Por Hermes C. Fernandes
Os lençóis estavam todos no chão. Uma bagunça. Algo acontecera ali. O corpo sumira. E sem corpo, não há crime. Onde o puseram? perguntava acerca daquele a quem tanto ela amava.
Ainda era madrugada, e ela não quis esperar amanhecer. Foi correndo ao sepulcro onde Jesus havia sido enterrado. Sua missão era embalsamá-lo. Mas lá chegando, deparou-se com o que parecia a cena de um crime. A enorme pedra do sepulcro fora removida (João 20:1-9).
Confusa, sem conseguir raciocinar direito, Maria foi correndo avisar a Pedro e João. Sua conclusão era que alguém havia levado os restos mortais de Jesus. Alguma providência deveria ser tomada. Talvez, as autoridades devessem ser notificadas.
Mas nada poderia ser feito sem que antes Pedro e João investigassem por si mesmos a tal cena do crime.
Os dois saíram correndo juntos, porém, João ultrapassou a Pedro, e chegou primeiro. Não sei o que o motivou a correr tanto, sem algum tipo de competitividade com Pedro, ou curiosidade, ou simplesmente, amor.
Chegando à cena do crime, João abaixou-se para espiar o buraco de onde a pedra havia sido removida. Apesar da pouca iluminação, deu pra ver que os lençóis de linho que cobriam o corpo de Jesus estavam jogados no chão. Definitivamente, algo havia ocorrido ali. Para que os lençóis estivessem no chão, o corpo teria que ter sido tirado de sua posição. Receoso de entrar no supulcro, João chegou à mesma conclusão de Maria.
Logo em seguida, chegou Pedro. Embora chegasse depois de João, não contentou-se em espiar a cena do lado de fora. Deu um passo além, e entrou no sepulcro. Do lado de dentro, Pedro reparou um detalhe que sequer foi visto pelos que o antecederam. Além dos lençóis, havia o lenço que cobrira a cabeça de Jesus.
Diferente dos lençóis esparramados no chão, o lenço estava dobradinho, colocado à parte. João toma coragem e adentra o sepulcro, vê a mesma cena, chega a uma nova conclusão. Não se tratava do sequestro de um corpo, mas de algo inusitado. Os lençóis espalhados no chão pareciam dizer que o corpo de Jesus havia sido levado. Mas o pequeno lenço dobrado, colocado à parte, dizia outra coisa. No meio do aparente caos, algo sugeria ordem. Quem gosta de assistir a CSI, como eu, sabe que detalhes imperceptíveis podem mudar radicalmente o rumo das investigações. Se Sherlock Holmes estivesse lá, diria: Elementar, meu caro Watson: Saqueadores de tumbas não se preocupariam em dobrar o lenço e colocá-lo à parte.
Mesmo sem compreenderem o que estava acontecendo, parecia claro que aquela não era a cena de um crime, mas o cenário do maior acontecimento da história da humanidade.
Se Pedro houvesse parado onde João parou, teria chegado à mesma conclusão que seu colega, que por sua vez, chegara à mesma conclusão daquela que os antecedera. Do lado de fora da tumba, só os lençóis espalhados no chão eram visíveis. O lenço era um detalhe só perceptível para quem adentrasse o sepulcro. Naquele dia João aprendeu uma importante lição: o que importa não é chegar primeiro, mas dar um passo além.
Estaremos condenados a reproduzir as mesmas conclusões a que chegaram nossos predecessores, se não nos dispusermos a dar um passo além. Não se distraia com a bagunça dos lençóis no chão. Repare no lencinho dobrado. Deus está nos detalhes!
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