De tempos em tempos aqui na Casa Rutba, tentamos fazer um pequeno check-up comunitário. Uma meia dúzia de amigos que nos conhecem bem, mas que não faz parte da comunidade, vem para ouvir; depois, dizem o que ouviram. É um processo bastante simples, mas nós o consideramos útil. Você nunca sabe quando um check-up pode salvar sua vida.
Tenho pensado ultimamente sobre algo que um de nossos visitantes falou em nosso último check-up. Como psicóloga, ela naturalmente ouve com atenção o que se passa dentro das pessoas, não apenas entre elas. Depois de encontros individuais com cada um da Rutba, ela disse que observou algo. Quando perguntava “Como vão as coisas?”, tínhamos muito mais a dizer sobre o que nos preocupava na vida de outros do que sobre o que estava acontecendo na nossa.
Esta observação tem estado em minha mente, acho, porque tenho observado que é verdade quando me sento para orar. Peço a Deus que se lembre de nossos amigos que estão sem teto; que de alguma maneira quebre o ciclo de reincidência dos amigos que estão saindo da prisão; que capture a imaginação das crianças que estão à beira do desespero; que proveja pelos nossos vizinhos mais idosos; que, de algum modo, não deixe nossos pequenos projetos sem provisão. Estou dolorosamente consciente das necessidades “lá fora”. Mas algo em mim quer deixar as necessidades lá fora - levantar de minhas orações e trabalhar, fazer o que eu puder para ajudar, curar e consertar. Temo que esteja com medo de reconhecer realmente o quão desesperadora é a situação em tantas circunstâncias que enfrentamos. Meu temor, parece, é de minhas próprias limitações.
O Senhor me chamou antes que eu nascesse, escreveu o profeta Isaías, e ele disse a mim: “Israel, você é o meu servo, e por meio de você vou mostrar a minha grandeza”. Eu conheço este chamado e acredito no poder do povo de Deus para inflamar esperança e mudança em nosso mundo. Mas sou lento para admitir como Isaías: “Mas eu pensei: ‘Todo o meu trabalho não adiantou nada; todo o meu esforço foi à toa.’” (Is.49:4)
Esta passagem de Isaías foi o texto do lecionário de ontem, o segundo domingo da Epifania. Na igreja em que estava pregando, também era o domingo de Martin Luther King Jr. Viajando com Isaías até este limite, me lembrei da ‘experiência da mesa da cozinha’ de Martin Luther King Jr. em Montgomery, Alabama - o momento no qual o jovem pregador chegou ao limite depois de ter recebido uma ameaça de morte à meia-noite, e confessou a Deus que ele estava vacilante. À luz de Isaías, era claro que este limite era também o momento decisivo - o momento que o sustentaria pelos doze anos restantes de sua vida. Sem dúvida minha causa está com o Senhor, ele aprendeu a dizer com Isaías, e a minha recompensa está com meu Deus.
Depois do culto da manhã de ontem, coordenei um fórum com Ann Atwater, a veterana do movimento de Direitos Civis de Durham que dirige o Projeto Share the Wisdom [Compartilhe sabedoria]. Ouvindo ela contar sobre a história da nossa cidade e sua avaliação da situação atual, não poderia deixar de pensar que temos mais a lamentar que a celebrar. O ativista em mim disse: “Temos que fazer mais”. O cínico em mim disse: “Seja lá o que fizermos, não parece fazer diferença”. Mas Ann simplesmente disse: “Eu estou cansada”.
Quando Fannie Lou Hamer teve o ouvido da nação por um momento nos anos 1960, ela se tornou famosa ao dizer: "Estou absolutamente cansada de estar cansada”. Do seu próprio jeito, Ann e Isaías estão me ajudando a ver que precisamos ressuscitar o “Estou cansado” como o grito de guerra de nosso movimento. Não é o ‘Eu me rendo’ daqueles que sucumbem ao desespero, admitindo que do jeito como as coisas são é simplesmente como elas continuarão a ser. Mas nem é o otimismo do “Sim, nós podemos!” de indivíduos que querem se juntar a fim de alcançar seus mais altos ideais. É, antes, o gemido do profeta que sabe que ele foi chamado mas também vê que ele é chamado para permanecer além de sua capacidade de alcançá-los. É o lamento esperançoso de um soldado no exército do Senhor que compreende que não pode fazer tudo que gostaria, mas sabe em quem tem crido quando acaba sua própria capacidade.
Assim, amigos, estou cansado esta manhã de inverno. Estou cansado mas tenho esperança, porque minha causa está com o Senhor e a minha recompensa está com o meu Deus.
Por Jonathan Wilson-Hartgrove
0 comentários:
Postar um comentário