A sabedoria de Deus é, muitas vezes, loucura para nós. Em João 12, Jesus e os discípulos estão jantando com Maria, Marta e Lázaro. Maria toma uma jarra de nardo puro e derrama nos pés de Jesus e os seca com seu cabelo. João nos conta que só esta jarra de perfume equivalia a um ano de trabalho. É o tipo de coisa que você utiliza moderadamente em ocasiões especiais. Mas Maria derrama tudo de uma vez só como um investimento extravagante. Com todo o seu corpo, ela insiste que nada merece mais seu tesouro do que o corpo de Jesus.
A maioria de nós não se chocaria por uma pequena extravagância. Para alguns de nós, uma massagem nos pés com óleo aromatizado é um tratamento especial num SPA. Mas o ato de Maria foi considerado um escândalo — não apenas desaconselhável ou um pouco exagerado, mas errado. Como disse Judas: ‘Porque este perfume não foi vendido e o dinheiro dado aos pobres?”. O ato de Maria é ofensivo à sua sensibilidade econômica.
Em nossa sociedade, conservadores sensíveis podem dizer que um ano de trabalho, se bem investido em uma nova empresa, poderia criar salário para uma família inteira durante toda a vida. Um ativista mais progressista diria que este dinheiro poderia facilmente alimentar 30 mil crianças que morrerão hoje de fome. Se é assim, seria necessário apenas 365 Marias para erradicar em nosso mundo a mortalidade por causa da fome. Como podemos justificar o desperdício deste dinheiro em um ato inútil de adoração?
Jesus responde esta questão mostrando que Maria estava investindo em algo eterno — no seu corpo, que seria levantado da morte pela vida do mundo. Ela era sábia porque viu a oportunidade de fazer um investimento eterno com os recursos de que dispunha. Seu investimento não era um investimento espiritualizado; era tão concreto quanto pé e cabelo, óleo e fragrância. Era um investimento concreto no reino aqui na terra.
Dorothy Day, cofundadora do Movimento Operário Católico, devotou-se à prática diária de “atos de misericórdia” — alimentar o faminto, visitar os presos, vestir o nu, cuidar do doente. Um dia, uma mulher rica parou no escritório do movimento para ver como as coisas iam, e ficou tão comovida pelo testemunho da comunidade que ela tirou um grande anel de diamante e deu-o à Day. Mais tarde naquele dia, Day estava conversando com uma mãe solteira pobre que vivia próximo, num conjunto. A vida da mulher estava repleta de situações dolorosas. Day se lembrou do bonito anel em sua bolsa, retirou-o e colocou no dedo da mulher. Foi um ato chocantemente extravagante — o anel poderia ser vendido e o dinheiro investido. Mas Day estava investindo no reino abundante de Jesus. Acolhendo aquela mulher pobre como Cristo, Day queria abençoá-la com o melhor que ela tinha.
O evangelho não nos dá só poder para adiar recompensas por coisas melhores; ele nos ensina a querer coisas melhores — a vida boa que nunca tem fim. Alguns anos atrás, um dependente de drogas reabilitado decidiu participar de uma viagem missionária para o México, patrocinada pela nossa igreja. Para alguém que vive mês a mês e é pago por hora, a decisão de tirar uma semana de férias para trabalhar de graça era um enorme investimento. Joe se encontrou com irmãos e irmãs da família de Deus que eram, na verdade, pobres que ele. Ele disse que Deus abriu seus olhos. Quando voltou, Joe me falou que ele tinha poupado meses para comprar um colchão. Mas como se lembrou do pessoal do México, acabou decidindo que uma cama confortável não era tão importante quanto pensava. Quis, em vez disso, iniciar um Clube Mensal de 5 dólares. Pessoas de nossa igreja dariam cada uma 5 dólares por mês e enviariam para igrejas irmãs no México.
Deus rompe o status quo para nos mostrar a vida boa que Ele quer nos dar. A economia de Deus fica escondida por bastante tempo — talvez a maior parte do tempo. Nossas igrejas e famílias não são, na sua maior parte, luzes que brilham, considerando os investimentos eternos. Quando esperamos de nossos amigos cristãos boas novas, frequentemente encontramos desapontamento.
Quando se trata de dinheiro, por exemplo, muitas vezes nos enganamos pensando que descobriremos uma fórmula para conseguir que Deus derrame suas bênçãos sobre nós. Nos dias de Jesus, os eruditos estudavam as Escrituras cuidadosamente tentando encontrar o que necessitavam fazer para ganhar o favor de Deus. Eles sabiam que as Escrituras diziam que havia um caminho que leva a ser abençoado e um caminho que leva à maldição. Mais do que tudo, queriam ser abençoados e sabiam que a benção de Deus era uma realidade material.
Então, em vez de confiar que Deus já os tinha abençoado com tudo o que necessitavam, estes líderes transformaram as promessas do Pacto de Deus em um sistema de êxito. As pessoas que eram bem-sucedidas eram abençoadas, enquanto aquelas sem sorte — o doente, o coxo, o endemoninhado — eram amaldiçoadas. Todo mundo sabia que era assim que o sistema funcionava.
Em contraste com este sistema, a mensagem do Sermão do Monte. Na multidão estão “os que estavam padecendo vários males e tormentos: endemonhiados, epiléticos e paralíticos”. Jesus estava em frente de todos que, de acordo com o sistema religioso da época, eram amaldiçoados. Aqui estão todos os perdedores, ansiosos para que Jesus deixe-os entrar em segredo. Jesus faz o que nenhum mestre religioso tinha feito antes: chama-os de bem-aventurados.
“Bem-aventurados são os pobres de espírito...os que choram...os mansos...os que têm fome e sede de justiça”. Jesus não cochicha: “Ei, escutem, aqui está o segredo. Faça isto e serão bem-aventurados”. Em vez disso, ele diz para esta gente desordenada: “Vocês já são bem-aventurados”. Jesus oferece sua lição mais importante às pessoas que tinham falhado na religião. Ele parece ter esperança de que eles são os que entenderão o que está dizendo.
Somos tão bons nisto que podemos substituir as boas novas de Jesus por um sistema religioso. Imaginamos que Jesus é o conselheiro ou consultor de negócios supremo, abrindo para nós o segredo para o sucesso no sistema deste mundo. Queremos setes passos fáceis para nos tornarmos melhores.
Mas a graça abundante é tudo o que Deus nos oferece. Jesus nunca pregou um sistema religioso — ele nos convida para uma nova economia, livre de cobranças. Qualquer um é bem-vindo; mas só podemos viver na casa do Pai se reconhecermos que toda nossa vida é um dom. Esta é uma mensagem razoavelmente direta que Jesus repete frequentemente. Mas tenho de admitir que receber o dom da economia de Deus tem sido um desafio para mim.
Quando eu estava me tornando cristão, era crítico de um estilo de vida que domesticava Jesus como um gato doméstico e apoiava principados e potestades. Tal religião não era apenas errada; era insípida. Eu não era a única pessoa a perceber isto, ou a primeira a pensar que a única esperança para a igreja neste tipo de cultura era, para algumas pessoas, agrupar-se e tentar levar o cristianismo a sério como um estilo de vida. Para me recuperar da minha adicção ao dinheiro e suas vontades, eu entrei numa rede de comunidades cristãs.
Em outros ensaios, descrevi as comunidades que descobri como um “novo monasticismo” nos EUA. Ainda estou convencido que se trata da melhor coisa que está acontecendo em termos de pessoas vivendo juntas na economia que Jesus ensinou e praticou. Certamente mudou minha vida. Sou parte de uma comunidade onde tentamos — e tentamos de novo — compartilhar nosso dinheiro e nossa propriedade, abrir espaço para sem-tetos e acolher o estrangeiro como Cristo.
Mas é na minha experiência de fracasso onde tenho aprendido que só posso receber a economia de Deus como um dom. Algo acontece em nossa vida cotidiana que me testa: me sinto ofendido pelos nossos convidados ou fico irritado com as pessoas que conheço bem. Digo para Deus: “Seria muito mais fácil acreditar no Seu amor se o Senhor enviasse pessoas mais amorosas”.
Cada vez que quero me distanciar da comunidade é porque penso que estou carregando muito peso ou porque não suporto a sensação de que alguém está se aproveitando de mim. Nesses momentos, sempre me lembro das grandes coisas que penso ter investido nesta comunidade — meu salário, meu tempo em encontros longos, a vida que seguramente poderia viver se não me entregasse a isto. Ofereço meus sacrifícios como alguns pagãos antigos diante de uma pira de fogo e peço aos deuses me justificarem. É idiota, eu sei, mas eu fiz isso muitas vezes.
E cada vez Deus espera em silêncio. Eventualmente, lembro-me de que tudo isso que chamamos comunidade é um dom — um vislumbre do que Deus nos tem dado na economia divina. De alguma maneira, lembro-me que não é sobre mim, nem mesmo sobre nós. Então, a grande escuridão recua. Pela luz que não vem de nós mesmos, encontro o caminho para continuar.
Volto a me comprometer com meus investimentos em coisas eternas e viver na economia de Deus. Em vez de me preocupar sobre nossa aposentadoria, podemos celebrar a comunidade investindo em amizades agora que nos sustentarão quando formos velhos. A estratégia de Jesus tomará o poder do nosso investimento e o aproveitará para formar a nova família de Deus.
No mundo romano da igreja primitiva, os cristãos eram frequentemente chamados de ateus porque proclamavam com suas vidas e palavras uma fé que era diferente de qualquer religião que seus semelhantes tinham visto antes. Eles distanciavam-se do dinheiro e seu reinado porque ouviram e viram algo melhor no caminho de Jesus. O livro de Atos diz que “ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comum”, e “não havia, pois, entre eles necessitado algum”. Isto levou a um incrível crescimento da comunidade em Jerusalém, com esta comunidade, por sua vez, enviando missionários para espalhar as boas novas de Jesus Cristo através do mundo conhecido.
Jesus nos convidou para participar no sistema monetário do dom de Deus que nunca tem fim, confiando os verdadeiros tesouros de nossas vidas à Deus. Confiar desta maneira — fazendo investimentos eternos — é se juntar à nova família que Deus está criando junto conosco aqui na terra.
Por Jonathan Wilson-Hartgrove
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