Viver não cansa, o que fatiga são as perguntas imbecis de quem não quer ter opinião própria, os comentários emburrecedores de quem não gosta de pensar, as lógicas dos religiosos que adoram encabrestar e serem encabrestados.
Viver não cansa, o que exaure é precisar debater com quem só lê a ‘Veja’; é ter que ouvir a opinião de quem adora o Diogo Mainardi; é ter que debater com quem aprendeu toda a Verdade com o Max Lucado e se acha apto para converter o mundo islâmico.
Viver não cansa, o que desespera é ter que calar diante das vaidades maquiadas como piedade; é ter que respeitar os narcisismos travestidos de desprendimento; é ter que fazer vista grossa diante dos escroques de colarinho clerical: “porque eles também podem estar ganhando almas e despovoando o inferno”.
Viver não cansa, o que chateia é ter que explicar para fariseus de plantão que beber um cálice de vinho não significa automática embriaguez, que dançar a valsa na formatura da filha não é pactuar com o mundo; é ter que arrazoar com analfabetos funcionais para mostrar-lhes que não existe diferença entre música cristã e do mundo (Só existe música boa ou ruim!).
Viver não cansa, o que amarga é ter que ficar calado diante dos maiores descalabros éticos, “porque a igreja ‘X’ está crescendo e o que importa são os resultados”; é ter que assistir a um monte de gente se esforçando para jogar a dignidade do Evangelho pelo ralo e precisar engolir seco porque: “aquela igreja 'X' é como um hospital de emergência onde as pessoas se convertem, mas depois procuram as igrejas sérias”.
Viver não cansa, o que horroriza é conseguir detectar as agendas escondidas dos Benny Hinns da vida, a volúpia por poder dos que vivem das politicagens denominacionais, os cinismos teológicos dos evangelistas triunfalistas e ainda assim precisar explicar-se porque não participa de eventos, de marchas e de conferências ao lado deles: “já que o Corpo de Cristo não pode se dividir”.
Viver não cansa, o que exaure é ver as igrejas lotadas de incautos em busca de um Mega Milagre porque: “ao fazerem a sua parte, Deus ficará obrigado a fazer a dele”; é saber que cada campanha de oração que “vai destrancar os cadeados do céu”, na verdade, foi projetada para arrancar mais dinheiro dos simples; é notar que muitos nas elites religiosas não diferem em nada dos políticos que só sabem defender seus interesses.
Viver não cansa, o que debilita é ter que lidar com a fofoca de quem não tem brilho próprio; é ter que admitir que vários fazem do sacerdócio um jeito de progredir com um esforço mínimo; é saber que a indústria da “música gospel” fatura em cima da vaidade de cantores que jamais dariam certo fora das igrejas e que, para compensar a falta de talento, vivem a fazer biquinhos, vertendo lágrimas forçadas.
Viver não cansa, realmente, não cansa.
Faz bem à alma lidar com jovens grávidos de sonhos, com mulheres íntegras, que não medem esforços para acolher os esquecidos e com anciãos que destilam uma sabedoria acumulada pela experiência.
Os poetas com suas intuições, os músicos com suas percepções, os professores com sua erudição, os pastores com sua dedicação, continuam a encantar.
Os atletas com sua disciplina, os profetas com sua veemência, os missionários com sua coragem, são um bálsamo que cura as feridas da desesperança.
Viver é tão bom que dá ganas de continuar, continuar...
Soli Deo Gloria.
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