Jerry L. Walls e Joseph R. Dongell
O tremendamente popular seriado cômico Seinfeld, apesar de seu objetivo ser um show sobre coisa nenhuma, ocasionalmente levanta algumas questões importantes. Em um episódio, George Costanza, o personagem que nunca conseguiu se dar bem na vida, finalmente parece ter tudo dando certo. Mas então, como era de se esperar, o avião em que ele está começa a mergulhar. Enquanto ele vê sua vida passando diante de seus olhos, ele deixa escapar, “Eu sabia que Deus não deixaria que eu me desse bem!”
(No final, o avião volta à posição vertical e a vida de George é poupada. Ele, entretanto, acaba na prisão no final do episódio.)
Não queremos exagerar o discernimento teológico de George, mas ele conseguiu por acaso descobrir uma questão de extraordinária importância em seu curto acesso de raiva. De fato, não podemos imaginar uma questão mais importante do que esta que ele sugere. A questão, simplesmente colocada, é se há pessoas, como George se via, que Deus escolheu não abençoar. Ou podemos estar certos, não obstante nosso destino nesta vida, que Deus verdadeiramente nos ama, deseja nosso bem-estar e quer que tenhamos seu dom máximo da vida eterna? Esta é a questão primária que buscamos tratar.
O Caráter de Deus
O debate entre o Calvinismo e o Arminianismo geralmente gira em torno do conceito de liberdade, com o direito soberano de Deus de fazer o que ele escolhe com sua criação de um lado (Calvinismo) e a capacidade da humanidade de moldar o seu próprio destino de outro (Arminianismo). Quando o debate se concentra na liberdade, a questão se reduz a uma discussão de poder. O soberano Criador do universo está no controle, ou é a humanidade pecadora que está no comando? Deus não tem o direito e capacidade para fazer o que quiser de sua criação? É fácil ver a atração do Calvinismo quando o debate é transformado numa corte onde podemos ouvir o Calvinismo defendendo a majestade de Deus e o Arminianismo representando os direitos da humanidade.
Embora concordaríamos que uma parte da disputa gira em torno do tema da soberania e da liberdade humana, afirmamos que a disputa realmente fundamental não é sobre poder mas, antes, sobre o caráter de Deus. O problema fundamental aqui é qual modelo teológico melhor descreve o retrato bíblico do caráter de Deus? Qual sistema teológico fornece uma mais adequada descrição do Deus bíblico cuja natureza é amor santo?
O que é o Calvinismo?
O Calvinismo deriva seu nome, obviamente, do grande reformador protestante João Calvino (1509-1564). É importante entender, entretanto, que estamos usando o termo geral Calvinismo para nos referirmos a uma certa tradição na teologia do qual Calvino é o proponente mais famoso. É chamado Calvinismo por causa do papel de Calvino em articular a teologia clara e sistematicamente. Antes de Calvino, entretanto, as mesmas opiniões básicas foram defendidas por vários teólogos importantes, mais notavelmente Agostinho (354-430) e Martinho Lutero, o grande contemporâneo de Calvino na Reforma.
De forma alguma pretendemos rejeitar tudo associado ao Calvinismo e à teologia reformada. Temos enorme respeito e consideraçao por Calvino e pela herança que ele definiu e engendrou. O Calvinismo por séculos tem representado uma tradição vigorosa de piedade que é intelectual e moralmente séria.
Além disso, muitos calvinistas têm sido evangelistas e missionários zelosos e contribuído intensamente à causa de conquistar os perdidos para Cristo. Em sua paixão pela glória de Deus, os calvinistas têm representado um papel muito importante na renovação da adoração nesta geração.
Os aspectos do Calvinismo que iremos criticar, entretanto, são centrais à teologia reformada histórica. Temos em mente certas afirmações calvinistas sobre a salvação e como Deus a concede aos seus filhos caídos. A distintamente reformada explicação da salvação tem sido esclarecida em cinco afirmações concisas conhecidas por geraçoes como os “cinco pontos do Calvinismo”, a saber, a “tulip” calvinista:
Total Depravity [Depravação Total]
Unconditional Election [Eleição Incondicional]
Limited Atonement [Expiação Limitada]
Irresistible Grace [Graça Irresistível]
Perseverance of the Saints [Perseverança dos Santos]
Obviamente, nenhum resumo simples, não importa quão tradicional e histórico, pode fazer juz à sutileza e sofisticação da teologia reformada. Mas estes cinco pontos continuam sendo uma visão geral do Calvinismo. Dessa forma, vamos considerá-los.
Depravação total. A depravação total descreve a condição desesperadora dos pecadores caídos à parte da graça de Deus. O pecado afetou todo aspecto da personalidade humana a tal ponto que estamos incapazes de fazer o bem ou amar a Deus como deveríamos. Nosso pensamento está corrompido, nossas emoções são enganosas e desproporcionadas, e nossos desejos são obstinados e mal-orientados. Nesta condição, estamos inclinados à rebelião e ao mal e estamos completamente indispostos de nos submetermos a Deus e sua vontade perfeita. Consequentemente, merecemos a ira de Deus e a punição eterna. Pecadores nesta condição estão tão completamente impotentes que eles são exatamente descritos como “mortos em [suas] ofensas e pecados” (Ef 2.1). Tão penetrante e mortal é o efeito do pecado que eles não podem responder a Deus ou fazer sua vontade mais do que um cadáver poderia responder se comandado a levantar e andar.
Na questão da depravação total, os calvinistas estão basicamente de acordo com os crentes de muitas outras tradições cristãs. As diferenças surgem quando alguém pergunta como Deus lida com pecadores nesta condição desesperadora. A resposta arminiana e wesleyana é que a morte de Cristo proporcionou graça para todas as pessoas e que, como resultado de sua expiação, Deus estende graça suficiente a todas as pessoas através do Espírito Santo para neutralizar a influência do homem e capacitar uma resposta positiva a Deus (Jo 15.26-27; 16.7-11). A iniciativa aqui é inteiramente de Deus; a parte do pecador é somente responder em fé e grata obediência (Lc 15; Rm 5.6-8; Ef 2.4-5; Fp 2.12-13). Entretanto, é possível aos pecadores resistirem à iniciativa de Deus e persistirem em pecado e rebelião. Em outras palavras, a graça de Deus capacita e encoraja uma resposta positiva e salvadora para todos, mas ela não determina uma resposta salvadora para ninguém (At 7.51). Além disso, uma resposta positiva inicial de fé e obediência não garante a salvação final. É possível começar uma relação genuína com Deus mas então posteriormente desviar-se dele e persistir no mal de forma que alguém se perca finalmente (Rm 8.12-13; 11.19-22; Gl 5.21; 6.7-10; Hb 6.1-8; Ap 2.2-7).
Eleição Incondicional. Sobre todos estes pontos, os calvinistas discordam. Eles afirmam que Deus em sua soberana graça escolheu resgatar alguns pecadores caídos específicos de sua condição desamparada enquanto deixa o restante da humanidade para perecer eternamente. É importante enfatizar que a escolha de Deus de quem salvar é inteiramente incondicional; ela não depende de algum modo de seu pré-conhecimento da fé ou obediência de uma pessoa.
Expiação Limitada. A expiação limitada é a alegação que Cristo morreu somente para as pessoas eleitas que Deus incondicionalmente escolheu salvar, antes que para todas as pessoas igualmente, como os arminianos acreditam. A morte de Cristo cobre todos os pecados dos eleitos e é portanto eficaz para salvar todos as pessoas por quem ele morreu. Visto que sua expiação é eficaz desta forma, se ele tivesse morrido por todos, então todos verdadeiramente seriam salvos. Mas todos não são salvos, dessa forma sua expiação é limitada aos eleitos.
Graça irresistível. Isto nos leva ao quarto ponto do Calvinismo, a saber, a graça irresistível, que está intimamente relacionada aos dois pontos anteriores. Se Deus incondicionalmente elege quem será salvo em razão de sua vontade soberana, e se a expiação de Cristo é eficaz visto que ela assegura a salvação de todas as pessoas por quem Cristo morreu, então segue naturalmente que os eleitos não serão capazes de resistir à escolha soberana de Deus de salvá-los. Aqueles que são eleitos não podem deixar de responder positivamente à graça de Deus.
É tentador concluir que se a graça é irresistível desta forma, então Deus se força sobre os eleitos e sua liberdade é destruída no processo. De fato, esta é uma crítica comum ao Calvinismo. Entretanto, esta crítica é equivocada, pois os calvinistas tipicamente negam que Deus se força sobre nós e insistem que a liberdade humana é mantida durante toda a atividade salvadora de Deus. A graça de Deus não viola nossas vontades, mas antes as muda de forma que os pecadores desejosa e alegremente respondem.
Perseverança dos santos. Se a eleição é incondicional e a morte de Cristo é eficaz em salvar todas as pessoas por quem ele morreu, e se a graça salvadora não pode ser resistida por estas pessoas, então segue que aqueles que são escolhidos irão perseverar na fé. Deus em sua soberania irá mantê-los na fé e realizará a salvação final pela qual eles os elegeu.
Vale notar que a idéia da perseverança dos santos algumas vezes é chamada de “segurança eterna”. Batistas de vários tipos normalmente defendem a segurança eterna, embora muitos deles rejeitam a eleição incondicional, a expiação limitada e a graça irresistível. Aqueles que defendem a segurança eterna e rejeitam os três pontos centrais não são verdadeiramente calvinistas mas, antes, um híbrido calvinista-arminiano.
Reaparecimento calvinista?
A disputa entre o Calvinismo e seus críticos foi intensa durante os séculos da igreja cristã pelo menos desde o tempo de Agostinho. Nas várias décadas passadas o Calvinismo parecia amplamente ter perdido a batalha, pelo menos dentro do evangelicalismo americano. Várias formas de teologia arminiana, wesleyana e pentecostal vieram a predominar muito do evangelicalismo no século vinte. Enquanto o Calvinismo sempre teve seus articulados defensores e continuado a exercer considerável influência através de instituições educacionais, editoras e outras organizações, ele parecia estar lutando uma batalha perdida na igreja moderna e pós-moderna.
Recentemente, entretanto, o Calvinismo parece estar encenando um notável reaparecimento. Temos notado um intenso e crescente interesse nesta questão entre cristãos de todas as idades. Não muito tempo atrás participamos de um debate sobre o Calvinismo organizado por uma igreja local. Foi assistido por aproximadamente mil pessoas – muitas das quais pareciam ser alunos de escolas secundárias, faculdades ou seminários. A maioria ficou durante as três horas de debate e muitos permaneceram mais tarde para continuar questionando os participantes. Demais para a amplamente suposta afirmação de que a Geração X [1] tem pouco interesse em teologia e doutrina!
Aqueles que buscam evidência do reaparecimento do Calvinismo não precisam olhar além da Convenção Batista do Sul, o maior grupo protestante nos Estados Unidos e uma força principal dentro da realidade diversa conhecida como evangelicalismo. Os batistas são um estudo de caso particularmente interessante porque sua teologia frequentemente é um híbrido de Calvinismo e Arminianismo. A teologia batista tem algumas fortes raízes calvinistas, embora a maioria dos batistas de hoje sejam arminianos, exceto pela sua crença na segurança eterna.
Pelos passados vários anos, entretanto, muitos líderes batistas influentes, muitos deles jovens, vem exigindo um renascimento do Calvinismo. Eles vem observando que segmentos de sua denominação, como muito do evangelicalismo americano, se tornaram teologicamente fracos, espiritualmente superficiais e moralmente confusos. Conforme estes líderes batistas diagnosticam o problema, a teologia arminiana é uma grande (se não a maior) causa destes males.
Por que o Calvinismo está fazendo um reaparecimento? Qual é a sua atração? Parte da atração do Calvinismo é que ele representa uma completa alternativa à teologia “seeker-sensitive” [2] e superficial que predomina em muitas igrejas na América. Em tais igrejas, Deus geralmente é reduzido a um “mensageiro cósmico” cuja única preocupação é satisfazer quaisquer que sejam as necessidades que as pessoas atuais sintam em suas vidas. A doutrina é descartada como irrelevante, a Escritura é usada como um manual de auto-ajuda e a adoração é substituída por várias formas de entretenimento.
Muitos se cansaram de tais inovações e reconheceram que se realmente há um Deus, ele deve ser levado muito mais a sério do que o cristianismo americano parece levar. Bem, o Deus do Calvinismo é bem diferente de um mensageiro cósmico. Ele não é obrigado a fazer nada por você exceto enviar você ao inferno e, se ele escolher assim fazer, ele é glorificado por sua danação. O Calvinismo, de fato, se preocupa com doutrina, é apaixonado pela Bíblia e zeloso da glória de Deus. Como tal, parece ser o perfeito antídoto às vulgaridades prevelecentes na igreja contemporânea.
Traçando distinções
A questão não pode ser reduzida a se ou não nós arminianos cremos na Bíblia, se ou não cremos que Deus é verdadeiramente soberano, ou se ou não cremos na predestinação. Aceitamos a completa autoridade da Bíblia e cremos que qualquer proposta teológica deve ser julgada antes de tudo pela sua fidelidade à Escritura (Sl 19.7-14; Mt 7.24-27; 2Tm 3.16-17). Também cremos que Deus é completamente soberano e que ele predestinou quem será salvo e os termos pelos quais isto irá acontecer (Rm 8.29-30; 9.11-12; 11.29; Ef 1.3-14).
De maneira semelhante, muitos calvinistas insistem que eles acreditam que Deus ama todas as pessoas e oferece a todos uma genuína oportunidade de serem salvos. Muitos também sustentam que somos livres e que fazemos escolhas significativas, incluindo se ou não aceitar a oferta de salvação de Deus.
Ao observador casual, pode parecer que há pouca, se alguma, diferença real entre as duas posições. Mas acordo no nível de amplas alegações sobre soberania, amor e liberdade mascara profundos desacordos de como estas questões são entendidas em detalhes.
Considere as palavras do líder batista Albert Modler: “O Deus da Bíblia é o governador santo, ilimitado e todo-poderoso que faz nações se levantarem e caírem, que realiza seus propósitos e que redime o seu povo. O Arminianismo – o sistema teológico oposto ao Calvinismo – necessariamente sustenta um entendimento muito diferente de Deus, seu poder e seu governo sobre todas as coisas”.
Mohler tem razão quando salienta as muito diferentes opiniões sobre Deus nestes sistemas teológicos opostos, mas cremos que ele está equivocado ao pensar que a principal diferença diz respeito a como entendemos o poder de Deus. Cremos que o cerne da questão é como entendemos o caráter de Deus. A questão não é quão poderoso Deus é, mas o que significa dizer que ele é perfeitamente amoroso e bom. Esta diferença de fato afeta nosso entendimento do “governo de Deus sobre todas as coisas”, mas não é mais fundamentalmente uma questão de quanto poder pensamos que Deus tem.
Estamos de pleno acordo com os calvinistas e outros cristãos ortodoxos que Deus é supremamente poderoso. O poder de Deus tem sido mostrado em inconfundível e impressionante esplendor na criação (Jó 38-41; Sl 8.3-4; 19.1-6). A vastidão e a complexidade de nosso universo, com suas incontáveis galáxias, são toda a prova de que precisamos que Deus tem supremo poder e conhecimento. Além disso, Deus tem demonstrado seu poder no palco da história humana por seus atos de especial revelação, culminando na ressurreição corpórea de Jesus (Êx 15.1-18; Js 23.1-3; Jr 1.9-10; Rm 1.4; 6.4; Ef 1.20).
Ademais, concordamos que Deus poderia ter criado um mundo no qual ele precisamente controlaria e determinaria todas as coisas, incluindo as escolhas dos seres humanos, mas cremos que tal mundo tornaria impossível o amor humano verdadeiro. O amor humano verdadeiro requer liberdade libertária.
Se pensarmos na discussão somente em termos de poder, a questão é naturalmente imaginada em termos do que Deus poderia fazer, mas se pensarmos nela em termos do caráter de Deus, o foco muda para o que ele faria. E é claro a nós que se Deus deteminou todas as coisas, incluindo nossas escolhas, ele não determinaria o tipo de mal e atrocidades que testemunhamos na história. Nem muitos, talvez até a maioria, da raça humana seria ultimamente separada do amor de Deus e se perderiam para sempre. De fato, se Deus determinou tudo, ninguém se perderia (1Tm 2.4; 2Pe 3.9). Novamente, se é questão de poder absoluto, é plausível que Deus criaria um mundo no qual muitos estariam perdidos. Mas o Deus de amor santo não apenas não criaria mas não poderia criar.
Os calvinistas discordam. Eles creem que Deus é perfeitamente bom ainda que tenha escolhido deixar algumas pessoas em seus pecados e por meio disso destiná-los à miséria eterna. Aqui verdademente é onde calvinistas e seus oponentes se separam.
Em um estudo histórico fascinante, o teólogo britânico Colin Gunton identifica pontos chave no que ele crê que algumas doutrinas cristãs centrais saíram do rumo. Um desenvolvimento particularmente interessante é que na teologia ocidental desde Agostinho, “o tema do amor se torna subordinado ao da vontade”. Gunton vê isto manifesto na maneira que a doutrina da dupla predestinação é entendida em algumas tradições. Parte do problema fundamental, Gunton crê, é um entendimento deficiente da doutrina da Trindade. A doutrina da Trindade acima de tudo mostra que Deus necessariamente existe em uma relação eterna de perfeito amor entre Pai, Filho e Espírito Santo. A vontade de Deus deve sempre ser entendida como uma expressão de sua natureza essencial de perfeito amor (Mc 1.11; Jo 3.34-35; 5.19-20; 17.20-26). Porque ele tem tal natureza, ele genuinamente ama todas as pessoas e genuinamente as convida a compartilhar seu amor (Jo 3.16; 14.19-21, 23; 1Jo 2.2; 4.7-12).
Escrevendo para o Jornal Reformado, o calvinista John Piper reconhece a possibilidade de que Deus pode não ter escolhido seus filhos para salvação, mas ele insiste que adoraria a Deus mesmo nesse caso. Reconhecemos que temos uma certa admiração por Piper, embora discordamos profundamente do seu entendimento do caráter de Deus. Isto, sugerimos, serve como um bom critério àqueles que ainda possam estar tentando decidirem-se sobre o Calvinismo. A atitude de Piper reflete piedade no maior padrão concebível ou ela está profundamente em desacordo com o caráter de Deus revelado na Escritura? De maneira interessante, o título do artigo no qual Piper insiste em adorar um Deus que pode destinar seus filhos ao inferno é “Como um Deus Soberano Ama?” Cremos que Piper faz a questão de maneira inversa e que seu artigo reflete a infeliz subordinação do amor à vontade que Gunton identifica. Dada a plena revelação de Deus na Escritura, a questão que devemos fazer é, como um Deus de perfeito amor expressa sua soberania?
Quando o amor é subordinado à vontade, então a paternidade de Deus, que é tão enfatizada na Trindade (Mc 1.11; Jo 1.18; 5.19-20; 17.20-26; 1Co 15.20-28), recebe um lugar inferior na imagem de Deus como Rei e Governador. A natureza relacional essencial de Deus como um ser que existe em três pessoas torna-se subordinada à noção de que Deus é um monarca soberano cuja vontade não pode ser contrariada. Sem o auxílio do Novo Testamento, tal perspectiva é talvez compreensível. Não estou negando que o amor de Deus é revelado no Antigo Testamento (Lm 3.22; Os 11.1). Entretanto, o pleno significado que Deus é amor foi revelado em sua luz mais clara somente com a encarnação (Rm 5.8; Gl 2.20; 1Jo 3.16; 4.9). Na brilhante luz da encarnação, aprendemos que desde a eternidade houve amor entre o Pai e o Filho (Jo 17.24, 26). Além disso, a vinda do Espírito Santo no Pentecostes revelou que o baile de amor eterno de Deus incluía a terceira pessoa da Trindade também (Rm 5.5; Gl 4.6; 5.16, 22; Ef 3.16-19). É por isso que amor não é meramente uma atividade de Deus – é sua própria essência.
Em poucas palavras, nosso caso contra o Calvinismo é que ele não faz justiça ao caráter do Deus revelado na Escritura. Ele não retrata precisamente o Santo que é “compassivo e misericordioso, mui paciente e cheio de amor” (Sl 103.8), o Deus para quem o amor não é meramente uma opção ou uma escolha soberana, mas aquele que é de uma tal maneira que sua natureza eterna é amor (1Jo 4.8).
Deus ama a todos nós e deseja nosso bem-estar? Cremos que os calvinistas não podem responder esta pergunta na afirmativa sem ambiguidade e inconsistência. A visão surpreendente do amor trinitário de Deus é obscurecida pela alegação calvinista de que Deus ignora pessoas que ele poderia tão facilmente salvar e por meio disso as destina à miséria eterna. A estimulante mensagem do evangelho que deve ser boas novas a todos os pecadores é silenciada pela alegação calvinista de que somente os eleitos são verdadeiramente capazes de entrar na dança. Enquanto a Escritura ensina que nem todos virão, a explicação calvinista de por que isto é assim se volta no final das contas para a escolha divina de não salvar aquelas pessoas antes que a recusa delas de aceitar o convite. De fato, os calvinistas sustentam que essa escolha soberana de Deus de não salvar alguns pecadores aumenta sua glória.
Deus é verdadeiramente e plenamente glorificado quando sua natureza é mais claramente revelada e ele é propriamente cultuado e adorado. É digno de nota que no Antigo Testamento, quando o templo era dedicado, os levitas louvavam a Deus cantando sobre sua bondade e amor eterno e misericórdia. Conforme faziam, o templo se enchia da glória de Deus (2Cr 5.11-14; 7.1-4). Esta glória foi mostrada mais plenamente quando o Filho de Deus assumiu um templo de carne e viveu entre nós (Jo 1.14-18; 14.8-11; Fp 2.5-11; 1Jo 4.1-12).
Subordinando o amor à vontade, o Calvinismo deixa de glorificar a Deus como ele se revelou na história e finalmente na encarnação de seu Filho. O amor de Deus conforme revelado na encarnação não é uma questão de meras palavras, mas da Palavra tornada carne que ativamente busca o bem-estar de seus filhos caídos. Um amor que verdadeiramente e apaixonadamente promove o bem-estar de seus amados, mesmo quando significa pagar um alto preço, é o tipo de amor que tem existido desde toda a eternidade na Trindade e que foi revelado na vida de Jesus. Demais a mais, este é o tipo de amor que Deus comanda seus filhos a demonstrarem ao seguir seu exemplo (1Jo 3.16-18). Porque Deus ama todos os pecadores desta forma e ativamente trabalha para promover seu bem-estar eterno, há júbilo nos céus quando um deles se arrepende (Lc 15.7, 10). Um Deus que comanda este tipo de amor e que positivamente se deleita no arrependimento dos pecadores certamente não tem necessidade ou desejo de mostrar seu poder soberano ignorando alguns humanos caídos, nem se glorificaria verdadeiramente agindo dessa forma.
É por isso que nós não somos calvinistas.
Adaptado de Por Que Não Sou Calvinista, de Jerry L. Walls e Joseph R. Dongell
Fonte: Good News Magazine, Set/Out 2004
Tradução: Paulo Cesar Antunes
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