sexta-feira, 15 de abril de 2011

Levando o Calvinismo Longe Demais: A Divindade Criadora do Mal de R. C. Sproul Jr.



Paul Copan



Em seu livro Almighty Over All (Baker, 1999), R. C. Sproul Jr. faz algumas afirmações controversas que parecem ser sub-bíblicas. Tomei conhecimento disso ouvindo uma apresentação em uma conferência em Nova Orleans em abril. R. C. Sproul Jr. estava sendo citado e eu fiquei chocado com o que ouvi. Embora a apresentação vinha de uma fonte confiável (o Dr. Ken Keathley do Seminário do Sudeste em Wake Forest), eu quis ser como os bereanos de Atos 17 e verificar a obra de Sproul Jr. por mim mesmo – especialmente se eu quisesse oferecer algumas reflexões sobre este assunto.




Como supunha, com mais investigação, a afirmação de Keathley estava correta: Sproul Jr. simplesmente tem levado o Calvinismo longe demais. Seu pai R. C. Sproul Sr., também calvinista, tem sido bem mais hesitante e despretensioso sobre a questão da origem do pecado; ele basicamente conclui que esta é uma questão misteriosa, parando um pouco antes de atribuir a origem do mal a Deus:



Nisto está o problema. Antes que a pessoa possa cometer um ato de pecado, ela precisa primeiro ter um desejo de realizar aquele ato. A Bíblia nos conta que as más ações provêm de maus desejos. Mas a presença de um mau desejo já é pecado. Pecamos porque somos pecadores. Nascemos com uma natureza pecaminosa. Somos criaturas decaídas. Mas Adão e Eva não foram criados decaídos. Eles não tinham natureza pecaminosa. Eram boas criaturas com uma vontade livre. Ainda assim, escolheram pecar. Por quê? Não sei. Nem encontrei ninguém ainda que saiba (Eleitos de Deus [2002], p. 21).



Sproul Sr. admite um entendimento libertário do livre-arbítrio no Éden, o que configura um afastamento do Calvinismo propriamente dito. Mas deixemos isso para lá.



Sproul Jr., entretanto, quer ir ao fundo da questão e dizer abertamente o que ele presume ser a fonte do mal: Deus! Ficou chocado? Espero evidentemente que sim. Sproul Jr. lista um círculo de possíveis “suspeitos” em seu terceiro capítulo, intitulado “Quem fez isso?”. Ele traça e discute as únicas cinco possíveis alternativas: Adão, Eva, Satanás, o ambiente e Deus. Deus criou um bom ambiente (“ele era muito bom”), e Adão, Eva e Satanás foram originalmente criados bons; então seu desejo ou inclinação mais forte (que dita como escolhemos, alega Sproul Jr.) deve também ter sido originalmente bom. Isto, então, significa que nenhum dos primeiros quatro candidatos pode ser a origem do pecado. O “culpado” (o termo que Sproul Jr. usa) é o próprio Deus, que “introduziu o mal neste mundo” (p. 51). De fato, Deus agiu de acordo com sua inclinação mais forte; ele agiu motivado pelo que ele mais queria que acontecesse – como ele sempre faz (p. 54).



A razão dele ter desejado que Adão e Eva caíssem em pecado era por causa do atributo eterno da ira de Deus – e “Deus sente tanto prazer com sua ira como com todos os seus atributos” (p. 52). Assim, à luz deste eterno atributo da ira, Deus deve criar objetos de ira: “O que eu farei será criar algo digno de minha ira, algo sobre o qual eu possa exibir a glória da minha ira” (p. 52-53). Não criando seres humanos (e vamos incluir os seres angélicos caídos aqui também), ele não teria tido a oportunidade de demonstrar sua glória desta forma. Então, Sproul Jr. afirma algo bastante surpreendente: “Era o desejo [de Deus] tornar sua ira conhecida. Ele precisava, então, algo sobre o qual estar irado. Ele precisava ter criaturas pecadoras” (p. 57).



Antecipando uma réplica, Sproul Jr. pergunta: “Não é impossível para Deus fazer o mal?” Ele reconhece que Deus não pode pecar. Isto não é exatamente um consolo, já que Sproul Jr. continua e diz: “Eu não estou acusando Deus de pecar; estou sugerindo que ele criou o pecado” (p. 54). Sproul Jr. não acredita que passou dos limites fazendo esta afirmação. Aludindo à definição de pecado na Confissão de Westminster como “qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer transgressão desta lei,” ele diz que isto não exclui a possibilidade de Deus criar o mal. Parece que Sproul Jr. não está somente usando um argumento a partir do silêncio da Confissão, mas está ignorando uma importante ênfase na Escritura – que Deus não pode ser o autor do mal. Vamos entrar em mais detalhes sobre algumas áreas problemáticas na teologia de Sproul Jr.



1. “Deus pode fazer o que ele quiser.” Sproul Jr. apela a Romanos 9 para justificar seu ponto (p. 53, 56). Se Deus é acusado de fazer o mal, Sproul Jr. diz de forma rude o equivalente ao que Paulo está dizendo: “Cale a boca! Ele é Deus e faz o que ele quer” (p. 56). Sim, Deus pode fazer o que ele quiser, mas o que Deus faz (e o que ele quer) será bom e justo e irá refletir seu amor e sua santidade. Não podemos corretamente dizer, “Deus pode quebrar sua promessa ou mentir porque ‘ele é Deus e faz o que ele quer’.” Não, o que separa Deus de nós, seres humanos caídos, racionalistas, infieis é que ele apenas é verdadeiro (Rm 3.4). Somos informados que é “impossível que Deus minta” (Hb 6.18; cp. Tt 1.2).



Tiago 1 não apenas nos diz que Deus não pode fazer o mal; ele também nos diz que toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto; isto é, Deus não deveria ser acusado como sendo a fonte do mal. Deus é intrinsecamente bom e, sendo assim, não pode “criar o mal.” Isto faz lembrar o que Jesus diz sobre a natureza de Deus – em contraste com os seres humanos caídos, que ainda busca o bem de seus filhos: “Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?” (Mt 7.9-11). De fato, anteriormente, conta-se que Deus não ama simplesmente aqueles que o amam, mas ele ama os perversos e os injustos também, assim mostrando um amor perfeito (Mt 5.48).



2. O erro maniqueísta: Sproul Jr., parece, ultrapassou os limites da ortodoxia ao dizer que Deus é o autor ou criador do mal. Isto viola o que 1Tm 4.4 nos diz: “Pois tudo que Deus criou é bom.” Obviamente, Agostinho lutou contra a heresia maniqueísta, que considera o mal como algo ao invés de ausência ou corrupção da bondade, mas Sproul Jr. parece estar escorregando para alguma versão do Maniqueísmo.



Uma nota marginal aqui: A Versão King James pode ser enganosa neste ponto. A tradução às vezes dá a impressão de que Deus é o criador ou a origem do bem e do mal: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” (Is 45.7); “Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande? Acaso, não procede do Altíssimo tanto o mal como o bem?” (Lm 3.37-38); “Tocar-se-á a trombeta na cidade, sem que o povo se estremeça? Sucederá algum mal à cidade, sem que o SENHOR o tenha feito?” (Am 3.6). Esta tradução é imprecisa. A palavra para “mal” (ra´ah) pode também ser traduzida “problema,” “desastre,” ou “calamidade.”



3. Um Deus com necessidade não é um Deus de verdade: É muito surpreendente ler um convicto calvinista que diz que Deus precisa de alguma coisa fora de si mesmo – neste caso, de pecadores sobre quem derramar a sua ira! As Escrituras estão repletas de lembretes da auto-suficiência de Deus e que ele não precisa de nada fora de si mesmo. Por exemplo, “Se eu tivesse fome, não to diria, pois o mundo é meu e quanto nele se contém” (Sl 50.12). Novamente, “Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.34-36).



O Cristianismo ortodoxo afirma que Deus não precisava criar. Ele poderia ter escolhido não criar. A doutrina da criação do nada afirma que Deus não necessita de, digamos, matéria pré-existente ou de seres humanos. O Deus trino está contente e satisfeito dentro de si mesmo. Sua criação dos seres humanos é resultado da escolha graciosa de Deus de estender aos outros a sua alegria, seu amor e sua comunidade. O ponto de vista de Sproul Jr. da necessidade de Deus de criar os seres humanos diminui ao invés de exaltar a Deus. De acordo com Sproul Jr., Deus não poderia deixar de criar os seres humanos sobre quem derramar sua ira. (Tenha em mente a insistência de Sproul Jr. que Deus sempre age conforme seu desejo mais forte.) Se a ira é um atributo que é um aspecto eterno e necessário a Deus, então isto significa que Deus necessariamente tinha que criar; ele não poderia deixar de criar. Tudo isto parece muito perturbador para a minha mente.



Numa tentativa de consistência filosófica, Sproul Jr., parece, levou seu determinismo causal a algumas conclusões teológicas problemáticas – uma direção que seu pai, aparentemente, temia ir.



Fonte: http://www.reclaimingthemind.org/blog/2008/09/taking-calvinism-too-far-rc-sproul-jr%e2%80%99s-evil-creating-deity/



Tradução: Paulo Cesar Antunes



Vi no http://www.arminianismo.com/






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