Há momentos em que nada faz sentido. Os acessos ficam comprometidos, as frestas, entupidas, as janelas, cerradas. Decepção substitui confiança, tristeza apaga o ímpeto e abatimento contamina o idealismo heróico. O calor da peleja traiçoeiramente solapa a energia fundamental e vital. Os granitos cedem sob os pés. Esgota-se o entusiasmo. As balizas do sentido caem. Os diques das emoções se rompem. Estamos à deriva.Há momentos em que o silêncio absoluto e impenetrável da covardia abafa a coragem. O império da culpa confisca a confiança. O pavor do inesperado transforma a alma em masmorra. Sonhos definham em imobilismo. Soturnos, compomos um Réquiem. Na poesia, versificamos o tédio. Procuramos rima para fatiga. O espírito faz melodia com soluço.
Há momentos em que determinação vira sinônimo de teimosia. As escolhas acontecem, empurradas, forçadas. A vida é tangida sem ânimo. Opta-se por constrangimento. Vai-se adiante, simplesmente. O horário cumprido, a tarefa realizada, e só. No tabuleiro, o peão aceita a sorte; no palco, a marionete dança sob os dedos do títere; na vida, multidões decoram roteiros.
Há momentos em que já não dá para retroceder. "O próximo, o próximo, o próximo", dita uma voz lúgubre. Alguém ordena à fila: "desçam a vertiginosa ladeira existencial". Assim, resilientes e determinados, um só rebanho, nós, humanos viramos caminhantes. De dever em dever, chegaremos, todos, ao último e inusitado compromisso: a morte.
Soli Deo Gloria
Vi no http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=65&sg=0&id=2196
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