Por Hermes C. Fernandes
“Pois muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora novamente digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo” (Fp.3:18).
Quem seriam os tais “inimigos da cruz”? Estaria Paulo falando dos romanos, com seu estilo de vida hedonista, idólatra? Ou estaria se referindo aos gregos, amantes do saber? E se tivéssemos que aplicar esta palavra aos nossos dias, a quem caberia a alcunha? Quem são os atuais “inimigos da cruz”? Seriam os muçulmanos? Os homossexuais? Os socialistas? Para sabermos quem são eles em nossos dias, temos que descobrir quem eram nos dias de Paulo.
Alguns versos antes, o apóstolo adverte a seus leitores sobre os que ele chama de “cães”, “maus obreiros”, “falsa circuncisão”. Ele não está apontando inimigos externos, mas internos. Os mesmos que em outra epístola ele chama de “falsos irmãos, que se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus, para reduzir-nos à escravidão” (Gl.2:4). É acerca dos tais que devemos redobrar o cuidado, para que não nos tornemos presas suas, “por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens” (Cl.2:8).
Os inimigos da cruz não estão lá fora. Eles estão entre nós! Fazem-se de cristãos, fiéis seguidores de Cristo, expoentes da sã doutrina, conservadores das tradições, porém, sua intenção é outra.
Não é a Cristo que servem, mas ao seu próprio ventre (Fp.3:19).
Pregam uma santidade de fachada, ostentando uma “aparência de sabedoria”, “humildade fingida”, “severidade para com o corpo”, coisas completamente desprovidas de valor real.
Por que Paulo os chama de inimigos da cruz?
Por se insurgirem contra os efeitos da cruz. Estes intentam reconstruir os muros separatistas derrubados na cruz (Ef.2:14-17). Em vez de promover harmonia entre os diferentes grupos humanos, preferem ver o circo pegar fogo. Insistem com uma mensagem discriminatória, onde as pessoas são julgadas por critérios étnicos, culturais, sexistas ou religiosos. A mensagem do amor, marca registrada do ministério de Jesus, é substituída pela mensagem do ódio, da vingança. Em vez de boas novas, preferem espalhar calúnias, difamação, mentiras contra quem ouse pensar defirente deles.
Qualquer ideologia ou doutrina que não seja capaz de fazer de nós pessoas melhores, mais compassivas e generosas, deveria ser totalmente rechaçada, pois certamente não procede do Crucificado.
O mundo já está saturado de tanto ódio e preconceito.
Os inimigos da cruz são retrógados, querem reverter o processo deflagrado com o advento da mensagem cristã. Preferem voltar à idade das trevas. Acham que as mulheres são seres inferiores, que não podem exercer qualquer função que não seja subalterna. Alguns chegam a defender a instituição da escravidão, como sendo justa e necessária. Tudo isso travestido de linguagem bíblica e teológica. Dizem-se favoráveis à vida, mas defendem a pena de morte com unhas e dentes, bem como a utilização de tortura por parte do Estado, e a proliferação de armas entre os cidadãos comuns.
Se Paulo os chama de “cães”, vou um pouco adiante.. São cães raivosos. Cães de guarda! Defendem seu perímetro com ferocidade, não se dispondo a ceder um centímetro sequer. Para eles, o importante não é a defesa da verdade (aquele que é seguida em amor, de acordo com Ef.4:15), mas a defesa de seu ponto de vista ou de seus interesses.
Eles bem que poderiam ser identificados facilmente, não fosse sua habilidade em camuflar-se. Paulo diz que os tais “obreiros fraudulentos” se transformam em ministros da justiça, tal como Satanás que se transfigura em anjo de luz (2 Co.11:14).
Além de reconstruirem “as paredes de separação” entre os homens, seu maior atrevimento é tentar recosturar o véu do templo. Pra eles, ninguém pode chegar-se a Deus a não ser rezem em sua cartilha ideológica/doutrinária. Os que ousam discordar, logo são tachados de hereges, anticristos, falsos profetas, etc. São os herdeiros diretos do legado deixado pelos fariseus contemporâneos de Jesus, que não entravam e ainda impediam que outros entrassem (Mt.23:13).
Se estivessem na cena em que Jesus impediu o apedrejamento de uma mulher adúltera, certamente seriam os primeiros a apedrejá-la. Se testemunhassem o diálogo de Jesus com o ladrão da cruz, achariam que Ele estava delirando ao franquear a entrada do reino àquele meliante.
Com o mesmo rigor com que julgam, serão julgados. Sua hipocrisia será exposta. “Porque o juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia” (Tg.2:13).
Que em lágrimas como o apóstolo, exortemos a estes a não pisarem o Filho de Deus, não profanarem o sangue da aliança, nem ultrajarem o Espírito da graça (Hb.10:29).
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