Auditório amplo
Chão escuro acarpetado
Poltronas vermelhas
Ocupadas pela metade
Quase todos negros
Poucas mulheres
No palco, mesa e púlpito
Na mesa, sete pessoas
Quatro negros, dois mulatos, um branco
Entre eles, uma mulher.
Reunião ordeira
Rostos alegres
Roupas coloridas
A Igreja da África reunida
Entramos no auditório
Representantes da igreja brasileira
Somos sete
Todos mais ou menos brancos
E um negro
Subimos juntos ao palco.
Na tribuna, nosso porta-voz
Leitura pausada e controlada
Nos últimos parágrafos
Voz embargada, tremor nas mãos
Silêncio completo
Seguido de palmas, em pé.
Alguém, lá atrás
Inicia um cântico
Cantam todos, suavemente
Lágrimas nos olhos
Brasileiros e africanos
Mulheres e homens.
Querem nos abençoar
Ajoelhamo-nos
Querem nos declarar seu perdão
Assim seja.
Na carta, a culpa e o pedido de perdão
400 anos de escravidão:
“Pecado do nosso povo contra seu povo.
De nossa nação contra a nação de vocês.”
E, também o desejo:
“entender a amplidão do amor de Cristo
que derrubou o muro de separação
que nos fez uma família n’Ele!”
O perdão, a bênção, o abraço
De todos da mesa, um a um
Abraço forte, sentido, sem pressa
Antes de voltar ao meu lugar
O abraço mais longo da minha vida
Ela, negra, encaixa meu rosto em seu ombro
E afaga meus cabelos
Eu, muito branca, acaricio seu rosto molhado
E admiro sua beleza
Deus nos abraça a ambas
A cor importa?
Enviado por Klênia Fassoni
Vi no http://ultimato.com.br/sites/blogdaultimato/2010/11/23/importa-a-cor/#more-2153
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