Não precisamos defender a homossexualidade para amar os gays, conviver com eles, tê-los como amigos e, acima de tudo, lutar por seus direitos.
Como o Estado é laico, não cabe à Igreja tentar impor sua visão moral e religiosa à sociedade.
No dia 5 de maio último, minha melhor amiga recebeu uma ótima notícia: o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, em decisão unânime, a equiparação da união civil homossexual à heterossexual. Às vésperas de seu aniversário, ela não podia estar mais feliz por uma simples razão: minha melhor amiga é gay. E eu, como amigo, cidadão e até cristão, também fiquei feliz com a notícia. Sim, sou a favor da extensão de direitos civis a parceiros homoafetivos, e sou também a favor da legalização do casamento gay. Baseio minha posição em um conceito fundamental para qualquer nação ou sociedade saudável – a laicidade do Estado. E, felizmente, no Brasil, há separação explícita entre a Igreja e o Estado e uma absoluta liberdade religiosa. Como o Estado é laico, não cabe à Igreja tentar impor sua visão moral e religiosa à sociedade. Ela deve, é claro, lutar pelos seus direitos, pela sua liberdade de culto e de atuação; mas não deve impor suas idéias e ideologias aos outros por força de legislação.
Não se trata de defender a homossexualidade. Mas há que ser tolerante, respeitoso e favorável ao direito daqueles que não professam a mesma fé que nós de levarem sua vida do jeito que quiserem. Neste sentido, C. Everett Koop, autoridade da área de saúde nos Estados Unidos entre 1982 e 1989, é um exemplo a ser seguido. Foi naquele período que a Aids tomou grandes proporções e Koop, um cristão notável, amigo de Francis Schaeffer (foi co-autor com ele do livro Whatever Happened to the Human Race?), debruçou-se por meses em um relatório sobre a doença. Nas suas sugestões para a implantação de políticas públicas acerca do tema, Koop manteve-se absolutamente laico. Mostrou que os homossexuais estavam mais expostos à epidemia porque isso era uma verdade científica, mas defendeu a promoção do uso de preservativos e da educação sexual para crianças, sem se prender a motivos morais. “Eu sou o chefe de Saúde Pública de heterossexuais e homossexuais, de jovens e de velhos, de pessoas morais e imorais”, afirmou. Koop, como qualquer cristão tradicional, condenava abertamente a homossexualidade – mas, como cristão, cidadão e homem público, cuidava dos gays e os defendia. “Você pode odiar o pecado, mas tem de amar o pecador”, dizia o médico.
Ao comentar seu voto na decisão do STF, a ministra Ellen Gracie afirmou: “Uma sociedade decente é uma sociedade que não humilha seus integrantes”. Para mim, esta é versão jurídica de “Amarás ao próximo como a ti mesmo”, um dos mandamentos centrais do cristianismo. E é possível amar os gays e ao mesmo tempo obrigá-los a viver sob a moral de uma fé que não manifestam? Impossível, seria contraditório. Por isso, estou feliz pela minha amiga. Afinal, ela poderá exercer seus direitos de cidadã de forma integral a partir de agora.
A grande verdade é que não precisamos defender a homossexualidade para amar os gays, conviver com eles, tê-los como amigos e, acima de tudo, lutar por seus direitos. C. Everett Koop demonstrou isso na prática e eu tento seguir seu exemplo. Ele, sem dúvida, sabia a diferença entre Igreja e Estado, entre seguir sua fé e impô-la ao próximo. E, como Philip Yancey descreveu muito bem em seu livro Maravihosa graça, “Koop nunca comprometeu seus princípios, mas nenhum evangélico é mais bem recebido do que ele entre homossexuais”. E você? Como os gays o receberiam?
Por Carlo Carrenho
Vi no http://cristianismohoje.com.br/interna.php?subcanal=51
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