Por Hermes C. Fernandes
A lista contida na galeria dos heróis da fé é encabeçada por Abel.
É interessante notar que Abel é o único a quem não se atribui qualquer proeza. Enoque foi arrebatado ao céu; Noé salvou o mundo com sua arca; Abraão e Sara tiveram um filho depois de velhos, etc. Mas Abel, o que fez de tão importante para figurar ali?
O texto diz que “pela fé Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho das suas ofertas, e por meio dela, depois de morto, ainda fala” (Hb.11:4).
Embora as proezas dos demais heróis tenham alcançado enorme repercussão neste mundo, a oferta de Abel repercutiu na Eternidade.
A queda das muralhas de Jericó, por exemplo, foi testemunhada por milhares de hebreus. Mas a oferta de Abel foi testemunhada única e exclusivamente por Deus.
E por alguns milênios, seu sacrifício foi um referencial de excelência. Sua fé, expressada em suas ofertas, não perdeu a eloqüência, nem depois de sua morte.
Seu sangue, ao ser derramado na terra, misturou-se ao sangue de todos os seus sacrifícios, elevando a Deus um clamor por justiça.
Ao argüir Caim, o assassino de Abel, disse Deus: “Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra” (Gn.4:10).
E o sangue de todas as vítimas inocentes da maldade humana, uniu-se ao sangue de Abel neste clamor.
Jesus advertiu aos Seus contemporâneos:
“Portanto desta geração será requerido o sangue de todos os profetas, que foi derramado desde a fundação do mundo, desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo. Assim, vos digo, será requerido desta geração” (Lc.11:50-51).
Desde Abel, a humanidade estava presa a um tipo de carma. O que seria capaz de romper com ele?
Aquele velho mundo com seu interminável carma tinha que acabar, para dar lugar a um novo mundo, onde prevalecesse a Graça em vez da vingança.
Embora a fé de Abel o projetasse para o futuro, razão pela qual oferecia a Deus sacrifícios que prefiguravam o sacrifício do próprio Cristo, seu sangue, uma vez derramado sobre a terra, prendeu-nos nesse ciclo de “dente por dente”, “olho por olho”.
O clamor do sangue de Abel nos aprisionava ao passado.
Precisaríamos de alguém cujo sangue falasse melhor do que o de Abel, a fim de nos libertar para o futuro. Alguém cujo sacrifício de Sua própria vida exterminasse o carma, e estabelecesse a pedra fundamental de um novo mundo.
O término da lista da galeria da fé, o escritor sagrado arremata:
“E todos estes, embora tendo recebido bom testemunho pela fé, contudo não alcançaram a promessa. Deus havia provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados” (Hb.11:39-40).
Que “coisa superior” seria esta?
A resposta vem logo em seguida:
“Portanto, visto que nós também estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todos embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé, o qual pelo gozo que lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (12:1-2).
Todos os heróis do passado formam agora a platéia que nos assiste, porém, nossa nova referência é Cristo, que nos desafia a deixar o embaraço, isto é, aquilo que nos prende ao passado, e o pecado que tenta nos acorrentar ao presente, e correr em direção ao futuro que Seu sacrifício nos garantiu.
Os heróis da Antiga Aliança viveram sob o eco do clamor do sangue de Abel.
Enquanto os antigos heróis “morreram na fé, não alcançaram as promessas, apenas viram-nas de longe, e as saudaram” (11:13), nós, que vivemos sob a égide da Nova Aliança, já as alcançamos n’Ele. Paulo declara: “Pois quantas promessas há de Deus, têm nele o sim, e por ele o amém, para a glória de Deus por nosso intermédio” (2 Co.1:20-21).
Enquanto eles estavam “buscando uma pátria” (Hb.11:14), nós somos aqueles que finalmente chegaram “à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial” (Hb.12:22).
Mas tudo isso porque o sangue de Jesus, derramado no madeiro, “fala melhor do que o de Abel” (Hb.12:24).
Se o sangue de Abel clamava por justiça, o sangue de Jesus clama por misericórdia. E “a misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg.2:13).
Se o sangue de Abel continuou a falar, mesmo depois de morto, qual seria o alcance do clamor do sangue do Ressuscitado?
Vi no http://www.hermesfernandes.com/2009/04/eloquencia-do-sangue-do-ressuscitado.html
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