Por Samara Lacerda
Por muito tempo acreditei que ser cristão era ser hipócrita. Por muito tempo acreditei que muitos esforços de minha parte significavam falsidade, motivada pelo medo de desobedecer a líderes, ao meu pastor ou mesmo a Deus. Por muito tempo andei angustiada por fazer coisas em que acreditava não valerem de nada, já que muitas vezes fazia sem vontade. Por muito tempo vivi um cristianismo de entrega/sacrifício por obrigação.
Uma das principais falas de Jesus em terra que me deixou por muito tempo com estes sentimentos é a que diz sobre o amor ao próximo (Jo 13:34). Amar ao outro me parecia fácil até onde meu nível de afinidade acompanhava. O problema era quando a afinidade não estava presente e eu me via diante de um estranho. Amar o assassino, amar o pai que abandona a família, amar a prostituta, o ladrão, o viciado, o irritante, o fofoqueiro, o pobre, o rico, o político corrupto, o macumbeiro. Amar o pecador. Como eu, como você. Sinceramente, para mim parecia uma missão quase impossível!
Por muitas e muitas vezes me cobrei sentimentos de amor por essas pessoas, mas não conseguia negar minha revolta em relação ao “erro” delas. Mas, se eu tivesse que representar em um teatro, dar testemunho, evangelizar, ou me declarar cristã frente a essas pessoas, eu falava que as aceitava. Graças a Deus, nós temos a chance de aprender e de sermos moldados conforme Seu querer.
Karl Marx desenvolveu a Práxis Revolucionária na intenção de criticar dois movimentos filosóficos: o materialismo e o idealismo. Enquanto o materialismo diz o homem ser determinado pelas circunstâncias (econômicas, sociais, culturais), o idealismo diz ser o homem determinado pelas ideias (pensamentos, desejos, vontades). Este conceito de Marx é basicamente “a coincidência da transformação das circunstâncias com a atividade humana”. Entende-se então, que o homem não é somente determinado pelo ambiente ou pelos seus ideais, mas há um desenvolvimento constante na interação e modificação de um pelo outro. “A teoria se modifica constantemente com a experiência prática, que por sua vez se modifica constantemente com a teoria”.
Após conhecer um pouco sobre a práxis, percebi que meus pensamentos estavam sendo motivados por uma incompreensão desse amor que Jesus nos ensina a ter pelo outro. O amor vai além dos sentimentos, e muitas vezes não nasce por eles. Amor é entrega. Amor é atitude. Mesmo que o sentimento não estivesse presente, eu poderia me entregar em amor por essas pessoas, desde que eu começasse a exercer a práxis. Como muito bem explicado no livro “O monge e o executivo – James C; Hunter”:
Se me comprometo a amar uma pessoa e a me doar a quem sirvo, e sintonizo minhas ações e comportamentos com esse compromisso, com o tempo passarei a ter sentimentos positivos em relação a essa pessoa.
A minha ação no ambiente externo (considerando tudo o que existe fora de mim) age como modificadora deste ambiente, que, ao mesmo tempo, exerce influência sobre mim, modificando-me também.
Não! Não somos hipócritas por tentarmos fazer o bem sem distinção. Somos hipócritas na nossa ignorância de pensar que podemos fazer algo pelas pessoas não nos comprometendo a amá-las.
O novo mandamento nos foi dado não apenas por palavras, mas por atitude! Sejamos fortes em seguir o exemplo do nosso mestre, permitindo-nos experimentar novos sentimentos de empatia e compaixão através de nossas ações.
Samara Lacerda (Via JuveMetodista)
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