Cada vez mais tenho certeza que somos uma geração de cristãos que precisa aprender a conjugar o verbo “dialogar”. Por que digo isto? Estava, um dia desses, com líderes cristãos e argumentei que precisamos dialogar com o movimento LGBT para pensar sobre questões como homofobia e a PLC 122/2006, a fim de que, quem sabe, pudéssemos chegar a um denominador comum, onde todos os direitos, seja de garantia de liberdade religiosa ou de garantia de proteção da vida de homossexuais, fossem garantidos. Logo fui taxado de "apoiador do pecado”, "liberal", entre outras pérolas que tentavam colocar em xeque minha fé evangélica.
Sem querer entrar no mérito da questão da PLC 122/2006, quero apenas alertar para o desafio de aprender a participar com qualidade nos espaços públicos, para o qual não podemos escapar da realidade de que vivemos num mundo plural e que devíamos, como cristãos, interagir socialmente com todos indistintamente, inclusive com a diversidade que há no meio cristão evangélico.
Diálogo não significa que os cristãos precisam abrir mãos de seus valores ou negar sua fé, mas compreender que solo que frutifica a fé é encharcado de amor. O sacerdócio cristão, que é dada a todos os crentes, nos convoca a pastorear o mundo. Pastoreio que não existe sem escuta, cuidado, misericórdia e desejo de ver o bem do outro, mesmo quando ele não quer se converter à nossa fé.
Quando isso não acontece, a igreja vira clube religioso fechado, torna-se luz escondida debaixo da mesa, espaço de exclusão e fuga. Igreja só é igreja quando não é apenas espaço de refúgio, mas quando sabe que sua missão é no mundo. Ou nossa missão é no mundo ou simplesmente não somos igreja. E quando não fazemos nossa missão no mundo, só servimos para ser pisados pelos homens, como bem disse Cristo.
O próprio Jesus foi alguém que não ofereceu respostas prontas, mas foi capaz de dialogar com a mulher do poço, abraçar crianças, dar atenção a cegos, leprosos e samaritanos, ou tomar "cafezinho" na casa de um cobrador de impostos corrupto. Até com ladrões que estavam sendo crucificados junto com Ele, "deu uma ideia"! Para cada uma dessas experiências narradas na Bíblia, Jesus foi capaz de fazer conexões e pontes para tornar sua proclamação relevante, sempre falando para corações e mente. Jesus esteve no mundo para a vida! Tinha consciência de que fazer acepção de pessoas não era a rota que norteava seus pés. Muito pelo contrário! Pedagogicamente, seus atos eram meios de incluir aqueles que não tinham voz ou vez.
Infelizmente, creio que essa postura não-dialógica é o que torna nossa comunicação do evangelho uma pedra de tropeço para a proclamação do Reino. Somos filhos de Deus, não donos da verdade ou pecadores melhores que outros. A cruz de Cristo nos iguala a uma mesma condição e cabe àqueles que dizem ser discípulos dele, serem os primeiros a viver o exercício da misericórdia e do amor encarnacional. A encarnação nos leva para os becos, ruas, praças e periferias de nossas cidades. Em contrapartida, uma fé sorumbática é aquela que não consegue refletir as grandes questões do nosso tempo, mas fica na defensiva, por medo ou por interesses de hegemonia na marra.
O resultado final é que grupos como o movimento LGBT cada vez mais se afastam de nós e nutrem uma postura belicosa. Não cabe aqui questionar a postura belicosa desses grupos, mas o quanto nossa incapacidade gera mau testemunho e mantém as pessoas alienadas de nós e do Deus que dizemos servir. Pior é constatar que mal conseguimos conviver respeitosamente com a diversidade mesmo do Corpo de Cristo, já que é nítida nossa dificuldade de viver em unidade.
Em suma: Façamos nossa parte. Sejamos uma Igreja Amorosa, que aprende a ouvir, dialogar e interagir com o mundo. Igreja que faz diferença pela sua presença iluminadora e comprometida com a revolução do novo nascimento. Que ama e é capaz de dar a vida para salvar o mundo!
Por Caio Marçal - Caio Marçal é cearense e missionário da Igreja de Cristo de Frecheirinha/CE. Atua também como Secretário de Mobilização da Rede FALE (http://redefale.blogspot.com/).
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