Márcio Rosa
Fiquei comovido com a revelação de que Madre Teresa de Calcutá também teve dúvidas. Eu já a admirava. Agora minha reverência é ainda maior. Ela revelou-se humana, frágil e suscetível a pensamentos e sentimentos naturais a todas as pessoas, indistintamente. Qualquer que negue suas inquietações mais profundas e aparente uma suposta invulnerabilidade está mentindo para si. Não convence quem conhece minimamente os meandros do coração humano.
Entretanto, temos o péssimo hábito de mitificar nossos heróis a ponto de esquecermos que são humanos e, como tais, têm sentimentos de ira, tristeza, solidão, dúvida. Queremos biografias ufanistas e sem nenhuma demonstração de fraqueza. Não gostamos de admitir que nossos ícones tenham tido qualquer deslize, queremos super-heróis.
Frustrando os que negam a fraqueza humana, assim disse aquela foi um exemplo de fé: “Disseram-me que Deus me ama, e ainda assim a escuridão, o frio e o vazio são tão grandes que nada toca minha alma. Terei eu errado ao me entregar cegamente ao chamado do Sagrado Coração?” Estas são palavras de Madre Teresa numa carta a um padre confessor, conforme publicado na Revista Veja de 5 de setembro de 2007.
A dúvida presente em seu coração se mostrou fé na medida em que não a fez desistir de sua vida de serviço e dedicação ao Reino e às pessoas.
O relato bíblico está repleto de pessoas com o mesmo sentimento. Isso é algo lindo na Bíblia, ela não esconde os pontos fracos de seus personagens, mas mostra-os tais como foram: humanos. Veja o caso de Jó, que, a despeito de não negar ou blasfemar contra Deus, por muitas vezes revelou que se sentia triste e só. Elias, mesmo sendo um intrépido profeta, teve medo, fugiu, se escondeu e pediu a morte. Vários salmos também mostram sentimentos parecidos por parte de seus autores. Até Jesus, na cruz, sentiu solidão.
Quem foi que disse, de onde tiraram a idéia de que o cristão não pode jamais expressar fraqueza ou dúvidas?
A revelação sobre Madre Teresa fez-me sentir que não estou só nas minhas dúvidas, nem sou o único que professa a fé cristã e, às vezes (ou muitas vezes), sente uma solidão existencial. Estou em boa companhia.
O que preciso aprender é que esses sentimentos vacilantes não podem me fazer desistir. A religiosa ganhadora do Prêmio Nobel não desistiu, mas é possível que tenha sido tentada a fazê-lo. Continuou com seu abnegado serviço, mesmo que tivesse dúvidas. Se eu agir assim, tal como a freira de Calcutá, terei transformado minhas dúvidas numa fé inabalável.
terça-feira, 2 de outubro de 2007
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