Scot Mcknight
Tudo sobre as Passagens de Advertências em Hebreus depende da audiência: Quem são eles? São crentes ou não?
Começo fazendo esta observação: na história da Igreja muitos têm feito distinção entre crente genuíno e crente nominal. Acho essas categorias úteis em alguns contextos. A questão na leitura de Hebreus é se ou não o autor usa tal categoria para explicar sua audiência.
Novamente, há muitas coisas a considerar e eu farei uma nota rápida do que ensinei em minhas classes em Trinity, e (aqui novamente) digo que fiquei surpreso com a quantidade de estudantes que concordou com as conclusões.
Em primeiro lugar, o autor geralmente inclui a si mesmo com a audiência quando usa o termo “nós”. 2.1-4; 3.14; 4.1, 11, 14-16; 6.1; 10.19; 12.1-3, 25-29.
Em segundo lugar, o autor chama sua audiência de “irmãos”. 3.1, 12; 10.19; 13.22. Talvez 3.1 precisa ser citado: “irmãos santos, participantes da vocação celestial”.
Em 2.11-17 temos a seguinte narração sobre o que “irmãos” significa: “Por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos [e irmãs], dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos [e irmãs], cantar-te-ei louvores no meio da congregação.... Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos [e irmãs], para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo”.
Em terceiro lugar, em 4.3 ele chama sua audiência de “crentes”. Este texto não está distinguindo genuínos de falsos, mas crentes de não-crentes. Os crentes, ele diz, entram no repouso. [Sim, é preciso observar: um crente que entra no repouso persevera. Mas, isto não significa que aqueles que não perseveram não eram crentes, mas que aqueles que não perseveram não entrarão no repouso.]
Em quarto lugar, algumas vezes o autor vê sua audiência como “vós”. Isto sugere que ele acha que alguns deles não irão chegar lá. Veja 3.12; 5.11; 12.18-24.
Em quinto lugar, 10.29 precisa ser lido cuidadosamente: “De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” Aqui o “vós” pisou o Filho de Deus, e profanou o sangue, e (já) foi santificado pelo sangue, e está fazendo agravo ao Espírito.
Em sexto lugar, em 2.3-4 o autor relata a experiência da conversão deles; em 6.10 eles são aqueles que têm mostrado amor em nome de Cristo; em 10.22 eles tiveram seus corações purificados e sido limpos de uma má consciência; em 10.32-34 vemos evidência de suas contínuas perseguições.
Colocado junto, tudo isso indica uma plena experiência cristã: conversão, dons e manifestações do Espírito Santo, a obra da morte de Cristo e um compromisso da comunidade cristã.
Em sétimo lugar, agora brevemente sobre 6.4-6: o autor afirma que aqueles que atingiram um certo nível e regressaram não podem ser restaurados para arrependimento. (É um comentário singular; ele é sério.)
Iluminados: veja 10.32. Um termo para a conversão cristã inicial.
Provaram...: veja 2.9; 6.4, 5. Isto não significa “provar” superficialmente, mas é uma metáfora para “experiência”. Veja em 2.9 – ninguém meramente prova superficialmente a morte; significa morrer.
Participantes do Espírito: refere-se a uma experiência cristã inicial do Espírito Santo.
Provaram a palavra...: novamente, experimentaram os poderes da Palavra de Deus.
Novamente, colocando estes versículos todos juntos: uma plena experiência cristã.
Aqui está meu sumário: de fato, o autor vê sua audiência como mista. Mista no sentido daqueles que irão perseverar e daqueles que não irão. Não mista no sentido de insinceros e genuínos. Não há nenhuma sugestão no livro dessa última categoria, mas há muita da primeira. Há todo tipo de evidência que ele pensava que alguns perseverariam e outros não; ele nunca sugere que aqueles que não perseveram são insinceros. Há uma grande diferença.
Minha conclusão é esta: o autor de Hebreus via sua audiência como crentes, mas sabia que alguns iriam cair em apostasia, ou tinham caído, ou poderiam cair. Para aqueles que caíam, não haveria nenhum repouso final. A implicação é que um crente pode cair em apostasia.
Quando eu ensinei isto, fiquei surpreso com o número de estudantes que concordou. De fato, eu disse a eles que eu fiquei surpreso. Esta visão de Hebreus não é característica entre os tipos de evangélicos que tínhamos em Trinity, embora seja comum entre evangélicos wesleyanos e outros como eles. E, também ficou claro que eu não dei melhores notas àqueles que concordaram comigo: de fato, as melhores provas que li foram daqueles do lado calvinista, por causa do desafio que estas conclusões lhes trouxeram. Posso dizer que aquelas classes no TEDS [Trinity Evangelical Divinity School] foram algumas das melhores classes que eu lecionei. Uma expressão de natureza teológica, pastoral e pessoal enchia o ar.
Amanhã (ou hoje mais tarde se encontrar tempo) responderei esta pergunta: “E Daí?”.
Fonte: http://www.patheos.com/community/jesuscreed/2005/08/02/post-calvinism-believers-or-not/
Tradução: Paulo Cesar Antunes
Vi no http://www.arminianismo.com/
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