemplo de perfeição humana a seguir.[29] Sobre a questão do livre-arbítrio, Pelágio afirmava que o homem tinha um livre-arbítrio para não somente seguir o exemplo de Cristo, mas também para viver sem pecado.[30] O Pelagianismo foi condenado no Concílio de Milevis em 416 e no Concílio de Cártago em 418.[31] Mas apenas porque o Pelagianismo não é ortodoxo não necessariamente significa que o Agostinianismo deve ser comparado com o autêntico Cristianismo do Novo Testamento. Por isso, as doutrinas do próprio Agostinho devem ainda ser testadas pela palavra de Deus.
[1] McFetridge, p. 4.
[2] Boettner, Predestination, p. 47.
[3] McFetridge, p. 3-4.
[4] John Ferguson, Pelagius: A Historical and Theological Study (Cambridge: W. Heffer & Sons, 1956), p. 79.
[5] Louis Berkhof, The History of Christian Doctrines (Grand Rapids: Baker Book House, 1937), p. 132.
[6] Ferguson, p. 100.
[7] Bruce, The Spreading Flame, p. 335; Boettner, Predestination, p. 366; Schaff, History, vol. 3, p. 789; Berkhof, History, pp. 132, 133.
[8] Bonner, p. 316.
[9] Ferguson, p. 41.
[10] Ibid., p. 47.
[11] Bruce, The Spreading Flame, p. 335.
[12] Berkhof, History, p. 132.
[13] Schaff, History, vol. 3, p. 790.
[14] Ferguson, p. 117.
[15] Bonner, p. 317; Augustine Confessions 10.29.40.
[16] A Dictionary of Christian Biography, s.v. “Pelagianism and Pelagius,” p. 820.
[17] Ferguson, p. 48.
[18] Battenhouse, p. 204.
[19] New Catholic Encyclopedia, s.v. “Augustine,” p. 1046.
[20] Bonner, p. 320.
[21] Ferguson, p. 50.
[22] Schaff, History, vol. 3, p. 793.
[23] Ferguson, p. 52.
[24] Brown, p. 368; Ferguson, p. 50.
[25] Ferguson, p. 96.
[26] Ibid., p. 97.
[27] Ibid., p. 140.
[28] Ibid., pp. 50, 135.
[29] Ferguson, pp. 130-131, 164-165.
[30] Brown, p. 357.
[31] The Westminster Dictionary of Christian Theology (Philadelphia: The Westminster Press, 1983), s.v. “Pelagianism,” p. 435.
Fonte: http://www.arminianismo.com/
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