O que seria de nós sem o socorro dos poetas? O poeta canta o rotineiro e para nós tem o frescor de inédito. Com o poeta vamos de mãos dadas ao mundo familiar e parece que estamos ali pela primeira vez. Ficamos embasbacados perguntando “como não vimos isso antes”? As experiências vulgares do dia a dia, ridículas, ingênuas e bobas, quando ditas pelo poeta têm poder de Vida!
O poeta salva as palavras gastas pelo uso e tempo; dá novo sentido às palavras maltratadas. Ele tem habilidade de fazer uma palavra significar o seu antônimo! A licença poética foi inventada por causa do poeta: uma maneira que encontraram de conviver com a sua liberdade. O poeta cria neologismo porque o seu vocabulário é maior do que a linguagem.
Levamos um verdadeiro drible se lemos apenas as letras do poeta. Quando ele diz uma coisa pode estar querendo dizer outra coisa – este é o conselho de Gilberto Gil em “Metáfora”:
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
A poesia não são palavras, são imagens. A poesia não é a letra, mas as entreletras, não são as vozes são as entrevozes; não é o som, é a série harmônica.
Fazendo amor com as palavras, o poeta desenha uma cena, uma sensação, um aroma, uma textura. Com as palavras o poeta cria uma esperança e lembra as nossas saudades. O poeta usa as palavras para dizer a Palavra que nunca foi dita; e ele não diz, apenas sugere, é já é muito bom! A sua estética nos faz sofrer de beleza; e, apenas vislumbrar aquilo para que aponta, já nos faz suspirar!
Deus é poeta! Livre de normas, instituições, leis e teologia, Deus solta o verbo. Ou melhor: encarna o verbo. Sua poesia é gente – Jesus – tão maravilhosamente inclassificável! E quando Jesus fala (preste muita atenção!) pode estar falando do avesso, pode estar sugerindo outra coisa. Certamente, não está sugerindo um vocabulário para virar doutrinas, rezas, jargões ou palavras mágicas. Jesus está sugerindo mundos, cenas e imagens. Ele não quer sua voz poética presa num papel, impressa e lida; mas livre, ecoando, reverberando, vibrando em nosso corpo.
Jesus nos socorre pela beleza e não pela letra; através das perguntas e não das respostas; Jesus nos redime através de parábolas e não de dogmas; Jesus salva a nossa existência usando trocadilhos e não fórmulas; Jesus nos lembra do essencial usando metáforas e não doutrinas.
O que nos redime não é a apreensão da verdade absoluta (quem conseguirá?), mas sim o Verbo Encarnado. Em Jesus a teologia é aberta, é beleza, assombro e poesia.
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